IX COLÓQUIO DO MUSEU PEDAGÓGICO 5 a 7 de outubro de 2011

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Transcrição:

INVESTIGAÇÃO COMPARATIVA DAS VARIAÇÕES DE GRAFIA ATESTADAS EM TEXTOS PORTUGUESES DOS SÉCULOS XVII E XVIII E BRASILEIROS DO SÉCULO XIX: UM ESTUDO DE UMA PERSPECTIVA DIACRÔNICA João Henrique Silva Pinto (UESB) Stelamaris Freitas Silveira (UESB) Cândida Mara Britto Leite (UESB) Cristiane Namiuti- Temponi (UESB) Jorge Viana Santos (UESB) RESUMO Os textos antigos apresentam variação gráfica, e em alguns casos essa variação pode ser explicada ou por processos fonológicos ou pela etimologia. Comparou- se a variação de grafia presente nas cartas de denúncia portuguesas com a presente nas cartas de alforria brasileiras. Trabalhou- se com um corpus de textos portugueses e um brasileiro. Foi necessário levantar as palavras escritas com uma grafia não moderna. Os resultados mostraram que há diferença nas variações de grafia encontradas nos textos portugueses e das registradas nos textos brasileiros. Verificaram- se nos textos portugueses, manifestações de processos fonológicos, como metátese, epêntese, e fenômenos relacionados com a elevação e redução de vogais. Já nos textos brasileiros verificou- se um alto índice de variações relacionado com a segmentação (hipo e hipersegmentação), envolvendo palavras funcionais e clíticos. Estudante e Bolsista IC. UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia). GPEL (Grupo de Pesquisa em Estudos da Linguagem). UESB. E- mail: j.henrique.uesb@mail.com Estudante. UESB. GPEL. E- mail: stelamarisfsilveira@gmail.com Doutora em Linguística. DELL/UESB. GPEL. E- mail: candidamara@gmail.com Doutora em Linguística. DELL/UESB. GPEL. E- mail: cristianenamiuti@gmail.com Orientador. Doutor em Linguística. DELL/UESB. GPEL. E- mail: viana.jorge.viana@gmail.com. 1681

PALAVRAS- CHAVE: Segmentação, Grafia, Variação. INTRODUÇÃO Conhecer o passado de uma língua é uma das tarefas mais árduas que enfrenta a Linguística nos dias atuais, uma vez que só é possível estudar fatos da língua passada por meios de fontes escritas, isto é, por meio de documentos antigos. Outra dificuldade que se apresenta é devida a política arquivística de documentos, no Brasil, que ainda é muito falha, isso faz com que muitos documentos se percam na história, impossibilitando o conhecimento que os escritos naqueles pedaços de papéis poderiam fornecer como dados interpretáveis à luz da Linguística, ou mesmo de outras áreas do conhecimento como a História, entre outras. Quando estudados, os manuscritos que sobreviveram à ação destruidora do tempo podem fornecer pistas interessantes sobre a língua em épocas passadas. Logo, os manuscritos de época têm um grande alcance testemunhal da língua que se falava e, por isso, muitos autores ressaltam a importância das fontes judiciais para o conhecimento da história de uma língua. Visa esse artigo mostrar a variação (orto)gráfica 231 atestada em textos portugueses seiscentistas e setecentistas e em textos brasileiros oitocentistas. Para tanto, dividiu- se esse artigo da seguinte forma: na seção 1, estão abordadas questões referentes à grafia inábil bem como à importância da preservação dos documentos antigos para a história, sociedade e mesmo como valor linguístico. Na seção 2, mostram- se os corpora da pesquisa de uma forma simplificada bem como 231 Utiliza- se o termo (orto)gráfica, pois na época em que os documentos foram escritos, ainda não havia, no português, um sistema ortográfico unificado como o é atualmente. Portanto, não se pode dizer que há uma variação ortográfica (no sentido em que é atribuído hoje), mas variações gráficas. 1682

materiais e métodos; a seção 3 está reservada para os resultados e discussões; as considerações finais encontram- se na última seção. As Variações Gráficas Os documentos antigos podem fornecer pistas sobre as mudanças linguísticas bem como fomentar estudos para a compreensão do funcionamento da gramática das línguas (entende- se gramática aqui no sentido gerativista, isto é, uma gramática gerativa é um sistema formal (de regras, mais tarde de princípios e parâmetros) que torna explícito os mecanismos finitos disponíveis para o cérebro produzir sentenças infinitas de uma forma que tenha consequências empíricas e podem ser testadas, como nas ciências naturais (CAMPBELL, 2007, p. 13-14). O trabalho com os documentos antigos fomenta estudos comparativos entre os estados diacrônicos e o sincrônico da língua contribuindo para a compreensão do funcionamento do sistema linguístico. Noutras palavras, podem- se buscar fenômenos nos textos antigos que evidenciam mudanças linguísticas, como fonéticas, fonológicas, sintáticas etc. Adicionalmente, são os documentos antigos também fontes de estudos interessantes para o próprio conhecimento da sociedade da época e para a preservação da memória. Algumas mudanças linguísticas são mais facilmente percebidas nos textos escritos por mãos pouco hábeis. Marquilhas (1998) define a escrita de gente pouco letrada como mãos inábeis, produtores de textos sem muita familiaridade com a escrita. Quando escreviam seus textos, os mãos inábeis, por não dominaram os princípios logográficos e fonográficos, acabaram produzindo erros ortográficos. Não se podem corresponder esses erros ao conceito que eles têm atualmente já 1683

que na época em que os documentos foram escritos, o português não tinha uma ortografia uniforme como o é hoje em dia. Naquela época, vigorava o que se pode chamar de ortografia pluriforme. Marquilhas (1997) argumenta que a pouca exposição a produtos gráficos também foi responsável pela criação de mãos inábeis em Portugal, uma vez que os indivíduos não eram expostos às formas corretas de grafar as palavras. Essa pouca exposição se deveu primeiro ao fato de a escrita estar sob domínio dos copistas e por não haver uma generalização do processo de escrita. Vale ressaltar que a escrita feita pelos copistas se tratava de um treino scriptológico, ou seja, não era o domínio da fonologia, mas das scriptae. A partir do momento em que a escrita se difundiu e deixou de ser um trabalho exclusivo dos copistas e passou a fazer parte do cotidiano dos povos, o formalismo scriptológico não teve mais condições de se impor a todos aqueles que se utilizavam da tecnologia gráfica. Isso significa dizer que, por falta desse convencionalismo sobre essa nova escrita, começa a haver a falta de correspondência entre unidades da língua oral e unidades da língua escrita (MARQUILHAS, 1997, p. 163). Devido a essa falta de correspondência, podem ser atestadas mudanças fonéticas, fonológicas e o próprio caráter prosódico da língua. Há também nas fontes inábeis erros gráficos que são facilmente relacionados com a etimologia. As variações (orto)gráficas presentes em textos antigos escritos em português tanto europeu quanto brasileiro podem ser influenciadas por questões de ordem fonológica ou etimológica. Sendo assim, os aspectos da língua podem ser acessados, nessas variações, e interpretados dentro de uma corrente linguística, nesse caso, a Linguística Histórica. Essa, amparada em grandes teorias, tenta explicar as mudanças pelas quais passa a língua. Os dados que são utilizados para análise, nesse trabalho, encontram- se na forma de documentos manuscritos ou tipográficos, então é necessário transpor 1684

esses dados para um meio digital no qual o tratamento é mais fácil. Dessas questões ocupa- se a seção seguinte. Corpus da Pesquisa e Questões Metodológicas Os dados analisados neste trabalho são provenientes de dois corpora: um conjunto de cartas da Inquisição portuguesa e um de cartas de alforria oitocentistas brasileiras. Esses dois corpora serão discriminados a seguir. Para os textos portugueses, escolheu- se trabalhar com as cartas de denúncia da Inquisição portuguesa, por estas estarem disponíveis digitalmente no Corpus Histórico do Português Anotado Tycho Brahe, já transcritas e editadas. As cartas de denúncia são partes integrantes dos arquivos da Inquisição Portuguesa e possuem um potencial valor linguístico. Esses documentos, em sua maioria escritos no século XVII, foram utilizados por Marquihas (1997). Para os textos brasileiros, investiu- se na transcrição de cartas de alforria oitocentistas pertencentes ao banco de textos do corpus DOViC. O corpus DOViC é um banco de textos composto de documentos notariais e cartas de alforria da região do sudoeste da Bahia. Esse corpus é um produto do projeto Memória Conquistense: recuperação de documentos oitocentistas na implementação de um corpus digital desenvolvido na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia por Santos et al. (2009). Estão ainda envolvidos nesse projeto professores de outras instituições como a UNICAMP, UEFS, UFBA e USP além de estudantes de graduação da própria UESB. Esse projeto visa à construção de um corpus digital que parte de documentos manuscritos dos séculos XVIII e XIX. Também são objetivos do projeto Memória Conquistense a organização e a recuperação desses documentos. Para isso, é necessária a criação de um banco de dados com informações acerca dos documentos. Uma vez criado o banco de textos, abrem- se caminhos para pesquisas 1685

nas mais diversas áreas do saber, como a Linguística, História, e Filologia. Adiciona- se a isso, o fato de que a recuperação dos documentos preservará tanto o patrimônio linguístico quanto o histórico. O conjunto de textos portugueses já se encontra no formato de texto digital, o que torna sua manipulação mais fácil. Desse corpus selecionou- se um grupo de cinco cartas e procedeu- se a busca pelas palavras ou conjuntos de palavras que se diferenciavam dos padrões ortográficos atuais. Quanto aos dados provenientes do corpus DOViC, investiu- se na transcrição de cartas de alforrias. Essas se encontram fotografadas. Após a transcrição das cartas e reportação dos manuscritos transcritos do corpus DOViC para o meio digital, levantaram- se os dados de variação de grafia de ambos os corpora separadamente usando o editor de texto Word. Uma vez identificados os dados com variação gráfica nos textos dos dois corpora, agruparam- se os dados por corpus, por texto, e por autor. Em seguida, utilizando- se da catalogação por corpus, descreveram- se os dados brevemente de acordo com os tipos de variação gráfica encontrados; utilizou- se nessa etapa, bem como nas próximas, o aplicativo Excel. Classificaram- se os dados, de acordo com tipo de variação gráfica que esses apresentavam, em quatro tabelas (processos fonológicos envolvendo consoantes em coda e onset ramificado metátese e epêntese; alterações vocálicas; variações gráficas; e segmentação). Os textos portugueses (corpus Mãos Inábeis) apresentaram estes quatro tipos de variação, já os textos brasileiros (corpus DOViC) apresentaram apenas três e foram organizados em três tabelas (alterações vocálicas; variações gráficas; e segmentação). Nas tabelas de cada corpus, os dados foram organizados em grupos de acordo com o tipo específico da alteração fonológica, gráfica ou segmentação. Os dados foram quantificados e extraíram- se as frequências com que cada tipo de variação ocorria em cada corpus para a elaboração de gráficos. 1686

Diante do exposto até aqui, é interessante ilustrar esses aspectos de variação na forma de exemplos extraídos dos textos antigos bem como explicações desses mesmos aspectos. Ocupar- se- á desses temas a próxima seção. O que revelam os dados? Percebe- se que há uma grande variação (orto)gráfica entre os textos seiscentistas e setecentistas portugueses e os documentos oitocentistas brasileiros, no entanto, Marquilhas (1998) adverte que nem sempre há explicações fonológicas por trás dessa variação, mas que é interessante buscar explicações fonológicas, sobretudo, nos equívocos ligados à escrita segmental. Analisar- se- á primeiramente as variações em que os processos fonológicos de métatese e epêntese são recorrentes. A metátese é uma reordenação de fonemas 232 no interior dentro das palavras, isto é, a troca de posição de fonemas, e está relacionada principalmente com as consoantes líquidas /l/ e /r/. Faz parte dessa classificação dados como prugatorio, livirnho, crelego (com ortografia atual: purgatório, livrinho, clérigo, respectivamente). Pode- se observar nesses dados que houve mudança do fonema /r/ em posição de coda para onset ramificado na primeira palavra (prugatorio purgatório), desse mesmo fonema houve a mudança de posição de onset ramificado para coda no segundo exemplo (livirnho livrinho) e a métatese dupla do fonema /r/ e /l/ na última palavra (crelego clérigo). Outro processo fonológico que é presente na escrita inábil é a epêntese. Trata- se da inserção de um fonema no interior das palavras. Geralmente os contextos em que esses fenômenos ocorrem, na escrita inábil, são onsets 232.(cf. SPENCER, 1998, p. 138) 1687

ramificados. Por exemplo, ciristam e Coimbera (na grafia atual: Cristão e Coimbra, respectivamente). Pode- se verificar nesses dados a inserção de dois fonemas, o fonema /i/ em ciristam (cristão) e do fonema /ə/, na forma gráfica E Coimbera (Coimbra). Esses fenômenos fonológicos envolvendo métateses e epênteses só estão presentes apenas, dentro do corpus dessa pesquisa, nos documentos portugueses. Nenhum caso foi notificado em cartas de alforrias oitocentistas brasileiras trabalhadas nessa pesquisa. Considerando os números de fenômenos referentes às vogais, há dados que representam redução e elevação de vogais, além de outros fenômenos envolvendo vogais no conjunto de cartas que faz parte do corpus de mãos inábeis; esse mesmo tipo de fenômeno não é muito produtivo nas cartas de alforria que são integrantes do corpus DOViC, além de apresentar qualidades de vogais diferentes no envolvimento dos fenômenos. Enquanto os textos portugueses alternam /a/ e /e/ sobretudo em posição pré- tônica, os textos brasileiros alternam /o/ e /u/, /e/ e /i/, sobretudo em posição pós- tônica. Tal fato pode evidenciar uma diferença na pronúncia portuguesa e brasileira captada na escrita, pois se sabe que o ritmo do Português Europeu atual é caracterizado pela drástica redução das vogais pré- tônicas enquanto o ritmo do Português Brasileiro possui as sílabas com seus centros vocálicos bem pronunciados. As frequentes reduções observadas na escrita inábil do século XVIII podem ser uma pista do início do padrão prosódico do Português Europeu de hoje. Castro (2006) e Marquilhas (2003) já tinham detectado que os fenômenos de redução das vogais pretónicas no Português Europeu já vinham em franca expansão antes da primeira metade do século XVIII, e as cartas da Inquisição portuguesa, documentos escritos durante em sua maioria no século XVII, e analisadas aqui, comprovam isso. 1688

Quanto à variação gráfica, os dados portugueses são mais numerosos se comparado com o mesmo tipo de variação encontrada nos textos brasileiros. A representação (orto) gráfica dos fonemas /s/ e /z/ é um problema dentro da grafia inábil, pois, a maioria dos fenômenos do corpus envolve as grafias S, SC, Ç, C, SS, Z, XC e X. E os mãos inábeis por estarem em um estado estagnado de aquisição de escrita, acabam, por vezes, produzindo erros de grafia quando utiliza as letras para representar os fonemas supracitados. Merece destacar que a desordem na representação dos fonemas fricativos /s/ e /z/ não é novo na história do português. Castro (2006) afirma que esse também era um problema recorrente no Português Antigo, no Português Médio e vindo a se estabilizar entre o Português Clássico e o Português Europeu Moderno. A grafia inábil também pode ser comparada à grafia de crianças em aquisição de escrita em que também apresenta fenômenos, porém simples, como troca de S por Z. Vale ressaltar que a grafia J só é usada nos contextos de nomes próprios. Isso significa dizer que em contextos que não o de nomes próprios, para representar o consoante palatal sonora [ž] utilizava- se da grafia G mesmo com as vogais /a/, /o/ e /u/. Para a representação da fricativa lábio- dental [v] os mãos inábeis se utilizam da grafia U. Esses fenômenos não foram observados nos dados brasileiros. Os escritos inábeis portugueses compartilham com os documentos notariais brasileiros grafias nas quais ainda permanecem resquícios etimológicos como o uso do H (hesa essa), por exemplo. Se por um lado a língua de Portugal não apresenta duplicação de consoantes tais como F, L e N, por outro, é verificável a duplicação dessas mesmas consoantes nos documentos do Brasil (anno ano). Outra variação muito circular nos documentos antigos são os fenômenos envolvendo a segmentação das palavras. Segundo Marquilhas (1998) o domínio da 1689

escrita alfabética só é possível mediante a captação de um princípio fonológico. Segundo esse princípio, as realizações orais são combinações temporalmente lineares de segmentos consonânticos e vocálicos (MARQUILHAS, 1998, p. 242). Logo a língua escrita permite uma possibilidade de espelhamento dessa organização fonológica (MARQUILHAS, 1998, p. 242) através de sinais gráficos equivalentes a cada segmento individual e que também são concebidos linearmente. Noutras palavras, esse espelhamento é feito através do uso de vogais e de consoantes. As crianças em fase de aquisição de escrita, ao segmentar o discurso oral na escrita, adquirem uma consciência fonológica na qual é possível reconhecer as unidades segmentais (cf. MARQUILHAS, 1998). Além do mais, as crianças, apesar de saberem ler uma escrita segmental, elas preferem as sílabas inteiras como unidades de segmentação (cf. MARQUILHAS, 1998). Os mãos inábeis podem ser fixadas nessa época, quando há a capacidade de escrever consoantes e vogais e a incapacidade de analisar a estrutura no interior da sílaba (MARQUILHAS, 1998, p. 243). Concernente a segmentação, há dois tipos de diferenças gráficas. A hipersegmentação e a hipossegmentação. Esta se trata da falta de inserção de branco gráfico entre unidades separáveis, enquanto aquela é a inserção de branco gráfico entre unidades que não são separáveis. Noutras palavras, pode- se dizer que é a segmentação não- canônica das palavras (cf. KAJITA, 2009). Conceitos esses que serão facilmente compreendidos com as exemplificações abaixo. Em se tratando de hipersegmentações, os dados dos mãos inábeis não apresentaram nenhuma ocorrência, enquanto nas cartas de alforria brasileiras dois casos foram detectados apenas exemplo: des em bargados (grafia atual: desembargados). 1690

A hipossegmentação é um fenômeno a ser tratado com mais cuidado, pois envolve clíticos. Sabe- se que os clíticos, principalmente os pronominais, são complexos per si. Dentro da fonologia, define- se clítico como qualquer elemento não acentuado prosodicamente que não é nenhuma flexão ou derivação afixal 233 (HALPERN, 1998, p. 101). E os casos de hipossegmentação envolvem principalmente as palavras funcionais (preposições, artigos e conjunções) e clíticos pronominais. Pois essas palavras não dispõem de acentos primários, daí a necessidade de elas se apoiarem numa palavra adjacente. Nos textos portugueses, os dados mostram que a frequência em que ocorrem a hipossegmentação com palavras funcionais é muito menor do que a que envolve clíticos pronominais, sobretudo em contexto de ênclise. Adiciona- se a isso o fato de que não há nos dados analisados, pronomes átonos amalgamados a palavras de outra natureza que não a verbal. Como exemplo de segmentação não canônica envolvendo palavras funcionais pode eleger- se amde e amdecomfecar (grafia atual: hão de e hão de confessar, respectivamente). Em contextos com clíticos pronominais, basta citar dizlhe e emcomedase (grafia atual: diz- lhe e encomenda- se, respectivamente). Os dados apontam que as palavras dos textos brasileiros sofrem mais hipossegmentação do que as dos portugueses. Da mesma forma que os dados portugueses, a hipossegmentação tendem a ocorrer com palavras funcionais e clíticos. Nos documentos do corpus DOViC, as hipossegmentações em sua maioria envolvem as preposições de e em, a conjunção que e os artigos. Por exemplo: dacosta (da Costa), dequeo (de que o), adita (a dita) É também bastante produtivo os casos com clíticos pronominais em posição proclítica mereporto e merepresenta (me reporto e me representa, respectivamente). 233 Confere o original: In some uses, clitic denotes any prosodically weak (unaccented) element which is not a canonical inflectional or derivational affix. This is the sense in which term is usually used in the discussion of phonological issues. (HALPERN, 1998, p. 101). 1691

CONCLUSÕES Conclui- se, então, que tanto os textos portugueses quanto os textos brasileiros possuem uma gama de variação na grafia. No entanto, essa variação é apresentada de diferentes formas nos dois continentes. Enquanto na Europa a variação relevante concentra- se nas alterações vocálicas e nos processos fonológicos de metátese e epêntese, na América, nos dados analisados, ela está na segmentação. No que concerne a hipossegmentação envolvendo clíticos pronominais, é interessante ressaltar a preferência de amálgama dos clíticos: (1) e emcomedase a elas q. lhe ualham os seus trabalhos (e encomenda- se a elas que lhe valham os seus trabalhos). (2) egoardando metodo o respeito(e guardando- me todo respeito). Como mostram os exemplos acima, a preferência de direcionalidade da hipossegmentação com clíticos pronominais, nos textos portugueses, tende a ser à esquerda (1), enquanto que nos textos brasileiros essa tendência é à direita (2). REFERÊNCIAS ABAURRE, M. B. M.; SILVA, A. O desenvolvimento de critérios de segmentação na escrita. Temas em Psicologia, Ribeirão Preto, n. 1, p. 89-102, 1993. CAGLIARI, L. C. Aspectos teóricos da ortografia. In: SILVA M. Ortografia da Língua Portuguesa: história, discurso, representações. São Paulo: Contexto, 2008. p. 17-52. 1692

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