Motricidade ISSN: 1646-107X motricidade.hmf@gmail.com Desafio Singular - Unipessoal, Lda Portugal



Documentos relacionados
METODOLOGIA RESULTADOS E DISCUSSÃO

O TAMANHO DO PROBLEMA

Consulta de Enfermagem para Pessoas com Hipertensão Arterial Sistêmica. Ms. Enf. Sandra R. S. Ferreira

A Organização da Atenção Nutricional: enfrentando a obesidade

TÍTULO: A INSERÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA NOS NÚCLEOS DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA (NASF): VISÃO DOS PROFISSIONAIS

Efeitos da Ampla Modificação no Estilo de Vida como Dieta, Peso, Atividade Física e Controle da Pressão Arterial: Resultado de 18 Meses de Estudo

Modelo de Atenção às Condições Crônicas. Seminário II. Laboratório de Atenção às Condições Crônicas

Linha de Cuidado da Obesidade. Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas

Estudo de Caso. Cliente: Rafael Marques. Coach: Rodrigo Santiago. Duração do processo: 12 meses

GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO SERVIÇO DE SAÚDE COMUNITÁRIA APOIO TÉCNICO EM MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO

AT I. ACADEMIA DA TERCEIRA IDADE Melhor, só se inventarem o elixir da juventude. Uma revolução no conceito de promoção da saúde.

Avaliação do Programa de Alimentação do Trabalhador na Região Metropolitana do Recife ( )

HIPERTENSÃO ARTERIAL Que conseqüências a pressão alta pode trazer? O que é hipertensão arterial ou pressão alta?

HIPERTENSÃO ARTERIAL

Rua Antônia Lara de Resende, 325 Centro CEP: Fone: (0xx32) / 2151 Fax: (0xx32)

Situação do papel do fisioterapeuta nas unidades públicas de saúde enquanto integrante da equipe multiprofissional no município de Jataí-GO.

GRUPOS DE ATIVIDADES EDUCATIVAS PARA OS PROGRAMAS DE ASSISTÊNCIA AO HIPERTENSO, DIABÉTICOS E IDOSO DA SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE JATAÍ-GO*.

RELATO DE EXPERIÊNCIA EM ATENDIMENTOS COM IDOSOS NO PROGRAMA MELHOR EM CASA

Pesquisa com Professores de Escolas e com Alunos da Graduação em Matemática

INSTITUTOS SUPERIORES DE ENSINO DO CENSA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PROVIC PROGRAMA VOLUNTÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

24 O uso dos manuais de Matemática pelos alunos de 9.º ano

Ana Beatriz Bronzoni

05/05/2014 NOTA TÉCNICA

14 de novembro. Em 2012, o tema proposto é "Diabetes: Proteja Nosso Futuro" Ações do Ministério da Saúde

Experiência: VIGILÂNCIA À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Você conhece a Medicina de Família e Comunidade?

CONVERSA DE PSICÓLOGO CONVERSA DE PSICÓLOGO

OS CUIDADOS PALIATIVOS EM PORTUGAL. Resultados Quantitativos

Este trabalho possui como objetivo a aplicação prática dos

ANS Longevidade - Custo ou Oportunidade. Modelos de Cuidados à Saúde do Idoso Rio de Janeiro/RJ 25/09/2014

ANÁLISE DAS LANCHEIRAS DE PRÉ-ESCOLARES¹ BOEIRA,

TÍTULO: ALUNOS DE MEDICINA CAPACITAM AGENTES COMUNITÁRIOS NO OBAS CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE

azul NOVEMBRO azul Saúde também é coisa de homem. Doenças Cardiovasculares (DCV)

Trabalho em Equipe e Educação Permanente para o SUS: A Experiência do CDG-SUS-MT. Fátima Ticianel CDG-SUS/UFMT/ISC-NDS

Plano de Trabalho Docente Ensino Técnico

NÍVEL DE CONHECIMENTO DOS PROFISSIONAIS ENFERMEIROS SOBRE A SAÚDE DO HOMEM NO MUNICÍPIO DE CAJAZEIRAS-PB.

Saúde da mulher em idade fértil e de crianças com até 5 anos de idade dados da PNDS 2006

COMUNICAÇÃO TERAPÊUTICA ENTRE ENFERMEIRO E PACIENTE IDOSO EM PÓS-OPERATÓRIO

CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS DOS NEONATOS PREMATUROS NASCIDOS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ H.U.O.P.

PROMOVENDO A REEDUCAÇÃO ALIMENTAR EM ESCOLAS NOS MUNICÍPIOS DE UBÁ E TOCANTINS-MG RESUMO

Políticas de saúde: o Programa de Saúde da Família na Baixada Fluminense *

CRS Leste/ST Guaianases UBS Jd. Aurora

DOENÇAS CARDÍACAS NA INSUFICIÊNCIA RENAL

DIABETES MELLITUS NO BRASIL

Hipert r en e são ã A rteri r a i l

AÇÕES EDUCATIVAS COM UNIVERSITÁRIOS SOBRE FATORES DE RISCO PARA SÍNDROME METABÓLICA

O CUIDADO PRESTADO AO PACIENTE ONCOLÓGICO PELA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL DO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA

TÍTULO: AUTORES: INSTITUIÇÃO: ÁREA TEMÁTICA 1-INTRODUÇÃO (1) (1).

Os desafios do Bradesco nas redes sociais

EXERCÍCIO E DIABETES

A PARTICIPAÇÃO EM GRUPOS DE PESQUISAS E A OPORTUNIDADE DE CRESCIMENTO E VISIBILIDADE DA ENFERMAGEM 1

Autores: Cristina Somariva Leandro Jacson Schacht. SESI Serviço Social da Indústria Cidade: Concórdia Estado: Santa Catarina 27/10/2015

O trabalho do CFN amplia o campo de atuação dos nutricionistas.

UNIVERSIDADE DO CONTESTADO CAMPUS MAFRA/RIONEGRINHO/PAPANDUVA

PALAVRAS-CHAVE: Uso Racional de Medicamentos. Erros de medicação. Conscientização.

PERÍODO AMOSTRA ABRANGÊNCIA MARGEM DE ERRO METODOLOGIA. População adulta: 148,9 milhões

CAPACIDADE DE UM SERVIÇO DE DISPENSAÇÃO DE UMA FARMÁCIA UNIVERSITÁRIA EM IDENTIFICAR O RISCO DE INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA: RELATO DE CASO

PORTARIA CRN-3 nº 0112/2000

Freelapro. Título: Como o Freelancer pode transformar a sua especialidade em um produto digital ganhando assim escala e ganhando mais tempo

A ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA NA CIRURGIA BARIÁTRICA

BENEFÍCIOS E DIFICULDADES DO ENVELHECER

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE MATO GROSSO

PROGRAMA DE INTERVENÇÃO EM OBESIDADE INFANTIL. Centro de Saúde da Marinha Grande Ana Laura Baridó

CONCEPÇÕES DE IDOSOS ACERCA DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM PARA UM ENVELHECER SAUDÁVEL

Avaliações Pós Periódicos Ferramenta utilizada como melhoria da saúde dos empregados da Coelba

PROGRAMA DE SUSTENTABILIDADE NAS UNIDADES DE SAÚDE

Programa Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) Campanha de Prevenção e Controle de Hipertensão e Diabetes

Mapeamento do Perfil Saúde em Instituição Pública - Fundação Centro de Atendimento Sócio Educativo ao Adolescente

Desigualdades em saúde - Mortalidade infantil. Palavras-chave: mortalidade infantil; qualidade de vida; desigualdade.

A DANÇA E O DEFICIENTE INTELECTUAL (D.I): UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA À INCLUSÃO

UMA PESQUISA SOBRE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NO IFC-CÂMPUS CAMBORIÚ

Resultado da Avaliação das Disciplinas

Gestão de Qualidade. HCFMRP - USP Campus Universitário - Monte Alegre Ribeirão Preto SP Brasil

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2010

O que é O que é. colesterol?

difusão de idéias EDUCAÇÃO INFANTIL SEGMENTO QUE DEVE SER VALORIZADO

Plano de Prevenção de Riscos de Acidentes com Materiais Perfuro Cortantes. HOSPITAL...

A IMPORTÂNCIA DO PRÉ-NATAL

PLANEJAMENTO E AVALIAÇAO DE SAÚDE PARA IDOSOS: O AVANÇO DAS POLITICAS PÚBLICAS

ESCOLA, LEITURA E A INTERPRETAÇÃO TEXTUAL- PIBID: LETRAS - PORTUGUÊS

Voluntário em Pesquisa: informe-se para decidir! Qual documento garante que os meus direitos serão respeitados?

COMISSÃO DE SEGURIDADE SOCIAL E FAMÍLIA PROJETO DE LEI Nº 3.630, DE 2004

VIGITEL 2014 Periodicidade Parceria: População monitorada entrevistas

difusão de idéias QUALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL Um processo aberto, um conceito em construção

Pequenas e Médias Empresas no Chile. Pequenos Negócios Conceito e Principais instituições de Apoio aos Pequenos Negócios

Por uma pedagogia da juventude

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

2. METODOLOGIA DO TRABALHO DESENVOLVIDO NA PASTORAL DO MENOR E DO ADOLESCENTE

TERCEIRA IDADE - CONSTRUINDO SABERES SOBRE SEUS DIREITOS PARA UM ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

SAÚDE MENTAL NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA:

Lógicas de Supervisão Pedagógica em Contexto de Avaliação de Desempenho Docente ENTREVISTA - Professor Avaliado - E 2

Roteiro VcPodMais#005

GESTÃO DEMOCRÁTICA EDUCACIONAL

PRÊMIO ABF- AFRAS DESTAQUE SUSTENTABILIDADE 2012 FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO Categoria Franqueado

Região. Mais um exemplo de determinação

CAPITAL DE GIRO: ESSÊNCIA DA VIDA EMPRESARIAL

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES CADASTRADOS NO SISTEMA HIPERDIA DO MUNICÍPIO DE SANTA MARIA, RS

Transcrição:

Motricidade ISSN: 1646-107X motricidade.hmf@gmail.com Desafio Singular - Unipessoal, Lda Portugal Pinho, L.; Santana, B.C.; Lopes, L.V.B.; Monteiro, E.L.F.; Caldeira, A.P. Perceções de hipertensos sobre o acompanhamento nutricional recebido em um Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) Motricidade, vol. 8, núm. Supl. 2, 2012, pp. 58-66 Desafio Singular - Unipessoal, Lda Vila Real, Portugal Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=273023568008 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Motricidade FTCD/FIP-MOC 2012, vol. 8, n. S2, pp. 58-66 Suplemento do 1º EIPEPS Perceções de hipertensos sobre o acompanhamento nutricional recebido em um Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) Perceptions of hypertension patients on the nutrition counseling received at a Center for Family Health Support L. Pinho, B.C. Santana, L.V.B. Lopes, E.L.F. Monteiro, A.P. Caldeira ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE RESUMO Profissionais nutricionistas de Núcleos de Atendimento à Saúde (NASFs) oferecem a muitos pacientes acompanhamento nutricional para o controle não-medicamentoso da hipertensão arterial sistêmica (HAS). O presente estudo avaliou a contribuição do nutricionista da NASF de Bocaiúva, MG, para o tratamento da HAS através das perceções dos pacientes hipertensos. Usando-se uma abordagem qualitativa, as respostas a 16 entrevistas semiestruturadas foram categorizadas pela técnica de análise do conteúdo. Os entrevistados desconheciam a doença, citando como consequências apenas danos cardíacos e cerebrais e como principal sintoma a dor de cabeça. Eles relataram dificuldade de adesão ao tratamento dietoterápico. Abandonaram o acompanhamento por descumprirem a dieta, por dificuldades de acesso ao serviço, autonomia para encerrar o acompanhamento ou por terem outras prioridades. Os pacientes perceberam que o acompanhamento nutricional proporcionou mudanças de hábitos alimentares e benefícios de perda de peso, à prática de atividade física e redução da medicação para controle da hipertensão arterial. Os resultados indicam que o acompanhamento nutricional implantado no NASF avaliado tem potencial de impacto positivo no tratamento da HAS. Além disso, os nutricionistas dos NASFs deve adotar uma postura educativa e voltada ao perfil da comunidade. Palavras-chave: acompanhamento nutricional, hipertensão, Núcleo de Apoio à Saúde da Família ABSTRACT Dietitians from Centers for Family Health Support (CFHS) provide nutrition counseling to many patients to non-medicamentous assist of systemic arterial hypertension (SAH). The present study evaluated the contributions of the dietitian of the Bocaiúva s CFHS, MG, to SAH treatment by evaluating the perceptions of hypertensive patients. Using a qualitative approach, the answers of 16 semisstructured interviews were categorized according to the method of content analysis. The interviewed patients did not know exactly what SAH was, they restricted SAH consequences to cardiac and brain damage and described headache as being the most common symptom. They reported difficulty in adherence to dietary treatment. They gave up the nutritional advisement because did not follow the diet, had difficulty assessing the service, had the autonomy to discontinue consultations or due to other priorities. The patients noticed that the nutrition counseling provided promoted changes in their dietary habits and benefits such as weight loss, encouragement for physical activity and decrease in the use of medication for hypertension. The nutrition counseling implemented in the NASF unit studied has potential for positive impact on SAH treatment. Moreover, the dietitians at the NASFs must assume an educative approach personalized to the community. Keywords: nutrition counseling, hypertension, Center for Family Health Support Submetido: 01.08.2011 Aceite: 14.09.2011 Lucineia Pinho, Bruna Castro de Santana, Letícia Vilas Boas Lopes, Elma Lúcia de Freitas Monteiro, Antônio Prates Caldeira. Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil. Endereço para correspondência: Lucineia Pinho, Universidade Federal de Minas Gerais, C. Postal 135, CEP 39404-006 Montes Claros-MG, Brasil. E-mail: lucineiapinho@hotmail.com

Perceção de hipertensos da dietoterapia 59 Nas últimas décadas observou-se um aumento da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis que causam um grande número de mortes em todo o país. Uma dessas enfermidades é a hipertensão arterial sistêmica (HAS), uma condição clínica caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial sistólica e/ou de pressão arterial diastólica. Segundo o Ministério da Saúde (2010), a proporção de brasileiros diagnosticados com HAS cresceu de 21.5%, em 2006, para 24.4%, em 2009. A HAS não controlada é responsável por alto ônus social e econômico ao setor saúde, prejudicando não apenas a população como também a seguridade social (Lessa, 2006). Por causa dos altos investimentos deslocados para o tratamento da HAS (Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2010), o fornecimento de medicação e atendimento aos pacientes pode ser descontinuado antes que as metas pretendidas sejam atingidas (Lessa, 2006). Além da predisposição genética, a instalação da hipertensão está associada a hábitos de vida e fatores emocionais (Spinella & Lamas, 2007). O aumento da massa corporal está fortemente associado à elevação da pressão arterial (Feijão et al., 2005). Dessa forma, a prevenção primária da hipertensão pode ser conseguida através de mudanças no estilo de vida que proporcionem o controle do peso. Isso inclui a adoção de alimentação saudável com ingestão moderada de álcool e sal, abstenção do tabagismo e prática de atividade física. Apesar da importância, a mudança de hábitos alimentares e especialmente o controle do sal é um dos maiores empecilhos para o tratamento da hipertensão. A dificuldade dessa mudança é reportada por um contingente significante de pacientes hipertensos que ignoram a dieta e preferem apenas receber atendimento médico pontual e usar medicação (Péres, Magna, & Viana, 2003; Santos, Frota, Cruz, & Holanda, 2005). Os efeitos benéficos das dietas nutricionais são comummente menosprezados pelos pacientes que creditam aos remédios e ao atendimento médico a capacidade de diminuir os níveis pressóricos (Péres et al., 2003). É comprovado que a integração entre o tratamento medicamentoso e medidas não farmacológicas como o tratamento dietoterápico pode trazer bons resultados no controle da pressão arterial (Lopes, Barreto-Filho, & Riccio, 2003). Porém, é comum a falta de estímulos a tratamentos dietoterápicos, e um dos motivos é a falta do nutricionista em equipes multiprofissionais. Além disso, médicos e enfermeiros que atuam na atenção primária afirmam não estarem preparados para resolver questões sobre alimentação (Santos, 2005). Em última instância, a dificuldade em elaborar dietas e outras práticas não medicamentosas para o controle da pressão arterial pode levar o paciente ao hábito de utilizar mais de um medicamento anti-hipertensivos. No intuito de se montar equipes multiprofissionais que ampliem a abrangência das ações da atenção básica, melhorem a qualidade e a resolutividade da atenção à saúde e sirvam aos propósitos de promoção da saúde, foram criados pelo governo brasileiro os Núcleos de Apoio à Saúde da Família - NASFs (Ministério da Saúde, 2009). Em suas equipes, os NASFs possuem nutricionistas que são responsáveis pelo atendimento a pacientes com doenças relacionadas à alimentação e à nutrição. A principal doença assistida por esses profissionais é a hipertensão, que é uma das mais prevalentes e relacionadas às questões nutricionais. A assistência nutricional prestada pelos profissionais do NASF aos pacientes hipertensos é essencial não apenas para o controle dos níveis pressóricos, mas também para prevenir futuras complicações e melhorar sua qualidade de vida. No entanto, para o sucesso do programa é preciso avaliar, junto aos pacientes atendidos, as contribuições advindas do acompanhamento nutricional em cada unidade de atendimento. O presente estudo avaliou no NASF de Bocaiúva, MG, o nível de conhecimento dos

60 L. Pinho, B.C. Santana, L.V.B. Lopes, E.L.F. Monteiro, A.P. Caldeira pacientes em relação à doença e suas perceções em relação ao acompanhamento dietoterápico. Esse acompanhamento é feito desde fevereiro de 2010, quando esse NASF incorporou à sua equipe multidisciplinar um profissional de nutrição que, além do atendimento individual, periodicamente promove palestras, visitas domiciliares, e dinâmicas direcionadas ao público hipertenso. Para atingir o objetivo proposto, adotou-se uma abordagem qualitativa visto que trata-se de uma avaliação de valores, crenças, representações, hábitos, atitudes e opiniões de pacientes (Minayo & Sanches, 1993). MÉTODO Amostra Foram investigados pacientes hipertensos do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) do município Bocaiúva-MG. Os critérios de inclusão dos sujeitos na pesquisa foram: ser hipertenso cadastrado no NASF e receber acompanhamento pelo nutricionista do serviço. Os pacientes foram informados dos objetivos da pesquisa e a concordância em participar ocorreu mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Antes da realização do estudo, o protocolo experimental foi aprovado pelo comitê de Ética em Pesquisa das Faculdades Unidas do Norte de Minas - Funorte/Soebras (Parecer n : 01557/10). Dada a natureza qualitativa da investigação, não houve cálculo do tamanho amostral. O número de sujeitos alocados para o estudo foi definido pela técnica de saturação (Caregnato & Mutti, 2006). Instrumentos e Procedimentos Foram realizadas entrevistas semiestruturadas no sentido de investigar o conhecimento dos pacientes sobre a hipertensão arterial e suas complicações, sua perceção sobre as informações obtidas em consultas com a nutricionista, a adesão ao tratamento dietético e as principais dificuldades encontradas em seguir as orientações nutricionais. Os participantes foram ainda caracterizados por informações contidas em seus prontuários médicos, como gênero, idade e escolaridade, peso e altura, índice de massa corporal (IMC), valores da pressão arterial sistólica (PAS) e da pressão arterial diastólica (PAD), número de consultas com a nutricionista e medicação antihipertensiva em uso. Análise dos Dados As entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra. Os sujeitos foram indicados por letras/números (P1, P2, P3...) assegurando o anonimato e a confiabilidade dos dados. Os dados foram examinados de acordo com a análise de conteúdo que é operacionalizada em três fases: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados (Bardin, 1977). Dessa forma, as falas dos pacientes foram analisadas, as ideias coincidentes e divergentes foram sintetizadas e as opiniões enquadradas dentro de categorias. RESULTADOS Caracterização dos sujeitos da pesquisa Foram entrevistados um total de 16 pacientes com idades compreendidas entre os 30 e 87 anos, sendo um indivíduo do sexo masculino e 15 do sexo feminino (ver tabela 1). Desses, 75% não haviam concluído o ensino fundamental. Todos os pacientes realizaram entre uma ou duas consultas com o nutricionista, 12.5% realizaram entre três e quatro consultas e 25% compareceram a cinco consultas ou mais. Na avaliação nutricional, 37.50% dos entrevistados foram classificados como eutróficos, e aqueles com excesso de peso, pré-obesos e obesos somaram 62.5% da amostra. A maioria dos pacientes apresentou pressão arterial controlada, visto que ela se apresentava normal de acordo com a classificação dos valores da pressão arterial das Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (Ministério da Saúde, 2010). Porém, quase 40% dos pacientes tinham algum grau de hipertensão.

Perceção de hipertensos da dietoterapia 61 Tabela 1. Caracterização dos pacientes com HAS do NASF de Bocaiúva, MG, em 2010 Característica / Divisões n % Género Masculino 1 6.25 Feminino 15 9375 Escolaridade Analfabeto 2 12.50 Fundamental incompleto 12 75.00 Médio completo 2 12.50 Índice de massa corporal (IMC) Eutrófico 6 37.50 Excesso de peso 1 6.35 Pré- obeso 4 25.00 Obeso 5 31.25 Medicamentos anti-hipertensivos Nenhum 1 6.25 De 1 a 2 8 50.00 De 3 a 4 7 43.75 Consultas com a nutricionista De 1 a 2 10 62.50 De 3 a 4 2 12.50 Mais que 5 4 25.00 Pressão arterial após a consulta Normal 9 56.25 Limítrofe 1 6.25 Hipertensão estágio 1 2 12.50 Hipertensão estágio 2 3 18.75 Hipertensão estágio 3 1 6.25 Perceção dos sujeitos da pesquisa sobre a doença Na avaliação das informações que os pacientes possuíam sobre a HAS, observaramse três categorias de respostas relativas ao desconhecimento da doença, às consequências e sintomas da HAS (tabela 2). De modo geral, os pacientes mostraram desconhecimento da HAS e apenas divagavam sobre o assunto ou faziam associações com consequências da doença. As consequências citadas se restringiram ao nível de danos cardíacos e cerebrais. O principal sintoma da HAS não controlada que descreveram foi a dor de cabeça, mas citaram também o nervosismo, tontura e dormência nas mãos e pés. Perceção dos sujeitos da pesquisa sobre os desafios do acompanhamento nutricional Nos relatos sobre dificuldades e desistência do acompanhamento nutricional, as categorias de resposta identificadas foram: dificuldade em seguir a dieta, descumprimento da dieta, dificuldade de acesso ao serviço de saúde, autonomia no tratamento e definição de prioridades (ver tabela 3). Dentre as dificuldades sentidas destacou-se a realização de refeições em horários estabelecidos dentro de curtos intervalos e também no consumo de pequenas porções de alimento. Alguns pacientes abandonaram o tratamento por não conseguirem seguir a dieta, e outros alegaram que não retornaram à consulta no NASF porque o nutricionista não agendou retorno. Outros pacientes ainda alegaram relaxamento do acompanhamento porque sentiram autonomia suficiente para seguirem a dieta de modo individual. Perceção dos sujeitos da pesquisa sobre os resultados do acompanhamento nutricional Sobre os resultados do acompanhamento nutricional, as categorias de resposta identificadas foram relacionadas à formação de hábitos saudáveis de vida e impacto nos níveis da pressão arterial (ver tabela 4). Os relatos mostraram que os pacientes aprenderam a diminuir a quantidade de alimento e de sal, óleo e açúcar. Além disso, eles aumentaram o consumo de verduras. Como consequência, além dos benefícios gerais identificados como redução de peso e prática de atividade física pelo encorajamento do profissional nutricionista, os pacientes relataram redução de sintomas da HAS como dor de cabeça. Na resposta específica sobre o controle da HAS, eles reconheceram que o acompanhamento nutricional ajudou na manutenção dos níveis adequados da pressão arterial, permitindo inclusive a redução da medicação tomada para esse fim.

62 L. Pinho, B.C. Santana, L.V.B. Lopes, E.L.F. Monteiro, A.P. Caldeira Tabela 2. Perceção sobre a doença por pacientes hipertensos atendidos no NASF de Bocaiúva, MG, em 2010 Categoria Desconhecimento da HAS Consequências da HAS Sintomas do paciente Trecho da Resposta (identificação do paciente) [...] a questão da pressão alta, quando a pressão fica descontrolada, o que eu sei é isso. É, é o que mais se comenta, não sei se tem outra coisa, é o caso do infarto, do derrame, eu sei sobre isso. (P4) Hipertensão assim, de gordo? Pressão alta? De comida, essas coisas, não é não? Sal, muito sal, muita gordura. (P12) É pode ter um derrame cerebral, pode ter uma parada cardíaca, um infarto, isso que eu fiquei sabendo. (P6) Pode ter um infarto e AVC, que é o derrame cerebral. (P14) Eu, no meu caso, muita dor de cabeça, muita dor de cabeça mesmo; tem hora que parece que vai explodir. Aí minha pressão, aí o médico falou que realmente a minha pressão tava muito alta. (P5) Eu sinto dor na nuca, dor de cabeça, um pouco de tonteira e as vistas embaralhadas. (P14) Tabela 3. Perceção dos desafios do acompanhamento nutricional por pacientes hipertensos atendidos no NASF de Bocaiúva, MG, em 2010 Categoria Trecho da Resposta (identificação do paciente) Dificuldades para seguir a dieta Descumprimento da dieta Dificuldade de acesso ao serviço Autonomia Prioridades Eu senti, senti muito, muito, muito pra seguir a dieta, pra esperar de 3 em 3 horas, o lanche às 9h, pra eu almoçar meio dia... eu não agüentei. Nunca que a gente, às vezes, está naquele horário, e eu sou muito ansiosa ai acabei comendo antes da hora ou depois da hora[...] (P7) Oh, como sentir, fiquei revoltada, por que quem come bastante, né, ter que diminui a comida [...]. A gente que é acostumada a comer aquele tantão de arroz, feijão. (P3) Ela passou o cardápio falando o que podia e o que não podia, só que eu não voltei né. Era para eu voltar nela, mais eu não voltei não pra ver quanto eu tinha perdido. Mas não fiz do jeito que ela mandou, aí eu não voltei não. (P9) [...] eu consultei uma vez só e não tomei nada, não fiz do jeito que ela pediu. Eu vou falar francamente, eu não fiz mesmo, não consegui fazer do jeito que ela pediu pra eu poder fazer. (P13) [...] eu nem voltei mais lá, porque ela nem pediu pra eu retornar. Sem marcar retorno fica difícil conseguir consulta (P1) [...] ela não marcou retorno [...] (P16) [...]e eu fui nela duas vezes só. Inclusive, eu relaxei de ir nela, porque agora eu já estou na segunda fase do meu regime, estou nas minhas 2 colherinhas de arroz, bastante verdura. Mas eu ainda tento seguir o ritmo dela, mesmo eu não indo[...] (P4) Hoje eu já consigo já é controlar a minha alimentação assim, sem olhar pro cardápio. Minha consciência agora já me cobra [...] (P10) Oh, a consulta com a nutricionista foi ótima, só que eu já tem dias que eu falho que eu estou falhando devido eu estar mexendo com outros problemas. Aí acontece que, eu acho que eu fui lá foi mês de janeiro ou dezembro, não sei, aí eu não fui mais, porque eu tenho vários problemas de saúde [...] (P6) [...] tive que ir ao médico e assim não pude ir ao nutricionista. (P11) DISCUSSÃO Pacientes em tratamento nutricional possuem dificuldades para o seguimento de dietas específicas para o controle da HAS. Porém, aqueles que aderem ao plano alimentar prescrito pelo nutricionista relatam impacto positivo na sua saúde. Este aspeto ressalta a relevância do presente estudo, que mostra a

Perceção de hipertensos da dietoterapia 63 inserção do profissional de nutrição no modelo de atendimento à saúde proposto e sua intervenção positiva mais global no tratamento da hipertensão arterial dos pacientes usuários do serviço. Além disso, o estudo apresenta subsídio para que se amplie o atendimento nutricional aos portadores de HAS compreendendo o entendimento que eles têm sobre a doença, suas dificuldades em seguir o tratamento dietético e o grau de consciência sobre os benefícios das mudanças de hábitos alimentares. O conhecimento de características e necessidades específicas do público atendido permite que o nutricionista tenha uma ação mais dirigida, elaborando estratégias de trabalho que aumentem a adesão de pacientes ao tratamento e ampliem as melhorias proporcionadas em nível de saúde pública. Os sujeitos avaliados foram predominantemente mulheres com sobrepeso. Outros estudos relatam que as mulheres de fato procuram mais os serviços de saúde que os homens (Borba & Muniz, 2011). Porém, a presente pesquisa não tratou do estudo diferenciado das respostas de homens e mulheres, de modo que os sujeitos alocados refletiram o perfil do público atendido independentemente do sexo. Um dos fatores que interferiram na adesão ao tratamento pode ter sido a falta de conhecimento do paciente sobre a HAS. Em uma avaliação mais profunda, isso pode estar correlacionado à baixa escolaridade da população amostrada. A baixa escolaridade de fato pode prejudicar a assimilação de orientações dispensadas pelos profissionais e influenciar na perceção da gravidade da doença (Guedes et al., 2005). O desconhecimento dos pacientes sobre a HAS e a sua associação às consequências da doença ou à alimentação foi evidente (tabela 2; Desconhecimento da HAS). Esses resultados são corroborados por outros estudos de natureza qualitativa que reportam a dificuldade dos pacientes em definir a HAS (Bento, Ribeiro, & Galato, 2008; Bezerra, Silva, Guedes, & Freitas, 2010). As consequências dessa doença são mais conhecidas pelos pacientes, mas de forma restrita (tabela 2; Consequências da HAS). A maioria citou apenas o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC) ou derrame. Esses efeitos foram também os mais reportados por pacientes investigados em outros estudos e que comummente ignoram que a hipertensão afeta outros órgãos além de coração e cérebro (Péres et al., 2003; Santos, 2005). Vários entrevistados destacaram como sintomas da hipertensão não controlada o nervosismo, tontura, dormência nas mãos e pés, porém o sintoma mais citado é a dor de cabeça (tabela 2; Sintomas do Paciente), como descrito em outros estudos (Péres et al., 2003). Embora sintomas como tontura, mal-estar e dor de cabeça possam estar associados à pressão alta, ele deve ser consciente que a eleição de um único sinal de alerta é perigoso porque a o controle pode ser tardio (Firmo, Lima-Costa & Uchoa, 2004). A falta de conhecimento sobre a HAS pode justificar abandono do acompanhamento nutricional pelos pacientes entrevistados. Alguns deles relataram a dificuldade em marcar um novo atendimento no serviço, e outros consideraram aptos a interromper o tratamento por si só (tabela 3; Dificuldade de acesso ao serviço, Autonomia). Houve pacientes ainda que abandonaram o tratamento por priorizarem outros compromissos aos cuidados com a saúde (tabela 3; Prioridades). A HAS é uma doença crônica (Araújo & Garcia, 2006) que pode ser controlada, mas não curada. Como os pacientes hipertensos requerem tratamento por toda a vida, é preciso que o profissional nutricionista esclareça a eles o tempo do tratamento e a importância do retorno à consulta, e que aproveite as consultas para educar e capacitar o paciente para o autocuidado (Santos, 2005). Além disso, a continuidade do tratamento anti-hipertensivo é necessária para a avaliação da sua efetividade, o que reforça a importância de se identificar os fatores que afetam a adesão ao tratamento (Coelho et al., 2005).

64 L. Pinho, B.C. Santana, L.V.B. Lopes, E.L.F. Monteiro, A.P. Caldeira No presente estudo, além dos motivos citados, as principais causas do abandono do tratamento estavam relacionadas à dificuldade dos pacientes em seguir a proposta dietoterápica (tabela 3; Dificuldades em seguir a dieta, Descumprimento da dieta). Essa dificuldade foi relacionada a fatores como aquisição de novos hábitos, cumprimento de horários, valor cultural do alimento, limitações socioeconômicas e questões psicológicas (Péres, Santos, Zanetti & Ferronato, 2007). Exemplificando isso, os pacientes relataram dificuldade em seguir os horários de refeições determinados pelo nutricionista, em reduzir a quantidade de alimento consumido e controlar a ansiedade (tabela 3; Dificuldades para seguir a dieta). Um resultado relevante foi que, diferente de outros estudos (Bento et al., 2008; Figueiredo & Asakura, 2010; Péres et al., 2003), os pacientes entrevistados não citaram a adoção da dieta hipossódica como uma dificuldade para seguir o plano alimentar, o que sugere que esse hábito já tenha sido assimilado por meio da intervenção nutricional. Os alimentos exercem um papel central na vida cotidiana e nas relações sociais, de modo que crenças e práticas relacionadas à dieta são notoriamente difíceis de serem mudadas, mesmo quando a implementação da nutrição adequada traz benefícios para saúde (Helman, 2003). Mesmo assim, alguns pacientes entrevistados conseguiram modificar seus hábitos alimentares após a consulta com a nutricionista (tabela 4; Mudança de hábitos alimentares), reduzindo o consumo de alimentos como massas e frituras e aumentando o consumo de verduras. Como observado nos relatos dos entrevistados, as modificações feitas pelos pacientes após a consulta estão de acordo com o que é preconizado pelo Ministério da Saúde (2009) do Brasil. As recomendações incluem o aumento do consumo de verduras, diminuição do consumo de alimentos gordurosos, prática de atividades físicas diárias, manutenção do peso corporal normal e outros comportamentos que proporcionam grandes benefícios à saúde. O Ministério da Saúde sugere ainda mudanças complementares como aumento do consumo de frutas, diminuição da quantidade de alimentos salgados e doces e abdicação do tabagismo. Essa dieta alimentar não se restringe a hipertensos, e deveria ser utilizada cotidianamente por qualquer pessoa (Oliveira & Siqueira, 2009). A alimentação inadequada tem se tornado um problema social atual, o que faz a adoção de dietas saudáveis uma medida preventiva de saúde pública. O tratamento não farmacológico da HAS tem papel básico em qualquer esquema terapêutico (Giorgi, 2006). O tratamento nutricional em especial é eficiente no controle da hipertensão leve e, associado ao tratamento farmacológico, ajuda no controle da hipertensão moderada/grave (Lopes et al., 2003). A Sociedade Brasileira de Hipertensão Arterial recomenda a Dietary Approaches to Stop Hypertension (DASH) para o tratamento não medicamentoso da HAS, pois essa abordagem potencializa o efeito de orientações nutricionais para o controle da hipertensão e inclusive para o emagrecimento (Malachias et al., 2010). Isso foi também verificado no presente estudo, pois apesar das dificuldades encontradas, a terapia nutricional apresentou vários benefícios aos pacientes que conseguiram seguir o plano alimentar. Foi relatado a perda de peso, a adesão à prática de atividade física e o controle da pressão arterial (Tabela 4, Benefícios gerais do acompanhamento). Isso resultou na diminuição dos remédios anti-hipertensivos devido à diminuição da quantidade e melhora da qualidade da alimentação (Tabela 4, Impacto do acompanhamento para controle da HAS). O tratamento não-medicamentoso da hipertensão inclui mudanças no hábito alimentar e de vida que proporcionam o controle da pressão arterial (Lopes et al., 2003). Ao incorporar corretamente essas mudanças, o indivíduo está dando o passo mais importante para o controle de sua pressão arterial e também para a melhoria da sua qualidade de vida (Jardim, Souza, & Monego, 1996).

Perceção de hipertensos da dietoterapia 65 Os resultados alcançados devem ser interpretados dentro das condições do estudo, realizado em uma única unidade de saúde, mas suas conclusões não devem ser minimizadas considerando que o conhecimento da realidade local é essencial para moldar as estratégias de saúde. CONCLUSÕES Através da avaliação das perceções dos pacientes hipertensos entrevistados, o presente estudo conseguiu detetar a intervenção positiva do nutricionista incorporado pela equipe do NASF de Bocaiúva, MG. Os efeitos benéficos conquistados extrapolaram o controle da HAS, refletindo na redução da necessidade de medicação para esse fim e potencial melhoria na qualidade de vida adquirida pela aquisição de bons hábitos alimentares. Apesar dos resultados positivos, a adesão ao tratamento ainda é um fator limitante, o que pode estar relacionado à desinformação dos pacientes sobre a HAS e suas consequências e pelas dificuldades que eles têm em seguir o plano nutricional proposto. Para sanar esses entraves, sugere-se que o profissional de nutrição elabore estratégias educativas voltadas ao perfil da comunidade estudada. Agradecimentos: Nada a declarar. Conflito de Interesses: Nada a declarar. Financiamento: Nada a declarar. REFERÊNCIAS Araújo, G. B. S., & Garcia, T. R. (2006). Adesão ao tratamento anti-hipertensivo: Uma análise conceitual. Revista Eletrônica de Enfermagem, 8(2), 259-72. Bardin, L. (1977). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70. Bento, D. B., Ribeiro, I. B., & Galato, D. (2008). Perceção de pacientes hipertensos cadastrados no Programa Hiperdia de um município do sul do Brasil sobre a doença e o manejo terapêutico. Revista Brasileira de Farmácia, 89(3), 194-198. Bezerra, S. T. F., Silva, L. F., Guedes, M. V. C., & Freitas, M. C. (2010). Perceção de pessoas sobre a hipertensão arterial e conceitos de Imogene King. Revista Gaúcha de Enfermagem, 31(3), 499-507. Borba, T. B., & Muniz, R. M. (2011). Sobrepeso em idosos hipertensos e diabéticos cadastrados no Sistema Hiper Dia da Unidade Básica de Saúde do Simões Lopes, Pelotas, RS, Brasil. Revista Enfermagem e Saúde, 1(1), 69-76. Caregnato, R.C.A., & Mutti, R. (2006). A pesquisa qualitativa: Análise de discurso versus análise do conteúdo. Texto e Contexto - Enfermagem, 15(4), 679-684. Coelho, E. B., Neto, M. M., Palhares, R., Cardoso, M. C. M., Geleilete, T. J., & Nobre, F. (2005). Relação entre a assiduidade às consultas ambulatoriais e o controle da pressão arterial em pacientes hipertensos. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 85(3), 157-161. Feijão, A. M. M., Gadelha, F. V., Bezerra, A. A., Oliveira, A. M., Silva, M. S. S., & Lima, J. W. O. (2005). Prevalência de excesso de peso e hipertensão arterial, em população urbana de baixa renda. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 84(1), 29-33. Figueiredo, N. N., & Asakura, L. (2010). Adesão ao tratamento anti-hipertensivo: Dificuldades relatadas por indivíduos hipertensos. Ata Paulista de Enfermagem, 23(6), 782-787. Firmo, J. O. A., Lima-Costa, M. F., & Uchoa, E. (2004). Projeto Bambuí: Maneiras de pensar e agir de idosos hipertensos. Caderno de Saúde Pública, 20(4), 1029-1040. Giorgi, D. M. A. (2006). Estratégias para melhorar a adesão ao tratamento anti-hipertensivo. Revista Brasileira de Hipertensão, 13(1), 47-50. Guedes, N. G., Costa, F. B. C., Moreira, R. P., Moreira, T. F., Chaves, E. S, & Araújo, T. L. (2005). Crises hipertensivas em portadores de hipertensão arterial em tratamento ambulatorial. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 39(2), 181-188. Helman, C. G. (2003). Cultura, saúde e doença (4ª ed.). Porto Alegre: Artmed. Jardim, P. C. B. V., Souza, A. L. L., & Monego, E. T. (1996). Atendimento multiprofissional ao paciente hipertenso. Revista Medicina Ribeirão Preto, 29, 232-238.

66 L. Pinho, B.C. Santana, L.V.B. Lopes, E.L.F. Monteiro, A.P. Caldeira Lessa, I. (2006). Impacto social da não-adesão ao tratamento da hipertensão arterial. Revista Brasileira de Hipertensão, 13(1), 39-46. Lopes, H.F., Barreto-Filho, J.A.S., & Riccio, G.M.G. (2003). Tratamento não-medicamentoso da hipertensão arterial. Revista da Sociedade de Cardiologia, 13(1), 148-155. Malachias, M. V. B., Lotemberg, A. M. P., Guimarães, A. C., Negrão, C. E., Forjaz, C. L. M., Lopes, H.,... Carvalho, T. (2010). Tratamento não medicamentoso e abordagem multiprofissional. Jornal Brasileiro de Nefrologia, 32, 22-28. Minayo, M.C.S., & Sanches, O. (1993). Quantitative and qualitative methods: Opposition or complementarity? Cadernos de Saúde Pública, 9(3), 239-262. Ministério da Saúde (2009). Caderno de Atenção Básica: Diretrizes do NASF, Núcleo de Apoio a Saúde da Família. Recuperado em 14 outubro, 2011, de http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ caderno_atencao_basica_diretrizes_nasf.pdf. Ministério da Saúde (2010). Hipertensão avança e atinge 24,4% dos brasileiros. Recuperado em 19 outubro, 2010, de http://portal.saude.gov.br/ portal/aplicacoes/noticias/default.cfm?pg=dsp DetalheNoticia&id_area=124&CO_NOTICIA =11290. Oliveira, A. P., & Siqueira, H. C. H. (2009). Influência dos exercícios físicos e da alimentação na qualidade de vida de portadores de hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus. Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente, 11(12),13-38. Péres, D. S., Magna, J. M., & Viana, L. A. (2003). Portador de hipertensão arterial: Atitudes, crenças, perceções, pensamentos e práticas. Revista de Saúde Pública, 37(5), 635-642. Péres, D. S., Santos, M. A., Zanetti, M. L., & Ferronato, A. A. (2007). Dificuldades dos pacientes diabéticos para o controle da doença: sentimentos e comportamentos. Revista Latino- Americana de Enfermagem, 15(6), 1105-1112. Santos, A. C. (2005). A inserção do nutricionista na estratégia da saúde da família: O olhar de diferentes trabalhadores da saúde. Família, Saúde e Desenvolvimento, 7(3), 257-265. Santos, Z. M. S. A., Frota, M. A., Cruz, D. M., & Holanda, S. D. O. (2005). Adesão do cliente hipertenso ao tratamento: Análise com abordagem interdisciplinar. Texto e Contexto - Enfermagem, 14(3), 332-40. Sociedade Brasileira de Cardiologia (2010). V diretrizes brasileiras de hipertensão arterial. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 89(3), 24-79. Spinella, C., & Lamas, J. L. T. (2007). Fatores associados à hipertensão arterial e níveis pressóricos encontrados entre adolescentes trabalhadores. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 41(2), 196-204. Todo o conteúdo da revista Motricidade está licenciado sob a Creative Commons, exceto quando especificado em contrário e nos conteúdos retirados de outras fontes bibliográficas.