O que dizem os pais da nova classe média sobre escolas de rede? Aluno: Marco Antonio Filho Orientador: Isabel Lélis



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Transcrição:

O que dizem os pais da nova classe média sobre escolas de rede? Aluno: Marco Antonio Filho Orientador: Isabel Lélis Introdução Esse trabalho baseia-se na análise dos dados do questionário aplicado aos pais de duas unidades educacionais de uma rede de ensino que atende à nova classe média, uma localizada na Zona Norte e a outra na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Objetivos e metodologia O objetivo do texto foi o de trazer as percepções dos pais de quinta e nona série do ensino fundamental sobre os motivos da escolha da escola, a gestão das escolas, o grau de participação das famílias junto aos estabelecimentos de ensino. Trata-se de um recorte de uma pesquisa institucional O trabalho docente em escolas da nova classe média, um objeto esquecido`` coordenada pela professora Isabel Lélis. Dividimos os achados obtidos com os questionários dos pais nos seguintes blocos, Identificação com a escola, escolha da escola, participação na vida escolar e perfil sociocultural dos pais e ao final apresentamos comentários que os pais fizeram com relação à escola. A pesquisa, contou com a contribuição de 133 pais, sendo 94 da escola localizada na zona norte e 39 na zona oeste da cidade do Rio de janeiro. Principais achados 1- Identificação com a Escola Ambos responsáveis demonstraram, em sua maioria, que o fato da escola ser bem conceituada socialmente teve grande importância na escolha. Aspectos com relação à convivência, à chamada boa companhia, também foi um fator crucial para colocar seus filhos na escola. Considerando as características das escolas o que ficou mais evidente em termos de preferência por esta rede de ensino foi a aprovação no vestibular, a boa qualidade do ensino, a garantia da aprendizagem dos conteúdos, o material pedagógico, a exigência de uma boa disciplina e bom comportamento, as aulas de reforço, a infraestrutura material 1

(espaço, instalações). Além desses aspectos,pesou também o fato da escola privada não participar de greves como também a boa frequência dos professores. O que atraiu esses pais, foi também a flexibilização com relação à mensalidade, ou seja, eles pagam uma mensalidade adaptada à renda mensal das famílias. A chamada nova classe média tem na mobilidade social uma grande aposta e para tanto busca a escolarização do filho como meio de melhoria das condições de vida do ponto de vista econômico. São famílias que estudaram em escolas públicas, algumas cursaram universidades privadas, são na maioria trabalhadores ou pequenos empresários, com jornadas de trabalho, longas e pouco tempo para lazer. Privilegiam a aquisição de bens de consumo, mas os capitais econômico e cultural são restritos e limitados. Podem ser nomeados como classe dos batalhadores não definida apenas por variáveis de renda, pois não trata-se de uma classe homogênea. Esse extrato social é o grande responsável pelo extraordinário desenvolvimento econômico brasileiro dos últimos anos que se deu, fundamentalmente, pela perspectiva do mercado interno. (SOUZA 2011). 2. Escolha da Escola O relacionamento dos responsáveis com a escola também foi tomado como um importante suporte à escolha desses estabelecimentos de ensino, dada a preocupação com o respeito à individualidade do aluno, e a abertura ao diálogo. Segundo Boudon, as escolhas escolares se dão em função das coesões sociais ou escolares que são vinculadas ao meio e são moduladas pela composição social que intervém nos projetos escolares mais ou menos ambiciosos dos jovens dos diversos grupos sociais, em função dos custos ligados à probabilidade de obter benefícios esperados de suas escolhas.(burdon.apud, Alves 2010). A proximidade de casa é outro dado importante, no conjunto de razões que levam os pais a matricularem seus filhos estes colégios. Essa proximidade da escola é vista como condição para garantir o sucesso escolar, já que não há problemas com a locomoção, permitindo o aluno um tempo ideal para a aprendizagem. Alguns pais dotados de maior senso crítico procuram conhecer melhor a escola para saber o que será passado para seu filho em termos dos conteúdos de ensino. 2

De acordo com as perguntas, dentre elas as que contemplam aspectos curriculares, os responsáveis de ambas as unidades, em sua grande maioria têm preocupação com a promoção do valor ao esforço, ao espírito crítico, a entrada futura no mercado de trabalho e aos resultados no Enem. No que diz respeito à realização pessoal dos filhos, os pais acreditam, em grande parte, isso reflete o percentual de 80% dos entrevistados, que a escola promove a cidadania e autonomia, o respeito às regras, o respeito ao próximo. Mais da metade dos entrevistados concordam que a escola deve proporcionar felicidade aos estudantes. Com relação a frequência de respostas, considerando os 133 respondentes, 71 deles fizeram essa afirmação. Os dados apontam ainda que os pais têm preocupação com relação à proximidade da Gestão, visto que essa aproximação pode garantir mensalidades mais baixas. Essa possibilidade de negociação do valor da mensalidade somada aos outros benefícios que a escola apresenta, dentre eles a proximidade do lar à escola foram os principais aspectos positivos que os pais e responsáveis apontaram em suas respostas. 3. Participação na vida escolar Nas duas unidades os pais responderam que não comparecem à escola sempre, vão quando são chamados. E possuem a característica de procurarem com mais frequência a escola para resolver questões sobre boletins, participar de reunião e conversar com os professores. De modo que ir à escola para participar de atividades culturais, não faz parte da rotina ou não é uma prioridade dos responsáveis da Zona Norte, o maior percentual é às vezes com (50%), e os demais dividem-se entre nunca (17%) e sempre (30,9%). Seguindo a mesma ordem de avaliação de respostas, os pais da Zona Oeste, apresentamse mais presentes a comunidade escolar em dias festivos e culturais. Para esclarecer, o percentual de às vezes é de (33,3%), e os demais dividem-se entre nunca (5,1%), com uma queda acentuada de em torno 11 pontos percentuais e sempre (56,4%). Para nós isso se refere a intenções não só de contemplar a escola como um ambiente que proporciona conhecimentos estritamente curriculares, os pais da Zona Oeste, ao aderirem a essas atividades culturais demonstram interesse numa escola que propicie aos filhos ampliação do repertório cultural. 3

De um modo geral os responsáveis dos alunos das duas escolas demonstram interesse nas questões curriculares, nos comunicados que a escola emite e nos resultados registrados nos boletins. É perceptível ao olharmos os dados que o contato com a escola quase sempre se dá pela atenção dada à escolarização dos filhos, isto é, saber como estão prosseguindo e é visível nas respostas dadas nos questionários que poucos propõem sugestões à escola, em razão de (43,6%) dos pais da Zona Norte afirmarem que não dão sugestões e nunca solicitaram entrevista e (30,8%) dos da Zona Oeste estão na mesma realidade. O acompanhamento às tarefas escolares não aparece em número expressivo como esperávamos, pois os mesmos pais que afirmam ter forte a cobrança de altas notas são os mesmos que se omitem com relação ao cumprimento das lições, trabalhos feitos em casa. E com relação à frequência de estudo em casa, os pais de ambas as unidades se dividiram ao afirmarem que seus filhos estudam diariamente, duas ou três vezes por semana, havendo também aqueles que assumem que os filhos estudam de véspera. Não ficou claro se os filhos participam de aulas de apoio dentro da escola, se esta possibilidade ocorre através de professores particulares por iniciativa das famílias. É interessante que a escola também assume um papel de entrar em contato, principalmente, para conversar com os pais sobre assuntos mais delicados como indisciplina/ relacionamento entre alunos, problemas de saúde, resultados da avaliação etc. Mas, no geral mais de (90%) dos pais de ambas as unidades responderam que a escola nunca entrou em contato. Ao serem perguntados se a escolarização do filho impõe sacrifícios à família, dos 94 respondentes, 47 pessoas, ou seja, (50%) da Zona Norte apresentaram índices que indicam maiores dificuldades financeiras. O investimento na escola entre famílias em uma faixa de R$301,00 a R$1080,00, impõe mais sacrifícios do que nas famílias dos estudantes da escola da Zona Oeste que tem (79,5%) que afirmaram que a escolarização não impõe sacrifícios à família. A autora Fátima Alves nos ajuda a refletir quando diz que A natureza e a intensidade dos investimentos de caráter escolar variam também em função da manutenção da posição social atual ou da possibilidade de ascensão. Isso justifica a hipótese de que mesmo aparentemente os responsáveis que têm menor capital econômico insistem em manter seus filhos nessa escola, pois perseguem o objetivo de ascenderem socialmente. De forma diversa, famílias da escola da Zona Oeste com maior capital econômico e cultural, 4

buscam conservar-se nessa posição social. Quanto à pergunta sobre premiação o que fazem quando os filhos tiram notas baixas, as opções foram: colocar de castigo, falar com o professor, com o coordenador ou a prêmios em caso de melhora. A procura pela instituição de ensino é o dado mais frequente em ambas as partes. E a premiação também não é um caso recorrente em amas as realidades. Isto é (61,7%) dos pais da Zona Norte negaram essa possibilidade e (59%) dos outros respondentes também negaram. Ou seja, este é um aspecto positivo, pois a postura dos pais demonstra que a ligação entre escola e família gerará melhores resultados. 3. Gestão escolar É sabido que a gestão de uma escola há muito, não se resume à administração, mas sim a toda a dinâmica da organização, isto é, à equipe administrativa, à equipe pedagógica, alunos, pais, funcionários e a comunidade. A realidade cotidiana coloca desafios e todos devem estar integrados ao processo de desenvolvimento que se instaura e pode criar uma cultura institucional forte baseada em um trabalho coletivo. À luz dessa compreensão do que é uma Gestão Escolar, buscamos interpretar e, de algum modo, compreender as convergências e divergências face à essa questão por pais das duas unidades de ensino. Ao serem perguntados sobre a confiança na gestão os pais da escola do bairro da zona Norte mostraram-se divididos concordando em parte e plenamente com a direção enquanto os da Zona Oeste em sua grande maioria demonstraram plena confiança na direção. Na pergunta posterior, a frequência de respostas foi muito parecida, com relação, ao grau de concordância face as atividades inovadoras que a direção proporciona. Desse modo, é possível verificar que tanto Zona Norte quanto Oeste as famílias estão divididas, entre concordo em parte e concordo quanto a item confiança. Mas o concordo é predominante já que na Zona Norte é de (59,6%) e Zona Norte (76,9%). Sobre a preocupação da equipe gestora face ao rendimento de seus filhos, os pais da escola da Zona Oeste se mostraram mais confiantes enquanto os pais da escola da Zona Norte mais uma vez se dividiram, revelando um número expressivo de discordância e mesmo confiança face à direção no quesito rendimento acadêmico dos filhos. 5

Quanto ao tópico outros, relativo a críticas à instituição,um dos pais da zona norte apresentou preocupação com relação à formação continuada dos professores e na Zona Oeste o mesmo número de pais citou a inadequação do uso do uniforme.. Com relação aos professores, o grau de desconfiança dos pais da escola da zona norte face ao trabalho que realizam chama a atenção, visto que, praticamente o total se dividiu em quase (50%) em concordo em parte e concordo, diferentemente da Zona Oeste que demonstra mais confiança no corpo docente. Porém, ao ser abordada a temática da inovação proporcionada pelos professores em ambas as escolas os pais se dividiram. Pais da escola da Zona Norte parecem estar mais sensíveis ao que deva ser um professor ou gestão mais qualificada, enquanto os da Zona Oeste, confiam na decisão da coordenação. Mais uma vez os pais da Zona Norte e Oeste se identificam mostrando-se divididos e críticos à gestão escolar, especialmente quanto à mobilização dos professores face às aprendizagens dos alunos. Aparentemente os professores da Zona Norte são menos assíduos e pontuais no trabalho cotidiano do que os da zona oeste, o que não significa desrespeito aos professores. 5. Perfil cultural e profissional do responsável Este item tem por objetivo apresentar, o nível de formação dos responsáveis das respectivas escolas analisadas,o que pode ajudar a esclarecer algumas questões, em vista dos posicionamentos e críticas dos respondentes. Os responsáveis de alunos da escola da zona norte, em sua maioria concluíram o ensino médio (quantos), mas também há pais que concluíram tanto o nível superior como possuem pós-graduação quantos), sendo uma minoria que em minoria apresenta alto grau de instrução. Também há um conjunto menor de pais que só chegaram até o segundo segmento do ensino fundamental. Quanto aos pais da zona oeste, possuem em grande parte o nível superior completo, obtendo um grau de estudos maior, como por exemplo, a pós-graduação. Se os compararmos aos responsáveis da escola da zona norte, os dados apontam que o nível de instrução é superior, pois apresentou-se um baixo índice de responsáveis que só concluíram a educação básica. 6

Quando passamos ao item do hábito da leitura, os pais da Barra apresentam maior frequência de leitura, talvez mais praticada em função da natureza da ocupação/profissão que exercem Porém, mesmo em menor número, se comparado aos responsáveis da escola da Barra, ainda há, na escola da zona norte uma grande maioria de famílias que diz ler, mesmo que a leitura seja esporádica. O hábito de ler entre os pais de ambas as unidades são, em sua maioria, pouco frequente, visto que os percentuais de respostas aos questionários são próximos. Contudo, percebemos que a rotina de leitura, cotidiana, é adotada por uma pequena parcela dos responsáveis das unidades. Ou seja, a leitura em seu caráter de fruição, isto é, o prazer de ler, tem seu espaço. Constatamos, que mesmo que não haja uma leitura diária de jornal, há contato com este veículo de informação em ambas as unidades. Principalmente na unidade da zona norte, que conta com um numero mais elevado. Chama-nos a atenção o fato de que o contato é maior com os jornais do que com os livros. Isso, provavelmente, se dá pela facilidade de acesso à imprensa escrita. O fato se repete quando observamos as revistas de informação geral a que tem acesso. Nesse caso, os pais da Barra são os que possuem maior contato com esse tipo de material, enquanto a maioria dos responsáveis da escola da zona norte lê esporadicamente. Os pais de ambas as unidades afirmaram que possuem o hábito de ler conteúdos disponíveis na internet, ou seja, ler no formato digital. É inferior a porcentagem dos responsáveis que afirmam ler diariamente. Não se sabe se a leitura dos conteúdos on-line está, ligada as questões de formato do texto; tamanho da notícia; grande variedade de artigos ou financeira. Quer dizer, se por ser mais em conta, o acesso é mais frequente. Quando verificamos a familiaridade com diferentes idiomas - forte indicador da construção do habitus cultural, o (...) processo de construção dos habitos individuais (...) é mediado pela coexistência de distintas instâncias produtoras de valores culturais e referências identitá- rias. (SETTON,2002). A habilidade em outros idiomas está ligada à frequência em cursos extras ou devido ao contato direto com a língua. Os responsáveis da escola da zona oeste afirmaram que possuem um bom domínio em Inglês, Espanhol e, apenas um deles, em Francês. Já os da 7

zona norte, tem um bom domínio do Espanhol, porém responderam que possuem dificuldades em Inglês e Francês. O conhecimento de outra língua, é o que vai ser o indicador cultural mais destacado, já que o fato de falar uma outra língua permite a ampliação da visão de mundo pelo acesso a um conjunto de informações. Com relação ao perfil profissional, encontramos três grandes grupos: Do lar, tempo parcial e tempo integral. Vale ressaltar que nesse grupo também há pensionistas, estudantes e desempregados que compõem os grupos em número menor. Esses três grupos foram os que mais nos chamaram atenção, pois o número de responsáveis do lar e de tempo parcial da zona oeste são os que trabalham em atividades regulamentadas., Com relação às ocupações dos pais, constatamos que grande parte dos responsáveis da escola da zona norte são funcionários públicos e de carteira assinada. Há também uma parcela considerável de autônomos e sem registro. Muitas dessas ocupações são técnicas, necessitam de uma formação específica, o que pode explicar o grande número de responsáveis que só possuem o ensino médio. Os pais da escola da zona oeste em sua maioria são empresários e autônomos com registro. Essas ocupações indicam as razões pelas quais muitos desses responsáveis ocupam altos cargos, e os que não os têm, ocupam um empregos com algum prestígio social, como, por exemplo, dentista, professor, etc.; A maioria é constituída de funcionários do setor privado. As religiões dos pais da escola da zona norte mais presentes nas respostas dos q uestionários foram, a católica com um grande número de praticantes, seguida da espírita, e depois a evangélica. Só não sabemos se aqueles que responderam cristãs e protestantes, se definem dessa forma pela falta de esclarecimento. Há ainda um silêncio quanto à adesão a uma matriz religiosa africana. Ela é ocultada em função do preconceito existente. Os respondentes da escola da zona oeste declararam-se, católicos, mais uma vez, em sua grande maioria, seguido do espiritismo e, depois.do kardecismo, modalidade do espiritismo. Em ambas as unidades, os responsáveis responderam que possuem mais de três aparelhos de TV. Os pais de alunos da escola da zona norte tem em sua maioria um ponto de TV por assinatura em cada aparelho televisor, porém suspeitamos que nos outros aparelhos possam ser utilizados a TV a cabo comunitária, visto que apresentam preço mais 8

acessível. Já os responsáveis da escola da zona oeste também um ponto por aparelho, porém não seguem o costume de TV por assinatura comunitária. Ao serem indagados sobre a posse de rádios, na escola da zona norte a maioria não os possui. Acreditamos que isso se ocorra pela facilidade atual de acesso a outros meios de entretenimento ou por ouvirem músicas nos aparelhos telefônicos. Enquanto a maioria dos pais da escola da zona oeste possui, pelo menos, um rádio em casa, é de se supor que ainda cultive o hábito de ouvir CD s. Em ambas os bairros quando, os respondentes, foram perguntados se possuem carro, eles responderam que possuem pelo menos um em casa. O mesmo se aplica aos tópicos sobre vídeo cassete, DVD, geladeiras e máquinas de lavar. Na pergunta sobre a quantidade de computadores que possuem em casa, a maioria dos respondentes das duas escolas que possui apenas um. Porém, quando foram perguntados sobre outros aparelhos como Notebook s, netbook s e Tablet s os pais da escola da zona norte afirmam possuir um, enquanto os da escola da zona oeste possuem mais de um por membro da família.percebemos que há uma troca dos desktop s por aparelhos móveis, sendo esta uma resposta que indicaria a preferência por noticias online. Há ainda um item que trata da conexão com a internet nas casas, sendo que pais da escola da zona oeste afirmam possuir computador, smartphone e etc. Em relação ao número de banheiros, os responsáveis da escola da zona norte responderam que possuem apenas um, enquanto os da escola da zona oeste possuem em sua maioria, três ou mais. Quanto à moradia, a maioria dos pais da escola da zona norte possui casa própria, incluindo herança de imóveis. Já os da escola da zona oeste também tem na sua maioria casa própria, paga, havendo um número pequeno de famílias que pagam financiamento pelos seus imóveis. Vale dizer que o numero de imóveis alugados também foi encontrado no conjunto dos respondentes. Com relação ao número de empregados, os responsáveis alegam não terem nenhum serviçal Os pais da escola da zona oeste possuem diaristas. No que se refere aos salários, grande parte dos pais da escola da zona norte ganha entre quatro e cinco salários, seguidos de um a três salários mínimos. A porcentagem pais 9

da zona oeste que ganha de quatro a cinco salários mínimos é muito superior ao da zona norte. 5.1- Questões levantadas no final dos questionários De um modo geral, os responsáveis da escola da zona norte em sua grande maioria, não fizeram comentários. A minoria dos pais, porém usou esse espaço para desabafar, reclamar e sugerir mudanças. Uma parcela responsabiliza o professor pelo baixo desempenho do aluno, e ainda complementa essa critica,responsabilizando a direção que deveria ser mais observadora e presente. Ou seja, para esse pequeno número de pais, a direção deveria se fazer mais presente nas atividades, tanto dos professores, quanto dos alunos. Por vezes, as reclamações, também são relacionadas às questões de falta de limpeza do do espaço das escolas Os responsáveis da escola da zona oeste na sua maioria não teceram críticas à escola. Porém, os pais que o fizeram foram contundentes em alguns aspectos. Os pontos mais abordados são; o grande número de alunos por sala, a dificuldade dos professores em gerirem as aulas. Apesar de, serem poucos comentários, e repetitivos, essas duas falas apareceram com maior recorrência. Esses responsáveis apontaram a necessidade de diminuir as turmas, pois, afirmam que os professores não conseguem trabalhar com turmas grandes, tornando-se pouco prazeroso o espaço da sala de aula. O comentário que mais nos chamou à atenção foi o seguinte: Gostaria muito de ver as escolas diminuindo o número de alunos por sala, aumentado o direcionamento do ensino com mais qualidade, aumentando o salário do professor para ele poder focar mais nos alunos que eles já tem e não precisar ter que dar aula demais e assim planejar melhor suas aulas para prender atenção de nossos filhos em suas aulas e conhecer mais profundamente cada aluno para ajudá-los em suas dificuldades e estimulá-los a crescer e aprender. Não gosto que meu filho seja analisado, ou aprovado/reprovado por meros números, provas, mas gostaria de ver a escola abordando outros aspectos importantes para a construção de uma pessoa e incentivando o crescimento do aluno como um todo. Conhecendo cada um de seus alunos e havendo uma boa interação com os pais e ajudando estes a conhecerem a si mesmos.`` Essa fala resume as opiniões dos pais em relação à escola, já que os mesmo querem zelar pela boa educação do filho. Ao mesmo tempo, evidencia a razão pela qual os responsáveis matricularam seus filhos nesta escola que compõe uma rede de ensino. 10

Conclusões Um primeiro aspecto que se destaca é a de que os pais encontram nessas escolas privadas segurança, mas também assinalam que há muitas deficiências na gestão e na estrutura organizacional. Esse aspecto, só apareceu com mais força quando ficaram livres para falar, o que não significa que não confiem na gestão. Quanto à escolha da escola percebe-se que os pais da escola da zona norte buscam essa escola como uma forma de mobilidade social. A esse respeito, Carvalho assinala: Pesquisas sobre escolhas familiares mostram que os critérios não são determinados apenas pelos projetos familiares e representações sobre a escola. O volume e a estrutura dos diferentes tipos de capital (econômico, cultural, social) adquiridos pelas famílias ocupam uma posição de destaque interferindo no processo de escolha do estabelecimento de ensino para seus filhos.a desigualdade, tanto na posse quanto nas formas de apropriação de tais capitais pelas famílias dos diferentes grupos sociais, vai interferir não só na determinação dos critérios de escolha, como, sobretudo, revelar as condições de escolha de escola de cada família, delimitando os horizontes possíveis (Souza,2011) O que mais nos chamou também a atenção foi o fato de que essas famílias pertencem à classe média, ou seja, o nível sócio econômico deles é o mesmo que o dos professores de escolas públicas A matrícula em escolas privadas que atendiam a clientela de nível socioeconômico equivale ao do corpo discente de escolas municipais e configurase como oportunidades para famílias de classes populares que buscam um diferencial de qualidade, uma vez que cobram mensalidades relativamente baixas, ou possuem um sistema de bolsas de estudo. (Alves,2010) A flexibilização da mensalidade, as bolsas, não são apenas benefícios, mas também compromisso com a escola, isto é com a rede, já que a escola vai estar investindo nesse tipo de clientela. Portanto, esse diferencial tem um objetivo funciona como troca de favores, pois a escola abate a mensalidade, mas o aluno precisa manter altas médias, para participar dos times da escola nos jogos intercolegiais. Com relação a esse aspecto,ball (2004) afirma que A educação é, em vários sentidos, uma oportunidade de negócios. Um aspecto que nos chamou a atenção foi a preocupação desses pais com a formação para o mercado de trabalho, ou seja, o que mais importa para eles independe do 11

bairro onde está localizada a escola é a formação de um profissional qualificado para trabalhar e se destacar com relação aos outros candidato. Por essa razão, escolheram uma escola bem conceituada no ENEM que possui um bom índice de aprovação. Esta seria uma solução para esses extratos sociais que vieram de camadas inferiores da sociedade. Esperam que seus filhos conquistem capital cultural, não medem esforços, entendendo que o retorno da educação de seu filho será a longo prazo.. Souza (2011) vê essa classe social como o grande valete econômico do país, argumento também defendido por Quadros, na medida em que foi o extrato que mais cresceu economicamente no pais e que possui grande consumo. Para Quadros (2010) é muito difícil estratificar a sociedade pelo nível de consumo pois o este não muda a estrutura social.` O que esses dados parecem mostrar é que há uma estratificação que ocorre dentro da própria rede de ensino, sendo que as diferenças mostradas têm origem sociedade O termo estratificação educacional diz respeito à relação entre origem social e resultados escolares e, também, aos mecanismos por meio dos quais esta relação é estabelecida`` (Ibid, ALVES). Referências bibliográficas CURY, Augusto. Pais inteligentes formam sucessores, não herdeiros. São Paulo: Saraiva,2014 SETTON, Maria da Graça Jacintho. A teoria do habitus em Pierre Bourdieu: uma leitura contemporânea. Revista Brasileira de Educação.[online]. 2002, n.20, pp. 60-70. ISSN 1413-2478. SOUZA, Jessé. Ralés, batalhadores e uma nova classe média. Entrevista_ UNISINOS, São Paulo, 2011. Disponível em http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/40345-ralesbatalhadores-e-uma-nova-classe-media-entrevista-especial-com-jesse-de-souza. Acesso em: 21 abr. 2014. QUADROS,Waldir. Afinal, quem é a nova classe média? Entrevista_ UNISINOS, São Paulo, 2010. Disponível em http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/38618-afinalquem-e-a-nova-classe-media-entrevista-com-waldir-quadros. Acesso em: 23 jul. 2015. 12