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Acórdãos STA Processo: 0173/12 Data do Acordão: 23-05-2012 Tribunal: 2 SECÇÃO Relator: LINO RIBEIRO Descritores: Sumário: Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo PRIVILÉGIO CREDITÓRIO PENHORA Nº Convencional: JSTA000P14188 Nº do Documento: SA2201205230173 Data de Entrada: 16-02-2012 Recorrente: FAZENDA PÚBLICA Recorrido 1: C..., LDA Votação: UNANIMIDADE Aditamento: I Os privilégios creditórios gerais surgem com a constituição do direito de crédito que garantem, mas a sua eficácia depende do acto de penhora sobre os bens que são objecto da respectiva incidência. II No confronto com a penhora, como o privilégio geral já existe antes da penhora que o torna operativo, o credor privilegiado deve ser satisfeito antes do credor cuja única causa de preferência resulte da penhora. Texto Integral Texto Integral: Acordam na Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo 1. A Fazenda Pública interpôs recurso jurisdicional da sentença de verificação e graduação de créditos proferida pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Aveiro no apenso à execução fiscal instaurada contra A e B., melhor identificados nos autos, para cobrança de dívidas de IVA, IRS, coimas e juros. Nas respectivas alegações, concluiu o seguinte: 1. No âmbito do processo de execução fiscal n. 3760200601017004 e apensos (ou seja, os processos executivos n s 3760200701000250, 3760200701001868, 3760200701002660, 3760200701002996, 3760200701003542, 3760200701004050, 3760200701008161, 3760200701009206, 3760200701010565, 3760200701010980, 3760200701011537, 3760200701012088, 3760200701017195, 3760200701020153, 3760200801003909, 3760200801007840, 3760200801015087 e 3760200801018639), foi penhorado em 11/02/2010 o bem imóvel inscrito na matriz predial urbana da

freguesia de, sob o artigo 1485, e descrito na Conservatória do Registo Predial de Ovar com o n.º 2009/19941223. A referida penhora foi registada pela Ap.4835, de 2010/02/11. 2. Pela Fazenda Pública, na sequência de notificação nos termos do artigo 243 do CPPT, foram reclamados créditos no valor total de 1.588,11, respeitantes a IRC referente a 2007 e a IRS relativo ao ano de 2007, todos acrescidos dos respectivos juros, e em cobrança coerciva no âmbito dos processos de execução fiscal n s 3760200901053639 e 3760200801002422. 3. Não se conforma a Fazenda Pública com a douta sentença recorrida, porquanto a mesma não graduou os créditos exequendos, referentes a IRS de 2007 e os créditos reclamados pela Fazenda Pública, relativos a IRC e IRS do ano de 2007, garantidos com privilégio creditório imobiliário geral, no lugar que lhe competia, ou seja, depois dos créditos hipotecários reclamados por C, Lda, e antes dos créditos reclamados por D, Lda e os restantes créditos exequendos (IRS de 2006, coimas fiscais dos anos de 2007 e 2008 e IVA de 2007), que beneficiam apenas da garantia resultante das penhoras registadas pelas Ap.28 de 2008/01/14, Ap.24 de 2008/03/10 e Ap.4835, de 2010/02/11 sobre o referido imóvel. 4. Nos termos do artigo 108 do CIRC, para pagamento do IRC relativo aos três últimos anos, a Fazenda Pública goza de privilégio mobiliário geral e imobiliário sobre os bens existentes no património do executado à data da penhora ou outro acto equivalente. 5. Nos termos artigo 111 do CIRS, para pagamento do IRS relativo aos três últimos anos, a Fazenda Pública goza de privilégio mobiliário geral e imobiliário sobre os bens existentes no património do executado à data da penhora ou outro acto equivalente. 6. Privilégio creditório é a faculdade que a lei, em atenção à causa do crédito, concede a certos credores, independentemente do registo, de serem pagos com preferência a outros (artigo 733.º do Código Civil - CC.). 7. Trata-se de uma preferência de pagamento

resultante da lei, ou seja, os privilégios creditórios são insusceptíveis de constituição por negócio jurídico. Tal como a generalidade das garantias das obrigações, o privilégio constitui um acessório do crédito que se destina a garantir, sendo como que uma muleta deste. Eles surgem com a constituição do direito de crédito que garantem, mas a sua eficácia depende do acto de penhora sobre os bens que são objecto da respectiva incidência, dispensando-se que se proceda ao seu registo. 8. O facto de o privilégio creditório imobiliário geral ser uma mera preferência de pagamento, não implica o afastamento dos créditos que dele beneficiam, da reclamação e graduação no lugar que lhe competir. 9. Pois que, ainda que se entenda que os privilégios creditórios gerais não constituem garantias reais, por não incidirem sobre coisas determinadas nem prevalecerem sobre direitos de terceiro (cf. artigo 749 do C.C.), mas meras preferências de pagamento, o seu regime é o das garantias reais, para efeito de justificar a intervenção no concurso de credores (cf. O Concurso de Credores, de Salvador da Costa, 3.ª Edição, 2005, Almedina, pág. 388). 10. Neste sentido se têm pronunciado o Supremo Tribunal Administrativo, em inúmeros acórdãos. 11. Com efeito, de harmonia com entendimento jurisprudencial largamente maioritário do STA O artigo 240.º nº 1 do CPPT deve ser interpretado amplamente no sentido de abranger não apenas os credores que gozam de garantia real stricto sensu mas também aqueles a que a lei substantiva atribui causas legítimas de preferência, nomeadamente, privilégios creditórios. 12. O Tribunal Constitucional declarou a inconstitucionalidade, com força obrigatória geral, da norma constante do artigo 104 do CIRS (actual artigo 111 ), por violação do princípio da confianç a, ínsito no princípio do Estado de Direito, na interpretação segundo a qual o privilégio imobiliário geral nele conferido à Fazenda Pública prefere à hipoteca, nos termos do artigo 751. do C.C. (acórdão 362/2002, publicado no DR - I-A, n.º 239, de 16/10/2002). 13. Assim, os créditos garantidos apenas com

privilégio imobiliário geral na graduação de créditos em confronto com os créditos hipotecários reclamados não gozam de prioridade. 14. Porém, o mesmo não sucede com os créditos que apenas gozem da garantia decorrente da penhora. 15. A prevalência dos privilégios creditórios gerais sobre a penhora foi apreciada no Acórdão do Tribunal Constitucional n. 697/2004, de 15 de Dezembro, a propósito do privilégio imobiliário geral atribuído pelo artigo 11.º do Decreto Lei n.º 103 de 09/05, no qual se considerou que na ponderação dos privilégios (mobiliário ou imobiliário geral) e a confiança dos cidadãos não pende no sentido da sua incompatibilidade com a constituição. 16. Considerou-se ainda, que as razões que levaram a concluir pela inconstitucionalidade da norma que atribui prevalência aos privilégios imobiliários gerais sobre hipoteca não valem, da mesma forma, relativamente à penhora. 17. Com efeito, como se refere no mencionado acórdão (...) não se pode deixar de reconhecer que, face à hipoteca é bem mais fraca a garantia do credor comum resultante da penhora: a divida exequenda não goza ad origine de qualquer privilégio, não está de qualquer modo relacionada com o bem penhorado e surge num momento imprevisível dependente da simples tramitação processual ( ). 18. Conforme escreve Miguel Lucas Pires (Dos privilégios Creditórios, Regime jurídico e sua influencia no concurso de credores), Almedina, pág. 183, ( ) No que tange às garantias processuais, começaremos por salientar a posição de supremacia dos créditos com privilégio mobiliário geral face àqueles cuja única causa de preferência seja a resultante da penhora: com efeito, apesar de os direitos conferidos por ambos se reportarem à mesma data a apreensão dos bens o privilégio pré-existe e, por essa razão, o credor que goze dele deve ser satisfeito com prioridade (...). 19. A penhora em rigor não é uma garantia real, mas um acto processual, consubstanciando-se na apreensão jurídica de bens do devedor ou de terceiro, em termos de desapossamento em relação

àqueles e de empossamento quanto ao tribunal, com vista à realização dos fins da acção executiva. 20. Por seu turno, prescreve o artigo 822., n.º 1, do C.C que Salvo nos casos expressamente previstos na lei, o exequente adquire pela penhora o direito de ser pago com preferência a qualquer outro credor que não tenha garantia real anterior. 21. Isto é, pela penhora o exequente adquire um direito real de garantia, que lhe assegura preferência sobre os demais credores sem privilégio, garantia real anterior, no pagamento pelo produto da venda dos bens penhorados. 22. Os créditos que gozem apenas de penhora, que não beneficiam de qualquer privilégio creditório, estão no escalão inferior dos créditos graduáveis e prevalecem apenas sobre os outros que não gozem de penhora posterior. 23. Deste modo, tendo a penhora sido efectuada em 2010, os créditos exequendos respeitantes a IRS de 2007 e os créditos reclamados pela Fazenda Pública relativos a IRC e IRS do ano de 2007, porque gerados nos três anos que antecederam a penhora, gozam de privilégio imobiliário geral sobre os bens existentes no património do sujeito passivo à data da penhora de acordo com o disposto nos artigos 108.º e 111. do CIRC e CIRS, respectivamente. 24. Consequentemente, deviam ter sido graduados em segundo lugar, a seguir ao crédito reclamado por C, L.da, garantido por hipoteca e antes dos créditos reclamados por D, Lda e os restantes créditos exequendos (IRS de 2006, coimas fiscais dos anos de 2007 e 2008 e IVA de 2007), garantidos apenas por penhora de acordo com o disposto nos artigos 747., n.º 1 e 822. do C.C. 25. Não o tendo feito, a douta sentença recorrida violou o disposto nos artigos 240., n.º 1, do CPPT, nos artigos 733., 747. e 822. do C.C. e nos arti gos 108. do CIRC e 111. do CIRS. 1.2. Não foram apresentadas contra-alegações. 1.3. O Ministério Público junto do S.T.A. emitiu parecer (fls. 189-190), defendendo o entendimento de que deve ser dado provimento ao recurso jurisdicional, revogando-se a sentença recorrida e procedendo-se à graduação de créditos na forma aí

expendida. 2. A sentença julgou verificados os seguintes créditos reclamados: a) Por C, Lda., Contribuinte Fiscal n.., um crédito no montante global de 89.367,76, proveniente de mútuos e cedência de créditos hipotecários litigiosos, sendo 36.421,66 de capital, acrescido de juros vencidos no montante de 51.449,71, e despesas extrajudiciais no montante de 1.496,39, garantido por hipotecas que incidiram sobre o prédio urbano sito no Lugar de., em, inscrito na respectiva matriz predial urbana sob o artigo 1485, descrito na Conservatória do Registo Predial de Ovar sob o n 02009/231294, registada pela Ap.12/050896. b) Por D, Lda., Contribuinte Fiscal n, um crédito no montante global de 37.964,48, titulado por letras de câmbio em execução, sendo 29.499,06 de capital, acrescido de juros vencidos no montante de 8.098,54, e ainda 366,88 de despesas judiciais, garantido por penhoras que incidiram sobre o prédio inscrito na matriz predial urbana de sob o artigo 1485, descrito na Conservatória do Registo Predial de Ovar sob o n 02009/19941223, efectuada no âmbito do Processo de Execução n 2099/07.0 TBOVR, do Juízo de Execução de Ovar, registadas pelas Ap. 28 de 2008/01/14 e Ap. 24 de 2008/03/10. c) Pela Fazenda Pública foram reclamados créditos de IRC e IRS, referentes a 2007, garantidos pelos privilégios constantes dos artigos 108 do CIRC e 111.º do CIRS. 3. A única questão que é objecto do presente recurso jurisdicional consiste em saber se os créditos que gozam de privilégio mobiliário geral devem ser graduados antes dos créditos que são garantidos por penhora. Na graduação dos créditos reclamados, ao referir-se aos créditos privilegiados de IRC e IRS, a sentença recorrida considerou o seguinte: (i) «na medida em que tais privilégios não se reportam a um bem imóvel concreto e determinado, mas antes a todo o património do devedor, são os créditos de IRS e IRC

que têm de ceder perante os créditos garantidos por hipoteca e penhora»; (ii) «pelo exposto, entende-se que os créditos privilegiados de IRS e IRC não gozam de prioridade na graduação em confronto com os créditos hipotecários reclamados, bem como os garantidos por penhora, registados em momento anterior». Em face dessa argumentação, procedeu-se à seguinte graduação: 1 - Os créditos hipotecários reclamados por C, L.da, com os limites estatuídos na respectiva inscrição predial e com a limitação temporal dos juros; 2 - Os créditos reclamados por D, L.da, garantidos por penhoras, acrescidos dos juros; 3 - Os créditos exequendos, garantidos por penhora, acrescidos de juros; 4 - Os créditos reclamados pela Fazenda Pública, referentes a IRS e IRC, acrescidos de juros. A recorrente discorda desta graduação, por entender que os créditos exequendos e reclamados de IRS e IRC de 2007, ao gozarem de privilégio imobiliário geral, devem ser graduados em segundo lugar, com prioridade sobre os créditos garantidos por penhora. Efectivamente, a recorrente tem razão. Os créditos de IRS e IRC gozam de privilégio imobiliário geral, nos termos dos artigos 111º do CIRS e 108º do CIRC: «para pagamento de IRS (ou de IRC) relativo aos três últimos anos, a Fazenda Pública goza de privilégio mobiliário geral e privilégio imobiliário sobre os bens existentes no património do sujeito passivo à data da penhora ou outro acto equivalente». No confronto entre o privilégio imobiliário e a hipoteca, a sentença recorrida decidiu bem, uma vez que, por aplicação da norma do art. 749º do CCv, aquele não tem prioridade relativamente à hipoteca constituída anteriormente à data da penhora dos bens sobre que incidem um e outra. Com efeito, após a declaração de inconstitucionalidade com força obrigatória geral do artigo 11º do DL nº 103/80, na interpretação segundo a qual o privilégio imobiliário geral prefere sobre a hipoteca, ainda que constituída anteriormente (Ac. do TC nº 363/02, in DR. I Série - A, de 16/10/2002), tem vindo a

defender-se que o privilégio imobiliário geral cede perante uma hipoteca que for constituída em data anterior ao registo da penhora dos bens sobre que incide. A tais privilégios, no conflito com créditos protegidos com outras garantias sobre os mesmos bens, aplica-se o artigo 749º, segundo o qual esses privilégios não valem contra terceiros que sejam titulares de direitos que, recaindo sobre coisas abrangidas pela penhora, sejam oponíveis ao exequente. E os direitos oponíveis ao exequente são aqueles que não podem ser atingidos pela penhora, neles se compreendendo os direitos reais de garantia que tenham sido constituídos antes da data da penhora (arts. 819º e 822º do CCv). Mas no concurso entre privilégio imobiliário geral e a penhora, a sentença ocorreu em erro de julgamento, na medida em que aquele tem preferência sobre esta. A preferência do privilégio creditório sobre a penhora resulta da conjugação dos artigo 822º com o artigo 733º do CCv, uma vez que a preferência que a penhora confere ao exequente de ser pago com preferência a qualquer outro credor que não tenha garantia real anterior, apenas existe nos casos em que a lei especial não estabeleça outra regra de preferência, sendo um desses casos as normas que estabelecem os privilégios (cfr. ac. do STA de 30/11/2004, rec. nº 752/04). Por outro lado, confrontando-se o privilégio com créditos cuja única causa de preferência é a penhora, apesar dos direitos conferidos por ambas garantias se reportarem à mesma data a da apreensão dos bens o privilégio pré-existe e, por isso, o credor que dele goza deve ser satisfeito com prioridade. (cfr. Miguel Lucas Pires, Dos Privilégios Creditórios: Regime jurídico e sua influência no concurso de credores, pág. 183). Na verdade, tal como a generalidade das garantias das obrigações, o privilégio constitui um acessório do crédito que se destina a garantir. O que permite concluir que, atento esse carácter acessório, o privilégio se constitui quando da constituição da obrigação do imposto. Do artigo 733º do CCV resulta que a simples constituição do crédito determina o carácter privilegiado do mesmo, sem necessidade do credor ter que realizar quaisquer outras

formalidades. A penhora ou acto equivalente são pois actos processuais que não se reflectem no nascimento do imposto, mas apenas na definição da abrangência temporal da eficácia do privilégio. Como refere Salvador da Costa, o privilégio creditório «surge com a constituição do direito de crédito que garante, mas a sua eficácia depende do acto de penhora sobre os bens que são objecto da sua incidência, o que significa que a sua constituição se verifica quando ocorrem os actos ou os factos de que a lei faz depender a sua atribuição, e que se concretizam nos bens penhorados na acção executiva» (O Concurso de Credores, 1998, pág. 171). Assim sendo, os créditos privilegiados de IRS e IRC de 2007 constituíram-se em data anterior à penhora que garante os créditos reclamados por D, Lda, e por isso, devem ser graduados antes deles. É que, as penhoras registadas em 14/1/2008 e 10/3/2008 para garantia do crédito daquela sociedade também têm virtualidade para transformar a mera preferência do credor privilegiado em direito real de garantia. Como refere Miguel Lucas Pires, na obra citada «atento o carácter geral do privilégio, o direito do credor que possua semelhante garantia torna-se operativo cada vez que algum bem do devedor seja penhorado, independentemente de ter sido ou não o credor privilegiado o exequente e do processo em que a penhora tenha ocorrido» (ob cit. pág. 440). Deste modo, como o privilégio existe desde 2007, data da sua constituição, o crédito tributário deve ser satisfeito antes daquele outro cuja única causa de preferência resulte da penhora. E nem se diga que esta interpretação pode ser inconstitucional, pois a propósito da conformidade do artigo 11º do DL nº 103/80 de 9/5, na interpretação segundo a qual o privilégio imobiliário geral por ele atribuído à Segurança Social prefere à garantia emergente da penhora invocada pelo exequente, o Tribunal Constitucional entende que, contrariamente ao que ocorre na concorrência da hipoteca, neste caso não há violação do princípio da confiança dos demais credores, nem a preferência se mostra irrazoável ou desproporcional à protecção conferida pela penhora ao credor comum (cfr. Ac. do TC nº

193/2003, nº 697/2004 e nº 231/07, in www.tribunalconstitucional.pt). 4. Pelo exposto, acordam os juízes da Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo em conceder provimento ao recurso, revogar a sentença recorrida e, em consequência, graduar os créditos pela ordem seguinte, saindo as custas precípuas do produto dos bens penhorados: 1 - Os créditos hipotecários reclamados por C, Lda, com os limites estatuídos na respectiva inscrição predial e com a limitação temporal dos juros; 2 - Os créditos exequendos e reclamados de IRS e IRC do ano de 2007; 3 - Os créditos reclamados por D, L.da, garantidos por penhora, acrescidos dos juros; 4 - Os créditos exequendos, garantidos por penhora, acrescidos de juros. Sem custas. Lisboa, 23 de Maio de 2012. Lino Ribeiro (relator) Dulce Neto Ascensão Lopes.