IXI ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, São Paulo, 2009, pp. 1-18. CARACTERIZAÇÃO DE UMA CIDADE PEQUENA INSERIDA NO CONTEXTO DO AGRONEGÓCIO MATO-GROSSENSE CARACTERIZACIÓN DE UMA CIUDAD PEQUEÑA EN EL CONTEXTO DE AGRONEGOCIO MATO-GROSSENSE André Luiz Santos Portela Universidade Federal de Mato Grosso andreportelageo@gmail.com Natalya Loverde Parpinelli Universidade Federal de Mato Grosso nattalya@terra.com.br Resumo: Esse trabalho tem por objetivo caracterizar a dinâmica de uma cidade pequena inserida no contexto do agronegócio Mato-Grossense, tomaremos como exemplo o município de Campo Novo do Parecís, localizado a noroeste do estado de Mato Grosso na área de expansão da fronteira agrícola nos anos 70 e 80. A mesma apresenta altos índices de produção agrícola, filiais de grandes empresas multinacionais, e ainda destaca-se em capacidade de armazenagem de grãos, SEPLAN (2006). Segundo Carlos (1996), existem inúmeros exemplos de cidades pequenas que se especializaram produtivamente, fazendo parte da rede urbana globalizada, possuindo assim uma dinâmica própria dentro deste contexto. A metodologia utilizada constou de levantamentos bibliográficos e coleta de dados primários. Concluindo-se que a forma de ocupação e o momento histórico em que isso ocorre, influenciam diretamente na dinâmica e economia destas cidades pequenas, inseridas em área de expansão da fronteira agrícola, fazendo com que a economia destas se voltem exclusivamente para a agricultura de exportação, e fortalecimento do capital. Palavras Chaves: Cidade pequena; Agronegócio; Fronteira Resumen: Este trabajo tuvo como objetivo caracterizar la dinámica de una ciudad pequeña inserta en el contexto de agronegocios Mato-Grossense, tomar como ejemplo la ciudad de Campo Novo de Parecis, ubicada al noroeste del estado de Mato Grosso en el área de expansión de la frontera agrícola en los años 70 y 80. Se muestra altos
2 XIX ENGA, São Paulo, 2009 PORTELA, A. L. S. e PARPINELLI, N. L. índices de la producción agrícola, filiales de grandes empresas multinacionales, y, sin embargo, hay una capacidad de almacenamiento de grano, SEPLAN (2006). De acuerdo con Carlos (1996), hay innumerables ejemplos de ciudades pequeñas que se han especializado productiva como parte de la red urbana globalizada, por lo tanto, tener un gran dinamismo dentro de este contexto. La metodología consistió en encuestas bibliográfica y la recopilación de datos primarios. Concluyendo que la forma de ocupación y el momento histórico en que esto ocurre, una influencia directa sobre la dinámica y la economía de estas pequeñas ciudades incluidas en la zona fronteriza de la expansión agrícola, causando la economía de una vuelta exclusivamente para la agricultura, la exportación, y el fortalecimiento de la capital. Palabras clave: Pequeñas Ciudad; Agronegocio; Frontera. Introdução Observamos que está ocorrendo uma rápida mudança no uso do solo em escala global, principalmente nos trópicos, onde os diversos fatores, dentre os quais o clima, favorece a produção agrícola. O estado do Mato Grosso vem ganhado cada vez mais destaque no cenário nacional e internacional, principalmente no aspecto econômico graças ao elevado índice apresentado pela produção agropecuária dos últimos anos. Vários municípios destacam-se a nível estadual / nacional pela sua produção agrícola, como exemplo Campo Novo do Parecís, criado em julho de 1988, localizado a Noroeste do estado de Mato Grosso, na mesorregião Norte mato-grossense, microrregião do Parecís. As mudanças ocorridas nos ecossistemas estão fortemente associadas aos processos de desenvolvimento socioeconômico, a intensificação do uso agrícola, degradação e uso indevido da terra, principalmente em países subdesenvolvidos. Lambin (apud Anderson et al, 2002) relata que o conhecimento e o entendimento necessário para se compreender estes processos ainda estão muito fragmentados para estimar o vasto impacto destas mudanças nos sistemas naturais e sociais. (ANDERSON et al, 2003).
Caracterização de uma cidade pequena inserida no contexto do agronegócio matogrossense, pp. 1-18. 3 Distante aproximadamente 397 km da capital - Cuiabá, a uma altitude media de 572 m e área de 9.448,38 km² (944.838,40 ha.), contando com uma população de 22.322 habitantes (IBGE, 2007). Apresenta altos índices de produção agrícola, e através do cultivo da soja se mantém há alguns anos, nos primeiros lugares do ranking dos maiores produtores deste grão no estado, alem disso ainda destaca-se em capacidade de armazenagem da produção (62 armazéns convencionais e 03 graneleiros), segundo dados fornecidos pelo Anuário Estatístico de Mato Grosso (SEPLAN, 2006), destacando-se assim como uma cidade pequena de dinâmica agrícola tecnificada. Sendo assim este artigo tem como intuito caracterizar a dinâmica de uma cidade pequena inserida no contexto do agronegócio e da fronteira agrícola Mato Grossense. Procedimentos Metodológicos Para que os objetivos sejam alcançados será realizado um levantamento de dados secundários que Segundo Lakatos (2006), pesquisa de dados secundários, e aquela que abrange toda a literatura publica em relação ao tema em estudo. Na segunda fase foi realizada pesquisa de campo, que de acordo com os autores citados anteriormente é o momento da observação empírica do pesquisador no próprio campo, onde ocorre o fenômeno a ser pesquisado e seja relacionado o método da observação assistemática que se baseia em uma técnica de observação espontânea, informal, livre, simples, ocasional, que consiste em recolher e registrar os fatos da realidade sem que o pesquisador utilize técnicas especiais ou faça perguntas diretas. (MARCONI; LAKATOS, 2003). Na tentativa de se analisar algo que correspondesse à expectativa deste artigo buscou-se as bases cartográficas disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE e imagens de satélite LANDSAT, BANDAS 3, 4 e 5, nas Órbitas 227 e pontos 071, 072 e 228 pontos 069 e 070 dos anos de 2000 a 2006; sendo que as imagens do ano 2000 foram captadas nos dias 09, 18 e 27 de setembro e as do ano de 2006 nos dias 05, 12 e 21 de agosto disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INPE. Para análise das imagens utilizou-se o software de georreferenciamento ArcGis 9.2 (ArcMap, ArcCatalog) e para o cálculo de área o Microsoft Excel. Desta forma se buscou compreender melhor a realidade abordada, facilitando na compreensão do objeto estudado. 3
4 XIX ENGA, São Paulo, 2009 PORTELA, A. L. S. e PARPINELLI, N. L. A Pequena Cidade do Agronegócio O Brasil é considerado hoje um país altamente urbanizado, depois de superar varias etapas no processo de urbanização. Com criação de atrativos operacionais, principalmente em regiões de expansão de fronteira, novos núcleos populacionais surgiram, e obtiveram como reflexo a criação de cidades de diversas dimensões. Está atração aconteceu, segundo Alves (1995), graças à implementação do melhoramento na agricultura, tanto na modernização quanto na mecanização dos processos agropecuários. Para participarem deste novo mercado, muitas pessoas se deslocaram, principalmente de grandes e médias cidades para estes novos locais de desenvolvimento presentes no campo brasileiro. Antes lugares inóspitos, sem nenhuma infra-estrutura, e que hoje trazem desenvolvimento da infra-estrutura tanto nas comunicações, sistemas de transporte entre outros fatores, e que se tornaram uma nova alternativa para que as pessoas dispostas a deixar os grandes centros, rumo a novas oportunidades (Alves, 1995). Este processo hoje causa a desmetropolização, que consiste no processo recente de diminuição dos excedentes populacionais para as metrópoles, conseqüentemente criando novos centros urbanos. Segundo Alves (1995), o Brasil pode vivenciar um fenômeno hoje presente no primeiro mundo, caracterizado pelo retorno da população para regiões rurais, e que habitem cidades longínquas dos grandes centros, mais próximas dos novos pólos de atração. Isso ocorre hoje graças às forças de dispersão e do interesse do capitalismo, que encontrou nestas novas fronteiras, uma forma de (re) incorporação de áreas produtivas (ENDLICH, 2006). Na realidade das pequenas cidades, o que ocorre é uma nova reestruturação promovida pelo capitalismo, para o qual agora interessa a desconcentração espacial das atividades. Este processo tem sido destacado como forma de impulsionar e viabilizar a instalação de atividades industriais e de serviços em pequenas cidades, trazendo assim novas possibilidades econômicas. Como parte desta reestruturação, tem-se estimulado o uso de estratégias de desenvolvimento local, a partir da convergência de forças políticas para a gestão dos municípios e regiões, valorizando com isso elementos endógenos e impulsionando a participação da sociedade local, atraindo assim investimentos antes destinados a outras regiões, e que
Caracterização de uma cidade pequena inserida no contexto do agronegócio matogrossense, pp. 1-18. 5 através de incentivos, e facilidades podem ser empregados em novos locais estes, menos conturbados. O conceito de pequenas cidades é bem complexo. As localidades assim denominadas oferecem elementos para se discutir não só o conceito de pequenas cidades como o próprio conceito de cidade, pois nelas são avaliados os qualificativos que devem compor o limiar entre a cidade e a não-cidade. (ENDLICH, 2006). Mas a cidade como fenômeno universal não surge grande. As primeiras cidades eram aglomerações viabilizadas pela produção de excedente alimentar, divisão espacial do trabalho (campo-cidade) e uma estrutura de controle que procurava manter a drenagem de excedentes (SINGER, 1998). Segundo Endlich (2006), as pequenas cidades e a relação com o campo compõem um primeiro patamar de localidades na rede urbana. Por outro lado, neste mundo cada vez mais articulado, a realidade urbana deve ser compreendida no seu conjunto e com suas contradições.por isso, não é adequado adotar uma tipologia rígida, sendo aconselhável além da flexibilização na classificação, o estabelecimento de áreas comparáveis, ou onde é possível tomar por referência critérios comuns. Para cada Região deve se considerar um patamar demográfico para se classificar cidades pequenas, ou médias. Temos como exemplo a França, que tem como limite o mínimo de dez mil habitantes, enquanto em Quebec (Canadá) o limite proposto é de 2.500 habitantes, em virtude da diferença de densidade demográfica. (DESMARAIS, 1984). Santos (1989), também sugere o limite de 2.500 habitantes. As pequenas Cidades se destacam hoje principalmente por suas especialidades, no Brasil existem diversos exemplos. No Estado de Mato Grosso podemos observar uma cidade pequena mais dinâmica, diferente de muitas que se encontram estagnadas e enfrentam um relativo isolamento das cidades maiores. Neste Estado destacamos o município de Campo Novo do Parecís que têm uma população estimada de 22.322 habitantes (IBGE, 2007), tendo na agricultura moderna e tecnificada sua especialidade, atraindo com isso cada vez mais investimentos ligados a estas atividades, pois o Agronegócio como foi descrito por Jonh Davis e Ray Goldberg (1957), que criaram o termo Agribusiness (agronegócio), definiu como sendo a soma de todas as operações e transações envolvidas no processamento e na 5
6 XIX ENGA, São Paulo, 2009 PORTELA, A. L. S. e PARPINELLI, N. L. distribuição de insumos agropecuários, as operações de produção na fazenda e o armazenamento, o processamento e a distribuição de produtos agrícolas e seus derivados FARINA e ZYLBERSZTAJN, (1994). Através destes procedimentos desde a operação no campo até o eventual processamento e armazenamento na cidade, faz com que a relação campo-cidade esteja extremamente presente, além do que a cidade está totalmente ligada à economia globalizada, que mesmo distante dos grandes centros, consegue absorver e viver as tendências das grandes metrópoles. A grande produção de grãos no município reflete na vida da cidade que têm no campo a sua maior força. A Razão para a instalação de grandes empreendimentos agroindustriais neste município está basicamente na questão logística, que é favorecido pela presença de rodovias federais e estaduais que cortam o município: MT 358 Tangará da Serra - Itamarati Norte; MT 170 Itamarati Norte - Campo Novo do Parecís; MT 235 Nova Mutum, além da localização geográfica que privilegia está prática. O Brasil teve nos últimos quarenta anos a criação de diversos novos núcleos de fronteiras de ocupação e de modernização agrícola, que surgiram principalmente nos estados de Mato Grosso, Rondônia, Tocantins, Paraná e Mato Grosso do Sul. (Corrêa, 1999). Em áreas já ocupadas, surgiram novas unidades agrícolas tecnificadas como pode ser notado no Estado de Mato Grosso. O fato da realização da modernização nestas regiões agrícolas foi pensado e programado segundo uma perspectiva global; pois o que é produzido nestas terras é exportado para outros paises, e deve estar dentro totalmente da lógica econômica mundial. Esta nova lógica agrícola, trouxe diversas inovações ao campo, e este capital que se inseriu trazendo consigo contingentes de mão-de-obra para locais antes inóspitos do País, como explicado por Milton Santos, os fixos (O capital), atrai os fluxos (Contingente populacional). Ainda mais no contexto mato-grossense estes fluxos chegaram principalmente pelas rodovias, no caso do médio norte mato-grossense pela Rodovia BR-163 e 364, que trouxe além de tudo o suporte que o capital necessitava. Em busca de novas oportunidades, e agregando a mão-de-obra que estas empresas agrícolas necessitam, chegam a estes núcleos os trabalhadores, que logo em seguida devido ao grande fluxo de pessoas constituem uma cidade; este pode ser
Caracterização de uma cidade pequena inserida no contexto do agronegócio matogrossense, pp. 1-18. 7 um paralelo muito expressivo do que ocorre em Mato Grosso. Estas novas cidades por estarem ligadas a esta nova tendência agrícola totalmente globalizada formam redes geográficas, que segundo Santos (1988), em toda a parte a rede urbana sofreu o impacto da globalização cada centro por menor que seja participa. Neste contexto se enquadram as cidades pequenas, que têm toda a sua função direcionada para o agronegócio desde a sua criação. Segundo o Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), núcleos urbanos que têm uma população inferior a 50.000 habitantes pode ser considerada uma cidade pequena. Nestas pequenas cidades globalizadas a economia está voltada diretamente para o campo modernizado, ou para as empresas agrícolas, que segundo Corrêa (1999), influenciam na reestruturação fundiária, nas relações de produção, nos sistemas agrícolas, em novos cultivos e na criação dos complexos agro-industriais. Para Santos (1993), cidades que têm a maioria das suas atividades voltadas para agricultura modernizada, recebem o nome de cidades do campo. Nestas cidades as atividades produtivas são especializadas, além de que mantém relações comerciais com outras cidades distantes, pois no seu território se nota a presença de grandes corporações multinacionais que investem nestas cidades, por serem de locais distantes torna-se necessário a comunicação muito rápida com suas sedes o que demonstra a ligação evidentes destes pequenos núcleos com o comércio globalizado. De acordo com Carlos (1996), existem inúmeros exemplos de pequenas cidades que se especializaram produtivamente, fazendo parte da rede urbana globalizada. O município de Campo Novo do Parecis, retrata bem este paralelo, se especializando na produção e exportação de grãos, o que demonstra a nova tendência das cidades pequenas relacionadas com a produção agro-pastoril, que de acordo com Santos ( 1994) a cidade hoje é, também o fato do campo, onde ciência, tecnologia e informação fazem parte do ambiente modernizado. Campo Novo localiza-se a Noroeste do estado de Mato Grosso ( fig. 01), na mesorregião Norte mato-grossense, microrregião do Parecís. Distante aproximadamente 397 km da capital - Cuiabá, a uma altitude media de 572 m e área de 7
8 XIX ENGA, São Paulo, 2009 PORTELA, A. L. S. e PARPINELLI, N. L. 9.448,38 km² (944.838,40 ha.), contando com uma população de 22.322 habitantes (IBGE, 2007). Apresenta altos índices de produção agrícola, e através do cultivo da soja se mantém a alguns anos, nos primeiros lugares do ranking dos maiores produtores deste grão no estado, além disso ainda destaca-se em capacidade de armazenagem da produção (62 armazéns convencionais e 03 graneleiros), segundo dados fornecidos pelo Anuário Estatístico de Mato Grosso (SEPLAN, 2006). Campo Novo do Parecís foi criado em julho de 1988 através da Lei Nº. 5.315-88 de 04/07/1988, após desmembrar-se do município de Diamantino. Localiza-se ao Noroeste do estado de Mato Grosso, na mesorregião Norte mato-grossense, esta compreendendo a microrregião do Parecís. (Longitude 57 53 11 e Latitude 13 38 51 ). Distante aproximadamente 397 km da capital - Cuiabá, a uma altitude media de 572 m e área de 9.448,38 km² (944.838,40 ha.), conta com uma população de 22.322 habitantes (IBGE, 2007), alem de dois distritos o de Marechal Rondon e Itanorte. A sede do município conta com aproximadamente 4.724 imóveis urbanos e aproximadamente 500 unidades de imóveis rurais, de acordo com dados da Prefeitura Municipal. A região apresenta clima Tropical Quente e Úmido (com verão chuvoso e inverno seco) e Equatorial, alem de uma pluviosidade de aproximadamente 2.100 milímetros anuais.
Caracterização de uma cidade pequena inserida no contexto do agronegócio matogrossense, pp. 1-18. 9 Fig.01- Localização do Município de Campo Novo do Parecis. Elaboração: PORTELA (2008). O Planalto do Parecís configura-se como o mais extenso divisor de águas das bacias Amazônica e Platina, com interflúvios planos ou suavemente ondulados. A região apresenta solos do tipo Latossolo Vermelho-Amarelo e Vermelho Escuro, além de Areias Quartzosas. Os primeiros com boa aptidão a agricultura mecanizada, no entanto a ultima se apresenta com baixa fertilidade tornando-se assim impróprias pra o 9
10 XIX ENGA, São Paulo, 2009 PORTELA, A. L. S. e PARPINELLI, N. L. manejo agrícola. Com cobertura vegetal de Savana Arbórea Aberta e manchas do contato Savana/ Floresta Estacional (fig. 02). (MOREIRA; VASCONCELOS, 2007) O município e cortado por rodovias federais e estaduais: MT 358 Tangará da Serra - Itamarati Norte, MT 170 Itamarati Norte - Campo Novo do Parecís, MT 235 Nova Mutum - Campo Novo do Parecis, BR 364 Diamantino - Itamarati Norte e a ainda a ligação pela estrada Nova Fronteira: Campo Novo do Parecis Sapezal. Fator este que facilita o escoamento da safra, em sua maioria de algodão, arroz, cana de açúcar, milho e soja. (FAY, 2006). Fig.02- Cobertura Vegetal do Município de Campo Novo dos Parecis. Elaboração: PARPINELLI (2008).
Caracterização de uma cidade pequena inserida no contexto do agronegócio matogrossense, pp. 1-18. 11 A ocupação do Noroeste Mato- Grossense e a Expansão Agrícola Werle (1996) destaca que nas décadas de 1960 e 1970, ocorreu uma grande transformação na estrutura produtiva no sul do Brasil, passando da policultura familiar e de subsistência, para a monocultura de soja e trigo, estas por sua vez tecníficadas, e com a utilização de implementos e insumos modernos. Neste mesmo período as regiões pioneiras do sul da Amazônia passaram por um processo de crescimento da produção agrícola. As sucessivas marchas ao oeste, efetuadas através da colonização agrícola, e apoiadas por programas governamentais, estes apoiados pelo discurso da integração nacional, geraram um conjunto de situações territoriais e estruturais acerca da produção agrícola. Essa dinâmica foi marcada pela uma intensa migração de colonos do Sul do Brasil, e pela implantação da infra-estrutura necessária ao desenvolvimento econômico cada vez mais voltado aos mercados internacionais. Com isso o estado de Mato Grosso foi incorporado de maneira intensa à economia nacional, tendo a produção de grãos grande destaque, isto graças ao sucesso obtido pelas pesquisas realizadas por órgãos públicos e privados sobre manejo e fertilidade do cerrado. A colonização privada se sobrepôs aos outros tipos de colonização (oficial e espontânea) e as bases para uma agricultura capitalista, tendo a soja como principal produto, estavam inseridas no interior de nosso estado. O PIN (Plano de Integração Nacional), datado de 1970, atribuía importância ao desenvolvimento da nova Amazônia, que surge a partir de uma política de estímulo à formação de pólos agrícolas na área de influência da rodovia BR-364, entre Cuiabá (MT) e Porto Velho (RO). O projeto POLOCENTRO, destinava-se ao bioma Cerrado em especial a Chapada dos Parecis, que apesar de apresentar solo da baixa fertilidade, favorecia o desenvolvimento da agricultura mecanizada, em virtude do relevo ondulado e topografia plana, e também pelas características climáticas da região, com duas estações bem definidas: chuvosa e seca. Alem disso este implantou ainda uma política voltada para a facilitação de créditos a agricultores que desejassem melhorar as condições de uso de suas terras, estas em sua maioria devolutas, investindo ainda na abertura e conservação das vias de comunicação (estradas, linhas elétricas). 11
12 XIX ENGA, São Paulo, 2009 PORTELA, A. L. S. e PARPINELLI, N. L. É neste contexto que surgem as grandes fazendas e as grandes sociedades na Chapada dos Parecís, sendo seu estimulo dado principalmente pelas grandes empresas que instalaram filiais na região, aquecendo assim o setor de comercio e serviços, principalmente no município de Tangara da Serra. Seguindo em direção ao planalto, os grandes produtores organizaram-se e em 1981, um novo centro urbano, surge com o nome de Campo Novo, este teve como principal incentivo à instalação da usina e destilaria de álcool COPRODIA, alem do comércio que favoreceu o progresso da nova cidade, esta elevada à categoria de município em 1988. Rapidamente esta se torna uma etapa importante para o avanço da frente pioneira, em direção a região norte do estado. ( FAY et al, 2006) O desenvolvimento das atividades agrícolas no planalto foi acompanhado de uma transformação drástica da paisagem: o cerrado deu lugar a grandes parcelas geométricas, retratando principalmente seu deslocamento. Segundo Dubreuil (2005), o grande crescimento populacional vivido pelo município, é comum principalmente em cidades de frentes pioneiras, sendo este atribuído a fatores culturais e políticos da colonização brasileira, nos quais os projetos de colonização privada estão concentrados em torno de um núcleo urbano principal, sendo seu desenvolvimento assegurado pela distribuição casada de um lote urbano para cada aquisição de lote rural. Diferentes fatores favoreceram a degradação existente na região, dentre eles o papel das colonizadoras, e de incentivos fiscais, dados a empresas para a aquisição de grandes parcelas de terras. Diante desta realidade, a degradação ambiental é inevitável, sendo esta uma conseqüência do ritmo acelerado e da extensão de como esta ocupação ocorre. No entanto os efeitos deste processo vão alem dos espaços afetados, parte desse processo seu deu através de incentivos governamentais, no entanto, fazendo com que a superfície desmatada aumentasse cada vez mais. Para Charão (apud MONTEIRO, 2006), a riqueza presente na biodiversidade do cerrado, não consegue superar os valores de seus recursos extrativistas, alem da transformação destas áreas em pastos e plantios principalmente da soja.
Caracterização de uma cidade pequena inserida no contexto do agronegócio matogrossense, pp. 1-18. 13 No domínio intertropical, onde a diversidade biológica esta integrada á complexidade, a ruptura causada pela devastação rompe a estabilidade do sistema podendo levar a extinção de espécies, desencadeando uma reação em cadeia prejudicial a todo eco sistema. RODES apud MONTEIRO (2006) Neste contexto surge outro conceito de fronteira, que segundo Monteiro (2006), compreende dois tipos de exploração: uma imediata, aproveitando a vegetação existente, e outra posterior, na qual se explora o solo e o subsolo de forma econômica. O avanço desta fronteira se dá em sua maioria através de posseiros e grileiros, sendo substituídos por extrativistas e produção de subsistência, seguidos por pecuaristas e finalmente atingindo os grandes agricultores com a produção em larga escala, constituindo assim o ultimo processo de ocupação desta fronteira. Estes mesmo sendo os ultimo a ocuparem estas áreas, são os grandes responsáveis pelo desmatamento em larga escala, principalmente no bioma cerrado. A Economia em Novos Campos A atual importância do município de Campo Novo ultrapassa os limites locais, caracterizando assim um dos principais pontos de desenvolvimento de uma região produtora, que abrange ainda os municípios de Brasnorte, Nova Maringá, e Diamantino. Com uma área de 460 mil hectares ocupados por lavouras e aproximadamente 500 imóveis rurais, o município representa aproximadamente 11% da produção e 8% do PIB agrícola do estado. A produção deste e voltada principalmente para a exportação e representa cerca de 10% do que o estado de Mato Grosso produz de soja, e 2,3 % da produção brasileira de grãos. Um dos principais fatores que favorecem a comercialização, e explicado pela qualidade da soja produzida no Chapadão do Parecis. Esta oferece cerca de 2% a mais de óleo e proteínas por tonelada, em relação aos grãos produzidos em outras regiões do estado. Isto se dá devido a uma maior quantidade de luminosidade, clima e o relevo que favorecem o uso de maquinas agrícolas e tecnologia avançadas, apresentando assim uma área plantada de 380.000 há, de acordo com a Prefeitura Municipal (2006). 13
14 XIX ENGA, São Paulo, 2009 PORTELA, A. L. S. e PARPINELLI, N. L. Além da soja, o município também esta entre os maiores produtores estaduais de algodão, com área plantada de 17.000 ha. contribuindo com 11% da área plantada estadual. Com isso espera-se que em pouco tempo instale-se na cidade usinas de beneficiamento para atender a demanda da produção. Nas próximas representações cartográficas (fig.03 e fig.04) de uso do solo, podemos destacar o avanço da área agricultável no município de 2000 a 2006. Fig. 03- Mapa Uso do Solo de Campo Novo do Parecís (Ano 2000). Elaboração: PORTELA (2008).
Caracterização de uma cidade pequena inserida no contexto do agronegócio matogrossense, pp. 1-18. 15 Fig.04 - Mapa de Uso do solo do Município de Campo Novo dos Parecís. Elaboração: PORTELA (2008). Nota se claramente que em um intervalo de seis anos houve um crescimento de 16 % na área destinada a Agricultura no município, isso mostra que cada vez menos as áreas de cerrado vão desaparecendo de seu território, talvez esse sejas o grande desafio a ser vencido nas próximas décadas, se produzir cada vez mais, sem aumentar as áreas agrícolas e conseqüentemente preservando a vegetação natural. 15
16 XIX ENGA, São Paulo, 2009 PORTELA, A. L. S. e PARPINELLI, N. L. Considerações Finais Diante do exposto neste artigo, foi possível analisar as relações existentes entre uma cidade pequena no contexto do agronegócio do mundial, pois a produção do município é exportada para países Asiáticos, Europeus e Americanos, desta forma criando uma rede logística, de comunicação e serviços, que em sua maioria são representados pelas filiais das multinacionais que se instalam/instalaram na região. Este fato se tornou possível graças ao processo de expansão da fronteira agrícola nas décadas de 1970 e 1980, que em sua maioria tive a participação direta do estado, principalmente no setor de infra-estrutura além da aquisição de terras, propiciando assim o cenário de desenvolvimento econômico presente em vários municípios que fizeram parte deste processo Referências Bibliográficas ALVES, Eliseu. Migração Rural-Urbana. Revista de Política Agrícola, Ano IV, n. 4, out./dez., p. 15-29, 1995 ANDERSON, Liana Oighenstein. et al. Avanço da soja sobre o ecossistema cerrado e floresta no Estado do Mato Grosso. In: XI SEMINARIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO. Belo Horizonte. Anais. 2003 Anuário Estatístico de Mato Grosso - 2006. Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral. Cuiabá: SEPLAN - MT: Central do Texto, 2007. CARLOS, A. F. A.. A Mundialidade do Espaço. In: Ana Fani Alessandri Carlos. (Org.). O LUGAR NO/DO MUNDO. SÃO PAULO: HUCITEC, 1996, v., p. 121-134. CORRÊA, Valmir B., Fronteira Oeste. Campo Grande-MS. Editora UFMS, 1999, Coleção Fontes Novas. CORREA, R. L. A. Globalização e Reestruturação da Rede Urbana - Uma Nota sobre as Pequenas Cidades. Território, Rio de Janeiro, v. 6, p. 43-53, 1999. DESMARAIS, R. Considération sur les notions de petite ville et de ville moyenne. Cahiers de Geógraphie du Québec, Saint-Foy (Quebec) v. 28, n.75, p. 355-364, dez.1984. DUBREUI, Vincent et al. Evolução da fronteira agrícola no centro-oeste de Mato Grosso: municípios de Tangará da Serra, Campo Novo do Parecís e
Caracterização de uma cidade pequena inserida no contexto do agronegócio matogrossense, pp. 1-18. 17 Diamantino. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v. 22, n. 2, p. 463-478, 2005. ENDLICH, Ângela M. Pensando os papéis e significados das Pequenas cidades do noroeste do Paraná. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita. Presidente Prudente, 2006. FARINA, E. M. M.Q e ZYLBERZSTAJN, D. Competitividade e organização das cadeias agroindustriais. Costa Rica: IICA, 1994, 62p. FAY, Maria das Graças S. et al. Revivendo Campo Novo do Parecis. 1ª ed. Tangara da Serra: São Francisco, 2006. Instituto Brasileiro de Geografia e Estáticas - IBGE. Anuário Estatístico do Brasil 2007. Disponível em: www.ibge.br Instituto Brasileiro de Geografia e Estáticas - IBGE, Cidades. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Mariana de Andrade. Fundamentos de metodologia cientifica. 5ª. ed. São Paulo: Atlas, 2003. LAKATOS, Eva Maria & MARCONI, Maria de Andrade. Fundamentos de Metodologia Cientifica. (8ª edição). São Paulo: Atlas S. A., 2006. Instituto de Geografia e Estatística- IBGE. Disponível em: www.ibge.gov.br. Acessado em: 22 de agosto de 2008. MONTEIRO, Jorge Luiz G. Desmatamento na área de influencia da BR- 163. In: BERNARDES; Julia Adão; FILHO, Osni Luna Freire. Geografias da soja: BR 163 fronteiras em mutação. Rio de Janeiro: Arquimedes, 2006. MOREIRA, Maria L.C.; VASCONCELOS, Tereza N. N. (orgs). Mato Grosso: Solos e Paisagens. Cuiabá: Entrelinhas, 2007. Prefeitura Municipal de Campo Novo do Parecis. Site oficial. Disponível em: http://www.camponovodoparecis.mt.gov.br/site/index.php SANTOS, W. dos. Cidades locais, contexto regional e urbanização no período técnicocientífico: o exemplo da região de Campinas-SP. 1989. SANTOS, Milton (1994), Técnica espaço tempo. Hucitec: São Paulo. SINGER, P; MACHADO, J. Economia socialista. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2000, 81p. (Socialismo em discussão). SANTOS, M. A Urbanização Brasileira. Hucitec: São Paulo, 1993. SANTOS, M. Metamorfoses do Espaço Habitado. Hucitec: São Paulo, 1988. 17
18 XIX ENGA, São Paulo, 2009 PORTELA, A. L. S. e PARPINELLI, N. L. WERLE, Hugo José Scheuer. Meio Ambiente e Recursos Naturais na Globalização. Revista Mato-Grossense de Geografia. Cuiabá: EDUFMT, N. 01/02, 1998.