EIS COMO A ÁFRICA CONTROLARÁ EM BREVE A EUROPA De Jean-Paul Pougala O germano-americano Henry Kissinger, Conselheiro de Defesa Nacional do Presidente norte-americano Richard Nixon de 1969 a 1975 e Secretário de Estado de 119173 a 1977, declarara: Quem tem o controle sobre o petróleo controla a economia. Quem tem o controle sobre os cereais controla o mundo! Devido à soma de várias circunstâncias favoráveis a África se acha em curso de controlar a União Europeia, graças às suas terras aráveis, graças à sua agricultura, graças à sua produção de alimentos. Foi para impedir esse cenário para ela catastrófico que a Europa fez de tudo para impedir o acesso do continente africano à cultura dos cereais, ocupandoo com culturas inúteis e nefastas como o cacau, o café e o algodão. Quando isso não se mostrava o suficiente a Política Agrícola Comum, a PAC veio fazer o resto através do dumping agrícola, subsidiando excessivamente a exportação de certos produtos para a África para assim desarticular sua agricultura e sua pecuária. Contudo a profunda crise econômica da Europa, associada à chegada ao poder de uma nova geração de africanos mais instruídos e mais corajosos, está prestes a mudar esta conjuntura. E a África se acha em vias de controlar a Europa nos próximos 20 anos. Para compreendê-lo examinemos o porquê e o como dessa revolução. I O PORQUÊ 1 - DIMINUIÇÃO DOS ESPAÇOS AGRÍCOLAS NA EUROPA Segundo a revista econômica francesa La Tribune, na sua edição de 21 de dezembro de 1011, a primeira potência agrícola da União Europeia, a França, perde a cada segundo 26 m² de área agrícola ante o avanço da urbanização, ou seja, a França perde 82.000 hectares de terras agrícolas a cada ano. Diego Furia, Diretor na região do Piemonte do sindicato italiano dos agricultores, o COLDIRETTI, declarou em 25 de julho de 1011 que a cidade de Turim que possuíra certa autossuficiência alimentar, perdera em 15 anos 7.000 hectares de terras cultiváveis em benefício da especulação imobiliária e que, pelas mesmas razões, 100 hectares de terras agrícolas desapareciam a cada dia na Itália ante o avanço do cimento, das lojas, dos imóveis, dos supermercados e dos estacionamentos. E seu presidente Riccardo Chiabrando predisse: neste ritmo torna-se evidente que as futuras gerações de italianos não saberão mais o que é uma área agrícola, ou seja, hoje eles já vivem num país onde a densidade da população é quase duas vezes superior à da China, com 199 habitantes por km², contra 134 na China. O problema é ainda mais grave em todos os outros países europeus, como a Bélgica com 384 habitantes por km² e a Holanda com 400 habitantes por km². O déficit agrícola europeu é muito preocupante. Para alcançar sua autossuficiência alimentar, em 2011, faltam à Europa 35 milhões de hectares de terras agrícolas, segundo Robert Levesque, diretor do Terres d Europe-Scafr, o centro de estudos da federação Safer (empresas de desenvolvimento e ocupação rural) com um aumento de 9 milhões de hectares em 10 anos, a esse ritmo trata-se de verdadeira catástrofe alimentar para a Europa nos próximos anos porque, diz ele, Na Europa, o homem se encontra historicamente instalado sobre terras férteis e as cidades atuais cresceram em torno desses primeiros assentamentos. A partir de 1960 o processo de urbanização tomou anualmente 40.000 hectares dessas terras férteis na França. Em 2011 esta cifra dobrou. Isso significa que são as terras mais férteis as áreas invadidas
pelo cimento, uma verdadeira desgraça para as populações que consomem a maior parte dos produtos agrícolas do mundo. E como se assiste a uma aceleração desse processo na faixa de 26 m² por segundo de desaparecimento de terras agrícolas, surgem na África os oportunistas com compreenderam o processo e já esfregam as mãos para tirar proveito dessas insuficiências alimentares da Europa. Observou-se por exemplo que em Camarões as autoridades se precipitaram não pela obtenção de motos ou automóveis, mas de tratores. Em todo o continente africano está em curso a aprendizagem da produtividade e da competitividade. Cada nação visa seu quinhão do bolo europeu, tal como abutres em torno de seu festim agonizante. Os menos avisados não perceberam que seu fogo por construir um novo modelo agrário abre uma hipotética corrida pela grilagem de terras na África, mas a verdade é, ao contrário, o fato de que os africanos querem importar técnicas agrícolas modernas -- proibidas durante 200 anos pela cultura do café, cacau e algodão e acolhem muitíssimo bem a todos aqueles que possam contribuir para essa mutação histórica da agricultura africana que faz dos cereais seus produtos de renda. 2 A EUROPA SUPERPOVOADA E O CRESCENTE DÉFICIT ALIMENTAR Quando se formula a pergunta: qual o país mais densamente povoado do mundo, a resposta é: a China. Mas isto é falso. A China possui a mesma densidade populacional que a Nigéria: 134 habitantes por km². É a Europa que concentra os países mais populosos do mundo. A Itália, por exemplo, tem 199 habitantes por km², a Bélgica 385 habitantes por km² e os Países Baixos 400 habitantes por km². É portanto na Europa que se constata a maior perda de terras aráveis, ao passo que é este continente quem possui mais bocas a nutrir num dos espaços mais exíguos do mundo. A situação pior é a da Bélgica, com uma densidade de 1.217 habitantes por km² de terra aráveis segundo a OCSE; esse país apresenta taxa de urbanização de 92,7%, isto é, somente 7,3% de zonas rurais. E, como bem fazem observar Cazaux, Carels e Van Gijselghem numa reportagem publicada em 2007, mesmo esses 7,3% acham-se ameaçados por forte pressão imobiliária com consequente desaparecimento programado não apenas da produção agrícola mas também dos habitats de fauna e da flora selvagens. 3 ESPECULAÇÃO FINANCEIRA DOS PRODUTOS AGRÍCOLAS Se há uma coisa da qual tenha se falado muito em todas as partes do mundo durante os conflitos de 2008 a 2011, esta foi o aumento dos preços dos gêneros alimentícios entregues à especulação das bolsas de valores. Ou seja, os altos comerciantes que antes especulavam com o petróleo, o gás e os minérios decidiram repentinamente especular com os produtos alimentares. O que se subestimou foi a vantagem que a agricultura africana tiraria de tais especulações. Quanto mais o preço dos cereais aumenta, tanto mais isso se torna um trunfo para a África que por sua posição geográfica, seu clima favorável, seu alto índice pluviométrico e seu contínuo regime solar ao longo dos 12 meses do ano propicia a fácil obtenção de três colheitas por ano contra uma única nos países europeus. É assim que a dependência alimentar europeia frente à África torna-se inevitável e os déficits daí resultantes ameaçam se situar em centenas de bilhões de dólares por anos dentro de 10 a 15 anos. II - COMO 4 A RECUPERAÇÃO DE TERRAS AGRÍCOLAS AFRICANAS OCUPADAS PELOS EUROPEUS DESDE 1884 Segundo um estudo tornado público em 22 de abril de 2011 por Shouwang Maitian do
Centro de Informação da China de Pekim, existiriam na África 270 milhões de hectares de terras cultivadas, o que representa mais de duas vezes a quantidade de terras cultivadas na China. O problema é que sobre esta extensão 230 milhões de hectares destinam-se ao cultivo de culturas inúteis e prejudiciais à economia do continente dentre as quais o cultivo do cacau, do café, do algodão e da banana. Isto significa que a quase totalidade das terras agrícolas africanas foram de fato tomadas depois do período de ocupação europeu em 1884 pelos mesmos europeus, fosse direta ou indiretamente, sem que fosse permitido a um só país africano sair desse esquema. Caso queira aproveitar a bancarrota europeia, a África deve erradicar todas as culturas ditas coloniais e passar ao plantio das que ela própria escolherá livre da influência de pseudo experts ocidentais. A China, utilizando o equivalente a menos da metade das terras africanas, consegue nutrir convenientemente 1,3 bilhões de habitantes e também fornecer diversos produtos alimentares à Europa, como a soja, o tomate etc... mesmo que em países como a Itália ainda seja um assunto tabu reconhecer que o tomate, que o tomate, símbolo do orgulho nacional, venha doravante da China. III REAÇÕES ANTECIPADAS DO DOENTE Diante dessa morte anunciada da agricultura europeia e da consequente dependência da África, pode-se infelizmente constatar que a Europa não tomou qualquer medida para essa transição obrigatória, mas, ao contrário, insiste na política equivocada da utilização da sua armada de ONGs por ela financiadas para desviar a atenção dos africanos das suas verdadeiras prioridades: 5 A GUERRA ENGANADORA DA ECOLOGIA SOBRE A FLORESTA AFRICANA A floresta equatorial africana é um estorvo ao desenvolvimento econômico dos países que se renderam às maliciosas sereias do imperialismo na sua versão ecológica. Existem ONGs que fizeram dessa questão uma espécie de religião e assim conseguem desviar a atenção dos verdadeiros problemas africanos para concentrá-la um falso problema de preservação da floresta equatorial. O exemplo da conversão de Åboland em terras agrícolas: existe um país europeu que vive da sua floresta, é a Finlândia. Aconselha a União Europeia que esse país preserve sua floresta por ser ela uma reserva de oxigênio para toda a Europa, como o fazem seus arautos ecológicos na África? Certamente que não. É surpreendente constatar ser justamente o contrário o que é aconselhado. A União Europeia financia a Filândia para que esse país destrua sua floresta e transforme tais espaços na região de Aboland em zonas agrícolas, mesmo se o rude clima nórdico não permita uma agricultura florescente como na África. A EU tem razão, basta observar na África a pobreza das populações das zonas de florestas, ambiente duas vezes mais hostil ao homem do que o deserto. Eis as razões: A A floresta é incompatível com a agricultura. Por sua natureza a agricultura impede as árvores de ganhar terreno (o fim da agricultura geralmente encadeia um aumento florestal). Nos países nórdicos o problema é a floresta que resulta em perda de espaço não arborizado É sobre isso que discorre o relatório da OCDE, de 82 páginas, sob o título: A conversão de terras agrícolas, à pagina 58, para justificar o financiamento pela EU para a destruição da floresta e passar da floresta à agricultura em Aboland, no sul da Finlândia. B A floresta é incompatível com o turismo: O turismo aumenta o valar das terras e incentiva a concorrência fundiária. Uma de suas vantagens é a de multiplicar as fontes de rendimentos não agrícolas, em especial com o agroturismo, e o aumento na demanda de produtos alimentares locais. É isso que diz a mesma reportagem citando a publicação Andersson, Eklund et Lehtola, 2006 : A floresta é vista como um impedimento ao turismo, gerador de numerosos postos de emprego: Os espaços agrícolas oferecem visões amplas, fato que reforça o atrativo turístico da região, (...) a agricultura pode contribuir
para preservar o mercado de trabalho local, conclui a reportagem. Noutras palavras, aqueles que multiplicam os seminários e colóquios para incitar a preservação da floresta equatorial africana sabem que estão impedindo países inteiros de saírem da pobreza pela utilização dos meios naturais à sua disposição. O pior é que eles chegarão a financiar seus capatazes para que estes venham contar aos africanos como eles gostam dos gorilas que devem ser salvos a qualquer preço; e o fazem com um cinismo inacreditável, como se preferissem uma África com os animais e sem os seus habitantes, sem os africanos. C As ideias propagadas por ecologistas mal informados sobre a floresta tropical. Uma das mentiras cuidadosamente veiculada pelos arautos do não-desenvolvimento da África, para convencer os africanos a não desenvolverem essas zonas hoje ocupadas pela floresta consiste em afirmar que a África é um dos pulmões do mundo e fornece oxigênio até para a Europa. Aqueles que fazem este gênero de afirmação pecam por ignorância ou por má fé, pois as árvores centenárias dessas florestas não podem produzir mais oxigênio do que as árvores jovens. Isso por que no plano científico foi provado que uma árvore centenária, como qualquer anciã, produz menos oxigênio do que consome. Além disso uma árvore centenária faz grande sombra em torno de si impedindo o crescimento das outras plantas abaixo dela, fato que demonstra ser ela duplamente prejudicial. D As madeiras preciosas africanas, simples nichos para os burgueses europeus. Os africanos podem sucumbir de fome que os humanistas europeus de domingo continuarão a lhes repetir que é melhor não tocar na floresta, até porque as madeiras preciosas que saem das florestas africanas são destinadas a um rico nicho burguês europeu que são os únicos a se permitir um piano, uma porta ou uma mobília feita de ébano ou de alao de árvores com 300 anos IV O QUE A ÁFRICA DEVE FAZER? Quem controla o alimento, controla o mundo. Se a nova geração de africanos que assumirá o poder nos próximos 10 a 20 anos estiver suficientemente advertida e bem inculcada de noções de geoestratégia africana, eles assumirão o controle alimentar da Europa, uma presa no final das contas das mais fáceis, pois são suas próprias práticas da isca do ganho fácil e o egoísmo desmesurado de suas populações que surgem como seus próprios inimigos e que a fragilizam neste domínio tão estratégico. Porém para se alcançar tal objetivo mostra-se urgente continuar com políticas muito seletivas e de limitação de acesso de terras a estrangeiros, privilegiando-se as cooperações Estado a Estado e não Estado a organizações privadas. E em todos os casos terra alguma pode ser vendida e sim arrendada mesmo que a preço vil por períodos que não possam ultrapassar 20 a 30 anos, tempo necessário para que as populações africanas aprendam a se desfazer de práticas seculares de plantas inúteis, do cacau ao café, para passar a modernidade dos cereais e começar o mimetismo de copiar técnicas agrícolas vindas do exterior. Os colégios e liceus agrícolas chegarão a acordo sobre uma prioridade. Os produtos resultantes de plantações arrendadas a estrangeiros não devem em caso algum terminar no mercado local. O marcado nacional deve estar reservado aos nacionais. A população africana não deve ser nutrida senão pelos próprios africanos num espaço de oportunidade e de treinamento reais para o desenvolvimento da sua criatividade direcionada à missão de conquistar o grande mercado da Europa. 6 - CONCLUSÃO O controle da África pela Europa foi inicialmente de natureza mental. O controle de Europa pela África que teve início com o óleo de palma (ver capítulo precedente) será
igualmente eficaz ganhando a batalha no plano mental dos africanos por compreender que a riqueza e a probreza são conceitos puramente fictícios e psicológicos. Tudo isto não alcançará o fim desejado se a África não alcançar o mais rápido possível sua federação para a criação dos Estados Unidos da África, federação que nos permitirá otimizar nossos meios de produção e de coordenar melhor nossas estratégias de cerco alimentar à Europa com um maior diversidade de produtos oferecidos. Não é só a África que se interessa por esse mercado. Na Rússia se coloca todas as esperanças no aquecimento climático que fará aumentar a temperatura em 1 ou 2 graus, fato que transformará a Sibéria em verdadeiro celeiro da europa e prejudicará o fornecimento de uma África dividida e sem coordenação. O caminho é longo e também difícil, mas se a África for unida e falar uma só voz concorrente algum poderá vencê-la pelas regras do jogo, pois ela tem a seu lado o clima, o regime de chuvas, a umidade e o bom nível de acidez dos seus solos (Ph) garantindo 3 colheitas por ano para os principais cereais, legumes e para o suco de fruta. 26/12/2011 (*) Jean-Paul Pougala é camaronês e Diretor do Instituto de Estudos Geoestratégicos de Genebra na Suíça pougala@gmail.com http://www.pougala.org/