Antônio Rodrigues de Araújo NETO¹, Eros Jofily Fernandes Soares ARAÚJO¹, Ayrton Senna Barbosa da SILVA¹, Danila Barreiro CAMPOS²

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1 ORIGEM E DESCRIÇÃO DO NERVO ISQUIÁTICO EM BICHO-PREGUIÇA-DE- GARGANTA-MARROM (BRADYPUS VARIEGATUS, SCHINZ,1825) ORIGIN AND DESCRIPTION OF THE ISCHIADICUM NERVE IN BROWN THROATED SLOTH (BRADYPUS VARIEGATUS, SCHINZ,1825) Antônio Rodrigues de Araújo NETO¹, Eros Jofily Fernandes Soares ARAÚJO¹, Ayrton Senna Barbosa da SILVA¹, Danila Barreiro CAMPOS² 1 Estudante de graduação de Medicina Veterinária, Universidade Federal da Paraíba, digoraneto@gmail.com 2 Professora do Departamento de Ciência Animal, Universidade Federal da Paraíba Resumo Este trabalho objetivou-se estudar a origem e descrever o nervo isquiático e suas ramificações em bichos-preguiça da espécie Bradypus variegatus, com a dissecação de 3 exemplares, provenientes do CETAS (Centro de Triagem de Animais Silvestres) - IBAMA de Cabedelo e do Museu Paranaense Emílio Goeldi e que vieram a óbito por causas desconhecidas. Os estudos mostraram que o nervo isquiático surgiu a partir de L4, S1, S2 e S3 e recebeu um ramo do nervo obturador. Este nervo seguiu junto ao osso ílio, deixando a pelve pelo forame isquiático maior, mas antes de atravessar o forame isquiático, emitiu um ramo, denominado nervo glúteo cranial que seguiu em direção aos músculos glúteo médio e profundo. Após a passagem no forame isquiático o nervo emitiu mais dois ramos, um mais cranial e outro mais caudal, sendo eles o nervo glúteo caudal, que inervou os músculos gluteobíceps, semitendinoso e semimembranoso e o nervo cutâneo femoral caudal, que inervou os mesmos músculos do nervo glúteo caudal e mais a pele. Depois de emitir esses dois ramos, o nervo isquiático, se dividiu em nervo fibular comum e nervo tibial ao nível da articulação coxofemoral. Palavras-chave: anatomia, plexo sacral, animal silvestre. Keywords: anatomy, sacral plexus, wild animal. Introdução O bicho-preguiça pertence à ordem Pilosa, constituinte da superordem Xenarthara (xenon = estranho; arthros = articulação), a mesma ordem dos Tamanduás (MEDRI et al., 2011). Estudos anátomo-morfológicos são importantes para compreender Anais do 38º CBA, p.0213

2 melhor esses animais e como intervir em procedimentos veterinários, já que com a destruição do seu habitat eles estão cada vez mais susceptíveis à doenças e acidentes. O sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central (SNC) e periférico (SNP), onde o SNP compreende os 12 de pares de nervos cranianos e um número consideravelmente maior de nervos espinhais, variando de acordo com a quantidade de vértebras. A origem ordenada dos nervos espinhais recebe o nome de acordo com a segmentação da medula espinhal (cervicais, torácicas, lombares, sacrais e caudais) (DYCE et al., 2004). O nervo isquiático é o maior nervo do corpo, sendo continuação do plexo isquiático dentro do membro pélvico (GETTY, 1989; DYCE et al., 2004; KÖNIG e LIEBICH, 2011). O nervo tem origem variada nas mais diversas espécies (König e Liebich, 2011; CAMPOS et al., 2003; Lima et al., 2008; Pereira et al., 2011; Santos, 2013). Em seu trajeto, o nervo isquiático deixa a pelve através do forame isquiático maior e passa sobre a face lateral do ligamento sacrotuberal. Ele cruza músculo glúteo profundo e a articulação coxofemoral, até alcançar o aspecto caudal do fêmur (KÖNIG e LIEBICH, 2011). O nervo isquiático emite ramos para os músculos glúteo médio, glúteo bíceps, glúteo profundo, obturador interno, semimembranáceo, semitendíneo, gêmeos, quadrado femoral, adutores, quadríceps femoral (GETTY, 1986; KÖNIG e LIEBICH, 2011). O estudo dessa estrutura é importante para subsidiar procedimentos clínicoscirúrgicos, já que devido a sua localização fica sujeito a lesões após traumas e cirurgias da articulação coxofemoral (KÖNIG e LIEBICH, 2011), podendo assim comprometer todo o membro pélvico. Metodologia Foram analisadas três preguiças, fêmeas, de diferentes tamanhos, pesos e idades, provenientes de Centros de Triagem de Animais Silvestres CETAS-IBAMA de Cabedelo e do Museu Paraense Emilio Goeldi (SISBIO ), que vieram a óbito por causas desconhecidas. Os animais foram submetidos a aplicação de formol a 10% intravenoso e intramuscular, além de serem preservadas sob imersão em formol. Todos os procedimentos com as carcaças foram realizados no Laboratório de Anatomia Animal do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba Campus II. Anais do 38º CBA, p.0214

3 Inicialmente, o acesso ao nervo isquiáticofoi feito pelo abdômen, sendo dissecado até a localização de sua origem do nervo no plexo lombossacral. Após a localização da origem foi feito a dissecação até sua distribuição no membro. Para estudar a distribuição muscular do nervo no membro pélvico, a pele foi rebatida e os músculos foram dissecados e individualizados, sendo os mesmos seccionados quando houve necessidade para uma melhor visualização e individualização dos nervos. As estruturas foram registradas com auxílio digital Fujifilm 12.0 MP. A nomenclatura utilizada foi referida conforme International Commitee on Veterinary Gross Anatomical Nomenclature (2012). Resultados e Discussão No bicho-preguiça-de-garganta-marrom, o nervo isquiático se mostrou simétrico entre os antímeros direito e esquerdo. Ele é formado a partir de raízes ventrais oriundas da quarta vértebra lombar, da primeira, segunda e terceira vértebras sacrais e recebe um ramo do nervo obturador. A contribuição do ramo do nervo obturador na formação do nervo isquiático é observada em 30% dos suínos (CHAGAS et al., 2006). Outros estudos acerca da origem do nervo isquiático demonstraram resultados diferentes dos observados nesse estudo no bicho preguiça. Em fetos de suínos a origem se dá de L5 a S2 (SANTOS et al., 2013), no mão-pelada o nervo origina-se de L6 a S1 (PEREIRA et al., 2011), em fetos de bovinos azebuados de L5 a S3 (CAMPOS et al., 2003), os caprinos da raça Saanen tiveram a origem a partir de L6 a S3 (LIMA et al., 2008). O nervo isquiático nos animais estudados segue junto ao osso ílio, deixando a pelve pelo forame isquiático maior, estando assim de acordo com o descrito na literatura nos animais domésticos (GETTY, 1989; DYCE et al., 2004; KÖNIG e LIEBICH, 2011). O nervo isquiático, antes de atravessar o forame isquiático, emite um ramo, o nervo glúteo cranial que segue em direção aos músculos glúteo médio e profundo. A formação do nervo glúteo cranial a partir do nervo isquiático, corrobora com o observado em jaguatiricas (LOPES et al., 2012), mas difere do descrito em Tamandua tetradactyla (tamanduás-mirim) (CARDOSO et al., 2013), em Mymercophaga tridactyla (tamanduás-bandeira) (CRUZ et al., 2014), nos quais os autores descrevem a origem do nervo glúteo cranial, antes que o nervo isquiático tenha recebido todas as raízes para a sua formação. Após a passagem no forame isquiático o nervo emite dois ramos, um mais cranial e outro mais caudal, sendo eles o nervo glúteo caudal, que inerva os músculos Anais do 38º CBA, p.0215

4 gluteobiceps, semitendinoso e semimembranoso e o nervo cutâneo femoral caudal, que inerva os mesmos músculos do nervo glúteo caudal mais a pele, respectivamente. O surgimento dos nervos glúteo caudal e cutâneo femoral caudal como ramo do nervo isquiático observado neste estudo está de acordo ao observado por Lopes et al. (2012) e Cruz et al. (2014). Porém, em tamanduás-mirim (CARDOSO et al., 2013), esses nervos apresentaram o surgimento independente do nervo isquiático, diferenciando assim do que foi observado nos bichos-preguiça. De acordo com Pereira et al. (2011) em mãos-pelada, Lima et al. (2008) em caprinos da raça Saanen e Santos et al. (2013) em fetos de suínos, o nervo isquiático emite ramos para os músculos gluteobíceps, semitendinoso, semimembranoso, correspondente aos nervos glúteo caudal e cutâneo femoral caudal, que são ramos do nervo isquiático, inervando esses mesmo músculos identificados nesse estudo realizado nos bichos-preguiça. Logo após a emissão dos nervos glúteo caudal e cutâneo femoral caudal, o nervo isquiático, se divide em nervo fibular comum e nervo tibial ao nível da articulação coxofemoral. Essa divisão, ao mesmo nível da articulação coxofemoral, é descrita em equino por Dyce et al. (2004). Essa mesma divisão é descrito por Pereira et al. (2011) em mãos-pelada, porém nessa espécie foi observado que essa divisão ocorreu ao terço médio do fêmur, e em caprinos da raça Saanen essa divisão ocorre no terço distal do fêmur (LIMA et al., 2008). Conclusão O nervo isquiático nas preguiças origina-se das raízes ventrais de L4, S1, S2 e S3 e recebe um ramo no nervo obturador. Emite ramos que foram identificados como nervos glúteo cranial, glúteo caudal e cutâneo femoral caudal, para a inervação dos músculos glúteo médio, profundo, glúteo bíceps, semitendinoso, semimembranoso e a pele. Após a emissão desses ramos, ao nível da articulação coxofemoral, ele se bifurca em nervo fibular comum e tibial. Referências CAMPOS, D. B.; SILVA, F. O. C.; SEVERINO, R. S.; DRUMMOND, S.S.; LIMA, E. M. M.; BOMBONATO, P. P.; SANTANA, M. I. S. Origem e distribuição dos nervos isquiáticos em feto de bovinos azebuados. ARS Veterinária, v.19, n.3, p , CARDOSO, J. R.; SOUZA, P. R.; CRUZ, V. S.; BENETTI, E. J.; BRITO E SILVA, M. S.; MOREIRA, P. C.; CARDOSO, A. A. L.; MARTINS, A. K.; ABREU, T.; SIMÕES, Anais do 38º CBA, p.0216

5 K.; GUIMARÃES, F. R. Estudo anatômico de plexo lombossacral de Tamandua tetradactyla. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.65, n.6, p , CRUZ, V. S.; CARDOSO, J. R.; ARAÚJO, L. B. M.; SOUZA, P. R.; BORGES, N. C.; ARAÚJO, E. G. Aspectos anatômicos do plexo lombossacral de Myrmecophaga tridactyla (Linnaeus, 1758). Bioscience Journal, Umberlândia, v.30, n.1, p , DYCE, K. M.; SACK, W. O.; WENSING, C. J. G. Tratado de Anatomia Veterinária. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, 813p. GETTY, R. Sisson/Grossman anatomia dos animais domésticos. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 1986, 2000p. INTERNATIONAL COMMITTEE ON VETERINARY GROSS ANATOMICAL NOMENCLATURE. Nomina anatomica veterinaria. 5. ed. Hannover: Editorial Committee, p. KÖNIG, H. E.; LIEBICH, H. G. Anatomia dos Animais Domésticos Textos e Atlas Colorido. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011, 787p. LIMA, E. M. M.; SILVA, F. O. C.; SEVERINO, R. S.; DRUMMOND, S. S.; CAMPUS, D. B.; SANTANA, M. I. S.; MORAES, D. D. A. Origem e distribuição dos nervos isquiáticos em caprinos da raça Saanen. Ciência Rural, Santa Maria, v.38, n.2, p , LOPES, J. A.; FÉ, L. C. M.; LIMA, A. R.; PEREIRA, L. C.; BRANCO, E. Morfologia de plexo lombossacral da jaguatirica (Leopardus pardalis). Biotemas, Florianópolis, v.25, n.4, p , MEDRI, Í. M.; MOURÃO, G. M.; RODRIGUES, F. H. G. Ordem pilosa. REIS, N. R.; PERACCHI, A. L.; PEDRO, W. A.; LIMA, I. P. Mamíferos do Brasil, Londrina, Edição do Autor, p PEREIRA, K. F.; PARANAIBA, J. F. F. S.; HELRIGLE, C.; ARAÚJO, E. G. Origem e distribuição anatômica do nervo isquiático de mão-pelada. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.31, n.1, p74-78, SANTOS, L. A.; SILVA, F. O. C.; ROSA, L. A.; MENEZES, L. T.; CANABRAVA, A. C. M. N.; LIZANDRO, F. B.; SILVA, D. C. O.; SOUSA, G. C. Origem e distribuição do nervo isquiático em fetos de suínos (Sus scrofa domesticus Linnaeus, 1758) da linhagem Pen Ar Lan. Biotemas, Uberlândia, v.26, n.1, p , Anais do 38º CBA, p.0217