Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Serviço Social/Londrina, PR Ciências Sociais Aplicadas Ética e Serviço Social

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1 O materialismo-histórico dialético e o projeto ético-político do Serviço Social: algumas aproximações Emelin Caroline Tarantini Cremasco (PIBIC/CNPq-UEL), Olegna Souza Guedes (Orientadora), olegnasg@gmail.com Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Serviço Social/Londrina, PR Ciências Sociais Aplicadas Ética e Serviço Social Palavras-chave: Materialismo histórico-dialético; Projeto ético-político. Resumo: Realiza-se, neste artigo, uma reflexão sobre o método materialista-histórico dialético como aporte teórico para construção da perspectiva crítica à sociedade burguesa assumida pelo Serviço Social. São analisadas as contribuições de tal método na compreensão do explícito compromisso dos assistentes sociais com um projeto profissional vinculado à construção de uma sociedade sem dominação/exploração de classe, etnia e gênero (CFESS, 1993). Para a construção do referencial teórico deste estudo, foi realizado um levantamento bibliográfico e documental relacionado à área temática em questão, o que permitiu concluir que o Serviço Social no Brasil, desde suas origens, esteve vinculado a teorias e práticas conservadoras; no entanto, a partir da década de 1980, ocorrem significativas mudanças nas reflexões teóricas sobre a profissão, que relacionam a sua competência profissional à criticidade, ao questionamento da ordem burguesa e à análise da realidade social. Introdução O presente estudo tem como tema: o método materialista-histórico dialético como aporte teórico-filosófico na construção da perspectiva crítica à sociedade burguesa assumida pelo Serviço Social. A pergunta movente deste artigo é: Quais as contribuições do método do materialismo-histórico na compreensão do explícito compromisso dos assistentes sociais com um projeto profissional vinculado à construção de uma sociedade sem dominação/exploração de classe, etnia e gênero. (CFESS, 1993). Apresentamos, de maneira sucinta, aspectos do método materialistahistórico dialético, bem como a trajetória do Serviço Social e seu atual projeto ético-político. O Projeto ético-político do Serviço Social posiciona-se a favor da equidade e da justiça social, além de declarar-se radicalmente democrático e de reconhecer a liberdade como valor central. Sendo assim, é de suma importância que os assistentes sociais lutem pela universalização do acesso a bens e serviços, e se comprometam com a qualidade dos serviços prestados aos usuários. Para que este projeto ganhe mais força, também é necessário que a categoria profissional dos assistentes sociais se una a outras categorias que partilhem dos princípios contidos no Código de Ética e com a luta geral dos trabalhadores. Entendemos que este projeto é expresso de forma simbólica no 8º princípio do Código de Ética: opção por

2 um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação/exploração de classe, etnia e gênero (CFESS, 1993). Este artigo visa assinalar a importância dos assistentes sociais compreenderem o método materialista-histórico dialético para atuarem criticamente, pois a análise realizada por Marx a respeito da sociedade burguesa, e de sua ultrapassagem, é de extrema importância para que os assistentes sociais tenham uma atuação crítica, sem práticas moralistas ou realizadas pelo senso comum. Materiais e métodos O presente estudo trata-se de uma pesquisa qualitativa que tem como objetivo refletir sobre o método materialista-histórico dialético como aporte teórico para construção da perspectiva crítica à sociedade burguesa assumida pelo Serviço Social. Para a construção do referencial teórico deste estudo, foi realizado um levantamento bibliográfico e documental relacionado à área temática em questão. Foram realizadas leituras nos escritos do próprio Karl Marx, em edições recentes, alem de alguns artigos de autores que estudam com profundidade as teorias marxistas. Além disso, foi feito um levantamento bibliográfico em artigos publicados por assistentes sociais de renome, que refletem sobre o projeto ético-político do Serviço Social. Resultados e Discussão Em linhas gerais, pode-se dizer que a teoria social desenvolvida por Karl Marx, é uma teoria que desvenda, desmistifica a estrutura real da sociedade burguesa. Ele buscou compreender a sociedade burguesa para suprimi-la; para revelar as formas de superá-la. Evidenciou, ao longo de toda sua produção teórica, que a sociedade burguesa não é harmônica, natural, equilibrada; mas ao contrário, erige-se sob o modo de produção capitalista que é excludente, marcado pela alienação, reificação, exploração de uma classe sobre a outra. O Serviço Social sofreu forte influência do método de Marx a partir da década de 1980, com o movimento de reconceituação e o processo de renovação do Serviço Social brasileiro, na direção da intenção de ruptura. A recorrência ao materialismo histórico-dialético provocou mudanças na profissão, na forma de explicar sua natureza, na própria prática profissional e na construção do projeto ético-político na década de Para Barroco (2002), historicamente, o Serviço Social se configura como uma profissão fortemente influenciada pelo conservadorismo moral e político. A autora explica que a negação desta herança conservadora se constitui no objetivo do projeto profissional: A negação histórica dessa herança coloca-se como finalidade do projeto profissional, que se caracteriza pela busca de ruptura com o conservadorismo em suas várias dimensões e configurações: o projeto de intenção de ruptura (NETTO, 1992), hoje denominado projeto ético-político. (BARROCO, 2002, p.16).

3 Segundo Barroco, a construção do projeto profissional na década de 1980 foi fortalecida pelas lutas políticas democráticas e pela organização política dos trabalhadores e dos movimentos sociais organizados. Esse contexto ampliou a participação política dos assistentes sociais, expandindo sua consciência. De acordo com a autora, os anos oitenta, sinalizam a maturidade teórica e política do projeto profissional evidenciada na organização político-sindical da categoria, na produção teórica, em sua capacidade crítica de interlocução com outras áreas do conhecimento, em seu desenvolvimento na área da pesquisa, em sua incorporação de vertentes críticas com destaque para as inspirações da tradição marxista. (BARROCO, 2002, p.17). Para Barroco, nesse processo de maturidade teórica e política do projeto profissional, a participação cívica e política dos profissionais, o enfrentamento de novas necessidades, a recusa de papeis tradicionais, a incorporação de novos referenciais ético-morais, fizeram com que um novo valor ético central despontasse: o compromisso com as classes trabalhadoras. Isso ficou explícito no código de ética de 1986, o primeiro a romper com o conservadorismo na profissão, porém, segundo a autora: O código de 1986 não foi suficientemente desenvolvido em sua parte operacional e em seus pressupostos teóricos, orientados pelo marxismo. Com o objetivo de ampliá-los foi feita a reformulação de 1993, em um contexto muito diverso daquele que em 1980 favoreceu a construção do projeto de ruptura profissional (...). A partir da década de noventa, as consequências socioeconômicas e ideopolíticas das profundas transformações operadas pelo capitalismo mundial no mundo do trabalho e nas instituições burguesas, tendo por finalidade a sua reestruturação nos moldes neoliberais, descortinam um cenário perverso, em termos dos direitos humanos e das possibilidades de objetivação ética. (BARROCO, 2002 p.16 e 17). De acordo com Barroco, esse cenário trata-se de um contexto de perda de direitos historicamente conquistados, além de um processo de desumanização, haja vista que as condições necessárias à sobrevivência da vida humana não estão sendo garantidas para grande parcela da humanidade. Segundo a autora, a crítica à ideologia neoliberal conservadora, pregada na sociedade, se apresenta como um grande desafio ao Serviço Social atualmente. Barroco explica que para enfrentar o neoliberalismo conservador, é necessária uma análise crítica da realidade, através de um referencial teórico-metodológico que, de fato, auxilie na desmistificação da realidade, da essência histórica. De acordo com a autora, os valores contidos no Código de Ética Profissional orientam as opções, posicionamentos, julgamentos de valor, realizados pelos assistentes sociais em seu cotidiano profissional. No entanto, para que esses valores se consolidem, deve ser efetivada na prática social concreta, em cada atendimento realizado, cada demanda respondida, cada direito conquistado, conduzindo à transformação da realidade.

4 Conclusões Através deste breve estudo, mostramos que o Serviço Social brasileiro desde sua gênese até a década de 1980 foi fortemente influenciado pelo conservadorismo moral e político, sempre expresso nos códigos de ética profissional, que articulavam a profissão à construção do Bem Comum e ao progresso da sociedade burguesa com base na justiça social. Porém, a partir da década de 1980 o Serviço Social passa por profundas transformações, rompendo com sua orientação tradicional e conservadora. A partir da década de 1980, os assistentes sociais intensificaram sua critica a sociedade burguesa e à prática profissional que desconsiderava o movimento histórico da sociedade, fato que culminou na consolidação de reflexões que relacionam a profissão à criticidade, à análise crítica da realidade social e da ordem burguesa e propiciou a construção do projeto ético-político do Serviço Social no Brasil e do atual Código de Ética profissional que se fundamenta na teoria social de Marx, que associa a possibilidade da emancipação plena dos indivíduos sociais com a superação da ordem burguesa. Referências ACADEMIA DE CIÊNCIAS DA URSS. Manual de Economia Política. Rio de Janeiro, Vitória, BARROCO, Maria Lúcia Silva. Ética em movimento. Livro 01. Brasília. CEFESS, CFESS. Código de Ética profissional dos assistentes sociais, CODATO. Adriano. Uma introdução a Marx: a política, o poder e o Estado capitalista. Publicado no livro: Vinicius de Figueiredo (org.). Seis filósofos na sala de aula. São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2007, vol. 2. GUEDES, Olegna de Souza. O projeto ético-político, trabalho e formação profissional. Anais do XII CBAS. ABEPSS/CEFESS. Foz do Iguaçu, MARX, Karl. O Capital. Crítica da economia política. Rio de Janeiro, Editora: Civilização Brasileira, Para a crítica da economia política. São Paulo, Abril Cultural, Manual de Economia Política. Rio de Janeiro, Vitória, NETTO, José Paulo. Capitalismo Monopolista e Serviço Social. São Paulo, Cortez, O que é marxismo. Editora Brasiliense, PAULA, João Antonio. A produção do conhecimento em Marx. Publicado no Caderno da ABEPSS nº5, páginas 17 a 42. IAMAMOTO, Marilda e CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil. São Paulo, Cortez, 2005, 17ª edição.

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