Conceitos teóricos dos séculos XVII e XVIII

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Transcrição:

Conceitos teóricos dos séculos XVII e XVIII Introdução Sabemos que a forma como nossa sociedade atual pensa e age é consequência de anos de mudanças e quebras de paradigmas. Essas modificações são fruto, principalmente, de ideias e conceitos propostos por grandes pensadores em sua época. Nesta aula, vamos refletir sobre os pressupostos teóricos que fundamentaram a sociedade contemporânea. Estudaremos sobre os teóricos dos séculos XVII e XVIII que ajudaram a formar as concepções políticas, sociais e econômicas da nossa sociedade atual. Aprenderemos sobre Thomas Hobbes e sua noção de Estado, a desigualdade social em Rousseau, a noção de liberdade de Voltaire, a divisão de poderes de Montesquieu e o liberalismo econômico de Adam Smith. Vamos começar? Então, acompanhe-nos e bons estudos. Ao final desta aula, você será capaz de: conhecer os pressupostos teóricos que formaram a sociedade contemporânea; entender sobre o Iluminismo e Liberalismo. Thomas Hobbes: o contrato social inglês Thomas Hobbes (1588 1679) nasceu na Inglaterra no final do governo de Elizabeth I (1558 1603), da Dinastia Tudor. Esta Dinastia conseguiu consolidar o poder absolutista na Inglaterra ao vencer a Guerra das Duas Rosas (1455 1485) e também garantiu independência em relação à igreja católica ao fazer o Ato de Supremacia (1532). O que seria isso? Foi a ruptura com a Igreja Católica e criação da Igreja Anglicana. Mas apesar da consolidação do poder do rei, na história política inglesa, o poder dele nunca foi total devido ao forte poder também do parlamento. - 1 -

Figura 1 - Parlamento inglês Fonte: Leonid Andronov / Shutterstock SAIBA MAIS O parlamento inglês surgiu em 1212, quando o rei João, o sem-terra, teve seu poder restrito ao assinar a Magna Carta, forçado pelos nobres após a fracassada tentativa de invasão da França. A partir de então, nenhum rei inglês pôde tomar uma decisão sem a permissão do parlamento. Hobbes acompanhou a Guerra Civil Inglesa (1642-1649), que encerrou com a decapitação do Rei Carlos I. Após finalizar o conflito, Hobbes retorna à Inglaterra e publica o Leviatã, em 1651, em que discute sobre a natureza do homem e a função do Estado. A extensão do conflito e seus efeitos na sociedade, principalmente o elevado número de mortes, causou no autor um pessimismo sobre o ser humano. Para Hobbes, inicialmente, nos primórdios o ser humano vivia em uma condição de anarquia e barbárie conhecida como Estado Natural. Neste estágio, todos são iguais, todos têm os mesmos direitos, há a ausência do soberano e, guiados apenas pelos seus instintos, paixões e desejos, os homens são levados ao constante estado de guerras (RIBEIRO, 1989). Para evitar os conflitos entre as pessoas, Hobbes defende o Estado Soberano, que deverá ser regido por um soberano. Na concepção deste autor, esse Estado que será regido por um corpo de leis dará ao ser humano a tranquilidade e paz de que ele necessita para viver. Se o Estado Natural dá a liberdade sem limites à população, então, leva ao caos e anarquia. Por outro lado, o Estado Soberano restringe a liberdade individual, mas permite a - 2 -

ordem e a tranquilidade de que as pessoas necessitam. Em resumo: o Leviatã seria o monstro que resulta do Estado Civil que é a união da vontade de todos na figura do soberano, que representa a lei que dará a tranquilidade necessária. Portanto, Hobbes oferece à nossa sociedade a ideia de um Estado de Direito cujo corpo de regras, chamadas de lei, deve trazer ordem, paz e proteção à população e estar acima dos interesses pessoais. Perceba que este conceito permeará grande parte dos Estados ocidentais contemporâneos (RIBEIRO, 1989). Agora, vejamos o contraponto deste pensamento? Acompanhe-nos para conhecer as ideias de Voltaire. Voltaire e o conceito de liberdade Os próximos três autores que vamos estudar (Voltaire, Rousseau e Montesquieu) possuem em comum o fato de serem denominados iluministas. E o que significa isso? O Iluminismo surgiu na Europa no século XVIII como uma oposição a tudo que representasse o Antigo Regime: poder absolutista, a fusão de Estado com a Igreja, interferência do Estado na economia e os privilégios da nobreza. Voltaire, pseudônimo de François Marie-Arouet (1694 1778), trabalha com afinco o conceito de liberdade. SAIBA MAIS O nome Iluminismo vem de luz, pois, segundo os seus teóricos, por meio da razão e da luz do conhecimento, a sociedade humana conseguiria desfazer suas amarras e seguir sua liberdade. Para aprofundar sugerimos a leitura do seguinte texto: <http://www.scielo.br/pdf/seq/n66 /14.pdf>. Diferentemente da concepção grega clássica de liberdade, que era a participação do cidadão nas decisões políticas, no século XVIII, a noção de liberdade é ampliada para a autodeterminação do indivíduo sem que tenha que obedecer passivamente a outros. Para isso, o Estado absolutista e a sua característica intervencionista no cotidiano das pessoas eram opostos aos interesses dos iluministas (COULANGES, 1971). Para os iluministas e, sobretudo Voltaire, a população deveria ter o direito à liberdade de expressar sua opinião, de comercializar e professar a sua fé. FIQUE ATENTO Assim como outros conceitos, a liberdade não é um bem natural do ser humano, ela é historicamente construída, para depois ser inserida no cotidiano das pessoas. Perceba que a filosofia iluminista influenciará as revoltas e revoluções da segunda metade do século XVIII e início do século XIX na Europa e continente americano, sobretudo na Revolução Francesa e Independência das treze colônias, atualmente os Estados Unidos. Os governos resultantes delas que asseguraram a liberdade e - 3 -

autodeterminação de seus indivíduos passaram a ser chamados de governos liberais, os quais serão predominantes nos séculos XIX e XX. Na sequência, continue conosco para conhecer o pensamento de Montesquieu, outro autor que era favorável à formulação de um conceito de liberdade. Vamos lá? Barão de Montesquieu e o poder tripartite Uma das contestações ao Antigo Regime resultava no acúmulo de poder nas mãos de um soberano, no caso do governo francês, a figura do rei. Neste sentido, Charles Louis de Secondat, o barão de Montesquieu (1689 1755), em seu livro O Espírito das Leis (1748) critica e defende a divisão dos poderes em três: Legislativo (aquele que faz as leis), Executivo (aquele que as põe em prática) e Judiciário (aquele que julga as leis). EXEMPLO A divisão de poderes é a prática política das principais democracias contemporâneas. No Brasil, em nível federal, o Executivo é exercido pelo Presidente, o Legislativo por deputados e senadores, e o Judiciário pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Para o autor, aquele que detém o controle dos três poderes, isto é o rei, tende a abusar dele na condução do país. Por isso, a divisão e a isonomia (ou seja, a igualdade de todos perante as leis) entre esses poderes é necessária para assegurar uma sociedade mais justa e que garante os direitos de autodeterminação de seus indivíduos ao respeitar as leis. FIQUE ATENTO No caso brasileiro, a divisão em três poderes é feita tanto no nível federal como no estadual e municipal. - 4 -

Figura 2 - Antigo Regime versus governos liberais Fonte: Elaborado pelo autor, 2017. Acompanhe na imagem a seguir uma demonstração do que seria a diferença entre o Antigo Regime e os Governos Liberais. Vamos conhecer o terceiro autor que expôs seus pensamentos sobre governos e liberdade? Então, acompanhenos! Rousseau e a desigualdade entre os homens Jean Jacque Rousseau (1712 1778) foi um dos principais filósofos iluministas do século XVIII e, dentre seus estudos, o destaque é para aquele sobre a desigualdade entre os homens e a crítica sobre a sua existência. Primeiro de tudo, saiba que na sociedade francesa do século XVIII, a desigualdade entre os homens era vista como natural. Seguindo tradições e costumes medievais, a nobreza francesa possuía mais direitos e privilégios que o restante da população, como o acesso à propriedade rural e a isenção de impostos. Contra esta desigualdade e privilégios de uma classe social é que Rousseau escreve sua crítica na obra Discurso sobre a origem e a formação da desigualdade entre os homens (ROUSSEAU, 1989). Para Rousseau, havia dois tipos de diferenças entres os homens: uma natural ou física, que seria a distinção sexual, de altura, racial, etc., e para o autor essa diferença não deveria ser objeto de pesquisa, pois é imutável. A outra diferença é política ou moral, e surgiu a partir do momento em que o homem natural se organizou em comunidades e passou a ter posse da propriedade e da ambição humana em se distinguir de seus pares e o desejo de aumentar o seu poder. Com isso, dividiria a população entre ricos e pobres, governantes e governados e que aí está a origem da opressão e a falta de liberdade. -5-

FIQUE ATENTO A noção de homem natural para Rousseau é diferente da de Hobbes. Para o iluminista, o homem natural é aquele capaz de compaixão, misericórdia e solidariedade para com seus pares e que foi a criação da propriedade privada que corrompeu o homem. A busca de igualdade de direitos e o fim de privilégios é a base jurídica dos principais governos do século XIX e XX, em que a premissa permanece que todos são iguais perante as leis. Figura 3 - A diferença entre os homens trazida pelo poder Fonte: Prazis / Shutterstock Agora, vejamos quem é Adam Smith e o que o autor fala a respeito do liberalismo econômico. Vamos lá? Então, acompanhe-nos! Adam Smith e o liberalismo econômico Alguns o consideram como iluminista ou, simplesmente, um herdeiro dos fisiocratas iluministas, que defendiam o fim do mercantilismo e do intervencionismo estatal na economia, sintetizado no termo francês Laissez-Faire - 6 -

que pode ser traduzido como deixe estar. Aliás, esta expressão é símbolo do liberalismo econômico, que, em linhas gerais, determina que o mercado funcione livremente, sem interferência do Estado, contando apenas com regulamentos que protejam os direitos de propriedade. Esta filosofia foi dominante nos Estados Unidos nos países da Europa ocidental sobretudo a partir do final do século XIX. O inglês Adam Smith (1723 1790) é tido como pai do liberalismo econômico. Em seu livro A Riqueza das Nações (1776), o economista inglês defende a necessidade de ter um Estado que não interfira na economia e que deixa que ela se autorregule, segundo a lei do mercado (Lei da oferta e da procura). Este tipo de Estado é conhecido como Estado Mínimo. Figura 4 - Estátua do inglês Adam Smith - 7 -

Fonte: Heartland Arts / Shutterstock - 8 -

Perceba que o Estado Mínimo não interfere no cotidiano das relações comerciais, é função do governo proteger sua população. A cobrança de impostos e a intervenção econômica, segundo Smith, são prejudiciais às empresas e à economia (SMITH, 1985). Até a crise de 1929, quase todos os países europeus e americanos adotavam a prática do liberalismo econômico. EXEMPLO Os EUA é o maior exemplo da prática do Estado Mínimo, onde a taxa de juros de cobrança à população é baixa e, para o cidadão americano, a função do governo é a proteção. Por isso, atentados como o 11 de Setembro de 2001 comovem e indignam tanto a população. A interpretação e a sensação é de que o governo falhou. Hoje, o liberalismo econômico concebido por Adam Smith é amplamente visto em prática nos grandes blocos econômicos como a União Europeia, Mercosul e Nafta. SAIBA MAIS A discussão sobre os limites e possibilidades de um Estado mínimo deve ser observada. Para aprofundar, sugerimos a leitura do seguinte texto: <http://www.cartacapital.com.br/economia /o-estado-deve-intervir-no-processo-economico>. Fechamento Chegamos ao fim desta aula que nos possibilitou aprender que, apesar de a sociedade contemporânea ter surgido em fins do século XVIII, com a Revolução Francesa, seus pressupostos teóricos que fundamentam a sociedade surgiram 150 anos atrás, como a noção de Estado de Direito, liberdade individual, igualdade de direitos e divisão de poderes. Nesta aula, você teve a oportunidade de: conhecer os pressupostos teóricos que formaram a sociedade contemporânea; entender sobre o Iluminismo e Liberalismo. Referências COULANGES, Fustel. A Cidade Antiga. Lisboa: Clássica, 1971. FISS, Owen. Janeiro: Renovar, 2005. A ironia da liberdade de expressão: Estado, regulação e diversidade da esfera pública. Rio de - 9 -

FREITAS, Riva Sobrado de; CASTRO, Matheus Felipe de. Liberdade de Expressão e Discurso de Ódio: um exame sobre possíveis limitações à liberdade de expressão. Rev. Seq., Florianópolis, n. 66, p. 327-355, jul. 2013. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/seq/n66/14.pdf>. Acesso em: 04/02/ 2017. MONTESQUIEU, Charles de Secondat. O Espírito das Leis. São Paulo: Saraiva, 2000. DANIEL, Paulo. O Estado deve intervir no processo econômico? Carta Capital [online]. Publicado em: 08 abr. 2011. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/economia/o-estado-deve-intervir-no-processoeconomico>. Acesso em: 15/02/ 2017. RIBEIRO, Renato Janine. Hobbes: o medo e a esperança. In WEFFORT, Francisco (Org). Os Clássicos da política: Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu e Rousseau. O Federalista, v.1, São Paulo: Ática, 1989.pp. 51-77. ROUSSEAU, Jean Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. São Paulo: Ática, 1989. SMITH, Adam. Cultural, 1985. A riqueza das Nações: investigação sobre a sua natureza e suas causas. 2. ed. São Paulo: Nova - 10 -