GUIA DO CUIDADOR DE PESSOA COM DPOC

Documentos relacionados
Comprimidos sublinguais de fentanilo GUIA DE UTILIZAÇÃO PARA O DOENTE E PARA O PRESTADOR DE CUIDADOS DE SAÚDE

O diagnóstico da criança e a saúde mental de toda a família. Luciana Quintanilha, LCSW Assistente Social e Psicoterapeuta Clínica

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doenças Respiratórias Parte 3. Profª. Tatiane da Silva Campos

sabe o que é a DPOC?

HOJE É O DIA EM QUE ENFRENTO A FPI. lutarcontraafpi.pt

DEPRESSÃO TRATAR É PRECISO

QUAL A IMPORTÂNCIA DOS MEDICAMENTOS NO CONTROLO DAS DOENÇAS RESPIRATÓRIAS CRÓNICAS?

Prof. Claudia Witzel DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA

Adjuvante mucolítico do tratamento antibacteriano das infeções respiratórias, em presença de hipersecrecção brônquica.

O que precisa saber sobre Imuno-Oncologia

Exxelir é utilizado como adjuvante do tratamento antibacteriano de infeções respiratórias quando existe secreção brônquica excessiva.

Mães Guerreiras: o que é ter um filho com doença genética rara no Brasil

SERVIÇO DE MEDICINA INTENSIVA (SMI) GUIA DE ACOLHIMENTO À FAMÍLIA

Imuno-Oncologia. Guia para o doente sobre. O que precisa de saber sobre o tratamento do cancro com Imuno-Oncologia

GUIA DE ACOLHIMENTO SERVIÇO NEFROLOGIA

INTAL 1 mg/dose Solução para inalação por nebulização

VIVER COM. Narcolepsia. Sintomas Diagnóstico Tratamento ISTEL

Qualo papeldos doentesno seupróprio tratamento?

Barriguinha Para que te quero?

Linhas Orientadoras para lidar com Comportamentos Aditivos (CAD) em Contexto Escolar

ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA: Amostra B

Budesonida Budiair 200 microgramas/dose solução pressurizada para inalação Com câmara expansora JetTM spacer

Depressão. Em nossa sociedade, ser feliz tornou-se uma obrigação. Quem não consegue é visto como um fracassado.

REABILITAÇÃO DO DOENTE COM ELA

Folheto informativo: Informação para o utilizador. Transpulmina (Infantil) 25 mg/g mg/g Pomada. Cânfora Eucaliptol

COMO LIDAR COM. Um guia para adolescentes que vivem com Hipercolesterolemia Familiar (FH)

Antes de tomar Paracetamol tolife é importante que leia esta secção e esclareça quaisquer dúvidas que possa ter com o seu médico ou farmacêutico.

3.15 As psicoses na criança e no adolescente

O meu guia para... Utilizar o meu sistema compressor de nebulização

INALADORES: UTILIZE CORRETAMENTE

FOLHETO INFORMATIVO: INFORMAÇÃO PARA O UTILIZADOR

Antes de tomar Paracetamol Azevedos é importante que leia esta secção e esclareça quaisquer dúvidas que possa ter com o seu médico.

ACES Algarve II - Barlavento. Ana Cristina Costa Comissão de Qualidade e Segurança do Doente ACES Algarve II Barlavento

MOATT. MASSC Ferramenta de ensino para pacientes em tratamento oncológico oral

Capítulo 4 Prescrição de exercícios aeróbios

O que esperar após a cirurgia da criança: Um guia para os acompanhantes

Capítulo 1 Orientação para seu programa de reabilitação

conhecer e prevenir ASMA

Erdosteína reduz o número e a duração das

Nos termos da alínea a) do nº 2 do artigo 2º do Decreto Regulamentar nº 14/2012, de 26 de janeiro, por

ASMA. FACIMED Curso de Medicina. Disciplina Medicina de Família e Comunidade. Prof. Ms. Alex Miranda Rodrigues

Exame Farmacoterapia Época normal 2012

Budesonida Cipla 200 microgramas/dose Suspensão pressurizada para inalação

SOCIEDADE informações sobre recomendações de incorporação de medicamentos e outras tecnologias no SUS RELATÓRIO PARA A

GUIA PARA O DOENTE. (fentanilo, comprimido para chupar com aplicador bucal integrado)

FOLHETO INFORMATIVO: INFORMAÇÃO PARA O UTILIZADOR

ACEITAÇÃO ACEITAÇÃO ACEITAÇÃO

GUIÃO DA ENTREVISTA. A Perfil sociodemográfico do cuidador informal

Brochura de informação para o doente sobre KEYTRUDA. (pembrolizumab)

Drogas que atuam no sistema cardiovascular, respiratório e urinário

Proteger o seu filho da gripe

Advertências e precauções Fale com o seu médico ou farmacêutico antes de tomar Finatux.

SEMINÁRIO: IDOSOS... UM OLHAR PARA O FUTURO! PAINEL 4: CUIDAR E PROTEGER - CUIDADOS DE SAÚDE DIÁRIOS - VANESSA MATEUS FAÍSCA

Guia interativo. Controle sua dor

1. O que é Transpulmina (Infantil) supositórios e para que é utilizado. 2. O que precisa saber antes de utilizar Transpulmina (Infantil) supositórios

Data: 18/06/2013. NTRR 100/2013 a. Medicamento x Material Procedimento Cobertura. Solicitante: Juiza de Direito Dra. Herilene de Oliveira Andrade

Prof Dr Marcelo Riberto. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto Universidade de São Paulo

Módulo beta-histina gp 16 mg comprimidos

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doenças Respiratórias Parte 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

Folheto informativo: informação para o utilizador. Montelucaste Bepz, 10 mg Comprimidos montelucaste

FOLHETO INFORMATIVO: INFORMAÇÃO PARA O UTILIZADOR. MUCODRENOL 6 mg/ ml Xarope. Cloridrato de Ambroxol

Sílvia Silvestre 08/11/2017. Asma : abordagem e como garantir a qualidade de vida a estes pacientes

URGÊNCIA PEDIÁTRICA. Guia de acolhimento

Dilamax Inalador é fornecido num inalador. Deve aspirar o medicamento diretamente para os pulmões.

3.11 Os problemas do controle da urina e fezes na criança: a) A criança que molha a cama ou as calças (enurese)

MAIOR CONTRO. Informação De Segurança Importante Sobre PRILIGY. 1 Informação para o médico

Folheto informativo: Informação para o utilizador. Dolban 0,75 mg/g creme. Capsaícina, óleo-resina (expressa em capsaícina)

Dê Sangue! Dê Sangue! Sumário. Porquê dar Sangue? Horário de dadores. O Circuito do dador. Quem pode ser dador? Dúvidas sobre a dádiva de sangue!

INCOGNUS: Inclusão, Cognição, Saúde

FOLHETO INFORMATIVO. Azitromicina Baldacci 500 mg comprimidos revestidos

Doença inflamatória crónica das vias aéreas de elevada prevalência. Uma patologias crónicas mais frequentes

Kaloba 8 g/9,75 ml gotas orais, solução Extrato de raízes de Pelargonium sidoides DC (1:8-10) (EPs 7630)

Prepare-se para a consulta com seu médico

Factores. Emocionais. Um futuro sem Doença de Crohn e Colite Ulcerosa

FOLHETO INFORMATIVO: INFORMAÇÃO PARA O UTILIZADOR

1. O que é Transpulmina (Adulto) supositórios e para que é utilizado. Se não se sentir melhor ou piorar após 3 dias, tem de consultar um médico.

Como Executar a Manobra de Heimlich

Folheto informativo: Informação para o utilizador

Este medicamento foi receitado para si. Não deve dá-lo a outros; o medicamento pode ser-lhes prejudicial mesmo que apresentem os mesmos sintomas

DISFUNÇOES RESPIRATÓRIAS

ADV-VALE Taubaté Associação dos Deficientes Visuais de Taubaté e Vale do Paraíba.

- mantenha todos os medicamentos fora do alcance e da vista das crianças.

Que locais podem ser usados como centros de exame MMM17?

Bromax é usado para facilitar a ação mucolítica do tratamento antibacteriano das infeções respiratórias em presença de hipersecreção brônquica.

2. O que precisa de saber antes de tomar Rivastigmina Generis Phar

Anexo III. Alterações às secções relevantes da informação do medicamento

Capítulo 16 Intimidade Sexual

Brochura de informação para o doente sobre KEYTRUDA. (pembrolizumab)

Exercite-se com seu diabetes

Folheto informativo. QVAR Autohaler

ACESSO A MEDICAMENTOS EM PNEUMOLOGIA

Entrevista Sara

Capítulo 5 Exercícios em clima quente

Acetilcisteína Azevedos 600 mg Comprimidos efervescentes Acetilcisteína

TUDO ISTO EXISTE TUDO ISTO É TRISTE TUDO ISTO É DOR.

Partilhar as suas informações para melhorar a assistência

30 motivos para fazer musculação

Folheto informativo: Informação para o utilizador. Lisomucin 2mg/ml gotas orais, solução Lisomucin 1,6 mg/ml xarope Cloridrato de bromexina

FOLHETO INFORMATIVO: INFORMAÇÃO PARA O UTILIZADOR. VUNEXIN 0,5 mg comprimidos revestidos por película Ropinirol (sob a forma de cloridrato)

Transcrição:

GUIA DO CUIDADOR DE PESSOA COM DPOC Introdução Normalmente, quando se fala sobre a doença, é dada maior parte da atenção aos doentes com DPOC e, em muito menor escala, aos profissionais de saúde. No DPOC.PT achamos que existe um grupo, para além dos doentes e dos médicos, que deve ser considerado: os cuidadores. Este guia é destinado a essas pessoas, sejam familiares, funcionários de lares, cuidadores privados ou outros, e vamos abordar os principais temas e dúvidas que possam ter, bem como dar algumas sugestões. Os doentes que sofrem de DPOC normalmente apresentam diariamente sintomas respiratórios moderados a graves, exigindo um programa abrangente de terapêutica farmacológica e, muitas vezes, de oxigénio para controlar e conseguir viver a doença.

Nesta fase, a pessoa de que cuida terá provavelmente dificuldade em manter um peso adequado e saudável, e associadamente fraqueza muscular que dificulta ainda mais a respiração. Noutros casos, pode estar acima do peso ideal, devido a restrição na atividade física. A administração da medicação, quer oral quer inalatória, torna-se um desafio. Para piorar a situação, como todo o processo respiratório torna-se gradualmente mais complicado, pelo aumento da obstrução à saída do ar provocando acumulação do mesmo nos pulmões, serão necessários mais fármacos para tentar compensar essas alterações. Medicação Sugerimos que desenvolva uma boa relação com o médico assistente, a enfermeira do Centro de Saúde/Hospital, ou mesmo o farmacêutico da sua farmácia, que pode ajudar a definir a melhor estratégia para o ajudar a fazer

cumprir a agenda de medicação e também a esclarecer quaisquer perguntas relacionadas com a medicação. Pergunte sobre os dispositivos inaladores: esclareça as suas dúvidas, pois a toma correta dos mesmos é essencial para o seu doente! Verifique se ele consegue tomar a medicação sem problemas. Por vezes, pode ajudar adicionar uma câmara expansora. Fale com o médico. Se quiser tirar dúvidas sobre como se utiliza cada inalador, visite o nosso site, que contém links para vídeos explicativos. Se existir indicação para tomar corticoide inalado, não se esqueça que o seu familiar ou utente, deverá bochechar sempre após cada inalação. É importante realizar sempre este passo, para evitar infeções. Informe-se sobre a Oxigenoterapia. Muitas pessoas com DPOC avançada precisam de oxigénio suplementar para manter a oxigenação do seu sangue dentro de níveis aceitáveis. Nem sempre os doentes têm uma boa adesão, mas se conseguir explicar que isto melhora a sua qualidade de vida e torna possível ser mais ativo, poderá contribuir para o sucesso terapêutico.

Deve também estar a par das condições de segurança de se ter Oxigénio no domicílio, principalmente se o método escolhido foi o de cilindro. Tenha o contato da empresa que lhe vai fornecer o Oxigénio sempre por perto. E esteja presente quando forem instalar o equipamento. Aprenda o máximo possível e tire as suas dúvidas. Verifique que tem tubos de reposição, baterias e todos os acessórios necessários para os sistemas portáteis. Certifique-se também das hipóteses de obter um sistema de backup, no caso de o sistema primário falhar. Adaptado Se a pessoa que está a tomar conta ainda fumar, pode ajudá-lo a motivar para deixar de fumar. Além de todas as outras razões para a cessação, fumar na presença do equipamento de oxigénio, se em cilindro, pode ser perigoso. Procure informações sobre grupos de apoio, e fale com o médico dele/a para obter ajuda qualificada. Atividades da vida diária Logo desde o inicio da doença, a mobilidade e a atividade física do doente estão mais limitadas, e com a progressão da DPOC, tudo se torna ainda mais

complicado. Nesta fase, muitos doentes com DPOC começam a evitar qualquer atividade física, porque provoca falta de ar e fadiga, o que pode ser desconfortável e mesmo assustadora. Ajudar a pessoa de que cuida a encontrar mecanismos para permanecer ativo, com o mínimo desconforto possível, é um dos seus objetivos mais importantes. Informe-se e procure ajuda para a aquisição de dispositivos de ajuda à mobilidade, tal como canadianas e andarilhos. Muitas pessoas com DPOC grave conseguem realizar algum grau de locomoção, se puderem apoiar-se em algo. Mentalize a pessoa de que está cuidando sobre a necessidade de cumprir a terapêutica prescrita, ajudando a superar qualquer constrangimento sobre o uso de oxigénio em público. Escolha os locais mais indicados para levar o seu familiar ou doente a exercitar: os centros comerciais são um dos locais ideais, porque são planos e estão climatericamente protegidos, com muitos lugares para sentar e descansar. E porque não fazer exercício com ele/a? Se adquirir uma bicicleta, passadeira e/ou pesos, podem fazer exercício os dois, enquanto veem televisão ou conversam. Isto pode ser fundamental, principalmente se o doente necessitar de O2.

Caso a mobilidade já esteja quase totalmente limitada, existe a opção de adquirir uma cadeira de rodas ou scooters elétricas. Hoje em dia, há muitas mais opções disponíveis do que há poucos anos atrás, que são imprescindíveis para pequenas deslocações. Mudar para uma cama ajustável e/ou elevar a cabeceira da cama, ajuda no alívio da sensação de dispneia. Configure o quarto de banho, com uma cadeira de chuveiro e uma cabeça de chuveiro portátil, para que o doente possa sentar, se necessário. Se a pessoa de que está a cuidar é o seu marido/mulher, não desista já da vida sexual. Juntos podem continuar a manter uma vida sexual razoável. Primeiro, é essencial manter a tranquilidade e que ambos aceitem esta nova realidade. Segundo, devem procurar as posições mais adequadas, de preferência, aquelas em que a pessoa com DPOC seja mais passiva no ato, evitando cansar-se demasiado e não aproveitando esse momento. Se necessário, o oxigénio pode ser usado! E não se esqueça, converse sempre com o médico sobre este tema, não tenha vergonha. Pode também consultar o Manual Viver com DPOC. Preste atenção à qualidade do ar.

Estar em alerta para o surgimento de depressão. Como a DPOC é progressiva e provoca limitação nas atividades diárias, muitas pessoas sofrem de tristeza, frustração e depressão, por não conseguirem lidar com a situação. Noutros casos, a síndrome depressívo pode se manifestar como mau humor ou raiva. Pode falar com ele/a, ajudando a motivar, e esclarecendo quaisquer medos ou frustrações, mas não tente ser um/a terapeuta. Fale sempre com o médico assistente do doente sobre estes sintomas, pois a ajuda profissional é o mais indicado para ajudar a pessoa de quem cuida a superar esta fase. Exacerbações Esteja preparado/a para possíveis exacerbações da DPOC. Estes episódios são agudos, ou seja, acontecem de repente. Devem ser tratados o mais cedo possível, para impedir o agravamento da situação. Deve saber qual a medicação SOS, caso esteja prescrita, e onde se dirigir. Pode ser necessária uma ida inesperada ao Hospital ou Centro de Saúde. Recomendamos que tenha sempre uma lista com a medicação habitual do doente, bem como dos restantes antecedentes patológicos, pois o doente pode não conseguir falar ou lembrar-se. Não esquecer de referir qualquer reação adversa anterior a um fármaco.

Se o doente, após uma ida por exemplo ao médico de família, por apresentar um quadro aparentemente infecioso, e lhe tenha(m) sido prescrito(s) antibiótico(s) e não tenha notado melhorias passadas 24h, não fique preocupado. Muitas vezes, só após 48h-72h se notam efeitos reais da medicação. Preste atenção à qualidade do ar ambiental. Evite que o doente esteja muito tempo em contato com pós, gases ou outras substâncias inalatórias irritantes, que podem provocar exacerbações. Obviamente que não precisamos de dizer que não deve fumar ao pé dele/a. Mesmo simples perfumes podem ser suficientes para provocar irritação!

Aprenda, se conseguir, a ajudar no alívio da tosse, recorrendo à técnica da tosse controlada, ajudando na libertação e expulsão da expetoração acumulada nas vias aéreas. Isto ajuda na limpeza da árvore brônquica e diminui o risco de sobreinfecção. Apesar de todas estas limitações e consequências, não deixe que o medo se apodere dele/a e de si, pois algumas pessoas com DPOC limitam-se excessivamente, pelo receio de provocar nova exacerbação.