1 CORRELAÇÕES ANATOMOCLÍNICAS DA MEDULA ESPINHAL E PLEXOS BRAQUIAL E LOMBOSSACRAL EM CUTIAS (DASYPROCTA LEPORINA LINNAEUS, 1758) ANATOMOCHLINAL CORRELATIONS OF SPINAL CORD AND BRACHIAL AND LOMBOSACRAL PLEXUS IN AGOUTI (DASYPROCTA LEPORINA LINNAEUS, 1758) Hélio Noberto de ARAÚJO JÚNIOR 1, Herson da Silva COSTA 2, Paulo Mateus Alves LOPES 1, Viviane Medeiros da SILVA 1, Kalyne Danielly Silva de OLIVEIRA 3, Bruno Vinicios Silva de ARAÚJO 1, Moacir Franco de OLIVEIRA 4 1 Graduando em Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA, helio.noberto@outlook.com 2 M.V., Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal - PPGCA, UFERSA. 3 M.V., Residente em cirurgia de animais de companhia, Hospital Veterinário Jerônimo Dix-Huit Rosado Maia, UFERSA. 4 Professor do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, UFERSA. Resumo: Em busca de novas informações acerca do sistema nervoso da espécie, bem como sobre procedimentos clínico-cirúrgicos que possam ser utilizados na espécie, objetivou-se a realização desse estudo. Constatou-se que o plexo braquial origina-se mais frequentemente a partir C5 a T1, a intumescência cervical de C4 a C7, o plexo lombossacral a partir de L4 a S3, a intumescência lombar de L5 a L7, o cone medular a partir de L7 a S2, enquanto a cauda equina a partir de S2. O estudo da morfologia da medula espinhal é imprescindível na clínica veterinária, tendo aplicabilidade na punção de líquido cefalorraquidiano, na localização de lesões nervosas em níveis vertebrais e nas anestesias epidurais. Palavras-chave: Sistema nervoso, medula espinhal, anestesiologia, roedor silvestre. Keywords: Nervous system, spinal cord, anesthesiology, wild rodent. Introdução: A cutia é um roedor silvestre pertencente à família Dasyproctidae, que habita diferentes ecossistemas e que quando em cativeiro apresentam grande potencial para exploração econômica, por ser considerada fonte de proteína animal. Anais do 38º CBA, 2017 - p.0374
2 Abordagens a respeito do sistema nervoso tornam-se relevantes, pois o conhecimento morfológico, assume considerável importância na clínica médica e cirúrgica veterinária, como em procedimentos a fim de se obter bloqueios anestésicos, ou para punção do líquor cefalorraquidiano para exames laboratoriais. Existem várias maneiras descritas para se atingir o plexo braquial, incluindo o uso de parestesia, punção transarterial, perda da resistência na bainha nervosa e neuroestimulação. As técnicas utilizadas para a realização do bloqueio variam de acordo com a região a ser operada e a experiência do anestesiologista, e podem ser realizadas pelas vias interescalênica, interesternocleidomastoidea, supraclavicular, infraclavicular e axilar (BROWN, 1993). A anestesia epidural é realizada através da administração de injeção contendo anestésicos locais no espaço epidural, compreendido entre a duramáter e o canal vertebral. O local de aplicação do anestésico no espaço epidural varia conforme a espécie animal, de acordo com o local do término da medula espinhal, utilizando sítios caudais ao cone medular, sendo a técnica de aplicação mais segura, evitando lesões na medula espinhal. Tendo em vista a importância anatômica acerca do sistema nervoso, propomos estudá-la na cutia, objetivando melhor entendimento da relação da medula espinhal e os plexos nervosos, com intuito de auxiliar a clínica médica e cirúrgica desses animais Metodologia e Métodos: Foram utilizados 10 animais, post mortem, adultos, de ambos os sexos, provenientes de estudos anteriores, aprovados pelo Comitê de Ética Institucional (Parecer CEUA/UFERSA 16/2014 e SISBIO 37987-1). Os animais encontravamse fixados em solução de formaldeído 10%, no Centro de Multiplicação de Animais Silvestres, CEMAS-UFERSA, Mossoró-RN. Procedeu-se a retirada da pele e musculatura dorsal da coluna vertebral, mediante incisão, com afastamento da linha mediana dorsal, e remoção dos arcos vertebrais, permitindo a visualização da medula espinhal. Para exposição do plexo braquial, procedeu-se incisão próximo ao esterno até a região axilar, e dissecação dos músculos que encobriam a região dos forames intervertebrais; para a exposição do plexo lombossacral foi realizado a abertura da cavidade abdominal através de Anais do 38º CBA, 2017 - p.0375
3 incisão longitudinal mediana pré-retroumbilical, evisceração, e a retirada dos músculos psoas maior e menor. Para melhor visualização dos nervos que compunham os plexos, após a dissecação da região, foi colocado sob estes, algodão embebido em solução de peróxido de hidrogênio a 2% por cerca de 12 horas para clareamento, facilitando a identificação destes nervos. Em seguida, realizou-se a análise descritiva do cone medular, evidenciando o seu ápice e base. As mensurações do cone medular foram feitas com paquímetro digital, enquanto o comprimento da medula foi realizado com fita métrica padrão. Resultados e Discussão: Corroborando com o descrito por Silva et. al. (2014), após relacionar a medula espinhal e os nervos que emergem dessa estrutura com as vértebras cervicais (C), torácicas (T), lombares (L) e sacrais (S), constatou-se que o plexo braquial da cutia origina-se de C5-T1, semelhante ao descrito no mocó (SANTANA et. al., 2003) e na chinchila (GAMBA et. al., 2007). Os nervos constituintes do plexo braquial são: cutâneo do braço (C5), supraescapular (C5-C6), axilar (C5-C6), músculo cutâneo (C6), subescapular (C6), peitoral cranial a partir de C6 podendo haver a participação de C5 ou C7, peitoral caudal (C7), radial (C6-C7), mediano (C6-C7), torácodorsal (C6-C7), enquanto os nervos ulnar, torácico lateral e torácico longo originam-se de C7 a T1, podendo haver a contribuição de C6 ou T2 em alguns casos. Conhecendo-se a origem do plexo braquial e a origem de cada nervo separadamente, o presente estudo pode ser útil no sentido de auxiliar procedimentos de anestésicos. Em associação com estudos sobre a distribuição dos nervos, fornece bases para abordagens clinicas e cirúrgicas, como também na localização de lesões nervosas. A intumescência cervical situa-se na altura de C4 a C7, enquanto a intumescência lombar localiza-se entre L5 a L7. O cone medular apresentou-se relativamente curto, medindo cerca de 2,5 cm, aproximando-se do relatado aos resultados de Machado et al. (2009) no nutria, que media cerca de 2 cm. De acordo com Silva et. al. (2016), a base do cone medular na cutia originou-se em L7, o ápice entre S1 e S2, e a cauda equina a partir de S2, caracterizando assim, como locais Anais do 38º CBA, 2017 - p.0376
4 seguros para realização de anestesia epidural, a administração a partir da vértebra S2, na região sacrococcígea. Em relação ao plexo lombossacral da cutia, Oliveira et. al. (2016) relatam como a origem ramos nervosos provenientes de L4 a S3, semelhante a origem descrita em alguns roedores como mocó (LACERDA et. al., 2006), paca (TONINI et al., 2014) e preá (OLIVEIRA et al., 2014). Participam deste plexo os nervos: cutâneo femoral lateral (L4-L5), genitofemoral (L4-L5), femoral (L5-L6, podendo receber participação de L7), obturatório (L5-L7), isquiático (L7-S2), glúteo cranial (L7), glúteo caudal (S1) e nervo pudendo (S2-S3). Conclusão: Considerando que o plexo braquial nesta espécie se origina de C5-T1, o plexo lombossacral de L4-S3, e conhecendo as origens de cada nervo, sugere-se que a procedimentos de anestésicos sejam realizadas nestes locais. Tendo em vista que a topografia do cone medula varia de L7 a S2, sugere-se que a punção líquor para exames laboratoriais, ou anestesia epidural sejam realizadas na região sacrococcígea. Contudo, o presente estudo pode servir de base para a conduta clínica e procedimentos cirúrgicos nesta espécie, além de complementar a literatura atual, sendo útil para o avanço do estudo com roedores silvestres. Referências: BROWN, DL. Brachial plexus anesthesia: an analysis of options. The Yale Journal of Biology and Medicine, v. 66, n. 5, p. 415-431, 1993. GAMBA, C. O.; CASTRO, T. F.; RICKES, E. M.; PEREIRA, M. A. M. Sistematização dos territórios nervosos do plexo braquial em chinchila (Chinchilla lanigera). Brazilian Journal of Veterinary Research and Animmal Science, São Paulo, v. 44, n. 4, p. 283-289, 2007. LACERDA, P. M. O.; MOURA, C. E. B.; MIGLINO, M. A.; OLIVEIRA, M. F.; ALBUQUERQUE, J. F. G. Origem do plexo lombossacral de mocó (Kerondo rupestris). Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, São Paulo, v. 43, n. 5, p. 620-628, 2006. Anais do 38º CBA, 2017 - p.0377
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