ESTUDO DE CASO DAS CONDICIONALIDADES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO CRAS DE NAVIRAÍ-MS

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Transcrição:

ESTUDO DE CASO DAS CONDICIONALIDADES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO CRAS DE NAVIRAÍ-MS RESUMO Elis Andréa Pimentel Medina 1 Ana Carolina da Silva Monteiro 2 O Centro de Referência de Assistência Social - CRAS, local responsável por manter a proteção social básica nos territórios onde estão situados, executa ações e oferece serviços que desenvolvem potencialidades, fortalecem vínculos e possibilitam o acesso aos direitos de cidadania. Ciente disso, esta pesquisa, de base empírica, objetiva identificar impactos e fragilidades que levaram 10 famílias, membros do grupo de beneficiários do Programa Bolsa Família, atendidas no CRAS II, do município de Naviraí (MS), a descumprir condicionalidades referentes à educação de seus filhos. Os dados foram coletados por meio de observação participante, entrevistas semiestruturadas e aplicação de questionários. Palavras-chave: CRAS; Programa Bolsa Família; Condicionalidades; Irregularidades. 1 INTRODUÇÃO Esta pesquisa, de base empírica, preocupou-se em identificar os impactos e as fragilidades que levaram 10 famílias participantes do grupo de beneficiários do Programa Bolsa Família (PBF), atendidas no Centro de Referência de Assistência Social CRAS II, no município de Naviraí (MS), a descumprir condicionalidades referentes à educação de seus filhos. Além disso, objetiva-se compreender quais razões levam os beneficiários ao descumprimento de condicionalidades, a fim de se propor mecanismos para que as famílias acompanhadas saiam dessa situação de vulnerabilidade e de irregularidade perante o PBF. A pesquisa foi realizada com a escolha de dez famílias que foram acompanhadas no referido Centro, por um tempo de seis meses. As entrevistas aconteceram com o consentimento dos participantes, de forma individualizada e sigilosa. Mediante acesso das 1 Assistente Social formada pela UNIGRAN Universidade da Grande Dourados, Especialista em Políticas Públicas com Ênfase em Saúde da Família. Atua no CRAS Centro de Referência da Assistência Social em Naviraí MS. E-mail: elis.medina@yahoo.com.br. Artigo do Eixo 1. 2 Servidora técnico-administrativa em Educação na UFMS. Bacharel em Comunicação Social Jornalismo (2000, UFMS), Mestre em Comunicação (2015, UFMS). Tutora e orientadora do Curso de Especialização em Educação, Pobreza e Desigualdade Social. E-mail: anacarolinajor@hotmail.com.

informações, foi feita análise dos dados e verificação dos motivos das irregularidades dessas famílias selecionadas com o Programa. A pesquisa verificou quais as razões de crianças e adolescentes faltarem muitas vezes às aulas, a ponto de a família descumprir condicionalidades do PBF, e fazer com que a educação e a situação econômica dos envolvidos sejam prejudicadas. Partiu-se do princípio de que para se entender a pobreza não é possível defini-la de modo único e universal. Percebe-se que há situações de muita carência, diante das quais o indivíduo não consegue manter um padrão digno de sobrevivência, conforme o contexto histórico presente (BARROS, HENRIQUE, MENDONÇA, 2000, p.124). Assim, o contexto histórico mostra que a abordagem conceitual da pobreza absoluta requer que possamos, inicialmente, construir uma medida invariante no tempo das condições de vida dos indivíduos em uma sociedade. (BARROS, HENRIQUE, MENDONÇA, 2000, p. 124). Entre 2004 e 2013, os índices de pobreza no Brasil caíram de 20% para 9% da população e de 7% para 4% no caso da pobreza extrema. No entanto, os principais aspectos ou perfis da pobreza continuam os mesmos: ela está mais presente no meio rural e nas regiões Norte e Nordeste do Brasil (SOARES, 2016, p. 1). O Programa Bolsa Família foi criado em 2003, pelo governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para se configurar em uma ação política social que atendesse famílias em situação social vulnerável de pobreza e extrema pobreza. Segundo Weissheimer (2006 apud STECHI 2013), o Bolsa Família é um programa federal de transferência condicionada de renda para famílias que estão em situação de pobreza e extrema pobreza, e se fundamenta em dois objetivos: combater a miséria e a exclusão social; e promover a emancipação das famílias atendidas pelo benefício. Ressalta-se que o acompanhamento prioritário feito pelo CRAS (STECHI, 2013, p. 169) contempla justamente os indivíduos naquela condição socioeconômica altamente desfavorável ao seu desenvolvimento humano e cidadão. O Centro de Referência de Assistência Social-CRAS atua com famílias e indivíduos em seu contexto comunitário, visando à orientação e ao convívio sociofamiliar e comunitário. Neste sentido, é responsável pela oferta do Programa de Atenção Integral às Famílias. A equipe do CRAS deve prestar orientação, informação, articular com as redes garantindo o direito à cidadania, valorizar as Trabalho de Conclusão de Curso 2

particularidades de cada família, e, principalmente, combater a exclusão social (BRASIL, 2004). Stechi (2013) menciona que o CRAS, por ser um centro que é porta de entrada para o Sistema Único da Assistência Social - SUAS, atende famílias em maior vulnerabilidade e um dos públicos-alvo são justamente as famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família em descumprimento de condicionalidades. O Manual de Orientação do CRAS apresenta as seguintes atuações deste centro, conforme a tipificação de serviços do SUAS: Fortalecer a função protetiva da família, contribuindo na melhoria da sua qualidade de vida; Prevenir a ruptura dos vínculos familiares e comunitários, possibilitando a superação de situações de fragilidade social vivenciadas; Promover aquisições sociais e materiais às famílias, potencializando o protagonismo e a autonomia das famílias e comunidades; Promover acessos a benefícios, programas de transferência de renda e serviços socioassistenciais, contribuindo para a inserção das famílias na rede de proteção social de assistência social; Promover acesso aos demais serviços setoriais, contribuindo para o usufruto de direitos; Apoiar famílias que possuem, dentre seus membros, indivíduos que necessitam de cuidados, por meio da promoção de espaços coletivos de escuta e troca de vivências familiares (BRASIL, 2009, p. 7). Stechi (2013) destaca ainda que as famílias que descumprem com o programa devem ser acompanhadas pela equipe de referência do CRAS para identificar quais os motivos que crianças e/ou adolescentes do grupo familiar estão faltosos na escola. O objetivo é fazer com que, além da garantia de renda, as pessoas em situação de vulnerabilidade tenham acesso à educação e à saúde, pois, dessa forma, poderão amenizar as condições precárias de sua sobrevivência. Para fins didáticos e de normatização, este artigo está estruturado em três partes. Esta Introdução, que apresenta e delimita o assunto abordado. O Desenvolvimento que está dividido em três seções, e trata: da abordagem do universo da pesquisa; da caracterização das famílias entrevistadas; explicita os dados coletados; analisa e discute as constatações observadas. E na última parte, as Considerações Finais, cuja proposta é indicar possíveis soluções ou intervenções para que o quadro de descumprimento de condicionalidades das famílias analisadas seja revertido. Trabalho de Conclusão de Curso 3

2 DESENVOLVIMENTO O cidadão é a uma figura histórica e teórica na sociedade, desta forma, a sociedade entende tais indivíduos como atores indispensáveis para a democracia. Pois, democracia é um conjunto de direitos que tornam o cidadão o protagonista da sociedade na qual está inserido. Convém, por isso, lembrarmos que a existência da cidadania como situação histórica supõe, necessariamente, um complexo de condições políticas, sociais, econômicas e culturais. Por exemplo, se uma sociedade não garante que todas as pessoas tenham as mesmas oportunidades de acesso ao bemestar, à cultura e à educação em sentido amplo, tal sociedade apresenta déficits enormes de democratização de sua estrutura social e política. Isso contamina, de forma nociva, o convívio cívico do corpo social, pois o hábito de conviver com a injustiça, o desrespeito e a desigualdade torna todos(as) os(as) habitantes de uma nação embrutecidos(as) e insensíveis à dor do outro (PINZANI, REGO, 2015,p. 9). Quando cidadãos têm seus direitos violados e excluídos e veem sua capacidade de escolha e de decisão sobre sua vida serem injustamente retirados, o que se percebe é a manifestação de uma sociedade injusta social, econômica e politicamente. Conforme Pinzani e Rego (2015, p. 13), existem pesquisas que apresentam dados que os pobres, exatamente por serem pobres, têm dificuldade de ter voz, isto é, de formular, organizar e, sobretudo, expressar suas necessidades, transformando-as em demandas por justiça. Neste contexto, são considerados pessoas incapazes de expressar suas necessidades, sem direito de voz. Para eles, o Estado e as demais instituições públicas são surdos e mudos aos seus problemas de cidadania e não exercem sua função de garantia de direitos. A pobreza, evidentemente, não pode ser definida de forma única e universal. Contudo, podemos afirmar que se refere a situações de carência em que os indivíduos não conseguem manter um padrão mínimo de vida condizente com as referências socialmente estabelecidas em cada contexto histórico (BARROS, HENRIQUE, MENDONÇA, 2000, p. 124). Desta forma, entende-se a necessidade de serem criadas medidas que mudem as condições de vida de indivíduos que sobrevivem de forma precária e vulnerável. Uma estratégia para reduzir a pobreza é o investimento do poder público, como por exemplo, pelo Programa Bolsa Família, que visa diminuir a desigualdade, investindo em uma transferência Trabalho de Conclusão de Curso 4

de renda igualitária, ou, pelo menos, que supra as necessidades básicas desta sociedade desigual. 2.1 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E EDUCAÇÃO Nosso país se encontra num momento de desenvolvimento que não consegue atender a necessidades básicas de uma grande parte da população, dessa forma a distribuição de renda torna-se desigual. Essa má distribuição gera desempregos e se torna barreira para um melhor desenvolvimento social (BRANDÃO, 2010). Como num círculo vicioso, a renda familiar se torna insuficiente para manter o sustento da família que, em muitos casos, por si só, não consegue sair da situação de vulnerabilidade socioeconômica. Diante de tal situação, a alternativa que o Governo Federal encontrou foi implantar Programas de Transferência Condicionada de Renda (PTCR), de forma direta, para famílias que se caracterizassem como pobres ou extremamente pobres, para amenizar o cenário de exclusão no qual estão inseridas (BRANDÃO, 2010). O Programa Bolsa Família (PBF), criado em 2003 pela Medida Provisória 132, sancionado pela Lei nº 10.836, de 09 de janeiro de 2004 e regulamentado pelo Decreto nº 5.209, de 17 de setembro de 2004, é um programa de transferência de renda com condicionalidades, direcionado às famílias em situação de pobreza com renda per capita de até R$ 140 inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (AGATTE, ANTUNES, 2014, p. 36). O Programa Bolsa Família é uma parte muito importante da gestão de políticas públicas, um sistema de proteção social que proporciona acesso a direitos e garante que necessidades básicas dos cidadãos sejam supridas (AGATTE, ANTUNES, 2014, p. 36). Um dos objetivos do PBF é aliar a política de transferência de renda com a garantia de direitos a crianças, adolescentes e jovens que se encontram em situação vulnerável. Usa-se o programa como estratégia para manter crianças, adolescentes e jovens na escola, garantindo-lhes estudo gratuito e superação das necessidades básicas para sobrevivência (LEITE, 2015, p. 14). Trabalho de Conclusão de Curso 5

2.2 PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E CONDICIONALIDADES O Programa Bolsa Família tem como objetivo garantir o combate à pobreza por meio de condicionalidades, que são compromissos assumidos pelas famílias para receber o benefício, e em contra partida, o governo realiza a transferência do benefício. Desta forma, o beneficiário assume compromisso em cumprir tais condicionalidades que estão relacionadas à saúde, quais sejam: manter acompanhamento de gestantes (pré-natal), nutrizes e menores de sete anos de idade (vacinação). E na educação, se condiciona na matrícula e frequência escolar para crianças e adolescentes, responsabilizando assim, os municípios com garantia de serviços de saúde e educação (ESTRELLA, RIBEIRO, 2008). Caso estas condicionalidades não sejam cumpridas, aos beneficiários são atribuídas penalidades, primeiramente por meio de advertência, que em nada compromete o benefício. A reincidência causa o bloqueio do benefício por 30 dias. Caso haja uma terceira vez, o benefício é suspenso por 60 dias e se os descumprimentos continuarem, o benefício é cancelado (MDS, 2014). O cumprimento das condicionalidades deve ser monitorado e avaliado pelo Governo Federal, por meio de índices criados especialmente para isso e agregados em um indicador global, o índice de gestão descentralizada (IGD) (ESTRELLA, RIBEIRO, 2008, p. 626). Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), no bimestre de junho e julho de 2014, dos 17,6 milhões de crianças e adolescentes beneficiários em idade escolar, 15,6 milhões foram acompanhados (88,6%). Destes, 96,1% cumpriram as condicionalidades de educação. No momento do registro do acompanhamento de educação, é possível indicar no sistema o motivo que gerou a baixa frequência. Esses motivos foram previamente estabelecidos e constam em uma lista elaborada pelo Ministério da Educação e pelo MDS. Os motivos que justificam a baixa frequência podem gerar ou não efeitos no benefício da família. Entre os 3,9% beneficiários que não cumpriram a condicionalidade, 26,4% apresentaram baixa frequência por motivos justificados, que não geraram efeitos no benefício. O restante apresentou motivos que implicam efeitos no benefício, ou seja, podem comprometer a continuidade do pagamento do benefício. Trabalho de Conclusão de Curso 6

São exemplos de motivos justificados na educação: a) ausência por questão de saúde do aluno; b) doença ou morte na família; c) inexistência de oferta de serviços educacionais; d) fatos que impedem o deslocamento à escola; e) inexistência de serviço educacional à pessoa com deficiência. Ainda segundo o MDS, no primeiro semestre de 2014, 8,8 milhões de famílias beneficiárias foram acompanhadas nas condicionalidades de saúde, o equivalente a 73,32% do público com perfil para acompanhamento, que era cerca de 12 milhões. Das 5,3 milhões de crianças acompanhadas, 98,7% haviam cumprido o calendário de vacinação e 98,6% das gestantes localizadas estavam com o pré-natal em dia. E assim, percebe-se que por meio das condicionalidades o acesso às condições básicas de vida é garantido. A transferência da renda reforça o acesso à saúde e à educação de famílias em situação de vulnerabilidade. 2.3 FAMÍLIA E POLÍTICA DE BOLSA ASSISTÊNCIA SOCIAL A Política de Assistência Social se conceitua em uma gestão que visa ofertar serviços, programas, projetos e benefícios, para atender famílias, seus membros e todo um território, de forma prioritária, analisando toda forma de necessidade e sua complexidade (BRASIL, 2004, p.39). E estes serviços são executados diretamente pelos CRAS Centros de Referência da Assistência Social, que estão localizados no território de abrangência com maior índice de vulnerabilidade social, atendendo as famílias que ali residem (BRASIL, 2004, p.35). O CRAS é responsável por acompanhar famílias que estão em descumprimento com o Programa na área de educação, e a partir de uma listagem, desenvolve este atendimento e visa (BRASIL, 2012, p.32): promover o acompanhamento dessas famílias, realizando uma reflexão sobre os direitos das crianças e adolescentes à educação; as responsabilidades das famílias em garantir tais direitos, identificando quais os obstáculos para o cumprimento de tais responsabilidades e traçando estratégias para sua superação (BRASIL, 2012, p. 32). O Manual de Orientações Técnicas do PAIF - Programa de Proteção Integral à Família nos apresenta o trabalho e atendimento com as famílias beneficiárias do PBF, e seu Trabalho de Conclusão de Curso 7

acompanhamento. Portanto, pode-se perceber a importância e atuação da equipe técnica de um CRAS junto às famílias. Stechi (2015, p. 79) reforça que o acompanhamento feito em cada CRAS, é realizado por uma equipe técnica, que constata grande risco de vulnerabilidade, com intuito de desenvolver ações preventivas e de fortalecimento de vínculo familiar e comunitário. Dentre os profissionais que compõem a equipe de trabalho no CRAS, está o Assistente Social que atua diretamente com as demandas sociais no interior dos Centros de Referência de Assistência Social, intervindo através de seu papel profissional (CORONEL, 2011, p. 1). Neste cenário, o Assistente Social atua intervindo nas expressões da questão social destes indivíduos, realiza orientações individualmente e em grupo, avalia, coordena e organiza programas, projetos sociais, priorizando o bem-estar dos cidadãos. Este profissional também possui a responsabilidade de administrar e propor os benefícios sociais, planejar e desenvolver pesquisas para compreensão da realidade social (CORONEL, 2011, p.1). Ainda, busca manter garantido o direito de cidadania e fortalecer os vínculos familiares e comunitários daqueles que cuida (CORONEL, 2001, p.1) Figura 1. Síntese do fluxo do acompanhamento familiar realizado pelas equipes de Assistência Social Fonte: Site https://wwp.org.br Trabalho de Conclusão de Curso 8

2.4 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA E DADOS ENCONTRADOS A seguir, neste estudo serão revelados: o universo sociogeográfico da pesquisa; a caracterização socioeconômica das famílias entrevistadas; a situação e as estratégias que cada uma das 10 famílias adota para cumprir as condicionalidades de educação e saúde que lhe são impostas para que continuem recebendo o benefício do Programa Bolsa Família; e o papel do CRAS de Naviraí e do Assistente Social neste cenário local de atendimento às famílias. 2.4.1 CARACTERIZAÇÃO TERRITORIAL O município de Naviraí está localizado ao sul do estado de Mato Grosso do Sul e possui uma população aproximada de 46.424 habitantes. Localiza-se a 356km da capital do Estado, conforme dados do IBGE (2016). Segundo dados retirados da página de aplicações do MDS (2016), a última atualização de tais informações foi feita em junho do ano corrente, desta forma, Naviraí possui 7.786 famílias inscritas no Cadastro Único. Este cadastro recebe informações sobre a situação socioeconômica de pessoas de baixa renda, cujos dados permitem conhecer melhor a situação da população brasileira e selecionar famílias a serem beneficiárias do Programa Bolsa Família. De acordo com dados do MDS (2016), em outubro de 2016, constam no Cadastro que 1.768 famílias recebem o benefício do Programa Bolsa Família em Naviraí (MS), o que representa 84,7% da população considerada pobre no município. Além, disso, as transferências são feitas com valor médio de R$ 139,48, e o total de pagamento realizado pelo município foi de R$ 246.594,00 (MDS, 2016). No site da Prefeitura do município de Naviraí (2016), encontram-se também dados a respeito das potencialidades do local, como a economia baseada na atuação de empresas, a Usinavi (usina de cana e açúcar), a Copasul (algodão, soja e milho) e os frigoríficos do grupo Bertin. Destacam-se as empresas de malharias Kriswill e Lênix, a fábrica de bicicletas ColliByke, o Café Naviraí, a Erva Mate Campanário, a Reciplast e a única empresa presente no Centro-Oeste, a Coalho Brasil. Diante do exposto, o município citado possui regiões com presença de grandes vulnerabilidades sociais, que são atendidas pelos serviços de dois CRAS, denominados de Trabalho de Conclusão de Curso 9

CRAS I e CRAS II. E para a realização desta pesquisa o CRAS selecionado foi o II, por se caracterizar o local de fala da pesquisadora, onde ela atua profissionalmente e tem proximidade com o público-alvo da pesquisa. O CRAS II abrange territorialmente três bairros, com capacidade aproximada para atender 3.500 famílias em situação de pobreza. Sua equipe é composta por uma assistente social, uma psicóloga, uma pedagoga, um motorista, um técnico-administrativo, um servidor responsável pelos serviços gerais e um estagiário atuando na recepção. A pesquisadora deste trabalho compõe a equipe como assistente social e atua diretamente com as famílias atendidas no centro, particularmente atende as famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família em descumprimento de condicionalidades. 2.4.2 Caracterização dos dados encontrados Como mencionado na Introdução deste artigo, esta pesquisa tem como objetivo identificar impactos e fragilidades que levaram 10 famílias membros do grupo de 50 beneficiários do Programa Bolsa Família, atendidas no CRAS II, do município de Naviraí (MS), a descumprirem condicionalidades referentes à educação de seus filhos. O perfil das famílias foi traçado por meiode ações realizadas em grupos de reuniões socioeducativas que acontecem no CRAS-II, para famílias beneficiárias do PBF. Os dados foram coletados por meio de entrevistas com questões semiestruturadas direcionadas a 10 famílias que encontram-se em descumprimento com o Programa Bolsa Família, e por sua vez, também são participantes do grupo de beneficiários do PBF realizado no CRAS II. A entrevista foi realizada pela pesquisadora e aconteceu dentro da sala do CRAS- II, com autorização e consentimento do participante num período de 10 horas, durante o mês de outubro de 2016 Para construir o perfil de cada família, foram utilizados os indicadores a seguir, a fim de verificar quais os impactos causados pelo descumprimento das condicionalidades do Bolsa Família sobre a vida das famílias beneficiárias investigadas. A pesquisa está dividida em duas etapas essenciais para a análise: (1) dados territoriais, de vida e de trabalho; e (2) relação entre Assistência Social e usuários. Trabalho de Conclusão de Curso 10

2.4.3 CARACTERIZAÇÃO ETAPA 1- DADOS TERRITORIAIS, DE VIDA E DETRABALHO Neste primeiro momento, foram levantados dados acerca do gênero do responsável familiar, ou seja, do titular do benefício. Das 10 entrevistas realizadas, em todas, o responsável se declarou ser do sexo feminino. Gráfico 1 - Gênero das entrevistadas 0% 0 Fonte: MEDINA, 2016 Como apresenta o Gráfico 1, em 100% das entrevistas a responsável por tomar conta da família é a mãe, aquela que também garante que a família permaneça no programa e faz com que se cumpram as condicionalidades. Gênero 100% Masculin o O Gráfico 2 mostra o perfil da faixa etária destas mulheres: 20% delas têm entre 20 e 30 anos; 40%entre 31 e 40 anos; 30% entre 41 e 50 anos; e 10% entre 50 e 60 anos. Pode-se perceber que a maioria está entre as idades de 31 e 40 anos. Gráfico 2 Faixa Etária Faixa Etária 10% 30% 20% 40% 20 a 30 anos 31 a 40 anos 41 a 50 anos 51 a 60 anos Fonte: MEDINA, 2016 Trabalho de Conclusão de Curso 11

Em relação à raça, buscou-se identificar este quesito na pesquisa, e conforme o Gráfico 3, 10% das entrevistadas responderam se considerar brancas, outros 10% se consideram negras, 80% das responsáveis familiares se consideram pardas e nenhuma se considera de cor amarela. Gráfico 3 Raça Raça 0% 10% 10% Branca 80% Negra Parda Fonte: MEDINA, 2016 Sobre o estado civil das entrevistas, é possível afirmar, pelo que consta no Gráfico 4, que 50% são solteiras, 40% possuem união estável, 10% são casadas e nenhuma é divorciada. Gráfico 4 Estado Civil Estado Civil 0% 40% 10% 50% Solteiro (a) Casado (a) Divorciado (a) Fonte: MEDINA, 2016 O que nos chama a atenção é o percentual de mulheres solteiras, isso significa que durante a criação dos filhos não está presente a figura paterna, algo complexo na vida Trabalho de Conclusão de Curso 12

dessas mulheres e consequentemente na de crianças e adolescentes que convivem com esta situação. Em relação à moradia, o gráfico abaixo mostra que 60% das entrevistadas residem com suas famílias em casa própria, porém, a porcentagem de famílias residindo em casa de aluguel, cedida, e outras formas de moradia, como barraco e de favor, é preocupante, pois, mesmo com o benefício possuem dificuldades de superar a situação em que vivem. Gráfico 5 Moradia Moradia 10% 10% 20% 60% Própria Alugada Cedida Outros Fonte: MEDINA, 2016 As famílias pesquisadas apresentam-se numerosas, como é possível verificar no Gráfico 6. A média da composição familiar é de 5 a 7 pessoas morando na mesma casa, representando 50% das famílias entrevistadas, mesmo com esse dado, ainda verifica-se que 20% das famílias residem entre 8 e 10 pessoas na mesma residência. Muitas vezes, são famílias numerosas, compostas de pais, filhos, netos, sobrinhos. Gráfico 6 Composição Familiar Trabalho de Conclusão de Curso 13

Composição Familiar 0% 20% 50% 30% 2 a 4 pessoas 5 a 7 pessoas 8 a 10 pessoas 10 + Fonte: MEDINA, 2016 Procurou-se também identificar a situação socioeconômica das famílias entrevistadas, conforme revela o Gráfico 7. Constatou-se que em 60% delas, algum membro trabalha para complementar a renda, por sua vez, estes trabalhos acontecem informalmente, são diárias como doméstica e trabalhos braçais para os homens. Dentro destes 60% encontram-se famílias que recebem algum tipo de benefício previdenciário, que se entende como renda extra ao Bolsa Família. Ainda, os números de famílias que estão fora do mercado de trabalho são preocupantes, pois, 40% possuem o benefício do PBF como única renda, o que, em muitas vezes,é insuficiente para manter todas as despesas da família. Gráfico 7 Mercado de Trabalho Mercado de Trabalho 0% 40% 60% Sim Não Fonte: MEDINA, 2016 Trabalho de Conclusão de Curso 14

Um dado importante levantado acerca da renda diz respeito ao recebimento de outro benefício de transferência de renda advindo do governo estadual e/ou federal que a família venha a possuir. Metade das famílias confirmou receber outro auxílio, enquanto a outra metade recebe apenas recursos do Programa Bolsa Família. Ao serem indagadas sobre o tempo de recebimento do benefício, 60% das entrevistadas relatam receber a transferência de renda entre 4 e 7 anos, 30% recebem de 0 a 3 anos, e 1% recebem há mais de 8 anos. Com relação aos descumprimentos do programa, as famílias responderam sobre a frequência escolar de seus dependentes. Algumas das entrevistadas relataram problemas com o fato de alguns de seus filhos irem à escola. Disseram que os filhos adolescentes não querem mais estudar, sem apresentar motivo plausível para tal atitude. Do total de famílias entrevistadas, 50% possuem filhos que se evadiram da escola, e por este motivo encontram-se em descumprimento com o programa. Os outros 50% mencionaram que os filhos estão frequentando a escola, porém obtiveram faltas no decorrer do ano por diversos motivos, como problemas de saúde e até falta de vontade dos filhos. Diante do exposto, considerou-se relevante saber a escolaridade das responsáveis familiares. Identificou-se que 90% das entrevistadas possuem o ensino fundamental incompleto e 10% nunca estudou. Pode-se destacar que a maioria das crianças/adolescentes pertencentes às famílias entrevistadas que pararam de estudar, estão cursandoo mesmo ciclo de ensino que suas genitoras interromperam. 2.4.4 CARACTERIZAÇÃO ETAPA 2 RELAÇÃO ENTRE ASSISTÊNCIA SOCIAL E USUÁRIOS Para construir o perfil das famílias beneficiárias também foi utilizado um conjunto de informações acerca da relação dos beneficiários com a Assistência Social, em forma de questionário com questões abertas e objetivas. Procurou-se saber: como a família define o Programa Bolsa Família; se recebeu ou recebe informações a respeito dos critérios do programa; verificar se as famílias são acompanhadas quanto às suas condicionalidades; investigar sobre o conhecimento da família acerca das condicionalidades, se estão sendo cumpridas e em que situação do descumprimento encontram-se no momento. Também considerou-se importante ressaltar as Trabalho de Conclusão de Curso 15

razões que levaram tais famílias a descumprirem as condicionalidades e qual impacto o não recebimento do benefício causaria a estas famílias. Na fala das entrevistadas, pôde-se perceber que a definição de BF é sinônimo de algo bom, que ajuda a comprar comida para os filhos, material para escola, roupas, calçados, etc. Nos chamou a atenção a fala de uma mãe: O Bolsa Família representa tudo, se não tivesse o BF não sei o que ia fazer. Ao serem questionadas se receberam ou recebem informações sobre os critérios do programa, 80% responderam que sim, e 20% disseram não. Das respostas afirmativas, ainda complementaram que os critérios são de não deixar os filhos faltarem na escola e levalos à pesagem ao posto de saúde. Sobre os acompanhamentos dos descumprimentos, 40% das entrevistadas responderam que sempre recebem tal atendimento, outros 40% responderam que quase sempre são acompanhadas e 20% relatam que raramente. As mulheres que informaram que recebem acompanhamento, disseram que o atendimento é realizado pelo CRAS e pelo Posto de Saúde. Ao serem questionadas se sabem o que são as condicionalidades, 90% responderam que sim, e 10% não. Das respostas afirmativas, disseram que condicionalidades é não faltar na escola, levar as crianças na pesagem, manter em dia a carteira de vacina. Já a resposta negativa, informou não se lembrar de tal critério. Outro fator importante na pesquisa foi saber destas famílias se estão cumprindo com as condicionalidades, 80% delas responderam que sim, estão cumprindo e 20% disseram que não. Mesmo encontrando-se em descumprimento, todas disseram que fazem o possível para cumprir, pois precisam muito do benefício. Das famílias entrevistadas, 70% estão com o benefício em advertência e 30% com o benefício bloqueado. Todos os descumprimentos são relacionados às faltas escolares, 50% delas são por motivo dos filhos não quererem ir à escola, 40% por motivo de doença e no caso de 10%, a mãe fez a vontade do filho e permitiu que faltasse. Para finalizar, foram questionadas sobre quais impactos o não recebimento do benefício causaria em sua família. Todas responderam que prejudicaria muito, que esse dinheiro complementa a renda para não faltar comida em casa. Pode-se obter a seguinte resposta: prejudica em tudo, atrasa a água, luz, pois, precisa comprar outras coisas no lugar. Trabalho de Conclusão de Curso 16

3 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Para apresentar os resultados encontrados no presente estudo, que se objetivou identificar os impactos e fragilidades que levaram 10 famílias membros do grupo de beneficiários do Programa Bolsa Família, atendidas no CRAS II, do município de Naviraí (MS), a descumprir condicionalidades referentes à educação de seus filhos, sugere-se a necessidade de informar alguns dados relevantes. Percebe-se que as pessoas de referência familiar são sempre mulheres, com isso, entende-se que são elas que cuidam da educação dos filhos, e por sua vez, também mantêm as despesas da casa. E ao observar quais motivos levam as crianças e adolescentes a faltarem na escola e, muitas vezes, até evadir-se, estão relacionados a doenças e por não quererem permanecer com estudos, sem razões plausíveis. Acredita-se que pelo fato de em algumas famílias não haver a figura paterna, de possuírem uma composição familiar numerosa, da baixa escolaridade do genitor, essas seriam circunstâncias que refletem nos filhos e geram o círculo vicioso da pobreza. Já que todas as famílias entrevistadas encontram-se em descumprimento com o BF, percebeu-se a importância em identificar nestas famílias qual impacto traria a suspensão do benefício. Em unanimidade ressaltaram que iria fazer muita falta, que este auxílio ajuda muito, para não deixar faltar principalmente o alimento aos seus filhos. 2. CONSIDERAÇÕES FINAIS O Programa Bolsa Família surgiu para levar às famílias brasileiras que se encontram em situação de pobreza um auxílio por meio de transferência de renda, com o intuito de ofertar uma condição mínima de vida, saúde, educação, dignidade. E para assegurar que estas famílias sejam atendidas financeiramente, existe a contrapartida do beneficiário e de seus dependentes. Os filhos devem ser mantidos matriculados na escola, os pais devem se preocupar com a saúde das crianças e jovens estudantes, manter pesagens, carteira de vacinação e pré-natal em dia. Desta forma, se alcançaria o objetivo do PBF, contudo nem todos os beneficiários conseguem seguir os critérios impostos por esta política pública. Como apresentado nesta Trabalho de Conclusão de Curso 17

pesquisa, que visa apresentar os descumprimentos dos critérios na área da educação, pois muitos beneficiários não conseguem permanecer em regularidade com o programa. Mesmo diante de todas as circunstâncias que levaram estas famílias a tal irregularidade, pode-se destacar que todas demonstram-se interessadas e esforçadas a lutar para que isso não ocorra mais, acreditam que somente os estudos podem ofertar um futuro melhor para seus filhos, e com o recebimento do benefício podem garantir que estas crianças e adolescente vão à escola alimentados, bem vestidos, com calçados e material escolar, além de tudo, motivados. 4 REFERÊNCIAS AGATTE, Juliana Picoli. ANTUNES, Marcos Maia. Condicionalidade de Educação do Programa Bolsa Família: Concepção E Organização De Acompanhamento. Cadernos de Estudos Desenvolvimento Social em Debate, 2014. BARROS, Ricardo Paes de., HENRIQUES, Ricardo., MENDONÇA, Rosane. Desigualdade e Pobreza no Brasil: retrato de uma estabilidade inaceitável. Revista Brasileira de Ciências Sociais Vol. 15, fev 2000. BRANDÃO, Gilberto. A Origem e Importância do Programa Bolsa Família. Disponível em: http://www.administradores.com.br/artigos/economia-e-financas/a-origem-eimportancia-do-programa-bolsa-familia/49771/, 15 de novembro de 2010. Acesso em: 28/09/2016. BRASIL. Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Política Nacional de Assistência Social PNAS e Norma Operacional Básica NOB/SUAS. Brasília, Novembro 2004..Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Orientações Técnicas sobre o PAIF, vol. 2, 1. ed., 2012.. Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. 2014. Bolsa Família. Disponível em: www.mds.gov.br/bolsafamilia. Acesso em: 25/10/2016..Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. RI Bolsa Família e Cadastro Único. Disponível em: <aplicações.mds.gov.br/sagi/riv3/geral/relatório.php#contato da Gestão Municipal>. Acesso em: 26/10/2016. CORONEL, Priscila. Papel do Assistente Social CRAS e CREAS. 2011. Trabalho de Conclusão de Curso 18

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