01907 ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO SOBRE O TEMA BENEFÍCIOS LÍQUIDOS DA RECUPERAÇÃO DO SOLO Donizeti Aparecido Mello FCA/UNESP Botucatu/FATEC Ourinhos/SP RESUMO Entre os Cursos Superiores de Tecnologia, o de Agronegócio, oferecido pelo Centro Paula Souza, na unidade de Ourinhos/SP, município localizado no interior do estado de São Paulo, tem por objetivo viabilizar soluções tecnológicas para o desenvolvimento de negócios no meio rural. Para tanto, as disciplinas da grade curricular do curso encaminham conteúdos e atividades que permitem análises de viabilidade econômica, identificação de alternativas de captação de recursos, beneficiamento, logística e comercialização de produtos agrícolas, a partir do domínio dos processos de gestão e das cadeias produtivas. O objetivo deste texto é apresentar como desenvolvemos um encaminhamento didático relacionado ao tema benefícios líquidos da recuperação do solo, junto aos alunos da disciplina de Custos e orçamentos no Agronegócio, no ano de 2013, apresentando uma reflexão sobre os desafios de o professor buscar alternativas metodológicas adequadas na relação com o cotidiano de suas práticas e a sociedade. Encontramos nos pressupostos da Didática para a Pedagogia Histórico-crítica uma possibilidade de desenvolver o processo de ensinar e aprender articulado com os problemas da sociedade em que vivemos. Nossa intencionalidade didática, definida a partir do mundo rural e aplicada em cinco momentos articulados e ancorados em Saviani e Gasparin, envolve a reflexão sobre O que um curso que forma tecnólogos em Agronegócios pode contribuir para que tenhamos melhores relações entre o homem e a natureza?. Concluímos que em decorrência da metodologia dialética os alunos podem aplicar no futuro campo profissional a utilização do solo de maneira racional e consciente, auxiliando os produtores rurais na solução de possível problema na queda na produção de maneira harmoniosa, o que diminui o risco econômico e financeiro. Palavras-chave: Curso de Agronegócio; sequência didática; meio ambiente Introdução O curso de Agronegócio é oferecido pelo Centro Paula Souza, vinculado à Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo. Na unidade de Ourinhos/SP o curso teve início em 2008 e tem por objetivo viabilizar soluções tecnológicas competitivas para o desenvolvimento de negócios na agropecuária. Para tanto, as disciplinas da grade curricular do curso encaminham conteúdos e atividades que permitem análises de viabilidade econômica, identificação de alternativas de captação de recursos, beneficiamento, logística e comercialização de produtos agrícolas, a partir do domínio dos processos de gestão e das cadeias produtivas.
01908 Enquanto docente da disciplina de Custos e orçamentos no Agronegócio buscando encaminhamentos didáticos para o desenvolvimento das aulas, encontramos na metodologia dialética, especialmente nas premissas da Pedagogia Histórico-crítica, um caminho possível. Tal metodologia prevê a problematização das práticas sociais como ponto de partida - e de chegada - para a construção de conceitos pertinentes a temática de ensino. 1. Problematizando o tema benefícios líquidos da recuperação do solo nas aulas do curso de Agronegócio da FATEC, campus de Ourinhos/SP Quando abordamos nas aulas o tema benefícios líquidos da recuperação do solo, temos a preocupação de destacar as vantagens ambientais da diminuição do uso de insumos químicos quando se realiza a rotatividade de culturas, pois, consideramos importante que o futuro profissional tenha elementos que possibilitem elaborar estratégias e análises econômicas que considerem o fator ambiental, no uso racional dos recursos naturais. Assim, na problematização da aula (ou da sequência didática) encaminhamos as seguintes questões: 1) O que são custos no Agronegócio, quais os elementos que os constituem e como se classificam? 2) O que significa rotação de cultura? Quais são as vantagens e desvantagens desse processo? 3) Sabendo que os benefícios econômicos da rotação de cultura, podem ser observados apenas a longo prazo, pois, a produtividade dos produtos agrícolas não é estática e a forma de contabilizar os custos podem simplesmente não contemplar as perdas do solo como, por exemplo, a erosão, a salinização, a deteriorização e a contaminação dos recursos naturais, qual sua análise sobre a questão? 4) Você conhece alguma situação em que o produtor agrícola sofreu algum tipo de problema em consequência do uso inadequado do solo? Para teorizar sobre essas questões problematizadoras, buscamos referenciais de diferentes áreas do conhecimento. Por meio deles, tanto o professor responsável pela disciplina quanto os alunos puderam investigar, detalhar e refletir sobre as questões
01909 elencadas. Os resultados obtidos até o momento permitiram sistematizar as observações que apresentamos na sequência, desenvolvida com 56 alunos, no ano de 2013. 2. Instrumentalizando a aula (ou a sequência didática) O planejamento da aula na perspectiva da Pedagogia Histórico-crítica, conforme Saviani (2008a; 2008b), possibilita que as questões relativas ao seu ensino sejam pensadas de acordo com uma metodologia que sugere uma didática a partir de cinco momentos articulados, a saber: prática social inicial, problematização, instrumentalização, catarse e prática social final dos conteúdos. Tal metodologia tem como ponto de partida e chegada a problematização. A partir deste referencial didático aperfeiçoado por Gasparin (2011), iniciamos uma sequência didática investigando o que os alunos já sabiam sobre o tema rotação e sucessão de culturas. Num segundo momento desta sequência, focamos na problematização apresentada anteriormente. Foi um momento de desestabilização no grupo porque para responder as questões iniciais os alunos precisariam pesquisar mais sobre o assunto, a partir de um referencial teórico adequado. Assim, no terceiro momento da sequência didática a instrumentalização passamos a investigação científica, dentro e fora da sala de aula. Os resultados da investigação por parte dos alunos, somados a própria pesquisa do docente possibilitaram compreender que a produção de alimentos sempre foi uma preocupação mundial, fato relacionado ao recorrente crescimento populacional (SEDIYAMA, 2009). A necessidade de produzir cada vez mais alimentos faz com que muitos métodos sejam aperfeiçoados no sentido de aumentar a produção vegetal, mas muitas vezes esses métodos prejudicam o meio ambiente, devido a grande quantidade de insumos químicos utilizados no manejo do solo. A grande utilização de insumos químicos pode aumentar os custos de produção, o que compromete os benefícios líquidos esperados na produção agrícola, principalmente entre os pequenos produtores rurais, que é o caso da realidade do município de Ourinhos, localizado no interior do Estado de São Paulo. Constatou-se também, nas investigações, que a produção da soja e do milho constitui uma importante base econômica e social para a maioria dos pequenos e médios
01910 produtores rurais do município, sendo que a produção desses grãos destinam-se principalmente para a alimentação humana e animal, bem como para a geração de energia. Os produtores rurais realizam o plantio dessas duas culturas temporárias principalmente na forma de sucessão de culturas, fazendo o plantio de maneira sequencial, utilizando para a recuperação do solo a aplicações de insumos químicos. A aplicação dos insumos químicos faz aumentar a produtividade agrícola em um curto período de tempo, porém, a longo prazo, causam danos ao solo e ao meio ambiente, tendo como consequências o comprometimento da sua produção gerando queda na produtividade o que afetam economicamente os produtores, devido ao aumento dos custos de produção. O grupo concluiu que com o passar dos anos ocorre a queda na produção desses grãos e o aumento dos custos de produção devido ao emprego de mais insumos químicos para a manutenção e recuperação do solo, com isso muitos produtores, principalmente os pequenos, acabam por migrar para a produção de outras culturas, como por exemplo, a mandioca, sorgo, feno e outras culturas, tendo em vista reverter os prejuízos econômicos causados pela queda na produção. A partir do conhecimento adquirido, passamos ao quarto momento da sequência didática a catarse que foi desenvolvida por meio de um debate entre dois grupos da sala; um deles defendeu a prática da rotação de culturas e o outro a de sucessão de culturas. Expostos os argumentos os alunos foram avaliados de forma individual e coletiva, por meio da expressão verbal. Como sabemos ao final desta metodologia temos a prática social final dos conteúdos, ou seja, como imaginamos que os alunos irão se portar frente aos desafios do mundo, do mercado de trabalho e da própria existência humana. Esperamos que em decorrência da metodologia dialética os alunos possam aplicar no futuro campo profissional a utilização do solo de maneira racional e consciente, auxiliando os produtores na solução de possível problema na queda na produção, o que diminui o risco econômico e financeiro. A rotação de culturas apresenta-se como uma boa alternativa para a preservação e recuperação do solo, pois, diminui o uso de insumos químicos, que são substituídos pelo aproveitamento dos fatores naturais propiciados pela rotatividade de culturas como o milho, a soja, o feijão e a braquiária.
01911 Considerações finais Os encaminhamentos que apresentamos referentes a parte das atividades desenvolvidas na disciplina Custos e orçamentos no Agronegócio, possibilitaram a reflexão sobre os desafios de o professor buscar alternativas metodológicas adequadas na relação com o cotidiano de suas práticas e a sociedade. Encontramos nos pressupostos da Didática para a Pedagogia Históricocrítica uma possibilidade de desenvolver o processo de ensinar e aprender articulado com os problemas da sociedade que vivemos. Com uma intencionalidade definida a partir do mundo rural, o que um curso que forma tecnólogos em Agronegócios pode contribuir para que tenhamos melhores relações entre o homem e a natureza? Entre a natureza e as relações de trabalho? Acreditamos que além de uma análise econômica que identifique os benefícios líquidos da sucessão e rotação de culturas na região de Ourinhos/SP, existe a necessidade de planejamento racional do uso do meio ambiente que é extremamente importante para o futuro tecnólogo. A metodologia dialética, especialmente em sua faceta problematização, se aproxima de nossas inquietações e de nossa intencionalidade didática. REFERÊNCIAS GASPARIN, J. L. Uma didática para a Pedagogia Histórico-crítica. Campinas: Autores Associados, 2011. SAVIANI, D. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre a educação política. 40. ed. Campinas: Autores Associados, 2008a.. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. Autores associados: Campinas, 2008b. SEDIYAMA, T. Tecnologias de produção e usos da soja. Londrina: Macenas, 2009.