Direito Processual Penal Inquérito Policial III Valor Probatório, Formas de Instauração, Delatio Criminis, Notitia Criminis Prof. M.Sc. Adriano Barbosa Delegado de Polícia Federal
Doutrina referência para a nossa aula: Guilherme NUCCI - Código de Processo Penal Comentado. Norberto AVENA Processo Penal Esquematizado. Fernando Costa TOURINHO FILHO Manual de Processo Penal Renato BRASILEIRO Manual de Processo Penal. Bruno CABRAL e Rafael SOUZA - Manual Prático de Polícia Judiciária
Valor Probatório
A prova angariada em sede Inquérito Policial têm validade, em regra, somente como indício, merecendo ser confirmada em juízo sob o crivo do devido processo penal e os auspícios do contraditório e da ampla defesa.
Todavia, o próprio CPP no seu art. 155 permite que o Juiz forme sua convicção também em elementos colhidos no IPL, in literis: art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
Formas de Instauração
Diante da notitia criminis dá-se a instauração do IPL que representa o seu início. Em sendo a comunicação adstrita a um crime de ação penal pública incondicionada o IPL será instaurado das seguintes formas, conforme art. 5º, caput e 1º, CPP:
I - De Ofício O Delegado de Polícia, tomando conhecimento da prática de uma infração penal, determina, por sua conta e através de Portaria, a instauração do Inquérito. II - Mediante Requisição A Autoridade Policial instaura o Inquérito devido a requisição, requerimento lastreado em lei, do MJ, do Juiz ou do MP. III - Mediante Requerimento - do Ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
Na forma do art. 5º, CPP: Art. 5 o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: I - de ofício; II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. 1 o O requerimento a que se refere o n o II conterá sempre que possível: a) a narração do fato, com todas as circunstâncias; b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer; c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência.
A Autoridade Policial em regra não pode indeferir requisição do MP ou de Juiz para instauração de IPL. Isto, tendo em vista que a requisição é uma exigência legal.
ATENÇÃO Todavia, diante de uma requisição que não fornece nenhum dado que traduza justa causa em prol da instauração de IPL, caberá à Autoridade Policial refutar a instauração e se manifestar (oficiar) em face da autoridade requisitante demonstrando a impossibilidade da inauguração da persecução criminal em vista dos dados apresentados. Este é o posicionamento, por exemplo, de TOURINHO FILHO, NUCCI e do STF (RE 205.473-AL).
De outro lado, a Autoridade Policial poderá indeferir requerimento de instauração de IPL nas seguintes hipóteses, como ensina TOURINHO FILHO: 1. Se já estiver extinta a punibilidade; 2. Se o requerimento não fornecer o mínimo indispensável para se proceder à investigação; 3. Se a Autoridade a quem for dirigido o requerimento não for a competente; 4. Se o fato narrado for atípico; 5. Se o requerente for incapaz.
Em face de indeferimento do requerimento de instauração pode o ofendido interpor recurso administrativo ao Chefe de Polícia (Superintendente Regional da Polícia Federal) em petição fundamentada demonstrando a eventual falta de razão do Delegado de Polícia, cf. o art. 5º, 2º, CPP.
Vide o que ordena o art. 5º, 2º, CPP: Art. 5 o (...) 2 o Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia.
Além da instauração do IPL na forma determinada pelo art. 5º, caput e 1º, CPP, visto acima, o Inquérito Policial pode se iniciar também, nos crimes de ação penal pública incondicionada através: 1) Auto de Prisão em Flagrante Nos termos do art. 301 e seguintes do CPP:
Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em seguida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o auto. 1 o Resultando das respostas fundada a suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do inquérito ou processo, se para isso for competente; se não o for, enviará os autos à autoridade que o seja.
2) Delatio Criminis Nos termos do art. 5º, 3º, CPP, quando qualquer do povo leva à Autoridade Policial uma notitia criminis, sendo vedado o anonimato. Art. 5 o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: (...) 3 o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito.
Em sendo a comunicação adstrita a um crime de ação penal pública condicionada o IPL será instaurado mediante: 2.1) Representação do ofendido A vítima comunica um crime e solicita providência do Estado para punir o seu responsável. Nos termos do art. 5º, 4º, CPP, literis:
Art. 5 o (...) 4 o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser iniciado.
Em sendo a comunicação adstrita a um crime de ação penal privada o IPL somente será instaurado mediante: 2.2) Requerimento de quem tiver qualidade para intentá-la, ou seja, o ofendido ou quem o represente. Nos termos do art. 5º, 5º, CPP, in verbis:
Art. 5 o (...) 5 º Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la.
Delatio Criminis
Há a Delatio Criminis Simples, nos termos do art. 5º, 3º, CPP, consiste na faculdade a qualquer do povo de levar à Autoridade Policial uma notitia criminis, sendo vedado o anonimato. E há a Delatio Criminis Postulatória quando além da comunicação de um fato supostamente criminoso há a solicitação de providências do Estado-Investigação para punir o seu responsável. Nos termos do art. 5º, 4º, CPP.
Art. 5 o (...) 3 o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito. 4 o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser iniciado.
Notitia Criminis
A notitia criminis é o conhecimento espontâneo ou provocado, por parte do Delegado de Polícia, de um fato aparentemente criminoso. Pode ser classificada: 1) Notitia criminis de cognição direta, imediata, espontânea ou inqualificada - quando o Delegado de Polícia toma conhecimento direto do ilícito através de suas atividades de rotina.
2) Notitia criminis de cognição indireta, mediata, provocada ou qualificada - quando o Delegado de Polícia toma conhecimento do ilícito por meio de algum ato jurídico de comunicação formal do delito.
A notitia criminis de cognição indireta pode dar-se por: 1. Delatio criminis, CPP, art. 5º, II nos crimes de ação penal pública Incondicionada. 2. Requisição do Juiz e do MP, CPP, art. 5º, II. 3. Requisição do MJ, CP, art. 7º, 3º, b. 4. Representação do ofendido, CPP, art. 5º, 4º.
3) Notitia criminis de cognição coercitiva - Ocorre no caso de prisão em flagrante.
Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em seguida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o auto. 1 o Resultando das respostas fundada a suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do inquérito ou processo, se para isso for competente; se não o for, enviará os autos à autoridade que o seja.
ATENÇÃO Conforme o STF: "(...) (a) os escritos anônimos não podem justificar, só por si, desde que isoladamente considerados, a imediata instauração da persecutio criminis, eis que peças apócrifas não podem ser incorporadas, formalmente, ao processo, salvo quando tais documentos forem produzidos pelo acusado, ou, ainda, quando constituírem, eles próprios, o corpo de delito (como sucede com bilhetes de resgate no delito de extorsão mediante sequestro, ou como ocorre com cartas que evidenciem a prática de crimes contra a honra, ou que corporifiquem o delito de ameaça ou que materializem o crimen falsi, p. ex.);
ATENÇÃO (b) nada impede, contudo, que o Poder Público provocado por delação anônima ('disque-denúncia', p. ex.), adote medidas informais destinadas a apurar, previamente, em averiguação sumária, 'com prudência e discrição', a possível ocorrência de eventual situação de ilicitude penal, desde que o faça com o objetivo de conferir a verossimilhança dos fatos nela denunciados, em ordem a promover, então, em caso positivo, a formal instauração da persecutio criminis, mantendo-se, assim, completa desvinculação desse procedimento estatal em relação às peças apócrifas; e
ATENÇÃO (...) (Inq 1.957, rel. min. Carlos Velloso, voto do min. Celso de Mello, julgamento em 11-5-2005, Plenário, DJde 11-11-2005.) No mesmo sentido: HC 106.664-MC, rel. min. Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 19-5-2011, DJE de 23-5-2011; HC 99.490, rel. min. Joaquim Barbosa, julgamento em 23-11-2010, Segunda Turma, DJEde 1º-2-2011; HC 95.244, rel. min. Dias Toffoli, julgamento em 23-3-2010, Primeira Turma, DJE de 30-4-2010. Vide: HC 90.178, rel. min. Cezar Peluso, julgamento em 2-2-2010, Segunda Turma, DJE de 26-3-2010.
Direito Processual Penal Muito obrigado! Até a próxima. Prof. M.Sc. Adriano Barbosa Delegado de Polícia Federal