MÔNICA BERGAMO monica.bergamo@grupofolha.com.br VOTE EM MIM Eloisa de Sousa Arruda, que foi secretária de Estado da Justiça de São Paulo até janeiro e voltou a ser procuradora do Ministério Público, decidiu disputar o cargo de chefe da instituição. "Serei a primeira mulher na história candidata [a procuradora-geral de Justiça]. É uma responsabilidade, mas estou animada", diz ela. Zelotes faz buscas em escritórios de SP, DF e RS Objetivo é encontrar provas de lavagem de dinheiro por 12 empresas e 11 pessoas físicas GABRIEL MASCARENHASDE BRASÍLIA A Polícia Federal deflagrou na manhã desta quinta (3) a segunda etapa da Operação Zelotes, de combate a um esquema de vendas de sentenças no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), vinculado ao Ministério da Fazenda. Foram cumpridos nove mandados de busca e apreensão em escritórios de contabilidade, sendo cinco no Distrito Federal, um em São Paulo e três no Rio Grande do Sul.
O objetivo era encontrar documentos e registros contábeis que comprovem a prática de lavagem de dinheiro por 12 empresas e 11 pessoas físicas suspeitas de intermediar o pagamento de propina a conselheiros do Carf. "À primeira vista, já dá para dizer que encontramos materiais que dão ainda mais robustez às nossas suspeitas", disse o delegado da PF, Hugo Correia. A perícia realizada nos documentos apreendidos na primeira fase da operação, deflagrada em março, demonstrou discrepâncias entre as cifras movimentadas pelos suspeitos e os valores declarados à Receita. Os escritórios visitados pelos policiais nesta quinta prestam serviços a empresas investigadas. A maioria é de escritórios de advocacia e de lobistas, que já foram alvo da PF seis meses atrás. A Folha apurou que a PF deve apresentar os primeiros relatórios conclusivos em aproximadamente três meses. A Justiça também autorizou a quebra de sigilos fiscal, bancário e telemático de todo o material apreendido. Deflagrada em março, a primeira fase da operação identificou indícios de irregularidades em cerca de 70 processos que tramitavam no Carf. A investigação é feita pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal, em conjunto com a Receita. Alvo da Lava Jato, ex-líder de gestões Lula e Dilma é indiciado pela polícia Segundo a PF, há indícios de que Vacarezza tenha recebido dinheiro de corrupção na Petrobras O ex-deputado petista diz não ter tido acesso ao relatório da PF, mas nega ter cometido qualquer crime FLÁVIO FERREIRADE SÃO PAULO
A Polícia Federal apontou indícios da prática do crime de corrupção passiva pelo ex-líder de governos petistas na Câmara dos Deputados, Cândido Vacarezza (PT-SP), e pelos deputados federais Vander Loubet (PT-MS) e Nelson Meurer (PP-PR). A PF suspeita que eles receberam dinheiro do esquema de corrupção da Petrobras investigado pela Operação Lava Jato. As conclusões estão em dois relatórios finais da PF entregues ao STF (Supremo Tribunal Federal), corte responsável pelas investigações de políticos. Vacarezza foi líder do governo na Câmara nas gestões do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff. A PF relatou ter encontrado indícios de que Vacarezza recebeu valores ilícitos por meio do doleiro Alberto Youssef, um dos delatores do caso, para o financiamento da campanha eleitoral de 2010. Segundo a PF, a quantia foi entregue em um apartamento do petista a pedido do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, que também é um dos colaboradores da Lava Jato. No mesmo inquérito, a PF afirmou que o deputado Vander Loubet foi beneficiário de R$ 1 milhão, que teria sido repassado por Youssef a pedido do empresário Pedro Paulo Leoni Ramos. Em outro relatório, relativo ao deputado Nelson Meurer, os indícios são de que ele tenha sido o destinatário de mais de R$ 2 milhões do esquema entre 2008 e 2013. Parte desse valor teria sido transferido por meio de doações eleitorais oficiais realizadas a mando de representantes da construtora Queiroz Galvão durante a campanha de 2010, relatou a PF. Agora o STF deverá encaminhar os relatórios para o Ministério Público Federal, que decidirá pela apresentação de denúncia contra os acusados ou pelo arquivamento das investigações. OUTRO LADO Vacarezza disse que ainda não teve acesso ao relatório, mas nega que ter cometido qualquer crime. Afirmou que não há provas contra ele e lembrou que em depoimento Paulo Roberto Costa negou ter orientado Alberto Youssef a repassar valores a ele. A assessoria do empresário Pedro Paulo Leoni Ramos informou que ele já prestou esclarecimentos à Justiça e não iria se manifestar.
A construtora Queiroz Galvão negou o pagamento de propinas e afirmou que segue rigorosamente as leis do país. A Folha não conseguiu fazer contato com os deputados Loubet e e Meurer na noite desta quinta-feira (3). Ex-presidente da Eletronuclear agora é réu DE SÃO PAULO O juiz federal Sergio Moro acolheu nesta quinta (3) denúncia do Ministério Público Federal contra o ex-presidente da estatal Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva e outras 13 pessoas acusadas de irregularidades investigadas na Operação Lava Jato. Também viraram réus a filha dele Ana Toniolo, os executivos Flavio Barra e Otávio Marques de Azevedo, da Andrade Gutierrez, e os sócios da empreiteira Engevix Cristiano Kok e José Antunes Sobrinho. O Ministério Público Federal acusa o militar de corrupção e lavagem de dinheiro. Segundo a denúncia, ele recebeu propina de empreiteiras que atuam no complexo de Angra 3 (RJ). Em julho, o almirante negou o recebimento de propina, assim como a filha dele. A Engevix afirmou que forneceu informações ao Ministério Público e à PF. A Andrade não se manifesta sobre o assunto. Os outros acusados não foram localizados. Anastasia diz que é vítima de 'armação' em inquérito da PF
Em e-mail para Dilma, funcionária pública mineira apontou casa de prima de Aécio como local de entrega de dinheiro Procurador pediu para arquivar investigação sobre senador tucano, mas polícia quer tempo para analisar denúncia DE SÃO PAULO DE BELO HORIZONTE DE BRASÍLIA O senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) afirmou nesta quinta (3) que a iniciativa da Polícia Federal de pedir mais tempo para investigar uma denúncia apresentada contra ele por e-mail é uma "armação" para prejudicá-lo. Na semana passada, a Procuradoria Geral da República pediu ao Supremo Tribunal Federal o arquivamento de um inquérito aberto em março para apurar a suspeita de que Anastasia recebeu dinheiro do esquema de corrupção descoberto na Petrobras. Na contramão, a Polícia Federal pediu na terça (1º) ao Supremo a continuidade das investigações, alegando que recebera novas informações que a Procuradoria desconhecia e que precisariam ser analisadas com mais profundidade. Anastasia virou alvo de suspeitas porque o policial Jayme Alves de Oliveira, mais conhecido como Careca, que trabalhava para o doleiro Alberto Youssef fazendo entregas de dinheiro, disse no ano passado que entregou R$ 1 milhão a um homem que se parecia com Anastasia, em 2010, quando ele era governador. O depoimento do policial, em que ele descreve em detalhes a casa de Belo Horizonte em que teria feito a entrega, veio a público em janeiro. Dias depois, a funcionária pública mineira Vivianne Diniz Valim mandou um e-mail à presidente Dilma Rousseff com informações sobre o assunto. DOCUMENTOS Na mensagem, Vivianne apontou a casa de uma prima do senador Aécio Neves (PSDB-MG), Tânia Campos, como o local indicado no depoimento de Careca. A funcionária anexou à mensagem cópias de documentos sobre os proprietários do imóvel. Localizada pela Folha, Vivianne não quis se manifestar. Ela é auxiliar administrativa e atualmente trabalha na Secretaria Estadual de Planejamento de Minas Gerais.
A Folha visitou nesta terça a casa de Tânia. Ela fica no mesmo bairro indicado por Careca, mas não corresponde à descrição feita em seu depoimento. Segundo o policial, a casa em que ele teria entregue dinheiro a Anastasia era térrea com vista para um shopping center. A casa de Tânia é um sobrado voltado para outro lado da cidade. A PF esteve no local na segunda-feira (31) para fotografar o imóvel. Em vídeo divulgado no Facebook, Anastasia disse que a diligência é "estranhíssima", considerando que a denúncia é de janeiro. "Não posso permitir uma armação contra minha pessoa", afirmou o senador no vídeo. "O que se pretende é prolongar de maneira artificial e indevida esse inquérito para meu desgaste", acrescentou, dizendo-se submetido a uma "tortura" pelas investigações. Em nota, o diretório estadual do PSDB afirmou que cabe à Policia Federal "identificar a motivação da pessoa que a fez na tentativa de politizar as investigações". O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse não ter conhecimento das novas informações apontadas pela PF. (DANIELA LIMA, JOSÉ MARQUES, GUSTAVO URIBE E RUBENS VALENTE) Deputados pedem a Janot que Cunha seja afastado Segundo líder do PSOL, procurador foi receptivo DE BRASÍLIA Um grupo de parlamentares do PSOL, PDT, PT e PSB entregou nesta quinta (3) ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, representação pedindo o afastamento de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara dos Deputados. Segundo o líder do PSOL na Câmara, Chico Alencar (RJ), Janot foi receptivo à representação e se comprometeu a examinar o pedido.
Os partidos querem o afastamento de Cunha ainda na etapa de investigações da Operação Lava Jato, que apura esquema de desvio de recursos da Petrobras. "O argumento central é de que, no cargo, ele pode interferir na evolução das investigações", afirma Alencar. Cunha foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Chico Alencar disse ainda que, segundo Janot, a Procuradoria tem recebido elementos novos que "robustecem a denúncia inicial". Nesta quinta, o STF decidiu dobrar o prazo para que Cunha apresente defesa. O novo limite é 24 de setembro. Em outra votação, o Supremo abriu caminho para que o Congresso defina como vai votar os balanços de cada governo. Com isso, Cunha poderá retomar a articulação para analisar as contas de Dilma Rousseff do ano passado. BERNARDO MELLO FRANCO A moral da Câmara BRASÍLIA - Há sete meses, 267 deputados elegeram Eduardo Cunha para presidir a Câmara. Todos sabiam que o peemedebista estaria na lista do petrolão. Mas ele havia ajudado a bancar campanhas e prometia dar novas vantagens aos colegas. Em fevereiro, Cunha aumentou a verba indenizatória e anunciou a construção de três anexos com gabinetes e lojas, o parlashopping. Também autorizou o uso de dinheiro público na compra de passagens aéreas para mulheres de deputados. Criticado, revogou apenas a última regalia. Em março, o procurador Rodrigo Janot pediu a abertura de inquéritos contra 22 deputados suspeitos de levar propina no petrolão. Cunha encabeçou a lista. O Conselho de Ética, que pode pedir a cassação de mandatos, não abriu nenhum processo.
Em abril, um ex-assessor de Paulinho da Força, aliado de Cunha, soltou ratos na CPI da Petrobras. A imagem da Câmara, que já estava no chão, desceu ao nível do pré-sal. Em maio, a claque da Força Sindical, controlada por Paulinho, gritou palavrões e atirou notas falsas de dólar no plenário. Na semana seguinte, um sindicalista da central mostrou as nádegas durante uma votação. Em junho, deputados evangélicos interromperam uma sessão em protesto contra a parada gay. Exibiram cartazes com cenas de sexo explícito e fizeram uma oração no plenário. Cunha começou a tocar a pauta-bomba, que sabota o ajuste fiscal. Em julho, dois delatores da Lava Jato se disseram intimidados pelo presidente da Câmara. A principal advogada do caso deixou os clientes com temor de represálias à família. Em agosto, Cunha foi denunciado ao STF por corrupção e lavagem de dinheiro. Com medo de irritá-lo, PT e PSDB decidiram não pedir sua cassação. A Força Sindical o chamou de "guerreiro do povo brasileiro". Neste início de setembro, a direção da Câmara decidiu agir para restaurar a ordem e a moral na Casa. Vai criar um "dress code" e restringir o uso de decotes e minissaias. Depoimento derruba tese de cartel, diz advogada Odebrecht celebrou versão dada por Pessoa DE SÃO PAULO Ricardo Pessoa reconheceu o rateio prévio das obras da Petrobras e o pagamento de propina a dirigentes da estatal e a políticos. Mesmo assim, o depoimento foi celebrado por réus da Odebrecht.
O delator negou ter tratado com Marcelo Odebrecht sobre suborno e cartel na Petrobras e apontou o ex-executivo Marcio Faria como seu interlocutor nessas decisões. Pessoa admitiu que ele próprio pagou propina, mas foi vago sobre o comportamento da empreiteira parceira em dois consórcios. O dono da UTC indicou que Faria era responsável na Odebrecht por fazer pagamentos a dirigentes da estatal, mas esquivou-se de dizer se Faria pagou efetivamente propina, argumentando que não lhe cabia "fiscalizar" a parceira. "O delator deixou claro que pode falar apenas pelos próprios atos e não responde sobre terceiros", disse Dora Cavalcanti, defensora de Faria. A Procuradoria diz ter evidências que ligam a Odebrecht a depósitos em contras de ex-diretores no exterior. Na versão de Pessoa, o acerto prévio não atingia todas as obras e às vezes falhava discrepância com a descrição do também delator Augusto Mendonça sobre o cartel, como um campeonato com regras predefinidas. "O depoimento derruba a tese simplista de um clube de empresas que funcionava como cartel nas licitações da Petrobras", disse Dora. O PT afirma que todas as doações que recebeu foram legais e declaradas à Justiça Eleitoral.