crenças, a proteção em seus territórios ou ainda a garantia de posse das terras ocupadas por eles.



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Transcrição:

Os índios do Brasil Muitos foram os temas tratados pela mídia com o início nessa primeira década do século XXI. As questões econômicas, a instabilidade e desvalorização cambial, quebras de países da zona do Euro, socorros financeiros aos bancos dominaram. No entanto, a questão indígena ainda é um tema desafiador e polêmico na atualidade para governos e jovens que hoje tentam se formar nas diversas áreas da engenharia. Jovens que vão participar do pensar a economia, o meio ambiente, a energia necessária para tocar o Brasil e as grandes obras que afetam várias camadas do nosso viver. São muitas as etnias, os costumes, culturas e áreas do conhecimento, ignorados pela interpretação e aplicação do Direito tradicional, e pelo pensar em um Brasil grande. Já que vocês provavelmente não terão muito tempo para pensar sobre esse tema quando já estiverem trabalhando, proponho que continuemos a pensar nos movimentos sociais que aos poucos mudam o Brasil e mudam o pensar de nossa sociedade. Outro movimento no Brasil que se originou da batalha contra desigualdades verificadas desde os primórdios da constituição de nosso país é o indígena. Historicamente sempre houve luta, afinal os povos indígenas não entregaram suas terras sem reagir à invasão dos que se proclamavam civilizados. Desde a colonização até os dias de hoje constatamos a luta indígena por seu espaço. No início do século vinte, mais especificamente em 1910, o governo brasileiro criou o Serviço de Proteção aos Índios (SPI), com o intuito de amparar os indígenas brasileiros, especialmente aqueles residentes no sul do país. Essa era a forma que o Estado julgava ser a mais apropriada para tratar o que chamavam de problemática indígena no país, integrando os povos indígenas à economia nacional e adequando-os à nova filosofia burguesa que vinha ganhando força desde a proclamação da República em 1889, poder-se-ia liberar suas terras para utilização capitalista sem o derramamento de sangue. A cidadania para os índios viria atrelada à suposta necessidade de que, para isso, eles fossem civilizados, pois seriam seres inferiores culturalmente. O SPI não deixou, entretanto, de propor algumas diretrizes que seriam esboços de políticas favoráveis aos índios recentes, como a liberdade para proferir suas

crenças, a proteção em seus territórios ou ainda a garantia de posse das terras ocupadas por eles. Na década de 1960, o SPI foi extinto e deu lugar à Fundação Nacional do Índio, a FUNAI. As políticas da fundação, que possuíam como meta terminar de integrar os indígenas à lógica do mercado, resultaram em inúmeros prejuízos às comunidades, mas também permitiram às lideranças de cada uma delas adaptarem-se à nova realidade, precisando reelaborar suas políticas para ter chance nas novas formas de luta. Dessas primeiras e localizadas formas de resistência é que surgirão projetos maiores. A propósito da Conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável (Rio +20) seu objetivo foi assegurar um comprometimento político renovado com o desenvolvimento sustentável, avaliar o progresso feito até o momento e as lacunas que ainda existem na implementação dos resultados dos principais encontros sobre desenvolvimento sustentável, além de abordar os novos desafios emergentes. Dois temas foram o foco na Conferência: (a) a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza, e (b) o quadro institucional para o desenvolvimento sustentável. A ideia da Conferencia foi debater que o mundo tem limite, e que para vivermos dentro deste planeta, precisamos de equilíbrio entre o econômico e as pessoas cada vez mais distantes do meio ambiente. Precisamos também rever o projeto de civilização que projetamos para nós, pois não estamos conseguindo que todas as pessoas do mundo tenham direitos e cuidados, alimentação e moradia, além de voz política. Esses temas estão relacionados com o que se discute aqui. Atente-se para os resultados dessa Conferência. Algumas das problemáticas que permeiam as reivindicações dos movimentos indígenas são as invasões de suas terras e o garimpo. Concomitantemente a esses acontecimentos, vê-se também uma maior participação da Igreja Católica em tais questões, que cria o CIMI (Conselho Indigenista Missionário) com o objetivo de aliar-se aos índios, como parceiro político, em suas lutas pelos direitos mais básicos, inclusive o direito a serem e permanecerem índios.

Para tanto, a década de 1970 foi definida pelas Assembleias Indígenas, promovidas pelo CIMI, onde os índios defendiam sua participação na construção das políticas estatais a eles destinadas, a união entre os povos indígenas com a intenção de fortalecer o movimento e, mais uma vez, a posse das terras que eram deles por direito. Essas Assembleias terminaram por possibilitar uma união ainda maior entre as lideranças de cada povo, originando de seus debates e deliberações, a União das Nações Indígenas (UNI) no ano de 1980. A década foi marcada pela dificuldade da UNI em articular um movimento que possuísse realmente uma representatividade nacional e sua metade final é caracterizada pela construção de organizações regionais e locais, com o intuito de fortalecer suas reivindicações. Em 1992, houve nova tentativa de organizar o movimento em torno de uma organização nacional que resultou na criação do Conselho de Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (CAPOIB), sediado em Brasília. Atualmente o movimento indígena possui várias organizações locais e regionais e possui interlocução inclusive com instituições internacionais como a ONU (Organização das Nações Unidas) e a OEA (Organização dos Estados Americanos) e tem procurado trabalhar em conjunto com outros movimentos que possuam agendas próximas, como a emancipação econômica e cultural. Algumas das recentes conquistas obtidas após a Constituição de 1988, em seu capítulo VIII, artigos 231 e 232 são o direito de demarcação de suas terras e alfabetização em sua própria língua. Ampliando o conhecimento Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Capítulo VIII Dos Índios Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente

ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes. 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficandolhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei. 4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis. 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, ad referendum do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco. 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa-fé. 7º Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, 3º e 4º. Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo. O que se percebe, portanto, é que os esforços empreendidos pelas vias administrativas e jurídicas são algumas das respostas dadas as requisições e que garantiram, por exemplo, maior acesso ao ensino superior e a postos de trabalho de maior complexidade.

Um exemplo atual e cotidiano dessas vitórias, no Brasil, é a Constituição Federal de 1988, que assegura um tratamento igualitário a todos, vetando qualquer forma de discriminação. Ou ainda a lei n. 7.716, criada em 1989, que criminaliza o racismo, tornando-o passível de pena de prisão de até cinco anos e multa. Art.1º "Serão punidos, na forma desta Lei os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. No entanto, mesmo representando evoluções necessárias, nenhum dos esforços empreendidos até hoje representou o fim dessas questões e algumas iniciativas são controversas e chegam, inclusive, a exacerbar a exclusão na tentativa de diminuí-la. A própria Constituição e lei que tornam o racismo um crime, pouco possuem de atuação imediata, sendo pouco aplicadas. Tem-se que registrar que, naturalmente, contra cada pretensão de um grupo, há e haverá contrapretensões, vindas de outros grupos, sejam aqueles definidos como maiorias ou não, que se sentirão tolhidos em seus direitos. Essa relação de forças também definirá como cada um desses clamores será atendido pelo Estado e aceito pela sociedade. De acordo com Camila Bertolazzi (2008): Aas dificuldades enfrentadas pelos índios vão além do âmbito cultural. Os interesses econômicos nacionais e estrangeiros também podem ser inimigos das sociedades indígenas. Os índios brasileiros e suas terras muitas vezes são alvo de garimpeiros, madeireiros e fazendeiros que cobiçam essas terras e as riquezas naturais delas, sem se importar com os males e prejuízos causados aos índios e o meio ambiente. Um exemplo são os garimpeiros que exploram ouro, diamante e cassiterita em terras indígenas e que, além de agir com violência e transmitir todo o tipo de doenças contagiosas aos índios, provocam danos poluindo os rios com mercúrio e outros produtos químicos. Nas áreas dos índios Xikrin, Tembé e Parakanã, no Pará, as madeireiras procuram convencer os índios a arrendar lotes de suas terras para a exploração. Em troca propõem um pagamento que não chega a 10% do valor das madeiras no mercado mas que, mesmo assim, parece alto e suficiente aos índios. Há também problemas com relação aos projetos de colonização de terras. Os latifundiários que compram a terra formam grandes propriedades e os índios são obrigados a aceitar a viver em áreas espaçadas umas das outras, cortadas por fazendas e estradas. Da mesma forma os posseiros, sem terras onde trabalhar, invadem terras indígenas, sobretudo aquelas ainda não demarcadas, gerando conflitos e impactos que afetam profundamente as sociedades indígenas.

http://www.itu.com.br/conteudo/detalhe.asp?cod_conteudo=13446&adm=1(acesso em 04jun2012) Pesquisando na Web No site do MEC, você vai encontrar dicas para acesso à História Indígena http://portal.mec.gov.br/index.php?id=10182&option=com_content&task=view Ali é possível verificar que o portal Domínio Público pode ajudar professores e alunos a conhecer melhor a história e a cultura dos índios do Brasil. Além de documentos, artigos, teses, livros, poesias, o portal torna disponível para acesso, a série Vias dos Saberes. Que são quatro volumes que abordam a temática indígena e étnico-racial. Todo esse acervo pode ser consultado gratuitamente. Professor e aluno podem se informar sobre a formação da identidade do povo brasileiro, por meio de uma diversidade de fontes e temas capazes de oferecer diferentes pontos de vista sobre a temática indígena. No Instituto Sócio Ambiental, encontramos o portal Povos Indígenas no Brasil do qual extraímos as informações que se seguem e que serão importantes para a confecção de suas atividades. Em pleno século XXI a grande maioria dos brasileiros ignora a imensa diversidade de povos indígenas que vivem no país. Estima-se que, na época da chegada dos europeus, fossem mais de 1.000 povos, somando entre 2 e 4 milhões de pessoas. Atualmente encontramos no território brasileiro 238 povos, falantes de mais de 180 línguas diferentes. Os povos indígenas somam, segundo o Censo IBGE 2010, 896.917 pessoas. Destes, 324.834 vivem em cidades e 572.083 em áreas rurais, o que corresponde aproximadamente a 0,47% da população total do país. A maior parte dessa população distribui-se por milhares de aldeias, situadas no interior de 682 Terras Indígenas, de norte a sul do território nacional. Importante!

Importante! Falar, hoje, em povos indígenas no Brasil significa reconhecer, basicamente, seis coisas: Nestas terras colonizadas por portugueses, aonde viria a se formar um país chamado Brasil, já havia populações humanas que ocupavam territórios específicos; Não sabemos exatamente de onde vieram; dizemos que são "originárias" ou "nativas" porque estavam por aqui antes da ocupação europeia; Certos grupos de pessoas que vivem atualmente no território brasileiro estão historicamente vinculados a esses primeiros povos; Os índios que estão hoje no Brasil têm uma longa história, que começou a se diferenciar daquela da civilização ocidental ainda na chamada "pré-história" (com fluxos migratórios do "Velho Mundo" para a América ocorridos há dezenas de milhares de anos); a história "deles" voltou a se aproximar da "nossa" há cerca de, apenas, 500 anos (com a chegada dos portugueses); Como todo grupo humano, os povos indígenas têm culturas que resultam da história de relações que se dão entre os próprios homens e entre estes e o meio ambiente; uma história que, no seu caso, foi (e continua sendo) drasticamente alterada pela realidade da colonização; A divisão territorial em países (Brasil, Venezuela, Bolívia etc.) não coincide, necessariamente, com a ocupação indígena do espaço; em muitos casos, os povos que hoje vivem em uma região de fronteiras internacionais já ocupavam essa área antes da criação das divisões entre os países; é por isso que faz mais sentido dizer povos indígenas no Brasil do que do Brasil. Direito à diferença Com os novos preceitos constitucionais, assegurou-se aos povos indígenas o respeito à sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições. Pela primeira vez, reconhece-se aos índios no Brasil o direito à diferença; isto é: de

serem índios e de permanecerem como tal indefinidamente. É o que reza o caput do artigo 231 da Constituição: São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. Note-se que o direito à diferença não implica menos direito nem privilégios. Daí porque a Carta de 88 tenha assegurado aos povos indígenas a utilização das suas línguas e processos próprios de aprendizagem no ensino básico (artigo 210, 2º), inaugurando, assim, um novo tempo para as ações relativas à educação escolar indígena. Além disso, a Constituição permitiu que os índios, suas comunidades e organizações, como qualquer pessoa física ou jurídica no Brasil, tenham legitimidade para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses. Direito à terra A nova Constituição inovou em todos os sentidos, estabelecendo, sobretudo, que os direitos dos índios sobre as terras que tradicionalmente ocupam são de natureza originária. Isso significa que são anteriores à formação do próprio Estado, existindo independentemente de qualquer reconhecimento oficial. O texto em vigor eleva também à categoria constitucional o próprio conceito de Terras Indígenas, que assim se define, no parágrafo 1º. de seu artigo 231: São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. São determinados elementos, portanto, que definem uma sorte de terra como indígena. Presentes esses elementos, a serem apurados conforme os usos, costumes e tradições indígenas, o direito à terra por parte da sociedade que a

ocupa existe e se legitima independentemente de qualquer ato constitutivo. Nesse sentido, a demarcação de uma Terra Indígena, fruto do reconhecimento feito pelo Estado, é ato meramente declaratório, cujo objetivo é simplesmente precisar a real extensão da posse para assegurar a plena eficácia do dispositivo constitucional. E a obrigação de proteger as Terras Indígenas cabe à União. No que se refere às Terras Indígenas, a Constituição de 88 ainda estabelece que: incluem-se dentre os bens da União (art. 20, XI); são destinadas à posse permanente por parte dos índios (art. 231, 2); são nulos e extintos todos os atos jurídicos que afetem essa posse, salvo relevante interesse público da União (art. 231, 6); apenas os índios podem usufruir das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes (art. 231, 2); o aproveitamento dos seus recursos hídricos, aí incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais, só pode ser efetivado com a autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada a participação nos resultados da lavra (art. 231, 3, art. 49, XVI); é necessária lei ordinária que fixe as condições específicas para exploração mineral e de recursos hídricos nas Terras Indígenas (art. 176, 1); as Terras Indígenas são inalienáveis e indisponíveis, e o direito sobre elas é imprescritível (art. 231, 4); é vedado remover os índios de suas terras, salvo casos excepcionais e temporários (art. 231, 5). Nas Disposições Constitucionais Transitórias, fixou-se em cinco anos o prazo para que todas as Terras Indígenas no Brasil fossem demarcadas. O prazo não se cumpriu, e as demarcações ainda são um assunto pendente.

Na prática A Constituição de 88 criou a necessidade de revisão da legislação ordinária e inclusão de novos temas no debate jurídico relativo aos índios. A partir de 1991, projetos de lei foram apresentados pelo Executivo e por deputados, a fim de regulamentar dispositivos constitucionais e adequar uma velha legislação, pautada pelos princípios da integração dos índios à "comunhão nacional" e da tutela, aos termos da nova Carta. Assim, a base legal das reivindicações mais fundamentais dos índios no Brasil foi construída pela nova Constituição e vem sendo presentemente ampliada e rearranjada. Porém, a realidade brasileira demonstra que cabe aos índios e seus aliados a difícil tarefa de, fazendo cumprir as leis, garantir o respeito aos direitos indígenas na prática, diante dos mais diversos interesses econômicos que teimam em ignorar-lhes a própria existência. Assegurar plena efetividade ao texto constitucional é o desafio que está posto. Cabe aos índios, mas também às suas organizações, entidades de apoio, universidades, Ministério Público e outros mais. Sabe-se que se trata de um processo lento, que está inclusive condicionado à tarefa de conscientização da própria sociedade. O êxito dependerá necessariamente do grau de comprometimento diário nessa direção por parte de todos os que atuam na questão. Fonte: http://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/modos-de-vida/introducao - Acesso em 30 abril 2012