ACIDENTES DE TRABALHO ENVOLVENDO PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NO AMBIENTE HOSPITALAR: UM LEVANTAMENTO EM BANCO DE DADOS

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Transcrição:

176 ACIDENTES DE TRABALHO ENVOLVENDO PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NO AMBIENTE HOSPITALAR: UM LEVANTAMENTO EM BANCO DE DADOS INDUSTRIAL ACCIDENTS INVOLVING NURSING PROFESSIONALS IN THE HOSPITAL ENVIRONMENT: A DATABASE SURVEY Mônica Arruda Barbosa Acadêmica de do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UnilesteMG. Verônica Leite Figueiredo Acadêmica de do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UnilesteMG. veronicadivinolandia@msn.com Maione Silva Louzada Paes. Especialista em enfermagem do trabalho. Docente do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UnilesteMG. RESUMO Em prol do cuidar a equipe de enfermagem realiza atividades que exigem grande aproximação física com o paciente, manipulam materiais perfurocortantes contaminados por sangue e fluidos corporais, convivem em um ambiente carregado de dor e sofrimento e lidam com a morte a todo momento. Situações como estas fazem com que esses profissionais fiquem expostos a vários fatores de riscos que podem comprometer a sua saúde e ser um facilitador para a ocorrência do acidente de trabalho. Esta pesquisa objetivou fazer um levantamento bibliográfico sobre os acidentes envolvendo a equipe de enfermagem. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, onde foi utilizado como fonte de pesquisa a Biblioteca Virtual em Saúde na base de dados do LILACS. Realizou-se um levantamento da produção científica dos últimos 5 anos, onde foram encontrados 26 artigos. Destes 10 foram analisados. Os demais foram excluídos por se tratarem de outras categorias profissionais. Os resultados demonstraram que a maioria dos acidentes ocorridos com a equipe de enfermagem aconteceu com materiais perfurocortantes, envolvendo principalmente os auxiliares de enfermagem, sendo os dedos das mãos a parte mais atingida. A pesquisa evidenciou um grande número de acidentes de trabalho envolvendo a equipe de enfermagem, que é uma categoria imprescindível na assistência hospitalar. Deste modo ressalta-se a necessidade de uma maior atenção a estes trabalhadores, visando preservar a sua saúde e integridade favorecendo assim a qualidade de vida em seu trabalho. PALAVRAS-CHAVE: Acidente de Trabalho.. Unidades Hospitalares. ABSTRACT In favor of taking care, the nursing team carries through activities that demand great physical approach with the patient. They manipulate perforate cutting materials contaminated by blood and corporal fluids, they also share a loaded pain environment and suffering dealing with death at all times. Situations like these expose these professionals to some factors of risks that may compromise their health and easy the industrial accident occurrence. This research objectified to make a bibliographical survey on the accidents involving the nursing team. It refers to a bibliographical research, where the Health Virtual Library in LILACS database was used as a research source. A survey of the scientific production of the last 5 years was carried out, where 26 articles had been found. From these, 10 had been analyzed. The rest were excluded

177 because they are dealing with other professional categories. The results had demonstrated that the majority of the accidents occurred with the nursing team happened with perforate cutting materials, involving the nurse aid mainly, being the fingers the most reached part. The research evidenced a great number of industrial accidents involving the nursing team, which is an essential category in the hospital assistance. This way, it is highlighted the necessity of a bigger attention to these workers, aiming to preserve their health and integrity thus favoring the life quality in their work. KEY WORDS: Industrial Accident. Nursing. Hospital Units. INTRODUÇÃO Os hospitais são instituições que prestam serviços a saúde a fim de atender, tratar e curar pacientes de diversas patologias. É um ambiente que expõe os trabalhadores a uma série de riscos que podem ocasionar acidente de trabalho (AT), doença profissional e doença de trabalho (RUIZ; BARBOZA; SOLER, 2004). Dentre os diversos profissionais que atuam na assistência hospitalar a equipe de enfermagem de acordo com Barboza e Soler (2003) é a equipe de maior representatividade profissional dentro de uma Unidade hospitalar. De acordo com a Lei n. 7.498 de 25 de junho de 1986 do Conselho Federal de o serviço de enfermagem é praticado pelo enfermeiro, técnico de enfermagem e auxiliar de enfermagem de acordo com o grau de capacitação (COFEN, 1986). Segundo a Resolução n. 311 de 8 de fevereiro de 2007 do Conselho Federal de (COFEN, 2007) os profissionais de enfermagem praticam ações voltadas para uma melhor qualidade de vida da pessoa, família e coletividade. Compete exclusivamente ao enfermeiro a direção do ambiente de trabalho, supervisão da equipe de enfermagem, planejar, organizar, coordenar e avaliar o serviço de assistência a enfermagem, consulta de enfermagem, prescrição da assistência de enfermagem e todas as atividades de maior complexidade que exigem maior conhecimento e capacidade de tomar decisões imediatas (COFEN, 1986). O técnico de enfermagem realiza ações de nível médio, prestando assistência de enfermagem com exceção das atividades privativas do enfermeiro. O auxiliar de enfermagem pratica atividade de nível médio caracterizado pela repetitividade das ações e executa procedimentos simples durante a assistência de pacientes (COFEN, 1986). Os trabalhadores de enfermagem inseridos na atividade de prestação de serviço de saúde executam atividades que requerem grande proximidade física com o cliente devido à característica do cuidar. Esses profissionais encontramse expostos a vários fatores de riscos causadores de acidentes de trabalho. Os riscos podem ser físicos, químicos, mecânicos, biológicos, ergonômicos e psicossociais, que podem ocasionar doenças ocupacionais e acidentes de trabalho.

178 Além destes riscos, muitas outras variáveis contribuem para a ocorrência de acidentes com a equipe de enfermagem: falta de capacitação, inexperiência, indisponibilidade de equipamento de segurança, cansaço, dupla jornada de trabalho, distúrbios emocionais, excesso de autoconfiança, falta de organização do serviço, trabalho em turnos, desequilíbrio emocional em situações de emergência, tecnologia crescente de alta complexidade (MARZIALE; RODRIGUES, 2002). Considera-se acidente de trabalho quando existe uma colisão entre pessoa e um objeto agressor causando danos corporais acarretando em longo prazo doença ocupacional (MIRANDA,1998 apud ALMEIDA; PAGLIUCA; LEITE, 2005). Segundo dados do Ministério da Saúde os fatores que mais contribuem para a ocorrência do acidente de trabalho são o espaço de trabalho com estrutura física inadequada, a falta de proteção em máquinas perigosas, as ferramentas defeituosas, possibilidade de incêndio e explosão, esforço físico intenso, levantamento manual de peso, posturas e posições inadequadas, pressão do empregador por produtividade, ritmo acelerado na realização das tarefas, repetitividade de movimento, extensa jornada de trabalho com frequentes realizações de hora-extra, pausa inexistente, e presença de substâncias tóxicas (BRASIL, 2002). Considera-se acidente de trabalho o acidente sofrido pelo trabalhador a serviço da empresa na realização do trabalho ocasionando danos corporais, perturbação funcional ou doença que cause a morte, perda ou redução temporária ou permanente da capacidade para exercício do trabalho. São considerados, ainda, como AT os acidentes de trajeto e as doenças ocupacionais (TORTORELLO, 1996). Dados estatísticos retratam que a incidência de acidentes na área da saúde teve um acréscimo entre o ano 2002 a 2004 de 25,5% o que equivale a um aumento de 25.906 para 32.779 casos (VIEGAS, 2007). É importante ressaltar que os acidentes sofridos pelos trabalhadores, no horário ou local de trabalho, devido agressões praticados por terceiros ou colegas de trabalho também são considerados acidentes de trabalho Assim como aqueles acidentes sofridos fora do local e horário de trabalho, desde que o trabalhador esteja executando ordens ou serviços para a empresa (BRASIL, 2000). No Brasil, o acidente de trabalho deve ser comunicado logo após sua ocorrência através da emissão da Comunicação do Acidente de Trabalho (CAT), sendo encaminhada à Previdência Social ao acidentado, ao sindicato da categoria respondente ao hospital, ao Sistema Único de Saúde (SUS) e ao Ministério do Trabalho (MARZIALE; RODRIGUES, 2002). Apesar da importância do problema, pouca atenção tem sido dada aos riscos de acidente de trabalho, doenças ocupacionais e notificação de acidentes envolvendo os profissionais de saúde. Mesmo sendo obrigatória a emissão da comunicação do acidente de trabalho, observa-se na prática a subnotificação dos acidentes de trabalho, por parte dos funcionários acometidos pelos acidentes que as vezes ignoram as pequenas lesões por desconhecimento da importância da emissão deste documento.

179 Diante do elevado número de ATs surgiu o interesse e necessidade de proporcionar aos profissionais de saúde melhores informações sobre a ocorrência e fatores que desencadeiam os acidentes. O trabalho possibilitará uma maior reflexão da comunidade científica e da população sobre como se caracteriza o trabalho da equipe de enfermagem em relação aos riscos que o ambiente de trabalho destes profissionais pode oferecer, assim como demonstrará o número de ocorrências de acidente de trabalho entre os profissionais de enfermagem no ambiente hospitalar. Deste modo, a pesquisa objetiva fazer um levantamento bibliográfico sobre os acidentes de trabalho envolvendo a equipe de enfermagem. METODOLOGIA O estudo teve delineamento de uma pesquisa bibliográfica. Realizou-se um levantamento bibliográfico retrospectivo, dos últimos cinco anos no banco de dados da Biblioteca Virtual em Saúde, utilizando como descritores: saúde do trabalhador, enfermagem e acidente de trabalho refinado por espécie humana, ano de publicação 2004 a agosto de 2008, idioma português, tipo de publicação artigo de revista científica limitando-se a trabalhos completos disponíveis. A coleta dos artigos científicos foi realizada em agosto de 2008. Na busca dos artigos, foram encontrados 26 em texto completo na base de dados da Revista Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), destes foram utilizados para análise 10 artigos que se referiam aos acidentes de trabalho envolvendo profissionais de enfermagem. Os artigos utilizados foram escritos por enfermeiros. O número de artigos excluídos totalizou 16, sendo aqueles que relatavam acidentes envolvendo trabalhadores em geral, como dentistas, soldados, moto-boys, motociclistas, trabalhadores rurais, meio ambiente, animais aquáticos, produto químico e acidentes com pacientes. RESULTADOS E DISCUSSÃO Através da análise dos artigos foi possível identificar e delimitar categorias temáticas relacionadas aos acidentes de trabalho envolvendo a equipe de enfermagem, entre elas, podem ser citadas: conceito de acidente de trabalho, riscos ocupacionais, discriminação dos tipos de acidentes, local do corpo atingido, causas dos acidentes de trabalho e conduta após os AT. Na TAB. 1 pode ser visualizado a frequência das categorias temáticas que foram encontradas nos artigos. TABELA 1 Temas abordados e frequência que foram objeto de estudo nos artigos de 2004 a 2007 Tema Frequência Riscos ocupacionais...9 Causas dos acidentes de trabalho...8 Discriminação dos tipos de acidentes...8 Conduta após os acidentes de trabalho...6 Local do corpo atingido...6 Conceito de acidente de trabalho...3

180 Entre os temas encontrados o que mais se destacou foi quanto aos riscos ocupacionais que apareceu nove vezes nos artigos. A TAB. 2 demonstra a identificação dos artigos, de acordo com o título, nome da revista, local de publicação, ano de publicação, autores, profissão dos autores e palavras-chave. Foi feita leitura e análise dos artigos selecionados, visando ordenar as informações e contribuições dos estudos sobre os acidentes de trabalho envolvendo a equipe de enfermagem.

181 TABELA 1 Caracterização dos artigos encontrados na Biblioteca Virtual em Saúde Titulo Nome da Revista Publicação Ano Autores Profissão dos autores Palavras-chave Exposições ocupacionais por fluidos corpóreos entre trabalhadores da saúde e sua adesão à quimioprofilaxia Perfil dos acidentes de trabalho no hospital universitário de Brasília Revista Escola USP São Paulo 2007 Clara Alice Franco de Almeida Maria Cecília Cardoso Benatti Revista Brasileira de Brasília 2007 Diana Lúcia Moura Pinho Cristiane Meideiros Rodrigues Glaicy Pinheiro Gomes Quimiopreveção Anti-retrovirais Acidentes de trabalho Pessoal da saúde Saúde ocupacional Trabalho Ergonomia Perfil Hospital Acidentes de trabalho com trabalhadores de enfermagem Revista Brasileira de Brasília 2007 Emilio José Gonçalves Ribeiro Helena Eri Shimizu Enfermeiro Trabalhadores Riscos ocupacionais Acidentes com material perfurocortante: conhecendo os sentimentos e as emoções dos profissionais de enfermagem Estudo sobre os acidentes de trabalho com exposição aos líquidos corporais humanos em trabalhadores da saúde de um hospital universitário Escola Anna Nery R Rio de Janeiro 2007 Fernanda Aragão Lima Revista Latino Americana Patrícia Neyva da Costa Pinheiro Neiva Francenely Cunha Vieira Ribeirão Preto 2006 Ana Cristina Bálsamo Vanda Elisa Andrés Felli Educação em Efermagem Riscos Oupacionais Equipamentos e Povisões Acidentes de trabalho Riscos ocupacionais Saúde ocupacional ocupacional Acidentes de trabalho envolvendo os olhos: avaliação de riscos ocupacionais com trabalhadores de enfermagem Revista Latino Americana Ceará 2005 Cristiana Brasil de Almeida Lorita Marlena Freitag Pagliuca Ana Lurdes Almeida e Silva Leite Saúde ocular Trabalhadores Riscos ocupacionais Ocorrência de Acidente do trabalho em uma unidade de terapia intensiva Revista Latino Americana Ribeirão Preto 2004 Vera Médice Nishide Maria Cecília Cardoso Benatti Neusa Maria Costa Alexandre Hospitais Saúde ocupacional Acidentes do trabalho Unidade de terapia intensiva Acidentes de Trabalho com pérfurocortante envolvendo a equipe de enfermagem de um hospital de ensino Riscos de contaminação ocasionados por acidentes de trabalho com material-pérfuro cortante entre trabalhadores de enfermagem Acidentes de trabalho com material perfurocortante em profissionais da equipe de enfermagem da rede hospitalar pública de Rio Branco-Acre- Brasil Arq Ciênc Saude 2004 Denise B. Barboza Revista Latino Americana Zaida A. S. G. Soler Luiz A. S. Ciorlia Ribeirão Preto 2004 Maria Helena Palucci Marziale Kariana Yukari Namioka Nishimura Mônica Miguel Ferreira 2004 Akerna Cristini de Moura Pereira Andréa Ramos da Silva Cícero Francalino da Rocha Médico Graduanda em Graduanda em Graduada em Graduada em Graduada em Pérfuro-cortante Acidente de Trabalho Exercício da enfermagem Acidente de trabalho Riscos ocupacionais Acidente do trabalho Saúde do trabalhador Saúde ocupacional Iara Soares Cordeiro Graduada em Creso Machado Lopes RN, PhD

182 A equipe de enfermagem atuante no ambiente hospitalar merece atenção, pois encontra-se expostoa a riscos biológicos, químicos, físicos entre outros que podem comprometer a saúde do trabalhador (ALMEIDA; PAGLIUCA; LEITE, 2005). A equipe de saúde de uma Unidade hospitalar é composta por diversos profissionais, entre eles merece destaque a equipe de enfermagem que geralmente representa um grande número de funcionários. Para Ribeiro e Shimizu (2007), os trabalhadores de enfermagem ao manusearem seus instrumentos de trabalho, tais como medicamentos, soluções, desinfetantes, desincrostantes, anti-sépticos, quimioterápicos, gases analgésicos, entre outros, se expõem constantemente aos riscos químicos. Ribeiro e Shimizu (2007) ainda caracterizam a exposição dos enfermeiros ao risco mecânico no transporte de pacientes, postura inadequada sendo prejudicial à saúde do trabalhador podendo ocasionar doenças ostearticulares com limitação física, já o risco psicossocial é decorrente das atividades diárias como óbito de pacientes, tensão, estresse, fadiga e baixos salários. Pinho, Rodrigues e Gomes (2007) enfatizam que os baixos salários pagos aos trabalhadores de enfermagem fazem com que alguns destes profissionais mantenham dois ou mais empregos, tornando-os menos atentos ao executarem suas tarefas, gerando assim fortes pressões físicas e emocionais. Pereira et al (2004) relatam em sua pesquisa realizada em Brasília-DF no Hospital Público e Universitário a categoria de maior representatividade profissional foi a da enfermagem, totalizando 126 trabalhadores, destes 90 (70,4%) possui apenas um emprego, 31 (24,6%) possui dois empregos e 5 (4,0%) possui mais de dois empregos, constataram também que dos 126 sujeitos, 76 (60,3%) são auxiliares de enfermagem, 36 (28,6%) enfermeiros e 14 (11,1%) técnicos de enfermagem. O fato do trabalhador possuir mais de um vínculo empregatício pode ser um fator contribuinte para a ocorrência do acidente de trabalho, devido a sobrecarga de trabalho. A equipe de enfermagem comparada com outras categorias profissionais sofre acidentes com maior frequência por exercerem atividades que exigem maior proximidade física com pacientes (RIBEIRO; SHIMIZU, 2007). Pinho, Rodrigues e Gomes (2007) afirmam que a categoria profissional mais acometida por acidente de trabalho foi a equipe de enfermagem com 32,85% dos casos. Estudo realizado com trabalhadores do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo demonstrou que na equipe de enfermagem predominou trabalhadores do gênero feminino, sendo 83,3% do total de trabalhadores e 16,7% do gênero masculino. A mulher insere-se no mercado de trabalho para melhorar a renda familiar enfrentando dupla ou tripla jornada de trabalho acarretando desgaste físico e emocional (BALSAMO; FELLI, 2006). Analisando a equipe de enfermagem notou-se que os técnicos e auxiliares são os profissionais que durante a jornada de trabalho estão mais expostos a riscos devido à caracterização de suas atividades como a promoção da higiene e conforto do paciente, organização do ambiente de trabalho, controle de materiais, desprezo de urina, drenagens e secreções de frascos coletores (NISHIDE; BENATTI; ALEXANDRE, 2004).

183 Durante a prestação de serviços, os profissionais de enfermagem encontram-se expostos aos riscos biológicos devido a manipulação de materiais contaminados, secreções e fluidos corporais. A equipe de enfermagem realiza vários procedimentos invasivos como a administração de medicamentos, soroterapia, manipulação constante de agulhas e scalps, os que os tornam mais susceptíveis a ocorrência de acidentes. Em um estudo realizado com profissionais de enfermagem nas clínicas médicas e cirúrgicas dos hospitais gerais de Rio Branco-Acre constatou-se que a maior incidência de acidentes de trabalho ocorre com materiais perfurocortantes, sendo que 52,2% ocorreram com agulha de seringa, 28,3% com scalps e 19,5% por abocath, bisturi, ampola, agulha de raqui, gilete, instrumental cirúrgico e lanceta (PEREIRA et al, 2004). Marziale, Nishimura e Ferreira (2004) constataram que o maior número de acidentes ocorridos em quatro hospitais da região de Ribeirão Preto-SP no ano de 1999 foi com a equipe de enfermagem na execução de procedimentos de punção venosa, administração de medicações subcutânea e soroterapia. Balsamo e Felli (2006) também encontraram resultados semelhantes, identificaram que dos 87,50% acidentes ocorridos com perfurocortantes, 35% dos casos aconteceram com scalps e agulhas de injeção e dentre estes, em 73% houve presença de sangue. Na pesquisa de Pereira et al (2004), 70,3% dos acidentes sofridos pelos profissionais de enfermagem foi causado por agulhas e scalps. De acordo com os acidentes ocorridos com 68 trabalhadores de enfermagem, 50% destes ocorreu durante o contato de pele e mucosa com sangue e secreções seguido por 40% de ferimentos por material perfurocortante, 7% de queda por piso molhado e 3% por esforço físico (BALSAMO; FELLI, 2006). Nishide, Benatti e Alexandre (2004) verificaram que entre os acidentes ocorridos com a equipe de enfermagem, 60% aconteceram durante a realização de procedimentos a beira do leito, 23% no posto de enfermagem durante a preparação de medicações, 10% ao desprezarem excretas, 7% no corredor por piso molhado e 6% ocorreram durante assistência a pacientes obesos e agitados Pesquisa realizada com 68 membros da equipe de enfermagem demonstrou que 30 profissionais sofreram acidente de trabalho, sendo que a categoria profissional mais acometida foi auxiliar de enfermagem 48%, seguindo pelo enfermeiro 43% e o técnico de enfermagem com 39% (NISHIDE; BENATTI; ALEXANDRE, 2004). Barboza, Soler e Ciorlia (2004) demonstram que dos 272 acidentes ocorridos entre os participantes de sua pesquisa, 208 (76,5%) envolveram os auxiliares de enfermagem, 48 (17,6%) atendentes de enfermagem e 16 (5,9%) enfermeiros. Dentre os acidentes 190 (69,6%) ocorreram com perfurocortantes e atingiram a região dos dedos, 50 (18,6%) atingiram as mucosas e 25 (9,2%) atingiram as mãos. Pinho, Rodrigues e Gomes (2007) demonstram dados semelhantes, revelando que a região do corpo mais afetada foram as mãos, representando 63,20% dos casos. Em relação aos turnos de trabalho e a ocorrência de acidentes, no turno matutino houve a maior quantidade, seguido do vespertino e noturno (ALMEIDA; BENATTI, 2007; RIBEIRO; SHIMIZU, 2007). Isto é evidenciado no estudo de Barboza, Soler e Ciorlia (2004) onde no horário da manhã ocorreram 116 acidentes (42,65%), seguido

184 por 79 (29,1%) no período vespertino e 77 (28,3%) no período noturno. Pereira et al.(2004) em sua pesquisa realizada no Acre também demonstra esta divisão, onde afirma que 29 (45,3%) acidentes ocorrem no período matutino, 17 (26,6%) no período noturno e 7 (10,9%) vespertino. A análise dos artigos permitiu identificar que a clínica médica, cirúrgica e o pronto atendimento foram os locais onde houve o registro de maior prevalência dos acidentes no ambiente hospitalar (BARBOZA; SOLER; CIORLIA, 2004; PEREIRA et al, 2004; MARZIALE, NISHIMURA; FERREIRA, 2004; PINHO; BALSAMO; FELLI, 2006; RIBEIRO; SHIMIZU, 2007; PINHO; RODRIGUES; GOMES, 2007). Balsamo e Felli (2006) em sua pesquisa, os profissionais de enfermagem foram questionados sobre a causa do acidente, 19,64% afirmaram não ter causa definida para a ocorrência do acidente, 16,7% atribuíram a falta de atenção e cuidado do trabalhador, em sequência os trabalhadores atribuíram a pressa, sobrecarga de trabalho, não viu o perfurocortante e a falta de funcionário. Notou-se que os trabalhadores após acidente com material perfurocortante adotaram tais condutas: 14 (21%) fizeram assepsia no local da lesão e comunicaram a comissão de controle de infecção hospitalar, 10 (15,6%) fizeram apenas assepsia, 8 (13,5%) comunicaram a enfermeira, 31 (49,9%) tomaram diversas providencias e um trabalhador não adotou nenhuma medida (PEREIRA et al, 2004). Na ocasião de um acidentes de trabalho várias medidas precisam ser tomadas tanto assistenciais quanto administrativas, por isso a conduta a ser adotada depende das características do acidente. Marziale, Nishimura e Ferreira (2004) relatam que as condutas aderidas após a ocorrência do acidente dependem do volume de inoculação, profundidade da penetração da agulha ou objeto cortante ou penetrante, tipo e formato da agulha, características do paciente fonte, inoculação de sangue e imunidade do trabalhador. É recomendada após ocorrência do acidente com material perfurocortante a limpeza da área afetada, pressionar o local afetado provocando a saída do sangue; descrever o acidente para o departamento de saúde dos empregados ou com serviço de comissão hospitalar; o acidentado deve realizar o teste para identificação da presença de vírus da hepatite B (HBsAg) e anticorpos do vírus da Imunodeficiência Humana (HIV); avaliar se possível o paciente fonte e o objeto causador do acidente. Caso os resultados dos testes identifiquem a presença de contaminação, o trabalhador irá se submeter a quimioprofilaxia (PEREIRA et al, 2004). Nem sempre as medidas profiláticas adotadas após a exposição do profissional ao acidente são totalmente eficazes, sendo necessárias ações educativas permanentes aos profissionais de enfermagem, incentivando os mesmos a utilizarem os equipamentos de proteção individual de forma correta durante a realização de suas atividades, sendo o mais indicado para prevenir a ocorrência de possível contaminação pelo vírus HIV e Hepatite B no ambiente ocupacional (ALMEIDA; PAGLIUCA; LEITE, 2005). A notificação do acidente de trabalho através da CAT é de extrema importância. Pereira et al (2004), enfatizam que este procedimento garante ao trabalhador o direito de receber avaliação médica, tratamento especializado e benefícios trabalhistas. Mas

185 apesar da legalidade da emissão da CAT, Pereira et al (2004) constataram em sua pesquisa que 14 (35,8%) dos trabalhadores pesquisados desconheciam sobre a obrigatoriedade e importância de notificar o acidente. Para Nishide, Benatti e Alexandre (2004), a subnotificação é comum e os acidentados apresentam justificativas como: por acreditarem que não teriam riscos de contaminação, pois o acidente ocorreu no preparo do medicamento 28%; contato com material biológico em pele íntegra 24%; não oferece risco de contaminação, muita burocracia 12%; acidente não grave 12%; desinteresse 8%; plantonista descartou necessidade, medo 4% e intercorrências durante o plantão 4%. Verificou-se que dos 64 acidentes sofridos com material perfurocortante 39 (60,9%) acidentados não notificaram, destes 14 (35,8%) não fizeram porque desconheciam a necessidade de notificar, 10 (25,6%) julgaram desnecessário e 15 (38,6%) participantes apontaram motivos como: falta de tempo, paciente fonte tinha sorologia negativa. Apenas 25 (39,1%) notificaram o acidente (PEREIRA et al, 2004). Diante do elevado número de acidente da equipe de enfermagem com perfurocortante e a realidade da subnotificação desses acidentes, os profissionais precisam de condições seguras para realização de suas atividades, bem como conscientizar-se da necessidade de notificar os acidentes, garantindo assim a seguridade de seus direitos (PEREIRA et al, 2004). Pinho, Rodrigues e Gomes (2007) identificaram a necessidade de uma nova reestruturação das informações contidas no impresso utilizado para notificação do acidente, pois notou-se que as informações contidas não eram suficientes para uma boa análise do evento. Na prática do cuidar, os trabalhadores de enfermagem atuam manipulando agulhas e materiais cortantes, o número de acidentes divulgado envolvendo estes profissionais e a gravidade do desenvolvimento das doenças, demonstram a necessidade dos hospitais implantarem medidas para minimizar o problema, incentivando os trabalhadores acidentados a notificarem o acidente e facilitar para que os mesmos encaminhados ao serviço especializado compareçam a todos os retornos agendados. Nota-se a necessidade de criar meios que incentivem os profissionais a prevenirem o acidente no seu ambiente de trabalho (MARZIALE; NISHIMURA; FERREIRA, 2004). CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante dos resultados encontrados evidenciou-se que entre os profissionais de enfermagem os auxiliares são a categoria que mais sofrem acidentes de trabalho onde se destaca os ocorridos com materiais perfurocortantes e em relação ao turno de trabalho os acidentes acontecem com maior frequência no período da manhã. Ressalta-se que a maioria dos profissionais de enfermagem desconhecem a necessidade de notificação do AT, ocorrendo uma subnotificação das lesões e agravos que acontecem comumente no trabalho da enfermagem. Evidencia-se a necessidade de criação de estratégias direcionadas à estes profissionais, visando a prevenção de acidentes durante as atividades laborais,

186 algumas condutas podem ser adotadas tendo esta finalidade, como a melhor organização de políticas públicas direcionadas aos profissionais da saúde, maior intervenção dos órgãos competentes e Conselhos da nesta temática e a nível institucional os hospitais poderiam estabelecer uma política permanente de educação e capacitação de seus funcionários, enfocando a enfermagem que tem grande representatividade na assistência. Espera-se que outras pesquisas sejam realizadas nesta temática, visando apresentar os riscos que os profissionais de enfermagem estão submetidos em seu trabalho para que desperte de modo geral a necessidade de mudança neste cenário para que a promoção da saúde desta categoria de fato seja realizada. REFERÊNCIAS ALMEIDA, C. A. F.; BENATTI, M. C. C. Exposições ocupacionais por fluidos corpóreos entre trabalhadores da saúde e sua adesão à quimioprofilaxia. Revista Escola USP, São Paulo, v. 41, n. 1, p. 120-126, mar. 2007. ALMEIDA, C. B.; PAGLIUCA, L. M. F.; LEITE, A. L. S. Acidentes de trabalho envolvendo os olhos: avaliação de riscos ocupacionais com trabalhadores de enfermagem. Revista Latino-Americana de, Ribeirão Preto, v. 13, n. 5, p. 708-716, set/out. 2005. BALSAMO, A. C.; FELLI, V. E. A. Estudo sobre os acidentes de trabalho com exposição aos líquidos corporais humanos em trabalhadores da saúde de um hospital universitário. Revista Latino-Americana de, v. 14, n. 3, p. 346-353, maio/jun. 2006. BARBOZA, D. B.; SOLER, Z. A. S. G. Afastamentos do trabalho na enfermagem: ocorrências com trabalhadores de um hospital de ensino. Revista Latino Americana., v. 11, n. 2, p. 177-183, mar./abr. 2003. BARBOZA, D. B.; SOLER, Z. A. S. G.; CIORLIA, L. A. S. Acidentes de trabalho com pérfuro-cortante envolvendo a equipe de enfermagem de um hospital de ensino. Arquivo ciências da Saúde, v. 11, n. 2, p. 2-8, abr./jun. 2004. BRASIL. Cadernos de Atenção Básica. Saúde do Trabalhador. N. 05. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. COFEN. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Lei n. 7.498 de 25 de junho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras providências. Disponível em: <http://www.abennacional.org.br/download/leiprofissional.pdf>. Acesso em: 09 set. 2008.

187 BRASIL. Ministério da Saúde. Organização Pan América da Saúde. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde/ministério da saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2000. COFEN. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução n. 311 de 8 de fevereiro de 2007. Apresenta o Código de ética dos profissionais de enfermagem. Disponível em: <http://www.coren-rj.org.br/site/resolucoes/res_cofen_311-2007.pdf >. Acesso em: 09 set. 2008. MARZIALE, M. H. P.; NISHIMURA, K. Y. N.; FERREIRA, M. M. Riscos de contaminação ocasionados por acidentes de trabalho com material pérfurocortante entre trabalhadores de enfermagem. Revista Latino-Americana de, Ribeirão Preto. v. 12, n. 1, p. 36-42, jan./fev. 2004. MARZIALE, M. H. P.; RODRIGUES, C. M. A produção cientifica sobre os acidentes de trabalho com material perfuro cortante entre trabalhadores de enfermagem. Revista Latino-Americana de, Ribeirão Preto, v. 12, n. 1, p. 571-577, jan./fev. 2002. NISHIDE, V. M.; BENATTI, M. C. C.; ALEXANDRE, N. M. C. Ocorrência de acidente do trabalho em uma unidade de terapia intensiva. Revista Latino-Americana de, Ribeirão Preto, v. 12, n. 2, p. 204-211, mar./abr. 2004. PEREIRA, A. C. M.; SILVA, A. R.; ROCHA, C. F.; CORDEIRO, I. S.; LOPES, C. M. Acidentes de trabalho com material perfurocortante em profissionais da equipe de enfermagem da rede hospitalar pública de Rio Branco - Acre Brasil, dez. 2004. Disponível em: < http://www.uff.br/nepae/objn303pereiraetal.htm>. Acesso em: 06 ago. 2008. PINHO, D. L. M.; RODRIGUES, C. M.; GOMES, G. P. Perfil dos acidentes de trabalho no Hospital Universitário de Brasília. Revista brasileira, Brasília, v. 60, n. 3, p. 291-294, maio/jun. 2007. RIBEIRO, E. J. G.; SHIMIZU, H. E. Acidentes de trabalho com trabalhadores de enfermagem. Revista Brasileira, Brasília, v. 60, n. 5, p. 535-540, set./out. 2007. RUIZ, M. T.; BARBOZA, D. B.; SOLER, Z. A. S. G. Acidente de trabalho: um estudo sobre esta ocorrência em um hospital geral. Revista Arquivo Ciência Saúde, Ribeirão Preto, v. 11, n. 5, p. 119-124, out./dez. 2004. VIEGAS, C. Trabalhador 24 horas. Revista Proteção, jan. 2007. TORTORELLO. J. A. Acidentes do Trabalho: Teoria e Prática. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 1996.