A Permissão da Observação da Intimidade em Troca de Visibilidade. Palavras chave: Curiosidade; privado; público; blogs.

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Transcrição:

A Permissão da Observação da Intimidade em Troca de Visibilidade Adriana Santos Trindade Universidade da Amazônia - Unama Resumo O objetivo desse trabalho é entender de que maneira os reality-shows se tornaram ferramentas importantes para sanar a necessidade de observar o privado, o íntimo. Paralelo a isso será feita uma citação histórica sobre o nascimento do sentido de privado e público e, a dissolução, ou junção, realizada no início do século XXI, com o nascimento de diários eletrônicos, weblogs e fotologs, lembrando que, com o passar do tempo, esse sentido foi se transformando e ganhou novo significado. Palavras chave: Curiosidade; privado; público; blogs. Trabalho apresentado ao GT Comunicação Aplicada ou Segmentada, do VI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação da Região Norte. Adriana Santos Trindade: aluna do sétimo período de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Universidade da Amazônia Unama. Centro de Ciências Sociais e Aplicadas. asantostrindade@gmail.com/ drica.st@click21.com.br 1

Introdução Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação Durante os anos caracterizados como modernos surge uma modalidade de exposição da vida privada, são os diários íntimos. Contudo esses diários, como o próprio nome já diz são íntimos, não sendo expostos ao público, mas apenas ao seu autor, que procurava colocar neles todas suas auto-análises e observações do cotidiano. No início do XXI esses diários são retomados, porém numa outra conjuntura: a virtual. Nesse contexto, eles passam a ter um caráter privado-público, onde o interessante é escrever sobre suas observações do cotidiano, contanto que sejam vistas por um grande número de pessoas. A possibilidade de ver e ser visto torna-se, então, uma premissa que passa a ser adotada por grande parte da sociedade. Com o surgimento desse novo modo de encarar a privacidade, programas são criados para sanar essa necessidade, é o caso de programas como o Big Brother. Esses programas permitem aos indivíduos exercerem suas necessidades de observação da intimidade do outro. Esta observação é algo que, apesar de bastante comum, não é bem visto pela sociedade, mesmo quando os observados autorizam isso. Por outro lado, ainda com essa suposta rejeição os observados passam a ter o que virou objeto de consumo de muitas pessoas, os quinze minutos de fama. A observação do outro passa então a ser uma faca de dois gumes, que ao mesmo tempo em que permite o individuo saciar sua curiosidade pelo privado, pelo íntimo, presenteia o observado com os quinze minutos de fama, que em geral é o que ele busca com a exposição de sua intimidade. Desenvolvimento O desejo de ver e ser visto nunca foi tão difundido quanto é hoje. Escrever cartas e diários, fotografar e filmar nunca foram tão modernos. Tudo isso, no entanto, só se constitui em moderno, da moda, se puder ser compartilhado com um número de pessoas inimaginável e com as quais o indivíduo certamente nunca encontrará. Dentro dessa questão encontramos vários exemplos como: os reality-shows, blogs e fotologs. A necessidade de ser visto se tornou uma constante, mas o que fazer se a TV não consegue estender a todos os famosos quinze minutos de fama? A pergunta 2

começou a ter resposta quando internautas e aspirantes a celebridades passaram a ter acesso a ferramentas adequadas, nesse caso os diários eletrônicos e reality shows. Para os internautas a possibilidade de publicar idéias e pensamentos, fotos e histórias de vida, de certo são uma das coisas que fazem a internet ser muito atrativa, já que esse meio de informação, não faz uma seleção de quem e o que pode ser publicado nela. Logo, tornar público nunca foi tão fácil e, se é tão fácil e simples porque não fazer? No entanto, não irei me ater aqui sobre as facilidades que a internet traz a qualquer indivíduo de poder ver e ser visto. Minha intenção com este texto será analisar o porquê de fenômenos midiáticos, que ainda utilizam processos de seleção tão rigorosos para exposição - ao ponto que se têm formas tão mais simples, porém eficientes de expor a intimidade - são tão disputados e vistos. Neste contexto, nada melhor para exemplificar que o famoso Big Brother Brasil. Esse fenômeno, por assim dizer, é capaz de todos os anos parar um país ou pelo menos parte dele, e uma parte grande demais diga-se de passagem diante da TV para avaliar, observar e julgar as atitudes de pessoas que se submetem a observação constante de desconhecidos e a perda da privacidade tão desejada por aqueles que já possuem o que os aspirantes a celebridades almejam, a fama. Vale lembrar que, como desculpa para essa superexposição, como um pano de fundo, é criada uma disputa por um milhão de reais, cobiçado sim pelos participantes, porém não é o objetivo principal para participar do programa. Ter os quinze minutos de fama, poder ver e ser visto, e quem sabe tornar isso permanente, é o que realmente impulsiona os participantes desses reality shows. Porém, o sucesso desses programas não se deve só a enorme quantidade de pessoas dispostas a fazer parte dele, mas as que estão dispostas a acompanhá-los. Mas porque há essa necessidade de observar? E a de ser observado e tornar isso permanente, nem que seja para depois ficar pedindo que respeitem sua privacidade? Creio que para responder a essas perguntas seria preciso fazer uma pesquisa comportamental com todos aqueles afetados por tais fenômenos. Só que como isso não é possível, procurarei apenas demonstrar questões históricas, baseadas do artigo Os diários íntimos da internet e a crise da interioridade psicológica, de Paula Sibilia, que possam ajudar a esclarecer algumas questões teóricas. É necessário para tanto fazer uma viagem no tempo para entender o que acontece agora. Se antes, no período que engloba os séculos XVIII ao XIX o importante 3

era fazer relatos em diários íntimos e realmente secretos, no século XX essa idéia passa a ser quebrada. Segundo Sibilia, observa-se...um certo declínio da interioridade psicológica que sempre caracterizou a subjetividade moderna. Mas porque isso caracterizou a idade moderna? Bem, segundo a autora, historiadores perceberam que a idéia de privacidade não é tão antiga, na verdade ela nem chega a ser caracterizada na idade média. È na idade moderna, com o surgimento das casas e criação das cidades, que este lugar (a casa) passa a exercer um papel protetor, junto com a família, dos novos contextos trazidos pela modernidade. Segundo Rybczynski ao reconstruir a história da casa, a idéia de intimidade não existia. A necessidade, a sensação e a valorização de um certo espaço íntimo foram surgindo e se constituindo ao longo dos últimos três séculos da história ocidental. Sendo assim, a casa torna propício o surgimento, ou afloração, dessa necessidade do privado, da intimidade. É nesse contexto que os diários íntimos surgem e logo se tornam uma febre, que chega, inclusive, a caracterizar uma época, época esta inebriada por introspecções e análises muito pessoais da vida cotidiana. Nessa primeira etapa de análise do cotidiano observamos que o interesse por esse assunto existe, mas é protegido pelo direito e respeito à intimidade. Porém, nos anos seguintes começa a ser observada uma inversão desses valores. O cotidiano deixa de ser resguardada e permite a observação por terceiros. O atraente está naquilo que pode ser visto por todos. O fascínio que astros de TV passam a ter sobre as pessoas comuns faz com os personagens de livros, que obviamente não trazem imagem, deixem de ser interessantes. O interessante então, passa a ser o personagem visto no cinema, na tv, na internet. No personagem que pode ser visto. Os quinze minutos de fama que Andy Warhol prevê nunca fizeram tanto sentido. Se antes morrer de amor era ter esses minutos de fama, aparecer na TV e revistas é o importante agora. Mas, o que mostrar? Com o tempo as grandes redes de televisão perceberam que o fascínio pela ficção foi perdendo espaço para as estórias que mostravam a vida cotidiana, real, logo, algo com o qual as pessoas podiam se identificar, ainda que falsamente de forma editada para caber nos padrões televisivos. Os diários íntimos publicados na internet evidenciam essa necessidade de ver o que todos vivem. Daí o sucesso de programas como BBB, que dão, além da oportunidade dos participantes tornarem-se celebridades durante alguns instantes, a 4

possibilidade da sociedade se ver retratada, seja com as discussões que também acontecem no âmbito familiar, porém ficam somente lá intrigas, dúvidas, etc. O desejo de ver, de observar livremente o que se passa com outro, passa a ser a isca perfeita para os telespectadores. Com o surgimento da intimidade podemos inferir que a curiosidade também cresceu. A necessidade de estar informado torna-se ainda mais evidente. E se antes não havia esse muro protetor que é a intimidade, tudo assumia, de certa forma, um caráter público. Mas como já foi citado antes, o público e o privado são dissociados, com isso, o íntimo, o que está escondido, começa a gerar curiosidade e ser automaticamente exposto. Mas se a sociedade criou essa nova modalidade de proteção, como fazer para saciar minha sede de informação pelo outro, um outro que pode ser meu visinho, meu colega de classe, etc. A fofoca é um dos exemplos dessa necessidade. Contudo não é bem vista embora seja muito ouvida e falada por essa mesma sociedade, que ao mesmo tempo deseja observar a intimidade e quebrar a privacidade do alheio, resguarda a sua. Nesse contexto, programas como o Big Brother caem como uma luva, pois permitem as pessoas, não apenas aparecerem na TV, saciar a necessidade de ver a intimidade do outro, julgar e ainda opinar por esse outro, poder odiar e demonstrar esse ódio por determinado personagem. Comentar com qualquer um, em qualquer lugar sobre as atitudes de alguém sem correr o risco de ser repreendido por tais ações. Segundo Sibilia, todas as tendências de exposição da imagem que surgem hoje vão de encontro e prometem satisfazer uma vontade geral do público: avidez de bisbilhotar e construir vidas alheias, avidez essa que é alimentada pela própria existência da privacidade e a necessidade de observá-la, seja na TV ou nos blogs e fotologs da vida. Vida cotidiana, diga-se de passagem. Considerações finais O sentido de privado que surge junto com a vida moderna, torna propícia a construção da intimidade e o aparecimento dos diários íntimos, que como o próprio nome já diz, são de interesse privado e não públicos. No século XXI, porém, é firmada uma nova conjuntura onde o privado torna-se público. A possibilidade de ver e ser visto torna-se, então, uma premissa adotada pela sociedade. 5

Com o surgimento desse novo modo de encarar o público e o privado, programas como Big Brother são criados permitindo aos indivíduos exercerem suas necessidades de observação da intimidade do outro e dos observados garantirem visibilidade, doando-lhes os tão almejados quinze minutos de fama, objeto de consumo da sociedade atual. A observação do outro passa então a ser uma faca de dois gumes, que ao mesmo tempo em que permite o individuo saciar sua curiosidade pelo privado, pelo íntimo, presenteia o observado com os quinze minutos de fama, que em geral é o que ele busca com a exposição de sua intimidade. 6

Referências Bibliográficas SIBILIA, Paula: O s diários íntimos na internet a crise da interioridade psicológica LEMOS, André: Copy left de textos de André Lemos: Breve descrição do ciberespaço para Lemos. BRUNO, Fernanda: A obscenidade do cotidiano e a cena comunicacional contemporânea. 7