ALTERAÇÕES RENAIS E.D. teve seu diabetes diagnosticado em 1985, nessa época tinha 45 anos e não deu muita importância para os cuidados que seu médico lhe havia recomendado, sua pressão nesta época era um pouco elevada e a hemoglobina glicosilada estava acima de 8%. Em 1995, devido à diminuição da acuidade visual procurou um oftalmologista que diagnosticou retinopatia diabética. Em 1997 E. passou a apresentar edema de membros inferiores durante a tarde e notou que seu rosto amanhecia um pouco inchado...seu médico o referenciou para um endocrinologista e um nefrologista...após algum tempo, não mais encontrou os medicamentos nos postos de saúde...nas últimas semanas vinha se alimentando muito pouco, apresentando náuseas e vômitos, dispnéia aos pequenos esforços e sua visão havia piorado. Atualmente E. está cego, em programa de hemodiálise 3 vezes por semana...enquanto aguarda na fila para transplante duplo rim/pâncreas. Texto extraído do Editorial do Endocrinologia&Diabetes clínica e experimental vol. 7 número 3, julho/2007. As doenças renais são bastante freqüentes, variando desde alterações leves e sem sintomas até a necessidade de tratamento específico (i.e. diálise, transplante renal) devido à falência renal total. Em 2006, a prevalência de pacientes em diálise no Brasil foi de 383 pmp (por milhão de pessoas), tendo tido um aumento médio no número absoluto de pacientes em cerca de 9% nos últimos anos. Censo Sociedade Brasileira de Nefrologia 2006.
COMO FUNCIONAM OS RINS? Os rins são dois órgãos situados um em cada lado da coluna vertebral, na porção posterior do abdome, com formato de feijão. Medem de 11 a 13 cm de comprimento e suas extremidades superiores estão localizadas na altura dos arcos costais mais inferiores (10ª a 12ª costelas). Normalmente o rim direito é um centímetro menor e está situado um pouco mais abaixo em relação ao rim esquerdo. O sangue chega aos rins através das artérias renais, que se originam na artéria aorta abdominal. Os rins recebem cerca de 1,2 litros de sangue por minuto e através de processos de filtração, excreção e secreção de substâncias, é responsável por: Limpar as impurezas e as toxinas do nosso organismo; Regular a quantidade de água e minerais ( sódio, potássio, fósforo etc. ). Aproximadamente 2 mil litros de sangue passam pelos rins todos os dias, sendo produzidos ao final 1,2 litros de urina por dia. Se os nossos rins estiverem com sua função preservada, quanto mais líquidos tomarmos, mais urinas será produzida; Liberar hormônios para manutenção da pressão arterial e para a produção de células vermelhas pela medula óssea; Ativar a vitamina D, responsável pela estrutura dos nossos ossos. Desta forma, quando existe alguma alteração na função renal, o organismo é afetado com sintomas diversos, muitas vezes simulando um problema cardíaco, como inchaço, falta de ar, perda do apetite, palidez. TODA DOENÇA RENAL LEVA À PERDA DE FUNÇÃO? Nem toda doença renal leva à alterações na sua função. Alguns indivíduos são mais vulneráveis por apresentarem os seguintes fatores de risco: Diagnóstico de Diabetes mellitus ou histórico familiar positivo. O diabetes é uma das causas mais importantes de perda da função dos rins, com um número crescente de casos. Para maiores informações sobre diabetes e doença renal, acesse o site www.sbn.org.br/publico/rim.htm Diagnóstico de hipertensão arterial e doenças cardiovasculares ou histórico familiar positivo Diagnóstico de doenças auto imunes, como lúpus eritematoso sistêmico Diagnóstico de problemas circulatórios graves História familiar de doença renal crônica Cálculos renais
Aumento do ácido úrico Cirurgias dos rins ou das vias urinárias Infecções urinárias de repetição O QUE É DOENÇA RENAL CRÔNICA? Doença renal crônica (ou insuficiência renal crônica) ocorre quando os dois rins perdem a sua função de uma forma progressiva e gradativa. Diferentemente da insuficiência renal aguda, onde ocorre alteração abrupta da função renal, a doença renal crônica tem uma evolução insidiosa, sem sintomas no início do quadro (geralmente por alguns anos) onde o organismo experimenta um processo de adaptação ao problema, até que atinja uma fase mais avançada. Para padronizar o grau de alteração que ocorre, a National Kidney Foundation Organização não governamental americana criou um sistema de classificação universal, onde dividiu o nível de comprometimento renal em 5 estágios, sendo o estágio 5 o mais severo. Durante o estágio 3 ( taxa de filtração glomerular entre 59 e 30mL/min/1,73m2 valor normal encontra se acima de 120mL/min ) alguns sinais e sintomas já se apresentam, piorando até o estágio 5 ( taxa de filtração glomerular abaixo de 15mL/min/1,73m2 ), onde tratamento específico se faz necessário. Para maiores informações sobre a classificação, acesse o site www.kidney.org QUAIS SÃO OS SINTOMAS DA DOENÇA RENAL CRÔNICA? Como os rins são responsáveis por inúmeras funções, os sinais e sintomas da doença renal crônica podem confundir se com outros problemas, como anemia e doenças cardíacas. Freqüentemente é comum o paciente chegar ao nefrologista com tratamento prévio para estas doenças, o que muitas vezes pode atrasar o diagnóstico e o tratamento correto. Os principais sintomas são: Cansaço, indisposição; Náuseas freqüentes; Mau hálito; Dor na região do estômago; Inchaço nas pernas, abdome, rosto; Falta de ar; Insônia ou sonolência excessiva; Urina com espuma, escura ou com sangue; Aumento do volume de urina, especialmente à noite; Dificuldade de urinar;
Coceira na pele; Pressão arterial alta É importante lembrar que a AUSÊNCIA DE SINTOMAS E O FATO DE ESTAR URINANDO NÃO GARANTEM O CORRETO FUNCIONAMENTO DOS RINS. O QUE PODE SER FEITO PARA RETARDAR A EVOLUÇÃO DA DOENÇA RENAL CRÔNICA? Independentemente da causa básica, várias intervenções podem ser realizadas na tentativa de retardar a progressão da doença e são igualmente importantes para a melhora da qualidade de vida. São elas: Controle adequado da hipertensão arterial, preferencialmente não superior a 120x80 mmhg. Controle dos níveis de colesterol e ácido úrico. Se diabético, controle rigoroso da glicemia Evitar drogas que possam causar maiores danos aos rins, por exemplo, anti inflamatórios, alguns antibióticos, diuréticos em excesso. Usar medicamentos protetores renais, de acordo com orientação médica. Controle da anemia. Tratar infecções urinárias corretamente; Restrição dietética de proteínas, sal, potássio e fósforo, de acordo com orientação nutricional específica. Parar de fumar; Comparecer as consultas médicas programadas e realizar exames solicitados, procurando entender melhora a doença e o que se pode esperar do tratamento. QUANDO ESTÁ INDICADO ACOMPANHAMENTO COM ESPECIALISTA?
O nefrologista (especialista em rins) deve ser procurado quando, de acordo com a classificação da National Kidney Foundation, o paciente encontra se no estágio 3 da doença renal. Como a doença renal crônica ataca vários órgãos e sistemas, é muito importante que uma equipe multidisciplinar comandada por nefrologista, possa avaliar e intervir na tentativa de evitar dano renal maior, manejar as complicações que possam advir da uremia (acúmulo de toxinas no organismo) e programar tratamento específico, quando a doença atingir seu estágio avançado (estágio 5). Dentre estes profissionais, destacamos o endocrinologista, clínico geral, cardiologista, nutricionista, psicóloga. Infelizmente, na maioria dos casos, o paciente chega ao especialista já na sua fase final da doença, não restando outro tipo de tratamento que não a terapia renal substitutiva. O QUE ACONTECE QUANDO A DOENÇA ATINGE O ESTÁGIO MAIS AVANÇADO? Quando a doença renal progride até o estágio 5 (filtração glomerular abaixo de 15mL/min/1,73m2) ou até mesmo antes quando se trata de pacientes diabéticos, ocorre uma piora dos sintomas e sinais de uremia, indicando uma necessidade de terapia renal substitutiva na forma de diálise ou transplante. É importante salientar que algumas doenças renais não possuem tratamento específico, exceto pelas intervenções citadas anteriormente, e que há uma tendência natural de progressão da lesão. O papel do nefrologista nestes casos é minimizar o dano renal e retardar ao máximo possível a progressão da doença ao estágio final. QUE OUTROS PROBLEMAS DE SAÚDE O NEFROLOGISTA ACOMPANHA? Faz parte da especialização do nefrologista estágio de pelo menos 1 ano na Clínica Médica, ou seja, a área da Medicina que estuda as doenças e os tratamentos não cirúrgicos ( cardiologia, endocrinologia, hematologia etc. ). Portanto, o nefrologista está apto a acompanhar todas as intercorrências que o paciente renal crônico tiver além de outras patologias como: Hipertensão arterial essencial e renovascular; Infecções urinárias; Glomerulonefrites; Síndrome Nefrótica; Litíase Renal; Distúrbios metabólicos e ácido básicos; Nefropatias Hereditárias e auto imunes;
Insuficiência renal aguda; Terapia parenteral PARA MAIORES INFORMAÇÕES SOBRE PREVENÇÃO DE DOENÇAS RENAIS E DIA MUNDIAL DO RIM, ACESSE http://www.sbn.org.br/previna.htm e http://www.worldkidneydayorg Fonte: Dicas de Saúde Renal Fresenius Medical Care Sociedade Brasileira de Nefrologia Princípios de Nefrologia e Distúrbios Hidroeletrolíticos Dr. Miguel C. Riella Orientações Básicas ao Paciente Renal Crônico Dra. Maria Eugênia Canziane e Dr. Pasqual Barreti UNIFESP