Palavras-chave: revista da Semana; revistas brasileiras; imprensa brasileira; imprensa feminina.



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Transcrição:

A REVISTA DA SEMANA EM PERSPECTIVA 1 Gisele Taboada 2, Unicsul (graduanda em Jornalismo); João Elias Nery 3, Uniso (docente na área de Comunicação Social) e Maria Gabriela Marinho 4, Universidade São Francisco (docente e pesquisadora na graduação e pós-graduação em Educação). Resumo: a pesquisa aborda a trajetória da Revista da Semana, relacionando-a ao contexto da imprensa brasileira das primeiras décadas do século XX. O trabalho, ainda em andamento, pretende analisar aspectos relativos ao universo feminino e suas representações na literatura difundida na revista e nas seções dirigidas à mulher. Por outro lado, pretendese estudar a inserção da fotografia e a linguagem fotográfica introduzida na revista. Palavras-chave: revista da Semana; revistas brasileiras; imprensa brasileira; imprensa feminina. 1 Trabalho apresentado ao NP 04 Produção Editorial no IV Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom. 2 Graduada em Direito (USF), aluna de Jornalismo (Unicsul). 3 Doutor em Comunicação e Semiótica, docente e pesquisador na área de Comunicação. 4 Doutora em História (FFLCH/USP), jornalista, docente no mestrado em Educação (USF).

2 A REVISTA DA SEMANA EM PERSPECTIVA Introdução O presente artigo tem como finalidade apresentar o estágio atual da pesquisa sobre a Revista da Semana, bem como os temas que foram priorizados em pesquisas distintas. O material consultado para a realização desta pesquisa pertence ao acervo do Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa e História da Educação da Universidade São Francisco USF que se encontra no campus de Bragança Paulista e ao acervo da Biblioteca da Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo USP. Os dois acervos, na verdade, se completam, de maneira que a USF possui 125 exemplares encadernados dos anos de 1914 a 1916 e a USP possui os exemplares de 1917 a 1958. É importante ressaltar que esses exemplares não representam a totalidade do que foi publicado, sendo que a revista remonta a 1900. Outros exemplares estão faltando da mesma forma: o primeiro semestre de 1915 não está disponível e do ano de 1917 há apenas um exemplar. Quanto aos demais anos, estão praticamente completos. 1. Revista da Semana: história, projeto, propriedade e mercado. A Revista da Semana surgiu no ano de 1900, no Rio de Janeiro 5. Nelson W. Sodré 6 afirma que A Revista da Semana, fundada por Álvaro de Tefé, começou a circular a 20 de maio de 1901, com a ajuda de Medeiros e Albuquerque e Raul Pederneiras. Em outra passagem este autor indica, contradizendo o que anteriormente afirmara que Prosseguiam a Revista da Semana, de 1900,... 7. Na obra de Dulcília Buitoni 8 o ano de 1901 é indicado como início da revista. Ana Luiza Martins 9, em obra em que analisa revistas paulistas, indica a existência da Revista da Semana no período de 1885 a 1895, a qual seria dirigida por Valentim Magalhães e Max Fleiuss. Em outro capítulo da mesma obra, a autora menciona a revista comentando sobre os processos de reprodução que utilizava em 1900, não fazendo referência sobre esta data ser a de seu início, sendo que, 5 Conforme o livro A Revista no Brasil, p. 234 6 Nelson Werneck Sodré. História da Imprensa no Brasil, p. 297. 7 Idem, ibidem, p. 326 8 Dulcilia Buitoni. Imprensa feminina, p. 42 9 Ana Luiza Martins. Revistas em Revista, pp. 74 e 187.

3 então, a direção estaria nas mãos de Álvaro de Teffé. Comparando estas informações com as existentes no livro A Revista no Brasil 10, verificamos ter havido equívoco por parte daquela autora já que a revista mencionada é na verdade A Semana. Além destas contradições verificadas em quatro diferentes obras, os dados que constam nas próprias revistas já nos fizeram acreditar que ela teria surgido em 1899. Esses dados não foram ainda solidamente confirmados, deixando-nos apenas a certeza de que ela não apareceu em 1901. Na verdade, todas as evidências nos levam a afirmar que a revista teria realmente nascido em 1900. A Revista da Semana pertenceu ao Jornal do Brasil até o ano de 1915 e era encartada no jornal. Em 1915 foi comprada pela Companhia Editora Americana, mesmo ano em que recebeu, para sua nova fase, maquinários modernos vindos dos Estados Unidos para sua impressão com adoção de novas cores. A tecnologia foi algo que a revista soube acompanhar, da mesma forma que acompanhou os avanços da fotografia na virada do século XX, tendo explorado intensamente essa forma de comunicação, trazendo reportagens repletas de fotos, algumas até trazendo muito mais fotos do que notícia escrita. Acerca desta temática Nelson W. Sodré 11 destaca que Do ponto de vista da técnica, as revistas ilustradas assinalam o início da fase da fotografia, libertada a ilustração das limitações da litografia e da xilogravura. (...) A Revista da Semana teria papel pioneiro, ocupando-se, depois de desvincular-se do Jornal do Brasil, principalmente com as atualidades sociais, políticas e policiais, tornando-se leve, alegre, elegantes, com as ilustrações de Raul, Bambino, Amaro do Amaral e Luís Peixoto; sob a direção de Carlos Malheiros Dias, a partir de 1915, seria mais elegante e feminina (...) A fotografia foi um recurso tão importante na Revista da Semana que havia até mesmo seções em estúdio em que eram fotografadas simulações de crimes para ilustrar as reportagens a serem publicadas. Mas as reportagens de rua também tomavam lugar em suas páginas: segundo Revista em Revistas, da Editora Abril, as únicas imagens que possuímos da Revolta da Vacina, em 1904, foram publicadas na Revista da Semana 12. Em nosso trabalho seguimos a linha de pesquisa editorial e histórica, tendo como objetivo fazer uma análise da imprensa do início do século XX, verificar questões gráficas, 10 Op. Cit. p. 233. 11 Nelson W. Sodré, op. cit. pp. 300-301 12 A Revista no Brasil, p. 44.

4 editoriais e relacioná-las ao contexto da mídia e do país naquele período. A diagramação, a propriedade editorial, a questão do número médio de páginas por edição, a paginação ou falta de (como ocorre nas primeiras décadas de existência da revista), e as seções que permaneceram por determinado tempo como fixas a cada edição, estes são alguns dos aspectos que procuramos verificar. Há ainda um outro viés a ser explorado que tem nas capas apresentadas pela revista sua fonte para análise. Procurar-se-á estabelecer correlações com a época do ponto de vista social, cultural e os avanços que ocorreram no contexto da produção jornalística brasileira, considerando aspectos técnicos de linguagem e de mercado. O que foi a revista e o que ela apresentou ao seu público no início, como foi sua trajetória, o que mudou, o que permaneceu e como ela se apresentava quando foi extinta são dados que pretendemos apresentar de forma que possamos delimitar as fases desta revista e sua inserção na história do país, dando subsídio a todas as temáticas a que nos propusemos pesquisar. Analisando alguns dos aspectos físicos da revista notamos que havia uma média de 80 páginas por exemplar e não havia sumário ou paginação nas primeiras décadas de publicação da revista, o que obrigava o leitor a folheá-la por inteiro à procura das matérias. As chamadas de capa, indispensáveis nos dias de hoje, não apareciam na Revista da Semana. As únicas vezes em que a revista lançou mão de uma chamada para determinada matéria em sua capa ocorreram nos dias 12, 19 e 26 de dezembro de 1914. Já as informações básicas de data e local de publicação fizeram sua primeira aparição em capa no dia 18 de julho de 1914. O estudo das capas também nos mostrou que a revista não possuía um padrão para o logotipo. Nos exemplares analisados no Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa e História da Educação da USF, verificamos que em 55% dos casos o nome da revista aparecia escrito no espaço inferior da página e nos demais casos ele aparecia no lado superior, havendo um caso ou outro em que a arte gráfica separou as palavras ou mesmo as colocou na vertical. Os tipos de letra também variaram com alguma freqüência, indicando uma ausência de preocupação com a construção de uma identidade visual para a publicação. As informações coletadas na revista estão em conformidade com os dados relatados por Dulcília Buitoni 13. Segundo esta autora, 13 Dulcília Buitoni, op. cit. p. 58.

5 Inicialmente, as capas às vezes nem possuíam ilustração. Depois, passaram a trazer desenhos geralmente de cenas em que a mulher participava de algum modo. As ilustrações que eram trazidas para as capas também têm sua importância. Muitos ilustradores trabalharam em suas produções desenhando na grande maioria das vezes, um total de 65% até o ano de 1916, mulheres. São mulheres muito bem vestidas, com casacos de pele e chapéus, fazendo referência às elites do início do século XX e até mesmo fazendo menção às suas leitoras, como ocorre na edição de 12 de fevereiro de 1921 na qual uma moça posa com a edição da Revista da Semana de janeiro do mesmo ano em suas mãos. Mas as capas tiveram suas variáveis quando mostraram casais, mulheres ou moças com animais (tigre, águias, carneiro e grande presença de cachorros), imagens que retratavam a família, passeio de barco, jogo de tênis ou mesmo imagens da guerra a Primeira Guerra teve um espaço amplo nas capas e nas seções da revista. Recorrendo novamente à obra de Dulcília Buitoni 14, vemos que: Antigamente as capas eram mais pobres. Na Europa e nos Estados Unidos do século passado, as publicações dependiam em grande parte de assinaturas; suas capas não precisavam de atrativos que fossem vendáveis no confronto de uma banca. Aqui no Brasil, onde as revistas femininas dependem fundamentalmente da banca, uma capa agradável vende mais. Isso acontece também no exterior. Além de todas essas variações apresentadas, a revista também alterou o formato, apresentando em sua primeira fase um tamanho equivalente ao A4, passando a ter o dobro do tamanho e voltando ao original anos depois. Precisamos lembrar que, aqui, a capa é muito mais uma embalagem sem um sentido informativo preciso, como observamos atualmente na imprensa. Não há correlação de suas ilustrações com as matérias internas a capa era apenas uma arte que embrulhava suas páginas. Após diversos levantamentos serem feitos a partir dos exemplares da Revista da Semana obtivemos os elementos necessários para 14 Idem, ibidem, p. 58

6 estabelecermos, além dos apontamentos iniciais já apresentados, algumas linhas para a pesquisa, das quais definimos algumas como prioridade para o início de nossos trabalhos. O projeto prevê desdobrarmos nossos estudos em diversas pesquisas autônomas que, no conjunto, analisarão questões editoriais, gráficas e mercadológicas de uma importante publicação do início de século XX. Definimos temas a serem pesquisados no decorrer do ano de 2004, que apresentamos a seguir. 2. Literatura e artes na revista O primeiro tema a ser apresentado é Literatura e Artes na Revista da Semana. Tendo como premissa a divisão da Cultura em Literatura e Artes, nossa pesquisa abordará a questão das artes do ponto de vista da abertura da revista para as informações sobre pintura, cinema, teatro, dança e até mesmo para o lançamento de livros, como ocorria na freqüente seção Os Novos Livros. Sobre literatura, pretendemos resgatar os nomes importantes daqueles que assinaram as matérias jornalísticas da revista, que contribuíram com seus poemas e contos, e os que a ilustraram. A Revista da Semana reservava um espaço muito significativo para as matérias culturais e artísticas, dando imensa abertura a nomes como Olavo Bilac, Escragnole Doria, Menoti Del Picchia, Raul Pederneiras, entre tantos outros. A relação deles com a Revista da Semana era extremamente íntima e sua contribuição coisa certa. Raul Pederneiras, grande artista e jornalista, teve seus desenhos e caricaturas considerados de valor inestimável como ilustração de uma época. Seus trabalhos foram publicados na revista desde sua primeira edição. Olavo Bilac também foi importante para a revista. Após a morte de Bilac foi lançada uma edição especial em sua homenagem e até mesmo o nome da praça em que era estabelecida a revista recebeu seu nome. Também é interessante observarmos a influência francesa que se expressava através dos contos traduzidos para o português e através dos pseudônimos que eram utilizados pelos escritores. A revista também explorava as artes da escrita de outras formas, dando, por exemplo, aos seus leitores a oportunidade de participarem de um concurso de cartas de amor, como ocorreu em 1921. A literatura publicada na imprensa é herança da literatura de folhetim do século XIX, na qual verificávamos os romances dispostos em capítulos na imprensa. A venda do

7 periódico, aqui, se dá muitas vezes pelo interesse dos leitores em determinado autor ou seção literária. A literatura foi tão importante que a revista foi totalmente impregnada pelo estilo literário o romance e o estilo deste tipo de texto passado para o texto jornalístico, por exemplo, temos o título A Europa Devastada pela guerra, que era dado a uma das seções sobre a Primeira Guerra. 3. A mulher na revista da Semana: casa, família, moda Mais um enfoque que mereceu nossa atenção foram os temas dirigidos à mulher na revista. Em 14 de fevereiro de 1914 a revista iniciou uma nova fase e trouxe uma ilustração de duas páginas nas quais se viam os leitores com seus respectivos exemplares. Nessa ilustração o número de mulheres é consideravelmente menor que o de homens, porém, tudo indica que a publicação possuía um público feminino além de assíduo e fiel, também numeroso. Suas páginas são recheadas de matérias que confirmam essa afirmação. São matérias de etiqueta, colunas sociais com notícias das damas da época, seções de cartas e mais outras seções inteiras que, com o tempo, foram ganhando cada vez mais espaço. Segundo Dulcília Buitoni, Três grandes eixos sustentam a imprensa feminina: moda, casa e coração. O vestir, o morar, o sentir. Apesar de dois dos temas serem ligados à aparência exterior moda e casa constituem um exterior ainda pouco ligado ao mundo do trabalho. Em 1917, além de outras seções, a revista contava com o Jornal das Famílias que trazia notícias de moda, costura e bordados, a vida no lar, receitas e conselhos práticos, economia doméstica, higiene e beleza, moda infantil e alimentação. Esta foi, certamente, a mais feminina de todas as colunas publicadas pela Revista da Semana e, como tal, espelhava os assuntos considerados importantes à cultura feminina da sociedade da época. O status quo daquele período indicava ser importante para a mulher um bom casamento e a demonstração de dons para os afazeres domésticos e cuidados para com a família. A revista

8 incluiu temas e abordagens que alimentavam essa realidade. Por exemplo, no exemplar de 06 de janeiro de 1917, o Jornal das Famílias trazia uma reportagem de moda sobre os mais recentes modelos de chapéus e no subtítulo sobre costuras e bordados havia uma série de variedades como uma touca para manhã enfeitada com crochê, uma almofada oval, um modelo de napperon em frivolité e um saco de mão; para o subtítulo de moda infantil foi publicada, em lugar à habitual seção de moda para crianças, uma seção que falava como as mães deviam repreender as filhas, tratando de educação. Outra seção de destaque duradouro na revista é Consultório da Mulher que também configurava um espaço para cartas e conselhos. Esses quadros femininos que eram trazidos pela Revista da Semana tinham grande importância e fizeram sua história no que concerne às publicações do gênero, se considerarmos que a primeira grande revista voltada inteiramente ao público feminino, a Revista Feminina, nasceu em 1914 15. Como a moda era inserida nas páginas desta publicação é, da mesma forma, uma de nossas preocupações. Aqui, esperamos abranger a evolução das reportagens de moda e as influências de época que essa publicação sofreu em seus 58 anos de existência. Reviver como eram noticiadas as tendências na Belle Époque, por exemplo, e como a sociedade delimitava os padrões para cada época, é uma das finalidades da pesquisa. Comparar as abordagens que eram feitas dentro desta revista com as abordagens das revistas atuais é mais uma meta que buscamos. Esse levantamento, A Revista da Semana, a Mulher e a Moda, contará com esses e outros aspectos considerados. 4. A publicidade nas páginas da revista A Revista da Semana e a Propaganda propõe uma análise do estilo das propagandas, qual era o público a que se destinavam e quais as técnicas utilizadas para o convencimento. Naquela época, propagandas com textos longos e ilustrações eram muito 15 Dulcilia Buitoni. Imprensa feminina, p. 43. Nesta obra a autora indica a existência de outras publicações dirigidas ao público feminino desde a primeira metade do século XIX, destacando como pioneira O Espelho diamantino de 1827.

9 comuns, bem como a mistura de tipologias diversas. Sobre a publicidade nos meios impressos no período abordado, Nelson W. Sodré 16 afirma que: No século XX e na fase inicial de que tratamos, (...) proliferava o testimonial, cujo tipo pode ser aferido por este exemplo: Tenho a maior satisfação em declarar que, sofrendo de uma bronquite pertinaz, fiquei radicalmente curado com o uso de Bromil. (a) Olavo Bilac É interessante verificar os argumentos que eram trazidos para qualificar os produtos como, por exemplo, a sutil tomada de testemunho de pessoas que utilizaram o produto e sentiram-se satisfeitas. Outro item interessante é verificar os produtos, marcas e lojas que ainda existem e outros dos quais nunca mais se ouviu falar e se há apelo às mulheres para o consumo ou não e como ele era feito. 5. A cobertura à política Finalizando nossa lista de prioridades, elegemos a política como assunto de interesse, considerando que a revista realizou uma cobertura da Primeira Guerra (1914 a 1918) completa, e ainda esteve presente em outros setores da política nacional e internacional. Do ponto de vista da Primeira Guerra, havia reportagens, ilustrações e seções inteiras abordando os últimos acontecimentos. Lançando mão de uma das características da revista, em 16 de novembro de 1918 foi lançada uma reportagem fotográfica sobre o fim da guerra. Já para a cobertura nacional à política, um dos episódios mais marcantes ocorreu em 1909 quando a Revista da Semana tomou posição em favor da candidatura presidencial de Hermes da Fonseca contra Rui Barbosa ao lado do Jornal do Brasil, O País, A Tribuna e O Malho, conforme descreve Nelson Werneck Sodré 17. 16 Nelson W. Sodré, op. cit. p. 327. 17 Idem, ibidem, pp. 281-282.

10 Estando sempre a postos para discutir política e, mais do que isso, opinar e se impor como meio criador de opinião, a revista cumpriu mais um papel dentre os tantos que desempenhou com propriedade e criatividade. Política na Revista da Semana pretende abordar mais esse aspecto. Enfim, esperamos que as pesquisas em que se desdobrará nosso trabalho venham a ser úteis como fonte de estudo da imprensa em revista do Rio de Janeiro do século XX e possam acrescentar dados significativos para a compreensão da relação entre história e comunicação em nosso país.

11 Referências bibliográficas BOSI, A. Dialética da Colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. BUITONI, D. S. Imprensa feminina. São Paulo: Ática, 1990 (série Princípios). MARTINS, A. L. Revistas em Revista: Imprensa e Práticas culturais em Tempos de República, São Paulo (1890-1922). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Fapesp: Imprensa Oficial do Estado, 2001. MICELI, S. Intelectuais à brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. A Revista no Brasil. São Paulo: Editora Abril, 2000. REIMÃO, S. Mercado Editorial Brasileiro. SODRÉ, N. W. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1999.