dessa forma, os alunos adquiram um senso crítico em relação ao conteúdo e as atividades desenvolvidas.

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Transcrição:

EDUCAÇÃO FÍSICA, CORPO E CULTURA: ANÁLISE DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO E DO PLANO ANUAL DE ENSINO DO SEGUNDO E TERCEIRO CICLO DE ESCOLARIZAÇÃO DE ESCOLAS ESTADUAIS DO MUNICÍPIO DE BARRA DO GARÇAS Romeu Pereira Félix* Thiago Pelegrini** RESUMO A cultura é o conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis pelo grupo. Ela pode ser considerada também como um processo que inclui conhecimento, crenças, arte, leis, moral, costumes, e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo indivíduo tornando-se ainda uma manifestação simbólica. O corpo deve ser considerado como expressão de cultura. O corpo torna-se, assim, objeto de análise para Educação Física dentro do ambiente escolar, como referencial para construção de conteúdos e problemáticas. A Cultura Corporal é uma abordagem pedagógica denominada de crítico-superadora inspirada no Marxismo, à mesma também se configura como uma área de conhecimento composta por diversas formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, dança e ginástica. Diante disso, o objetivo central desse estudo foi investigar as referências e os conhecimentos sobre cultura corporal e corpo inseridas no currículo escolar, analisando o projeto político-pedagógico e o plano anual do segundo e terceiro ciclos de escolarização da disciplina de Educação Física nas escolas estaduais do município de Barra do Garças MT. A metodologia utilizada foi à revisão bibliográfica e a análise documental. As principais fontes primárias examinadas foram a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (Lei nº 9394/96), Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Física para o 2º e 3º ciclo de escolarização (Volume 7), o Projeto Político-pedagógico e o Plano anual de ensino da disciplina. As fontes secundárias utilizadas foram livros e artigos científicos de especialistas na temática. Partiu-se da premissa de que deverá ocorrer uma articulação entre a prática pedagógica da Educação Física e o Projeto Político-pedagógico junto com os objetivos educacionais almejados pela Educação Básica. O Projeto Político-pedagógico, portanto, não é um simples agrupamento de planos de ensino e de atividades diversas, ele tem que estar presente no cotidiano e ser vivenciado por todos como um processo educativo da escola, e não ser considerado como um arquivo que serve apenas para ser encaminhado às autoridades educacionais comprovando o cumprimento de tarefas burocráticas. A partir do estudo realizado sobre o projeto político-pedagógico e o plano anual do segundo e terceiro ciclos de escolarização da disciplina de Educação Física nas escolas estaduais do município de Barra do Garças MT, comprovou-se que uma boa parte dos documentos analisados utiliza e baseia-se nas políticas oficiais para a elaboração dos mesmos, dando ênfase nas diferentes manifestações da cultura corporal. Levando-se em conta o que foi observado, o professor devese trabalhar não apenas as modalidades e técnicas esportivas e, principalmente, o ensinar por ensinar, mesmo que o esporte esteja presente nos conteúdos constituintes da cultura corporal e inserido na grade curricular da disciplina de Educação Física, ele deve analisar os interesses dos alunos, reconhecer e respeitar sua bagagem cultural, promovendo um ensino contextualizado das manifestações da cultura de movimento, fazendo que

dessa forma, os alunos adquiram um senso crítico em relação ao conteúdo e as atividades desenvolvidas. Palavras-chave: Educação Física, Corpo, Cultura corporal.

Introdução A cultura é um termo que está inserido dentro da concepção de Educação Física e que apresenta diversas abordagens e definições. Desde o surgimento da humanidade vem ocorrendo à produção de cultura. Essa cultura é entendida como um produto da sociedade, da coletividade, no qual os indivíduos pertencem. Não existe ser humano sem cultura, o mesmo já nasce inserido em um contexto cultural, sendo que esse indivíduo não consegue sobreviver sem a interação com a sociedade em outras palavras o grupo que o gerou. O homem sofre grande influência da cultura, ela orientará como será sua vida na sociedade, quais serão suas crenças, suas ideologias e seu comportamento. Com isso pode-se afirmar que o homem é fruto da cultura, essa cultura é considerada como um conjunto de códigos simbólicos, no qual através deles ocorre a formação do indivíduo. A cultura é o conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis pelo grupo: neles o indivíduo é formado desde o momento da sua concepção; nesses mesmos códigos, durante a sua infância, aprende os valores do grupo; por eles é mais tarde introduzido nas obrigações da vida adulta, da maneira como cada grupo social as concebe (BRASIL, 2001, p.26). A cultura pode ser considerada também como um processo que inclui conhecimento, crenças, arte, leis, moral, costumes, e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos. Trata-se de um processo de manipulação simbólica (DAOLIO, 2007). O corpo deve ser considerado como expressão de cultura. O corpo torna-se, assim, objeto de análise para Educação Física dentro do ambiente escolar, como referencial para construção de conteúdos e problemáticas. A Cultura Corporal é uma abordagem pedagógica denominada de críticosuperadora inspirada no Marxismo, à mesma também se configura como uma área de conhecimento composta por diversas formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, dança e ginástica.

O corpo se torna algo tão importante para a sociedade, no qual o mesmo produz cultura e acaba sendo influenciado por outras e também podemos dizer que o corpo é uma representação dos modelos impostos pela cultura. Segundo Girardi citado por Both (2002, p. 59), o corpo é nossa casa, lugar onde somos plenamente. Comunica-se por expressões, como uma parte ou pelo todo, com ou sem intenção, percebendo ou sem perceber, diz o que somos ou pensamos. Educação Física e o Corpo Contemporaneamente corpo e atividade física estão relacionados à perfeição e a qualidade de vida. Entretanto, o corpo foi alvo de muitas divergências ao longo de sua história, Both (2002, p. 61) nos mostra essas divergências no corpo biológico e no social: O corpo foi tratado basicamente de forma biológica, desde o começo dos movimentos ginásticos introduzidos na escola, onde se buscava um biótipo de cidadão brasileiro, até o culto ao corpo aflorar na busca de um ser humano melhor esteticamente. [...] o corpo social, sempre foi manipulado pela sociedade dominante, esse corpo que só deteve ao movimento repetitivo e não do raciocínio do por que do movimento. Sabemos que a Educação Física preocupa-se com o corpo e a corporeidade. Pelo movimento o sujeito pode vir a se comunicar com as coisas vivas, o ser humano com o ser corporal. Esse ser humano possui uma gama de códigos em seu inconsciente, devido a exploração de gestos e praticas corporais que são refletidos em sua qualidade de vida e na saúde. A cultura nunca nos oferece significações absolutamente transparentes, a gênese do sentido nunca está terminada. Aquilo a que chamamos com a razão nossa verdade, sempre a contemplamos num conceito de signos que datam o nosso saber. Sempre lidamos apenas com arquitetura de signos cujo sentido não pode ser posto à parte, pois ele nada mais é senão a maneira pela qual aqueles se comportam um em relação ao outro, pela qual se distinguem um do outro (MERLEAU-PONTY apud CARMO JÚNIOR, 1999).

A Educação Física dentro do ambiente escolar utiliza o corpo como referencial de trabalho e o professor apresenta uma conduta unilateral direcionando a aula para a prática do esporte, na qual esse esporte é voltado para a competição. Com isso a Educação Física acaba abandonando seu princípio fundamental, o ato educativo. Segundo BOTH (2002, p. 62): O corpo na aula de Educação Física acaba sendo disciplinado e não tendo o momento de ter experiências de movimento. Colocando a figura de professor, como um ditador na busca do movimento e não um agente que auxilia na criação do movimento corporal do aluno. Diante disso, o objetivo central desse estudo foi investigar as referências e os conhecimentos sobre cultura corporal e corpo inseridas no currículo escolar. Para tanto, analisou-se o projeto político-pedagógico e o plano anual do segundo e terceiro ciclos de escolarização da disciplina de Educação Física oferecida pelas escolas estaduais do município de Barra do Garças MT. A metodologia utilizada foi à revisão bibliográfica e a análise documental. As principais fontes primárias examinadas foram a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (Lei nº 9394/96), Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Física para o 2º e 3º ciclo de escolarização (Volume 7), o Projeto Político-pedagógico e o Plano anual de ensino. As fontes secundárias utilizadas foram livros e artigos científicos de especialistas na temática. Propostas Pedagógicas e conteúdos para a Educação Física A Educação Física é a disciplina que trata da cultura corporal de movimento, que está expressa nos jogos, nas danças, nas lutas, nos esportes e nas ginásticas. O objetivo central da escola é atender a educação global do aluno e com base nisso acreditam que não se deve deixar de lado o aspecto cultural dos sujeitos em seu cotidiano escolar. Cabe ao professor possibilitar que o aluno conheça, escolha, vivencie, planeje e seja capaz de julgar os valores que estejam associados a prática da atividade física (SILVEIRA e PINTO, 2001). Sabemos que todos os sujeitos estão envolvidos com algum elemento da cultura de movimento, seja na prática ou como espectador, na escola, na

rua, nos parques, etc. Porém a escola é uma instituição privilegiada, no sentido de que nela essa prática pode ser vivenciada, estudada e discutida adequadamente. Como mostra a Lei nº 9394/96, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), nas diretrizes curriculares para o ensino fundamental e médio a Educação Física Escolar é considerada como um componente curricular, sendo assim entende-se que a disciplina dentro do âmbito escolar tem a função de educar com o intuito de compreender e transformar a realidade. Alguns autores preocupados com essa questão definem a Educação Física como uma disciplina que trata, pedagogicamente, na escola, do conhecimento da área denominada de cultura corporal (jogos, esportes, lutas, ginásticas e dança) (COLETIVO DE AUTORES, 1992). A escola hoje é uma instituição fundamental na educação, sendo que o seu papel é proporcionar ao aluno um ambiente favorável, no qual disponibilize condições que contribua para a sua formação e ao mesmo tempo desenvolva ações visando à interação com seu meio social (COUTO, 1991). Quando a criança chega ao ambiente escolar, a mesma traz consigo uma bagagem que se originou do meio sociocultural que ela está inserida. Considerando as experiências trazidas pela criança, o professor deve fazer uma ligação entre o meio externo (sociedade) com o meio interno (escola) com o intuito de alcançar o objetivo, que nesse caso é o aprendizado e também utilizá-las para tentar superar as dificuldades apresentadas. A escola em conjunto com o corpo docente é a responsável pela seleção dos conteúdos da Educação Física. Durante a seleção e organização dos conteúdos exige coerência com a finalidade de promover uma análise da realidade social em que a escola está inserida, a origem do conteúdo e ainda selecionar conteúdos condizentes com a realidade material da escola. A grande maioria dos conteúdos abordados nas propostas pedagógicas escolares fazem parte dos temas da cultura corporal, são eles os jogos, esportes, lutas, ginásticas e danças. Fica a cargo de o professor estudá-los profundamente, desde a sua origem histórica até o seu valor educativo com o intuito de facilitar a elaboração do currículo. Durante a organização do conhecimento é importante considerar as diversas formas de expressão

corporal dos alunos, pois os mesmo são considerados um ser uno e trazem consigo uma bagagem cultural distinta (COLETIVO DE AUTORES, 1992). O Plano curricular é composto por determinadas matérias e conteúdos específicos e a sua distribuição é realizada por série e respectiva carga horária e os currículos são organizados de tal forma que os conteúdos e objetivos são fundamentados na legislação vigente, e ordenados por séries anuais de disciplinas, áreas de estudos e/ou atividade. Currículo e Ciclo de Escolarização Uma das principais funções do currículo na educação é explicitar o projeto educativo, dirigindo as atividades educativas escolares, mostrando suas intenções e o plano de ação para sua realização. Sendo assim o currículo deve conter todas as informações necessárias para que o professor e a escola consigam executá-lo. O currículo é uma ferramenta que vem para orientar as ações do professor, o mesmo não deve suplantar a iniciativa e responsabilidade desses profissionais, transformando-os em meros executores de um plano de ação (MATO GROSSO, 2001). Na década de 1990 as propostas curriculares oficiais trouxeram algumas inovações, uma delas foram os ciclos, segundo BARRETO apud FELDMAM, (2009, p. 205). O Ciclo pressupõe a ordenação dos conhecimentos (conteúdos escolares) em unidades de tempo maiores e mais flexíveis, de forma a favorecer o trabalho com clientelas de diferentes procedências, estilos e ritmos de aprendizagem, sem impedir que os professores e a escola percam de vista as exigências da aprendizagem postas para cada nível de ensino. O segundo ciclo vai do 5º e 6º ano. Durante o processo de ensino e aprendizagem de Educação Física no segundo ciclo de escolarização os alunos possuem maior independência e vem a dominar uma gama de conhecimentos, devido isso os mesmos conseguem compreender as regras dos jogos com mais clareza e vem a desenvolver certa autonomia facilitando assim sua organização. Ocorrendo uma maior compreensão das regras dos jogos, os alunos poderão vir a sugerir modificações tornando os jogos e as brincadeiras mais

desafiantes e a partir disso os mesmo virão a organizar atividades e brincadeiras vivenciadas nas aulas de Educação Física e em horários de intervalo. A Educação Física para o segundo ciclo espera que os alunos sejam capazes de participar de atividades corporais, reconhecer e respeitar algumas de suas características, bem como as de seus colegas, sem discriminar por características pessoais, físicas, sexuais ou sociais e que os mesmos possam apreciar e desfrutar de algumas manifestações corporais sem preconceito e descriminação por razoes sociais, sexuais e culturais (BRASIL, 2001). O terceiro ciclo de escolarização vai do 7º ao 9º ano. Esse é o ciclo de ampliação da sistematização do conhecimento. Nesse ciclo o aluno consegue expandir suas referencias conceituais, começa a tomar consciência da atividade teórica e através do pensamento teórico o mesmo reorganiza a identificação dos dados da sua realidade. Esse ciclo de escolarização tenta proporcionar ao educando situações que possibilitem o exercício cada vez mais aguçado da reflexão, da crítica, da construção de conhecimentos, nas diferentes áreas, a fim de favorecer o raciocínio que envolve a busca de novas formas de compreender a realidade em que está inserido. Análise dos conteúdos trabalhados nas escolas estaduais Dentro do âmbito escolar deverá ocorrer uma articulação entre a prática pedagógica da Educação Física e o Projeto Político-pedagógico junto com os objetivos educacionais almejados pela Educação Básica, e considerado alguns pontos, como as características do aluno, o meio em que ele está inserido e a formação do professor. Através disso serão organizadas atividades pedagógicas com o intuito de desenvolver as competências necessárias para formação integral do aluno (NEIRA, 2006). O Projeto Político-pedagógico não é um simples agrupamento de planos de ensino e de atividades diversas, ele tem que estar presente no cotidiano e ser vivenciado por todos como um processo educativo da escola, e não ser considerado como um arquivo que serve apenas para ser encaminhado às autoridades educacionais comprovando o cumprimento de tarefas burocráticas.

Para que ocorra uma boa orientação dentro da sala de aula todo educador deve ter definido o seu Projeto Político-pedagógico, o mesmo deve conter medidas para que promova uma relação entre professor-aluno, os conteúdos a serem ensinados, os valores que serão abordados e a lógica que será desenvolvida nos alunos. O educador terá que deixar bem claro, qual o projeto de sociedade e de homem que persegue, os interesses de classe que defende, os valores, a ética e a moral que pretende consolidar através de sua prática (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Durante a análise documental percebemos que a escola ao elaborar o projeto político-pedagógico, tem como objetivo principal formar cidadãos críticos, capazes de desenvolver competências acadêmicas e humanas necessárias à conquista de autonomia e a fim de transformar o meio em que vive. A mesma tenta oportunizar a formação de cidadãos éticos, capazes de se posicionar frente à realidade e com vontade de ousarem na construção de uma educação libertadora e comprometida com as transformações sociais. Em virtude do esporte estar presente nos conteúdos constituintes da cultura corporal e estar inserido na grade curricular da disciplina de Educação Física a sua presença nas aulas é obrigatória. Contudo, o esporte funciona muitas vezes como aspecto motivacional para a participação dos alunos nas aulas. Apesar disso, nem todos os alunos têm um mesmo entendimento sobre o processo de ensino de certas modalidades dentro das aulas de Educação Física. Devido a isso o conteúdo que a maioria dos professores aplica é o esporte. Mas esse esporte está voltado para o rendimento, isso acaba tomando conta da aula e deixando de lado outras atividades, como a dança, a ginástica, etc. Dessa forma, as aulas acabam se tornando um objeto do esporte, no qual deveria ocorrer o inverso, o esporte um objeto da pratica pedagógica da Educação Física. Pode se perceber que alem das modalidades esportivas, futsal, voleibol, handebol e basquetebol, alguns professores abordam dentro da sala de aula conteúdos voltados para a saúde do individuo e seu bem estar como, doenças degenerativas relacionadas ao sedentarismo, fatores que influenciam na prática de atividades físicas, o mesmo também proporciona aos alunos a

vivência de diversos tipos de atividades físicas (jogos recreativos e cooperativos, exercícios físicos diversos). A divisão dos conteúdos entre os ciclos de escolarização é realizada de forma que ocorra o desenvolvimento integral do aluno, com o objetivo de tornálos mais flexíveis ao grupo, favorecendo a inclusão de todos. Analisando escola por escola comprova-se que a uma pequena discrepância entre elas em relação a seleção dos conteúdos, mas as mesma não fogem muito do que é proposto pelas política oficiais e a grande maioria dos conteúdos são voltados para cultura corporal. Considerações Finais A cultura e o corpo estão inseridas intrinsecamente no individuo, não há como o mesmo se desenvolver possuindo apenas uma, pois estão interligadas e influenciando uma a outra. A Educação Física possui uma grande preocupação com o corpo e a corporeidade do individuo, principalmente dentro do ambiente escolar e fica a cargo do professor possibilitar que o aluno conheça, escolha, vivencie, planeje e seja capaz de julgar os valores que estejam associados a prática da atividade física. A partir do estudo realizado sobre o projeto político-pedagógico e o plano anual do segundo e terceiro ciclos de escolarização da disciplina de Educação Física nas escolas estaduais do município de Barra do Garças MT, comprovou-se que uma boa parte dos documentos analisados utiliza e baseiase nas políticas oficiais para a elaboração dos mesmos, dando ênfase nas diferentes manifestações da cultura corporal. Levando-se em conta o que foi observado, o professor deve-se trabalhar não apenas as modalidades e técnicas esportivas e, principalmente, o ensinar por ensinar, mesmo que o esporte esteja presente nos conteúdos constituintes da cultura corporal e inserido na grade curricular da disciplina de Educação Física, ele deve analisar os interesses dos alunos, reconhecer e respeitar sua bagagem cultural, promovendo um ensino contextualizado das manifestações da cultura de movimento, fazendo que dessa forma, os alunos adquiram um senso crítico em relação ao conteúdo e as atividades desenvolvidas. Referências

BOTH, J. O corpo na Educação Física escolar. Caderno de Educação Física: estudos e reflexões. Marechal Cândido Rondon, v. 4, n. 7, p. 57-66, 2002. CARMO JÚNIOR, W. Educação Física e a cultura: uma ontologia das práticas corporais. Motriz Volume 5, Número 1, Junho/1999. COUTO. H.R.F.C. A relação entre cultura e corporeidade na educação de crianças no século XXI. Cadernos de Pós-Graduação Educação, São Paulo, v.8, p. 147-155, 2009. BRACHT, Valter. A constituição das teorias pedagógicas da educação física. Cad. CEDES. Campinas, 1999, vol.19 n. 48. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física 3. Ed. Brasília: A secretaria, 2001. CASTELLANI, Filho, Lino. Política educacional e educação física. Campinas, SP: Autores Associados, 2002. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992. DAOLIO, Jocimar. Educação Física e o conceito de cultura. Campinas, SP: Autores Associados, 2007. FELDMANN, Marina Graziela. Formação de professores e escola contemporânea. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2009. MATO GROSSO, Secretaria de Estado de Educação. Escola ciclada de Mato Grosso: novos tempos e espaços para ensinar aprender a sentir, ser e fazer. Cuiabá: Seduc. 2001 2ª Edição. NEIRA, Marcos Garcia. Educação Física: desenvolvendo competências. São Paulo: Phorte, 2006. SANTOS, Ana Paula da Silva; ROSSETO JÚNIOR, Adriano José. Abordagem da cultura corporal: possibilidades para superação do sexismo nas aulas de Educação física. In: SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR, 9, 2007, são Paulo. Educação Física escolar: práticas pedagógicas. Anais... São Paulo: EEFE/USP, 2007.

SILVEIRA, Guilherme Carvalho Franco; PINTO, Joelcio Fernandes. Educação Física na perspectiva da cultura corporal: uma proposta pedagógica. Rev. Bras. Cienc. Esporte, v. 22, n. 3, p. 137-150, maio 2001. SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2007. SEDUC. Proposta Curricular Educação Física. Cuiabá: Entrelinhas, 1998. * Universidade Federal de Mato Grosso UFMT Campus Pontal do Araguaia rodovia MT 100, km 3,5 pontal do Araguaia MT - romeufelix@ymail.com ** Universidade Federal de Mato Grosso UFMT Campus Pontal do Araguaia rodovia MT 100, km 3,5 pontal do Araguaia MT prof.thiago.ufmt@bol.com.br