Palavras-chaves: Serviço Social. História. Teoria. Metodologia.



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Transcrição:

UM RESGATE HISTÓRICO-TEÓRICO-METOLÓGICO DO SERVIÇO SOCIAL EM NATAL/RN Annamaria da Silva Araujo Márcia Alves de Mello e Silva Mavilaine Ferreira Franco Rita de Lourdes de Lima (Orientadora) Departamento de Serviço Social UFRN RESUMO Essa pesquisa pretende resgatar a história do Serviço Social em Natal - RN através do levantamento de dados no Departamento de Serviço Social da UFRN. Trata-se de uma pesquisa de caráter exploratório, uma vez que foi constatada a ausência de documentos sistematizados sobre o assunto. O referido artigo pretende expor o plano de trabalho desenvolvido pelas bolsistas na pesquisa: Um resgate histório-teórico-metodológico do Serviço Social em Natal. Para tanto está sendo realizado um levantamento documental no setor de documentação do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN. Cada período histórico cobre cerca de 10 anos assim delimitados: 1)1956-1964 (até o golpe militar); 2)1964-1974 (do golpe até o começo da derrota do regime militar); 3)1975-1984 (até o fim da ditadura militar); 4)1985-1994(1 os governos da Nova República). Diante da ausência de sistematização de informações sobre a história do Serviço Social em Natal, a partir de 1956, surgiu a necessidade de coletar e organizar esses dados os quais são relevantes para construção da história da nossa profissão e, concomitantemente, subsidiar outros estudos na área. Nesse sentido, durante o processo de levantamento de dados, a equipe se preocupou em averiguar as informações considerando alguns eixos: o contexto social político e cultural de cada momento estudado; o(s) projetos pedagógico(s)/currículo(s) do curso vigente(s) na época em questão; a constituição do corpo docente e as principais contribuições de professores do DESSO para a organização da categoria profissional. Nesse sentido a pesquisa em andamento tem possibilitado estabelecer um paralelo entre a história do Serviço Social em Natal e os fatos históricos ocorridos em âmbito local e nacional. Palavras-chaves: Serviço Social. História. Teoria. Metodologia.

2 I. INTRODUÇÃO O referido artigo pretende expor a pesquisa: Um resgate histório-teóricometodológico do Serviço Social em Natal. Para tanto foi realizado um levantamento documental no setor de documentação do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN. Cada período histórico cobre cerca de 10 anos assim delimitados: 1)1956-1964 (até o golpe militar); 2)1964-1974 (do golpe até o começo da derrota do regime militar); 3)1975-1984 (até o fim da ditadura militar); 4)1985-1994(1 os governos da Nova República). Diante da ausência de sistematização de informações sobre a história do Serviço Social em Natal - tendo em vista que a Escola de Serviço Social foi criada na cidade de Natal no estado do Rio Grande do Norte em 1945 e tínhamos apenas o material sistematizado que resgatava a história do Serviço Social na cidade de Natal no período de 1945 a 1955, intitulado como: Memórias do serviço social iniciamos a nossa pesquisa a partir do ano de 1956, em respeito à pesquisa dos docentes que foi realizada anteriormente, com a necessidade de coletar e organizar os dados sobre o DESSO (Departamento de Serviço Social) os quais são relevantes para construção da história da nossa profissão e, concomitantemente, subsidiar outros estudos na área. Nesse sentido, durante o processo de levantamento de dados, a equipe se preocupou em averiguar as informações considerando alguns eixos: o contexto social político e cultural de cada momento estudado; o(s) projetos pedagógico(s)/currículo(s) do curso vigente(s) na época em questão; a constituição do corpo docente e as principais contribuições de professores do DESSO para a organização da categoria profissional. II. RESULTADOS PARCIAIS: 1)1956-1964 (até o golpe militar) Nos primeiros 10 anos de funcionamento da Escola do Serviço Social (1945-1955) a mesma se manteve permanentemente ligada a Igreja, rebatendo assim na questão da postura idônea dos estudantes que manifestavam o desejo de ingressarem na Escola de Serviço Social, para tanto a escola aceitava apenas alunas ou alunos que eram casados na igreja ou solteiros com bom comportamento social e vale ressaltar, que estes alunos deveriam ser indicados por pessoas da igreja. Como a profissão era de cunho assistencialista e o gênero feminino é visto como dócil e prestativo, os homens eram em número bem reduzido. Em uma das entrevistas realizada, um dos alunos (na época) revelou que em algumas disciplinas ele não participava, pois as atividades desenvolvidas eram voltadas para as mulheres, como exemplo na disciplina de trabalhos com grupo que desenvolviam atividades como a de bordado. Concomitantemente, o Serviço Social na cidade de Natal recebe influência dos Estados Unidos, através de programas de bolsas de formação. A partir de 1950, algumas modificações começam a se dar. A primeira delas foi à promulgação, em 13 de julho de 1953, da Lei 1889/53, instituindo o ensino de Serviço Social como de Nível Superior (regulamentada pelo Decreto 35.311, de 02/04/1954). Tal decreto trouxe transformações

3 na estrutura e funcionamento da Escola e desencadeou o processo de secularização do ensino de Serviço Social em Natal, que foi obrigada, gradativamente, a expurgar o cariz católico do processo de formação profissional (LIMA, 2006). Assim, observa-se, em tal período, nos documentos pesquisados, constantes viagens do corpo docente para a capacitação, quase sempre para os EUA. Observa-se também constantes visitas de membros da Igreja e de autoridades ligadas aos governos de estado ou a própria presidência da república. Tais elementos mostram, por um lado, a crescente influência norte-americana no Serviço Social potiguar, mas ao mesmo tempo a permanência de sua ligação com o pensamento católico e com o poder dominante. Neste período, o curso de Serviço Social ainda organizava-se em torno do Serviço Social de Casos, Grupo e Comunidade e os estágios se organizavam por ciclos: família, menores, rural, médico e trabalho, tendo o curso a duração média de 3 anos. Concomitantemente, começa a formar-se, no seio da Igreja Católica da América Latina, a Teologia da Libertação que possibilitará a aproximação de alguns setores da Igreja com o Pensamento Marxista. Este processo de transformação na postura da Igreja Católica na América Latina e no Brasil rebate no campo teórico-metodológico do Serviço Social, ocasionando um processo de transformação na forma do Serviço Social compreender e explicar os fenômenos sociais e nas suas formas de intervenção. Em Natal, ao mesmo tempo, ocorre o Movimento de Natal que foi uma série de iniciativas que desenvolviam ações conjuntas de Evangelização e Ação Social. Tal trabalho visava afastar a população da influência comunista. O trabalho na Diocese de Natal foi tão intenso que ganhou projeção nacional. Do ponto de vista político, os anos 1950-1960, no Rio Grande do Norte, inscreve-se no contexto da realidade brasileira à época: vivia-se um período de crise política e econômica: a renúncia de Jânio Quadros, a posse de João Goulart, o processo de organização dos trabalhadores no campo e na cidade, inflação crescente e empobrecimento da população. Concomitantemente, temos a conjuntura política vivida em Natal e no Rio Grande do Norte. Elegia-se para o governo do Estado, Aluízio Alves, político favorável à industrialização e a uma política de reformas, e neste sentido, modernizador, porém conservador do ponto de vista político-ideológico. Para a prefeitura de Natal é eleito Djalma Maranhão, político de esquerda (GERMANO 1989). Todo esse contexto de efervescência social no país e particularmente no Nordeste preocupou os setores de direita e a Igreja Católica mais tradicional que, assustada, deflagrou o golpe militar de 1964 e instalou um período crítico na História do Brasil, reprimindo e tentando apagar todas as experiências de cunho popular engendradas no país e no nordeste. Assim, quando a Escola de Serviço Social de Natal começava a se aproximar de outros caminhos, mais democráticos e voltados aos interesses da população com as quais trabalhava, ocorre o golpe de abril e começa uma nova fase no Serviço Social em Natal. 2)1964-1974 (do golpe até o começo da derrota do regime militar) O contexto do golpe de abril em 1964 foi marcado por uma forte crise econômica e política. A ditadura esteve a serviço do grande capital, com o Estado operando a

repressão política a qualquer manifestação de questionamento ao regime militar e à situação de pauperização vivida pela classe trabalhadora. Neste contexto, o Serviço Social brasileiro, no pós-64, foi requisitado pela autocracia burguesa para atender aos seus interesses de classe, respondendo as demandas do estado autocrático no sentido de moldar uma prática profissional de ajustamento do indivíduo na ordem social vigente e comprometida com o desenvolvimento harmônico do país (NETTO, 1995). Os componentes críticos de oposição ao capitalismo imperialista e ao Serviço Social tradicional inscritos no Movimento de Reconceituação do Serviço Social latinoamericano foram interrompidos no Brasil. Com a ditadura militar, restou ao Serviço Social operar uma reformulação apenas na sua dimensão teórico-metodológica, com a adoção do referencial funcionalista e a ênfase na tecnificação. Assim, a profissão assume uma Modernização Conservadora (NETTO, 1995), isto é, inova seu arsenal de técnicas no âmbito das engrenagens do estado ditatorial, reforça o discurso oficial do governo da participação social na perspectiva da integração nacional e legitima a proposta de desenvolvimento sem rupturas; configurando uma prática profissional moderna e compatível com as normas e finalidades do estado autoritário. No Rio Grande do Norte, o Serviço Social segue a perspectiva Modernizadora, claramente identificada na história do Departamento de Serviço Social da UFRN no período em questão, por meio da pesquisa ora realizada. Com relação ao Projeto Pedagógico, o curso buscou adequar a formação profissional às necessidades de capacitação de Assistentes Sociais na perspectiva do desenvolvimento e integração nacional. Destaca-se a avaliação do currículo realizado no ano de 1966, havendo, portanto, a superação do caráter confessional em favor do referencial teórico baseado no âmbito das ciências sociais. Mediante memorando nº17/73, a chefe da DEMASS, encaminhou à diretora da Escola de Serviço Social de Natal, propostas para substituição das disciplinas de Serviço Social de Casos, Serviço Social de Grupo e Serviço Social de Comunidade; por Metodologia de Serviço Social e Dinâmica de Grupo. Distanciando-se, assim, de uma atuação individualista e focalizada, adotando uma concepção mais generalista das questões sociais. A partir de 1964 houve uma intensa participação dos professores do departamento nos eventos e entidades da categoria. Com destaque para a composição da diretoria da ABESS, nas gestões 1971-1973 e 1973-1975. Nesse sentido, através da realização de uma permanente atualização do ensino e do corpo docente, o Serviço Social de Natal buscou adequar a sua formação profissional para atender as necessidades de modernização da profissão de acordo com as demandas postas pela autocracia burguesa. No que tange a participação dos estudantes nos movimentos de combate a Ditadura Militar, em uma entrevista realizada com uma aluna (na época) a mesma nos relatou que os estudantes da Escola de Serviço Social não eram alienados da situação brasileira da época, mas que os mesmos não se manifestavam; expôs-nos ainda, que alguns livros utilizados em determinadas disciplinas tinham que ser mil vezes escapados e que participavam de alguns cursos, mas não podiam receber os certificados. 4

5 3) 1975-1984 (até o fim da Ditadura Militar) Entre os anos de 1969 a 1973 o Brasil vivenciou um período de crescimento econômico, conhecido como Milagre Brasileiro. Entretanto, em 1973, a Crise Internacional do Petróleo afeta todas as economias mundiais. No Brasil, a obtenção de novos empréstimos torna-se crescente, e, conseqüentemente, a dívida externa se acentua (FAUSTO 2002). As medidas recessivas de combate à inflação e de tentativa de elevação dos níveis de crescimento tiveram um alto custo social, refletindo visivelmente nos índices de desemprego e, sem conseguir reequilibrar o país. Assim, a década de 1980 ficou conhecida como a Década Perdida. No Rio Grande do Norte, na década de 1970, se deu a consolidação da indústria de beneficiamento de pescados. Ocorreu, ainda, a dinamização dos diversos segmentos industriais do Estado graças à impulsão dada pela política desenvolvimentista do Governo Cortez Pereira (1971 1975), em parte apoiada nos incentivos da SUDENE. Ao longo das décadas de 1970 e 1980, o Serviço Social também sofreu transformações; no interior da categoria crescia o desejo de desenvolver uma nova identidade, mais crítica e articulada com as classes populares, tendo como objetivo primordial à busca pela produção de novas relações sociais e a superação da sociedade capitalista, assumindo uma prática social emancipada e livre da alienação (MARTINELLI, 1989). De fato, a conjuntura histórica do final dos anos 1970 e início da década de 1980, pontuada por uma grave crise econômica, acompanhada de rearticulação política da sociedade civil, colocou a revisão do currículo e da formação profissional como uma necessidade histórica. Desde 1975, os profissionais da categoria em nível nacional passaram a discutir a questão da Formação Profissional do Curso de Serviço Social visto que, o currículo vigente, implantado em 13 de março de 1970, através do parecer n 242/70, já não atendia as demandas postas ao contexto da realidade brasileira. O início do processo de revisão curricular se deu em 1977 na XX Convenção de ABESS (Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social), realizada em Belo Horizonte, cujo objetivo era elaborar o Novo Currículo Mínimo. Em 1979, na XXI Convenção da ABESS, em Natal, foi aprovada a proposta do Novo Currículo Mínimo para o Curso de Serviço Social 1. A necessidade de dar uma direção ao processo de Formação Profissional era tanto de cunho teórico quanto político. Visando debater este tema, o Departamento de Serviço Social da UFRN realizou uma série de debates com os docentes, profissionais das Instituições dos Campos de Estágio e alunos. Nesses debates, esteve fortemente presente a idéia de se estabelecer novas perspectivas para a relação entre estrutura e conjuntura nacional e de superação da visão fragmentada da realidade. Assim, em 1983, o DESSO realizou um Seminário sobre a Formação Curricular, que permitiu a elaboração dos pressupostos do conteúdo programático das disciplinas, que foram: visão da realidade numa perspectiva de totalidade; comprometimento do Currículo com o conhecimento e reflexão da realidade, relacionando-a a uma estrutura e conjuntura nacional; elaboração de estratégias para uma prática profissional comprometida com os interesses da classe subalterna; compreender o ensino como um processo de produção 1 - Aprovado pelo Conselho Federal de Educação/MEC em 23 de setembro de1982, parecer nº 412/82.

6 de conhecimentos dos professores, alunos e profissionais de Serviço Social envolvidos na Formação Profissional. 4) 1985-1994 (primeiros governos da Nova República) Este período foi palco de importantes acontecimentos na história brasileira. Inicia-se no país o caminho para a democracia. A campanha popular por eleições diretas é fato marcante nesse contexto; a implantação destas é impedida via manobras de políticos vinculados à Ditadura. Em 1985, Tancredo Neves é eleito (indiretamente), mas quem assume é o vice-presidente, José Sarney, cuja carreira política estava atrelada à Ditadura Militar. O Brasil convivia com a maior dívida externa do mundo, altos índices de inflação e com o indicador de 50 milhões de brasileiros vivendo em condições de miséria (COTRIM, 1996). A promulgação da Constituição de 1988 e a instauração de eleições diretas para Presidente da República demonstram que o caminho para a democracia avança. Em 1990, Fernando Collor de Mello é eleito e em 1992 é afastado através de impeachment, em decorrência das inúmeras denúncias de corrupção envolvendo o seu governo. Itamar Franco (vice) assume o cargo e governa o país até 1994. No âmbito da profissão de Serviço Social vivenciam-se importantes acontecimentos. O projeto de formação profissional (de 1982) tornar-se-á, mais tarde, ponto de partida no processo de discussão, em torno da revisão curricular, conduzido em nível nacional pela ABESS/CEDEPSS 2 (gestão 1993/1995). Estiveram envolvidas representações de docentes, profissionais e estudantes das Unidades de Ensino criandose espaços de debates em nível local, regional e nacional. Em Natal/RN, este momento foi impulsionado através da discussão sobre o Processo de Formação Profissional do Assistente Social do Nordeste ocorrida nos dias 30/06, 01 e 02/07 de 1993. Ressalte-se que nas gestões de 1989-1991 e 1993-1995 da ABESS, professoras do DESSO/UFRN integraram a Diretoria dessa entidade. Em Natal, o Currículo de 1982 foi implantado no segundo semestre de 1985. Após a implantação deste Currículo, o DESSO entre os anos de 1985 e 1987, intensifica sua política de capacitação docente. Nesse período dois encontros discutiram o Estágio no processo da Formação Profissional e sua inserção no Currículo de 1985 e envolveram docentes, supervisores de campo e discentes. Os resultados desses encontros foram apresentados no XXVIII Encontro da ABESS em junho de 1987. Em 1988, o Currículo de 1982, estava totalmente implantado no Curso de Serviço Social da UFRN. Após três anos e meio dessa implantação, Chefia e Coordenação do DESSO propõem a avaliação do referido Currículo. No período de 1985-1994, deu-se a elaboração dos Códigos de Ética Profissional de 1986 e o atual, de 1993, os quais representam avanços na reafirmação de um projeto profissional comprometido com as classes subalternas. A lei de regulamentação da 2 Respectivamente, Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social e Centro de Documentação e Pesquisa em Política Social e Serviço Social. Atualmente a ABESS é denominada Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social ABEPSS.

7 profissão 3 é outro destaque neste período. O DESSO participou da reunião do Conselho Pleno do Conselho Federal de Assistentes Sociais CFAS 4, a qual encaminhou ao poder Executivo, a então proposta de regulamentação do exercício profissional do Assistente Social. Vale salientar que a ausência de registros do período 1985-1994 tem dificultado uma melhor apropriação da história do Curso de Serviço Social, em Natal, no referido período. Neste período de modificações da postura política do Serviço Social, a classe estudantil passar a ser politizada e participar na luta pela democratização do país. II. CONSIDERAÇÕES FINAIS O referido projeto tem nos possibilitado conhecer profundamente a história do Serviço Social em Natal inserindo-a na discussão da história do Rio Grande do Norte e neste sentido, tem se constituído numa oportunidade única de resgate da história do DESSO, uma vez que não há material sistematizado sobre o mesmo. Por ser uma pesquisa documental, tivemos o Setor de Documentação do DESSO como fonte exploratória e realizamos 13 entrevistas semi-estruturadas com docentes e discentes que atuaram no Departamento em sua respectiva época e, estamos no momento de análise, sistematizações, categorização e organização dos dados coletados para que seja possível um estudo amplo da conjuntura histórica e da própria história do DESSO (Departamento de Serviço Social) em Natal-RN. Além disso, entramos em contato com os professores aposentados do DESSO e entrevistados, a fim de recolher material como: fotos, recortes de jornais, históricos e demais documentos, para que constitua a parte ilustrativa do documento que será produzido para publicação. No cronograma inicial da pesquisa tínhamos o intuito de estudar uma década em um ano, mas enfrentamos algumas dificuldades na sua execução, com isto, Iniciamos junto com 3 professores colaboradores e, atualmente, - em função da saída destes professores para realizar Doutorado encontra-se a cargo somente da coordenadora e 1 bolsista remunerada e 1 voluntária. O setor de documentação encontra-se desorganizado e disperso, exigindo assim maior tempo para a sistematização e organização dos dados. Realizou-se reuniões com bolsistas e professora coordenadora para discussões com texto complementares, servindo de apoio ao embasamento teórico da pesquisa, bem como de reuniões da base de pesquisa - da qual o projeto faz parte - a fim de discutir projetos de pesquisas desenvolvidas na referida base. Esta pesquisa mostra claramente os avanços no Departamento de Serviço Social no que tange seu aspecto político manifestando que a categoria tem se aliado às teorias críticas, superando assim posicionamentos assistencialistas e acríticos; que a disposição e os conteúdos das disciplinas apresentadas pelo departamento têm-se alterado consideravelmente oferecendo uma formação mais completa ao aluno e tornando possível uma melhor capacidade de leitura do real. Dentre outros fatos marcantes no 3 - Lei nº 8.662/1993, que dispõe sobre o exercício da profissão no território nacional. 4 - Atualmente Conselho Federal de Serviço Social CFESS.

8 decorrer do processo histórico do DESSO, pode-se citar a ocupação da reitoria em que os discentes de serviço social se fizeram presentes. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. A invenção do nordeste e outras artes; prefácio de Margareth Rago. Recife: FJN, Editora Massangana; São Paulo: Cortez, 1999. ABESS. Ensino em Serviço Social: pluralismo e formação profissional. CADERNOS ABESS N 4. São Paulo: Cortez, 1991. ABESS; CEDEPESS. O Serviço Social no século XXI. Serviço Social e Sociedade, n. 50. São Paulo: Cortez, 1996. AGUIAR, Antônio Geraldo de. Serviço Social e Filosofia: das origem a Araxá. 4 ed. São Paulo: Cortez: Piracicaba: Universidade Metodista,1985. AMMANN, Safira Bezerra. Ideologia do desenvolvimento de comunidade no Brasil. 9 ed. São Paulo: Cortez, 1997. COTRIM, Gilberto. A ditadura militar. In: História e consciência do Brasil. São Paulo: Editora Saraiva, 1996. FAUSTO, Boris. História do Brasil. 10 ed. São Paulo: Editora Universidade de SP, 2002. GERMANO, José Willington. Lendo e Aprendendo. A Campanha de Pé no Chão. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989. GOUVEIA, Eliezer et all. Memória da Escola de Serviço Social de Natal: 1945-1955. Natal, RN: Editora Universitária da UFRN, 1993.

9 IAMAMOTO, Marilda V. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil Esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 2 a ed. São Paulo: Cortez; Lima, Peru: CELATS, 1983. LIMA, Rita de Lourdes de. Sessenta anos de Serviço Social em Natal(RN). Serviço Social e Sociedade, 85. São Paulo: Cortez, 2006. MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço Social: Identidade e alienação. São Paulo: Cortez, 1989. NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. São Paulo: Cortez, 1995. NICOLAU, Maria Célia C. O aprender do fazer: Serviço Social, Trabalho Profissional e Representações Sociais. Natal [RN]: Edufurn, 2005. DESSO/ UFRN. PASTA - Informações Gerais sobre o Curso de Serviço Social Novembro de 1984.