Geotécnica, ppimenta@usp.br



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Transcrição:

Dimensionamento de Regiões D Através do Método dos Elementos Finitos e o Método de Bielas e Tirantes Henrique Towata Sato 1, Paulo de Mattos Pimenta 2 1 Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica, htshd@usp.br 2 Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica, ppimenta@usp.br Resumo O dimensionamento de Regiões D (regiões em que não é aplicável a hipótese de Bernoulli), embora amplamente estudado e discutido, é um tópico ainda em desenvolvimento. Dentre os métodos utilizados para o dimensionamento destas regiões, os mais difundidos são o Método dos Elementos Finitos e o Método de Bielas e Tirantes. O MEF ainda não possui normatização brasileira específica para sua utilização, sendo vetado como método para o dimensionamento segundo a proposta de revisão da norma NBR6118:2013, entretanto não é incomum seu uso como método de verificação, e mesmo dimensionamento em recomendações internacionais. O artigo propõe uma metodologia para a aplicação do MEF no dimensionamento destas regiões. Analogamente o artigo propõe uma metodologia para a aplicação do MBT utilizando a otimização topológica como forma de geração automática de modelos. As metodologias são aplicadas a exemplos práticos de Regiões D com recomendações normativas específicas para seu dimensionamento (consolo e viga parede biapoiada) e também a uma viga parede de geometria complexa, os resultados através de diferentes técnicas de dimensionamento são comparados e discutidos. Palavras-chave Concreto armado; descontinuidades; Método dos Elementos Finitos; Método de Bielas e Tirantes.

1. Introdução A teoria clássica do concreto armado baseia-se em algumas hipóteses simplificadoras, dentre elas, no caso de elementos lineares, a hipótese de Bernoulli. Tal hipótese é a suposição de que o perfil de deformações em uma seção transversal é linear, sendo desprezível o efeito da deformação devida aos esforços cortantes. Está hipótese pode ser considerada válida de forma geral para elementos lineares distantes dos nós e de pontos de mudança de regime de aplicação de cargas, sendo estas regiões denominadas Regiões B. Por outro lado regiões que apresentam um comportamento bi ou tridimensional não atendem à hipótese de Bernoulli, a estas regiões dá-se o nome de Regiões D. Estas regiões podem caracterizar elementos que intrinsecamente não possuem um perfil de deformações lineares (como blocos de coroamento, transversinas, vigas-parede e consolos), bem como elementos lineares próximos a perturbações geométricas (mudanças de seção, aberturas ou nós de pórticos) ou perturbações estáticas (como aplicação de cargas concentradas). Para o dimensionamento de Regiões D existem algumas alternativas como modelos padronizados, existentes para situações de maior repetição como é o caso de consolos e blocos de coroamento; o Método de Bielas e Tirantes (MBT) proposto por Ritter e Mörsch no início do século XX e o Método dos Elementos Finitos (MEF), em que a região é analisada através de um modelo bi ou tridimensional. O presente artigo propõe aplicações das metodologias para o dimensionamento exclusivamente ao Estado Limite Último (ELU). 2. Disposições normativas (NBR6118:2013) A proposta de revisão de norma NBR6118:2013 estabelece no item 14.2.3 que a aplicação da análise linear em projeto somente pode se dar em duas situações: Como base para a determinação das trajetórias de tensão para a definição de um modelo MBT; Para a determinação de esforços solicitantes através da integração do campo de tensões, sendo que o dimensionamento deve se dar pela Teoria do Concreto Estrutural. Por outro lado é expressamente proibido o dimensionamento das armaduras a partir diretamente dos esforços ou das tensões resultantes desta análise, como é proposto neste artigo.

Sobre a análise não linear, o projeto de revisão da norma estabelece que seus resultados poderão ser utilizados para avaliar o desempenho da estrutura em serviço ou na ruptura, entretanto, não devem ser usados para a determinação das armaduras finais dos elementos estruturais. Sobre o MBT o projeto de revisão da norma estabelece no item 22.3 que os modelos devam ser exclusivamente isostáticos e autoequilibrados, sendo as reações de apoio obtidas a partir de um modelo linear ou não linear externo ao do MBT. Outra limitação imposta à aplicação da teoria é a restrição ao ângulo de inclinação entre bielas inclinadas e a armadura longitudinal do elemento estrutural, sendo a tangente do ângulo limitada aos valores de 0,57 e 2. 3. Método dos Elementos Finitos aplicado ao concreto armado Existem diferentes aplicações do MEF ao concreto armado, e em comparação com outras metodologias sua normatização é relativamente escassa. Recomendações normativas quanto à sua aplicação ao concreto armado são crescentes, assim como ferramentas para o processamento e pós-processamento que adereçam as não linearidades do concreto, a passagem da microestrutura para a macroestrutura e modelos de dano e fissuração. Na análise de estruturas de concreto e em particular para o dimensionamento de Regiões D existem diferentes abordagens, sendo ponto crucial a definição pela consideração de um modelo linear ou não linear. Embora o concreto armado seja um material anisótropo, heterogêneo e sujeito a diversos efeitos não lineares tais como fissuração, fluência e retração, a análise linear ainda encontra aplicabilidade. A FIB (2008) recomenda sua utilização por levar a um dimensionamento coerente (as armações se concentrarão nos pontos de maior tração), por absorver múltiplos casos de carregamento com facilidade e por considerá-la uma prática bem estabelecida. Além disso, a análise linear possui menor quantidade de variáveis a serem calibradas e, de acordo com a teoria da plasticidade, a ruptura plástica se dará com uma carga superior àquela da análise elástico-linear, ou seja, a segurança ao ELU é garantida desde que sejam observadas condições adequadas de dutilidade e ancoragem das armaduras. Entretanto, é imprescindível que uma estrutura dimensionada pela análise linear seja também avaliada através de uma análise não linear já que fatores importantes para o ELS como a

fissuração (que além de impactar na própria verificação de abertura de fissuras afeta também a deformação) só podem ser avaliados através desta segunda análise. O procedimento proposto para o dimensionamento através do MEF então se assemelharia à verificação sob não linearidade de peças através da própria teoria do concreto armado. A figura 1 resume este procedimento onde: *1 se refere à fissuração excessiva na região da armadura principal, neste caso deve ser alterada a geometria da peça. No caso de deformação excessiva, de forma geral, deve ser revista a geometria de peça. *2 se refere à fissuração excessiva devido a cisalhamento ou fendilhamento por compressão, neste caso devem ser revistas as armações limitantes de fissuração. Figura 1 Fluxograma de Dimensionamento de Regiões D Especificamente para o dimensionamento de Regiões D a teoria mais comunmente aplicada é a do campo de compressão (em inglês compression field), o dimensionamento pode ser realizado para cada elemento através da análise das tensões atuantes sobre ele. Neste

dimensionamento toda tração é considerada como absorvida pelas armaduras dispostas nas direções x e y e a compressão é resistida pelo concreto, conforme ilustrado pela figura 2. Figura 2 Tensões consideradas. Para o dimensionamento tomou-se como base o conjunto de equações proposto por Kaufmann & Marti (1998) que engloba o caso mais geral de dimensionamento, em que as armaduras podem contribuir também para a resistência à compressão: Y1=τ ρ f. σ ρ f. σ =0 (1) Y2=τ f ρ f. +σ ρ f. σ =0 (2) Y3=τ f ρ f. +σ ρ f. σ =0 (3) Y4=τ f /4=0 (4) Y5=τ +f +ρ f. +σ ρ f. +σ =0 (5) Y6=τ +f +ρ f. +σ ρ f. +σ =0 (6) Y7=τ f +ρ f. +σ f +ρ f. +σ =0 (7) A equação (1) corresponde ao escoamento das armações nas direções X e Y antes do esmagamento do concreto, representando o comportamento de peças subarmadas. As equações (2) e (3) correspondem ao esmagamento do concreto em conjunto com o desenvolvimento do escoamento da armadura nas direções X ou Y respectivamente. A equação (4) representa o esmagamento do concreto sem o desenvolvimento do escoamento do aço. As equações (5), (6) e (7) dizem respeito a elementos comprimidos nas duas direções.

Quando for possível resistir aos esforços de compressão sem a necessidade de armadura temse um dimensionamento mais econômico. 4. Método de Bielas e Tirantes O MBT consiste em uma analogia do comportamento do concreto armado com o de uma treliça, proposto inicialmente por Ritter e Mörsch. Suas bases teóricas consolidadas com os estudos de Schlaich et al (1987) e Schlaich & Schäfer (1991) e validado posteriormente por estudos experimentais. Por ser uma solução apenas estaticamente admissível, isto é, por não atender à compatibilidade de deformações, o MBT possui infinitas soluções que, embora sejam seguras do ponto de vista teórico pelo Teorema do Limite Inferior, não são necessariamente aplicáveis ao concreto armado. Devido aos limites de dutilidade e redistribuição de esforços na estrutura de concreto armado alguns modelos adotados para o MBT podem considerar uma carga ultima superestimada. Tendo em vista este fato, os modelos mais adequados são aqueles que melhor representam o perfil de deformações e tensões na estrutura analisada e consequentemente demandam menor redistribuição de cargas e menor energia de deformação. Para a determinação do modelo existem diferentes metodologias como o método do caminho de cargas, pré-processamento através do MEF, análise do padrão de fissuração e métodos de otimização. Em busca de menor subjetividade na definição da treliça resistente, o presente trabalho propõe a utilização da otimização topológica como método de definição do modelo. A otimização topológica utilizada no estudo considera o domínio analisado discretizado em uma malha de elementos finitos em que se varia a densidade de cada um destes elementos. Este processo de otimização busca maximizar a rigidez (ou minimizar a flexibilidade) da estrutura mantendo-se um volume máximo de material, que embora não corresponda de fato ao caso estudado, já que a princípio todo o volume será preenchido por concreto, leva a estruturas semelhantes às treliças MBT. Este tipo de otimização pode ser encontrada já implementada em pacotes de elementos finitos ou pode ser facilmente utilizada já que seu código é relativamente simples e divulgado abertamente nos trabalhos de SIGMUND et al (2001 e 2011).

Embora a princípio a análise e definição da estrutura otimizada seja feita de forma adimensional, é possível utilizar o próprio modelo para a definição das reações de apoio obtendo-se todos os dados iniciais necessários para o dimensionamento através do MBT. Assim como a análise linear por elementos finitos, o desempenho no estado limite de serviço deve ser avaliado por outro método que considere efeitos não lineares. Desta forma o fluxograma para a análise é idêntico ao exposto na figura 1. 5. Exemplos e comparativo Buscando comparar as metodologias sugeridas com a prática usual e as recomendações normativas atuais foram dimensionadas Regiões D com sistemática ou recomendações específicas para seu dimensionamento, a exceção é o terceiro exemplo, utilizado para comparar especificamente o MEF com o MBT em uma geometria não usual. Como hipótese simplificadora foi adotada na modelagem a condição de estado plano de tensões com a largura do elemento estudado. Em todos os exemplos a malha de elementos finitos utilizada é composta por elementos quadrilaterais de 8 nós. No primeiro exemplo a dimensão típica dos elementos é de 5cm, no segundo de 10cm e no terceiro de 20cm, definidos à partir de uma análise de sensibilidade com relação à discretização da malha. Entretanto deve-se notar que há pouca variação mesmo com malhas menos refinadas. 5.1 Consolo O consolo adotado para o estudo comparativo tem dimensões: b=50cm, a=25cm, d=45cm, desta forma, está dentro dos limites estabelecidos para a aplicação do MBT (tanθ=0,56). Sujeito a um esforço vertical de 600kN e esforço horizontal de 96kN. Com os parâmetros fck=50mpa e fyk= 500MPa. Tabela 1 Comparativo Consolo. NBR9062 MEF MBT Resultado Diferença Resultado Diferença As Tirante cm² 11,25 12,18 8% 9,87-12% Tensão Limite na Biela Mpa 35,71 35,71 0% 20,57-42% Tensão observada na Biela Mpa 4,58 30,71 571% 4,58 0% As transversal cm²/m 8,04 2,35-71% - - As costura cm²/m 8,14 13,83 70% - -

O modelo padronizado utilizado é aquele descrito no item 7.3.2 da norma NBR9062/2006, sendo caracterizado como consolo curto. 5.2 Viga parede bi-apoiada A viga parede adotada para o comparativo baseou-se no trabalho desenvolvido por SOUZA (2004), com os parâmetros: fck=25mpa, fyk=500mpa, espessura da viga=50cm e placas de apoio rígidas com dimensões 0,45x0,5m. Devido às aplicações de cargas pontuais, a viga como um todo caracteriza uma Região D. A NBR6118 sugere a utilização do MBT com recomendações adicionais referentes às disposições das armaduras. Para efeito de comparação, foi considerado também o dimensionamento da viga parede como viga comum, através da teoria do concreto armado. Figura 3 Viga Parede Bi-Apoiada Tabela 2 Comparativo Viga Parede. MEF Viga (NBR6118) NBR6118/MBT Resultado Diferença Resultado Diferença As Tirante cm² 46,00 58,24 27% 43,96-4% As vertical cm²/m 3,75 0,79-79% 12,9-72% As costelas cm²/m 3,75 20,12 437% 6,15-87% Tensão Limite na Biela Inclinada Mpa 11,57 17,86 54% - - Tensão observada na Biela Inclinada Mpa 10,24 56,33 450% - - Tensão Limite na Biela Superior Mpa 13,66 17,86 31% - - Tensão observada na Biela Superior Mpa 8,00 12,23 53% - -

5.3 Viga parede com aberturas Este exemplo de aplicação busca comparar o MEF com o MBT em uma geometria não usual de modo a demonstrar a possibilidade de generalização de ambos os métodos. O exemplo também foi baseado no trabalho de SOUZA (2004) em que é proposto um dimensionamento através do MBT obtido da análise do caminho de cargas. Para o exemplo são adotados fck=26mpa, fyk=500mpa, espessura da viga=50cm. O carregamento apresentado na figura 4 refere-se ao valor de projeto. Figura 4 Viga Parede Bi-Apoiada com abeturas Na definição do MBT foi empregada otimização topológica chegando ao resultado abaixo: Figura 5 Otimização topológica da viga parede A partir do resultado pode observar-se a presença de tirantes inclinados sob o canto inferior esquerdo da abertura esquerda, sobre o canto superior direito da abertura esquerda e atravessando diagonalmente a peça passando sobre o canto superior esquerdo da abertura direita. Além de um tirante horizontal junto à face inferior no trecho central. Visando um melhor arranjo construtivo os tirantes inclinados foram decompostos em tirantes verticais e horizontais, chegando-se a uma topologia semelhante à de SOUZA (2004) levemente simplificada:

Figura 6 MBT da viga parede Para o comparativo foram utilizadas as áreas de aço obtidas nos tirantes e seus equivalentes obtidos no dimensionamento direto via MEF. Tabela 3 Comparativo Viga Parede com Aberturas. MBT MEF Resultado Diferença (1) Face inferior da viga cm² 1,67 4,45 166% (2) Abaixo da abertura esquerda cm² 0,99 0,56-43% (3) Acima das aberturas cm² 3,48 8,81 153% (4) À esquerda da abertura esquerda cm² 0,40 0,28-30% (5) À direita da abertura esquerda cm² 0,75 0,44-42% (6) À esquerda da abertura direita cm² 1,75 8,42 380% (7) À direita da abertura direita cm² 1,15 0,52-54% 6. Conclusões Existe variação significativa do dimensionamento através do MEF em relação à teoria do concreto armado, de maneira geral as tensões observadas através da modelagem linear em elementos finitos são significativamente superiores àquelas observadas através de modelos de bielas e tirantes ou a teoria do concreto armado. Este resultado é esperado uma vez que, ao discretizar-se uma estrutura para a aplicação de um método numérico, parte da eficiência estrutural é perdida pela limitação dos pontos analisados. Por exemplo, no dimensionamento de uma seção à flexão, o braço de alavanca passa a apresentar variações discretas em oposição à variação contínua no dimensionamento analítico. Neste sentido, o dimensionamento pela integração de esforços em uma determinada seção conforme sugerido pela norma proporcionaria economia de armadura. Outro ponto ainda mais relevante é a consideração de modelo elástico linear, ao não considerar-se redistribuição de tensões através do escoamento do aço e da fissuração do concreto a tensão é superior à esperada na estrutura real.

Sobre as armaduras em que o dimensionamento através do MEF resultou inferior, nos dois primeiros exemplos, elas seriam iguais ao dimensionamento por norma, uma vez que correspondem a armaduras mínimas. No terceiro exemplo as reduções observadas nas armaduras dos tirantes (2), (4), (5) e (7) se devem ao fato de no Modelo de Bielas e Tirantes terem seu dimensionamento regido por nós do tipo CCT (encontro de 2 bielas e 1 tirante equilibrando o desvio dos esforços de compressão). Enquanto no MBT a mudança de direção dos esforços de compressão se dá de forma abrupta no nó, no MEF a mudança se dá de forma gradual ao longo dos elementos. O MEF é uma importante alternativa de dimensionamento para Regiões D principalmente por sua versatilidade, mesmo apresentando diferenças significativas com relação a outros métodos de dimensionamento sua aplicação pode ser considerada segura se aliada a outras disposições, em especial referentes a ancoragens e taxas mínimas de armaduras. Neste sentido o engenheiro estrutural deve favorecer em ordem: o dimensionamento de estruturas através da teoria do concreto armado (caso ela seja aplicável); através de modelos padronizados (caso existam); através do MBT e se o comportamento da estrutura analisada não possa ser bem representado pelos anteriores através do MEF. 7. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 1º Projeto de Revisão ABNT NBR6118 Projeto de Estruturas de Concreto Procedimento, 2013. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR9062 Projeto e Execução de Estruturas de Concreto Pré-Moldado, 2013. FIB. Practitioners guide to finite element modelling of reinforced concrete structures. Bulletin 45, 2008. KAUFMANN, W., MARTI, P. Structural Concrete: Cracked Membrane Model. Journal of Structural Engineering, ASCE, Vol. 124, No. 12, p.1467-1475, 1998. SCHLAICH, J; SCHÄFER, K; JENNEWEIN, M. Toward a consistent design of structural concrete. PCI J PCI 32(3): p.75-150, 1987. SCHLAICH, J; SCHÄFER,K. Design and detailing of structural concrete using strut-and-tie models. Struct Eng 69(6): p.113-125, 1991. SIGMUND,O. A 99 line topology optimization code written in Matlab. Struct Multidisc Optim 21, p.120-127, 2001. SIGMUND, O. Efficient topology optimization in MATLAB using 88 lines pf code. Struct Multidisc Optim 43, p.01-16, 2011. SOUZA, R. Concreto estrutural: Análise e dimensionamento de elementos de elementos com descontinuidades. Tese de doutorado. 2004.