ALIMENTOS PÓS-DIVÓRCIO



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Transcrição:

ALIMENTOS PÓS-DIVÓRCIO Patrícia Fontanella Advogada em Santa Catarina. Especialista em Direito Civil pela UNISUL e Mestre em Ciência Jurídica pela UNIVALI. Professora de Direito Civil em cursos de Graduação e Pós-Graduação em Direito. Professora da ESA/SC e da Escola Paulista de Direito EPD. Sumário: 1. Introdução. 2. Alimentos: plano conceitual. 3. Dever de sustento e obrigação alimentar. 4. Efeitos jurídicos da separação e do divórcio. 5. Renúncia dos alimentos: validade? 6. Alimentos pós-divórcio: possibilidade? 6. Conclusão. 7. Referências. Resumo: O Código Civil modificou significativamente o tratamento destinado à matéria de alimentos, gerando controvérsias na interpretação até então existente sobre o tema. Nesse sentido, visa o presente artigo discutir a possibilidade da concessão de alimentos entre os cônjuges após o divórcio. Palavras-chave: Alimentos, obrigação alimentar e alimentos pós-divórcio. A lei é letra morta. O magistrado vivo. É uma grande vantagem que ele tem sobre ela. Anatole France 1. Introdução O casamento estabelece a comunhão plena de vida, prevendo direitos e deveres conjugais, a teor do artigo 1.566 do Código Civil. Dentre eles, encontra-se o dever de mútua assistência, que dá origem à recíproca obrigação alimentar entre os cônjuges. Em face do novo tratamento dispensado à matéria, a comunidade jurídica vem questionando a possibilidade de o cônjuge que no processo de divórcio não teve fixado em seu favor uma pensão, vir posteriormente a juízo para reclamá-la, alegando necessidade superveniente. O assunto é polêmico e tem sido discutido pela doutrina e jurisprudência atuais 1

em face da modificação havida na sistematização do instituto nos artigos 1.694 e seguintes do Código Civil. Nesse sentido, indaga-se, desde logo, se a possibilidade jurídica de buscar alimentos do ex-cônjuge encontra seu limite na decretação do divórcio. 2. Alimentos: plano conceitual Alimentos são as prestações para a satisfação das necessidades de uma pessoa, que não pode provê-las por si só. 1 A teor da Constituição Federal de 1988, a fundamentação do dever de alimentos está ligado à dignidade da pessoa humana (art. 1º, III) e à solidariedade social e familiar (art. 3º ), devidos em razão do vínculo conjugal ou convivencial e, ainda, decorrente do parentesco, seja ele consangüíneo ou socioafetivo. A lei não explicita o que são, ou quais são os alimentos a serem prestados. Em tentativa conceitual, Flávio Tartuce e José Fernando Simão anotam que [...] o artigo 6º da CF/88 serve como uma luva para preencher o conceito atual dos alimentos. Esse dispositivo do Texto Maior traz como conteúdo os direitos sociais que devem ser oferecidos pelo Estado, a saber: a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados. 2 Os alimentos estão relacionados com o direito fundamental à vida e devido aos parentes, cônjuge ou convivente que por si só não pode prover alimentos para a sua subsistência e compatibilidade com a vida social, seja em caráter temporário ou vitalício. Os alimentos assumem um sentido amplo, compreendendo a sobrevivência com dignidade, incluindo-se aí [...] os bens materiais e imateriais que envolvem a satisfação das necessidades do ser humano e não apenas os gêneros alimentícios em espécie (alimentos propriamente ditos que são os suficientes para suprir as necessidades de alimentação). 3 1 GOMES, Orlando. Direito de família. 14 ed. Atualização de Humberto Theodoro Júnior. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 427. 2 TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito civil. Série concursos públicos. Direito de Família. 2 ed., São Paulo: Método, 2007, p. 378. 3 HASHIMOTO, Gláucio. Renúncia ao direito de alimentos entre cônjuges na separação consensual do CC/1916 ao novo Código Civil. Disponível em http://www.cesumar.br/pesquisa/periodicos/index.php/revjuridica/article/viewfile/401/405. Acesso em 31.1.2009. 2

Em nível infraconstitucional, pela primeira vez, a legislação abarcou a classificação quanto à natureza dos alimentos já consagrada pela doutrina e jurisprudência. O Código Civil de 2002 expressamente prevê os alimentos naturais e os chamados civis ou côngruos 4. O dever de prestar alimentos compreende não só o indispensável para o sustento (necessarium vitae), como também o necessário à manutenção da condição social do alimentando (necessarium personae), conforme o artigo 1.694 do Código Civil: Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. O Código atual não distinguiu a origem da obrigação alimentar para efeitos da concessão de alimentos, contrariando entendimento jurisprudencial consolidado na vigência do Código Civil de 1916, que diferenciava os alimentos devidos entres parentes e os oriundos do vínculo conjugal ou convivencial. À prole eram deferidos alimentos civis, assegurando compatibilidade com a condição social do alimentante, concedendo aos filhos a mesma condição de vida dos pais. Os consortes e companheiros percebiam alimentos naturais: o indispensável à sobrevivência com dignidade. 5 Assim, independente da origem da obrigação alimentar, o alimentando tem direito aos alimentos naturais e civis, observados sempre o binômio necessidade/possibilidade, à luz do par. 1º do artigo 1.694 Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada. Mas afinal, quais são os alimentos indispensáveis à sobrevivência na atualidade? E quais os para manter a condição social? Qual a sua abrangência? Para Francisco José Cahali: De um modo geral, na respectiva mensuração, além das necessidades básicas da habitação, alimentação, vestuário e saúde, não se poderia excluir o mínimo razoável pra o lazer do alimentado, essencial ao desenvolvimento 4 Expressão cunhada pelo autor venezuelano LOPEZ-HERRERA, Francisco. Anotaciones sobre derecho de família. Caracas: Universidad Católica, 1970, p. 123. 5 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 4 ed. revista, atualizada e ampliada. São Paulo: RT, 2007, p. 452. 3

sadio da pessoa. E, certa medida, pois, exclui-se tão somente o excedente destinado à manutenção da condição social, além dos gastos supérfulos, ainda que a pretexto daquelas verbas referidas. Fazemos estas rápidas considerações sobre a quantificação dos alimentos necessários, sem pretensão de firmar teses ou conclusões definitivas, mas apenas para provocar a discussão. Sem dúvida, será tema apaixonante, a despertar calorosos debates na doutrina e na jurisprudência. 6 Na opinião de Maria Berenice Dias mesmo em se tratado de alimentos necessários, [...] as necessidades educacionais não podem ser excluídas, assim como um mínimo razoável ao lazer e ao atendimento de necessidades intelectuais. 7 Já a professora Maria Helena Diniz defende compreenderem estritamente o necessário à subsistência do alimentando, v.g., alimentação, remédios, vestuário e habitação, sendo os alimentos civis ligados a outras necessidades, tais como educação e recreação. 8 Em igual sentido, Rolf Madaleno assevera: Os alimentos civis ou côngruos são destinados a manter a condição social do credor e integram, além da alimentação, habitação, do vestuário, o lazer e outras necessidades de ordem intelectual ou moral, arbitrados em consonância com as condições financeiras do alimentante. 9 A delimitação do conteúdo dos alimentos necessários e civis ficará a cargo da jurisprudência que, em seu papel construtivista, indicará seus contornos. Contudo, pensamos ser imprescindível incluir a educação entre os alimentos necessários, ao lado da alimentação, habitação e vestuário. A diferença entre alimentos necessários e civis ganhou importância na medida em que, em determinados casos, o legislador limitou o seu conteúdo ao necessário à subsistência, v.g. par. 2º do art. 1.694: Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia., e ainda, par. único do artigo 1.704: Se o cônjuge declarado culpado vier a necessitar de alimentos, e não tiver parentes em condições de prestá-los, nem aptidão para o trabalho, o outro cônjuge será obrigado a assegurá-los, fixando o juiz o valor indispensável à sobrevivência. 6 CAHALI, Francisco José. Dos alimentos. In: DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Direito de família e o novo código civil. 2 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 196. 7 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, p. 452. 8 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. v. 5. 22 ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 554. 9 MADALENO, Rolf. Alimentos e sua configuração atual. In: TEIXEIRA, Ana Carolina Brochardo; RIBEIRO, Gustavo Pereira Leite (Coord.). Manual de Direito das Famílias e das Sucessões. Belo Horizonte: Del Rey, 2008, p. 426. 4

Verifica-se que o legislador tratou de forma diferenciada o conteúdo dos alimentos excluindo a parcela relativa aos alimentos civis de acordo com a responsabilidade pela situação que ensejou o estado de necessidade. 10 Porém, importante anotar-se que a discussão da culpa pelo fim do enlace conjugal tem sido afastada em várias decisões judiciais. Essa tem sido a tendência de vários Tribunais no país que, seguindo o norte da inconstitucionalidade da discussão de culpa pelo rompimento da relação conjugal, afastam a decretação de um culpado na ação de separação litigiosa, por violar o princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III da CRFB/88). 11 3. Dever de sustento e obrigação alimentar Entre pais e filhos há o chamado dever de sustento, decorrente do poder familiar, conforme o artigo 1.634 do Código Civil. Com o desfazimento da sociedade conjugal, o cônjuge que não possui a guarda direta passa a dever-lhe alimentos, cessando, em regra, com a maioridade do filho, 12 porém não de forma automática. Entre os cônjuges, o dever de mútua assistência dá origem à recíproca obrigação alimentar, a teor do artigo 1.566, IV do Código Civil. A responsabilidade pela subsistência do consorte é um dos efeitos do casamento e independe da vontade dos noivos. 13 Já entre parentes, há a obrigação alimentar decorrente de lei, fundada no parentesco, em conformidade com o artigo 1.694 do Código Civil, ficando restrita aos ascendentes, descendentes e colaterais até o segundo grau, com reciprocidade, tendo por fundamento o princípio da solidariedade familiar (art. 1.697). Há corrente doutrinária a qual nos filiamos que sustenta que, em se tratado de obrigação alimentar decorrente de parentesco, deve-se estender sua aplicação na linha colateral até o quarto grau, visto que se 10 CAHALI, Francisco José. Op.cit., p. 195. 11 RIO GRANDE DO SUL. Apelação Cível n. 70005834916. Relator: José Carlos Teixeira Giorgis. Julgado em 02.04.2003. Disponível em www.tj.rs.gov.br Acesso em 31.1.2009. 12 A maioridade, por si só, não basta para exonerar os pais do dever de sustento, eis que, até 24 anos, o filho que não trabalha e estuda no ensino superior pode pleitear alimentos. Cf. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AGA 655.104/SP. 3ª Turma. Relator: Min Humberto Gomes de Barros. Julgado em 28.5.2005. Disponível em www.stj.gov.br. Acesso em 31.1.2009. 13 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, p. 464. 5

esses colaterais são herdeiros, tendo direitos, também têm obrigações, caso da de prestar alimentos. Em outras palavras, se têm bônus, também têm ônus. 14 Com efeito, a obrigação alimentar é recíproca, dependendo das possibilidades do devedor e exigível apenas se houver necessidade do credor; já os deveres familiares não têm o caráter de reciprocidade por serem unilaterais e devem ser cumpridos incondicionalmente. 15 O dever de prestar alimentos decorrentes do parentesco, em função do vínculo conjugal ou convivencial está calcado na solidariedade humana que se supõe existir entre os parentes e membros de uma família, a partir do binômio necessidade de um e da possibilidade econômica do outro. De acordo com Arnaldo Rizzardo, há um dever moral de mútuo auxílio familiar, transformado em norma ou mandamento jurídico. Originariamente, não passava de um dever moral, ou uma obrigação ética, que no direito romano se expressava na equidade, ou no officium pietatis, ou na caritas. 16 4. Efeitos jurídicos da separação e do divórcio A dissolução da sociedade conjugal pela separação produz efeitos pessoais e patrimoniais entre os cônjuges, bem como gera efeitos na relação parental. Como efeitos pessoais da separação, rompem-se os deveres de coabitação e fidelidade recíproca, conforme o artigo 1.576 do Código Civil. Impede o cônjuge de continuar utilizando o sobrenome do outro, se declarado culpado na separação litigiosa, desde que não configurem os casos do art. 1.578 do Código Civil: a) evidente prejuízo para a sua identificação; manifesta distinção entre o seu nome de família e dos filhos havidos a união dissolvida e grave dano reconhecido na sentença judicial. 17 14 TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Op. cit., p. 384. No mesmo sentido, Maria Berenice Dias. 15 GOMES, Orlando. Op.cit., p. 457. 16 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. 2 ed., Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 717. 17 Importante ressaltar corrente doutrinária - a qual nos filiamos segundo a qual o nome, por se encontrar na esfera dos direitos da personalidade, só pode deixar de ser utilizado caso o titular deste assim o deseje. A professora Silmara Juny Chinelato defende os direitos da personalidade como aspecto primordial do nome, afirmando: Propomos que a questão do nome da mulher casada, quando da separação e do divórcio, seja sempre analisada sob a ótica do direito à identidade, como direito da personalidade da mulher, já que o nome agora é dela e não do marido. CHINELATO e ALMEIDA, Silmara Juny de A. Do nome da mulher casada: direito de família e direitos da personalidade. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha. (Coord.). Família e cidadania: o novo código civil e a Vacatio Legis. Anais...III Congresso Brasileiro de Direito de Família, p. 298. 6

A lei permite ainda aos separados restabelecer a sociedade conjugal a qualquer tempo (art.1.577), bem como a possibilidade da conversão em divórcio após um ano do trânsito em julgado da sentença que decretou/homologou a separação, da medida concessiva da separação de corpos ou da outorga da escritura há mais de um ano (art. 1.580). Relativamente aos efeitos patrimoniais, a separação põe fim ao regime de bens, substitui o dever de mútua assistência pelo de obrigação alimentar e suprime o direito sucessório entre os cônjuges. Quanto aos filhos, a separação produz efeitos relativamente ao poder familiar. Levando em conta o melhor interesse da criança, o cônjuge que não detiver a guarda direta do filho possui assegurado o direito de fiscalização e visita. Havendo fixação da guarda compartilhada, os filhos têm assegurada a convivência e o acesso livre a ambos, eis que mesmo separados os pais exercem em plenitude o poder familiar. Com o divórcio, dissolve-se o casamento válido, extinguindo o vínculo matrimonial, a teor do artigo 1571, inc. IV e par. 1º do Código Civil. Põe fim aos deveres conjugais dos cônjuges, possibilitando novo casamento aos que se divorciam. 5. Renúncia dos alimentos: validade? A questão da renúncia dos alimentos há muito gera controvérsias. Após a CF/88 os Tribunais, em especial do Superior Tribunal de Justiça, passaram a considerar válida a renúncia acordada entre os cônjuges, entendendo serem irrenunciáveis apenas os alimentos decorrentes do parentesco 18, bem como a considerar a Súmula 379 do STF 19 revogada, ao fundamento de que o enunciado protecionista que nela se 18 Tem prevalecido na doutrina que os alimentos decorrentes do parentesco não podem ser renunciados dado a predominância do interesse público e a prevalência da proteção àqueles que necessitem dos meios para sobrevivência determinando até os colaterais de segundo grau a obrigação alimentar proveniente de jus sanguinis. 19 Súmula 379 do STF: No acordo de desquite não se admite renúncia aos alimentos, que poderão ser pleiteados ulteriormente, verificados os pressupostos legais. 7

contém não mais se compatibiliza com o princípio igualitário entre os cônjuges, proclamado pelo art. 226, par. 5º, da Constituição. 20 O Código Civil de 2002 prevê, em seu artigo 1.707, a irrenunciabilidade do direito aos alimentos independentemente de sua origem, contrariando entendimento doutrinário e jurisprudencial construído ao longo de anos de discussão em torno do assunto. Assim dispõe: Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora". Nesse norte, em interpretação sistemática com o artigo 1.694, os cônjuges, conviventes ou parentes podem deixar de exercer, mas não renunciar o direito aos alimentos, reafirmando o entendimento da antiga Súmula 379 do STF. O tema é controvertido, não havendo unanimidade entre os autores, principalmente em se tratando de renúncia aos alimentos na separação. Sílvio de Salvo Venosa lembra: Sob o aspecto técnico, não há dúvida de que a renúncia aos alimentos pelo cônjuge é manifestação de vontade válida, pois apenas os alimentos derivados do parentesco são, em princípio, irrenunciáveis. O dever de mútua assistência entre os cônjuges rompe-se quando é desfeito o casamento. Ademais, o acordo firmado na separação por mútuo consentimento é negócio jurídico bilateral com plenitude de efeitos. Se as vontades manifestam-se livremente, não há aspecto de ordem pública a ser preservado na renúncia aos alimentos. 21 Para Maria Helena Diniz, havendo renúncia na separação ou no divórcio ao exercício do direito à pensão alimentícia, posteriormente carecerá de ação para pleitear alimentos ao seu ex-marido, ante a insubsistência do vínculo matrimonial, mesmo que alegue alteração de sua situação econômica. 22 O Superior Tribunal de Justiça entendeu recentemente que, não havendo vínculo de parentesco entre cônjuges, é plenamente válida a renúncia aos alimentos efetivada 20 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. Direito de família. V. VI São Paulo: Saraiva, 2005, p. 464. 21 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: direito de família. 3 ed., São Paulo: Atlas, 2003, p. 225. 22 DINIZ, Maria Helena. Op.cit., p. 563. 8

no acordo de separação judicial 23 orientação de alguns Tribunais no país. 24 não mais podendo recobrá-lo, sendo essa também a Já para Maria Berenice Dias são os alimentos irrenunciáveis em qualquer hipótese, razão pela qual sustenta a possibilidade de, a qualquer tempo, o ex-cônjuge pleitear alimentos. E argumenta: Como os alimentos são irrenunciáveis, ainda que tenha havido renúncia, desistência ou mera dispensa na separação, no divórcio ou na dissolução (contratual ou judicial) da união estável, qualquer dos cônjuges ou conviventes pode a qualquer tempo pleitear alimentos. Basta exsurgir a necessidade. 25 O Enunciado 263 aprovado na III Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal trata apenas da renúncia no divórcio e dispõe: O art. 1.707 do Código Civil não impede seja reconhecida válida e eficaz a renúncia manifestada por ocasião do divórcio (direto ou indireto) ou da dissolução da união estável. A irrenunciabilidade do direito a alimentos somente é admitida enquanto subsista vínculo de direito de família. 26 Entendemos que na sistemática legal vigente é possível ao cônjuge necessitado buscar alimentos do ex-cônjuge antes do divórcio, mesmo no caso de ter renunciado ao direito na separação, a teor dos artigos 1.694, 1.707 e 1.704 do Código Civil que assim prevê: Se um dos cônjuges separados judicialmente vier a necessitar de alimentos, será o outro obrigado a prestá-los mediante pensão a ser fixada pelo juiz, caso não tenha sido declarado culpado na ação de separação judicial. 6. Alimentos pós-divórcio: possibilidade? 23 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 701.902/SP. Julgador Min. Nancy Andrighi. 3ª Turma. Julgado em 15.09.2005. Disponível em www.stj.gov.br. Acesso em 31.1.2009. 24 Cf. SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Apelação Cível n. 338.067/4/0. Relator: Des. Waldemar Nogueira Filho. Julgado em 15.05.2004. Disponível em www.tj.sp.gov.br. Acesso em 01.02.2009. E ainda: RIO GRANDE DO SUL. Apelação cível. Alimentos. Ex-mulher. Anterior dispensa. Tendo em vista que a autora dispensou os alimentos quando da homologação da separação judicial, descabe o pleito alimentar após o pacto. Dissolvido o vínculo conjugal, expira o dever de mútua assistência e a conseqüente obrigação alimentar. Inaplicabilidade, no caso, do artigo 1.704 do CC/02. 24 25 DIAS, Maria Berenice. Conversando sobre alimentos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 44. Ainda nesse sentido, TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Op.cit., p. 387-388. 26 Disponível em www.cjf.org.br. Acesso em 31.1.2009. 9

A discussão relativa à possibilidade da concessão de alimentos após a decretação do divórcio vem sendo discutida na doutrina e jurisprudência atuais e os juristas brasileiros têm divergido sobre o assunto. Um primeiro posicionamento sobre o tema segue no sentido de que o artigo 1.708 do Código Civil dispõe que a obrigação alimentar se extingue somente com o casamento, união estável ou concubinato do credor. E ainda o seu parágrafo único afasta a obrigação em caso de procedimento indigno do credor em relação ao devedor. Conseqüentemente, não estando o divórcio ali elencado, plenamente possível a possibilidade de concessão de alimentos ao ex-cônjuge após a ruptura do vínculo. Maria Berenice Dias anota: Mesmo findo o matrimônio, perdura o dever de mútua assistência, permanecendo a obrigação alimentar após a dissolução do casamento. Apesar de a lei não admitir tal expressamente, não se pode chegar a conclusão diversa, pois o art. 1.708 e seu parágrafo não se refere ao divórcio. Mais um argumento: o dever alimentar cessa somente pelo novo casamento do beneficiário (CC 1.708). Como só há a possibilidade de novo matrimônio após o divórcio, está claro que persiste o encargo mesmo estando os cônjuges divorciados. 27 (grifo do autor). Igualmente a professora Silmara Juny Chinelato: A regra da igualdade repercute nos alimentos que podem ser pedidos tanto pela mulher - no mais das vezes é o que ocorre como pelo homem. Outra norma constitucional que influencia a concessão de alimentos é a contida no inciso III do art. 1, que, mais do que norma, é considerado princípio: o da dignidade da pessoa humana. [...] O casamento impõe aos cônjuges o dever mútuo de assistência material. Dissolvida a sociedade conjugal pela separação, ou dissolvido o próprio vínculo, com o divórcio, os alimentos podem ser devidos em virtude de sentença judicial [...] Adverte Washington de Barros Monteiro que, ainda quando possa ser responsabilizado pela própria miséria, tem direito a alimentos se encontrar-se em situação de peraína. 28 Em recente julgado, o Tribunal de Justiça de São Paulo assim se manifestou: Alimentos. Ex-marido interdito. Necessidades demonstradas. Dever de mútua assistência que persiste após o divórcio. Sentença mantida. Recurso improvido. 29 27 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, p. 465. 28 CHINELATO, Silmara Juny. Comentários ao Código Civil. v. 18. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 450. 29 SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Apelação Cível n. 593.747.4/4-00. 8a Câmara de Direito Privado. Relator: Caetano Lagrasta. Julgado em 12.11.2008. Disponível em www.tj.sp.gov.br Acesso em 31.1.2009. 10

Nesse sentido, o fundamento maior para a continuação do dever de prestar alimentos pós-divórcio está calcado ainda no dever de solidariedade familiar que não pode ser desprezado, não obstante a ruptura do vínculo conjugal. 30 Em sentido contrário, segunda corrente defende que, dissolvido o casamento válido pelo divórcio, desaparecem as obrigações entre os ex-cônjuges, salvo aquelas fixadas na sentença de divórcio. Portanto, se não foram fixados alimentos na sentença, nenhum dos ex-cônjuges tem o direito de pedi-la posteriormente, eis que a mútua assistência é própria do casamento. Assevera Francisco José Cahali: Considerando o atual estágio da doutrina e jurisprudência, o encerramento definitivo do vínculo conjugal através do divórcio, e promovendo-se interpretação mais literal do art. 1.704, parece-nos razoável sustentar que a possibilidade de busca dos alimentos no rompimento matrimonial encontra seu limite no divórcio das partes, permitindo-se o exercício da pretensão apenas pelos separados judicialmente (e não divorciados), se não estabelecida anteriormente a obrigação (no acordo ou decisão da separação ou do divórcio). 31 Com efeito, na medida em que o divórcio extingue o vínculo matrimonial, fica faltando um dos três pressupostos da obrigação alimentar (ao lado do vínculo, tem-se a necessidade e a possibilidade), o que inviabiliza a configuração desta. Os alimentos constituem-se em dever de família. Não se admite que, com a dissolução do vínculo, seja mantida a mesma obrigação marital. Dissolvida a estrutura familiar, não resta qualquer obrigação alimentar entre exesposos. O princípio da solidariedade familiar, que norteia a obrigação de prestar alimentos entre os cônjuges, rigorosamente cai por terra quando não existe mais a família formada pelo casal, quando o casamento é dissolvido pelo divórcio. Prevalece, apenas, a obrigação alimentar com relação aos filhos [...]. 32 Nesse sentido, o julgado do Tribunal de Justiça de Santa Catarina: AÇÃO DE ALIMENTOS. IRRESIGNAÇÃO DE EX-ESPOSA QUANTO À DECISÃO QUE REJEITOU O PEDIDO. VERBA NÃO ESTABELECIDA POR OCASIÃO DO DIVÓRCIO. VÍNCULO 30 PEREIRA, Sérgio Grischkow. Direito de família: aspectos do casamento, sua eficácia, separação, divórcio, parentesco, filiação, união estável, tutela e curatela. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 162. 31 CAHALI, Francisco José. Op.cit., p. 201. 32 COSTA, Maria Aracy Menezes da. Pensão alimentícia entre cônjuges e o conceito de necessidade. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha. (Coord.). Família e cidadania: o novo código civil e a Vacatio Legis. Anais...III Congresso Brasileiro de Direito de Família, p. 202. 11

MATRIMONIAL DESFEITO. CARÊNCIA DE AÇÃO. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NÃO FIXADOS. INTELIGÊNCIA DO ART. 17, V, DA LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL N. 155/97 33. Assim, se o divórcio foi decretado sem previsão do pagamento de uma pensão, não há como vir posteriormente a ser reclamada como direito novo, quando entre os cônjuges já não existe relação jurídica que a imposição do encargo alimentar justifique 34. O Tribunal de Justiça de São Paulo recentemente se manifestou: Alimentos. Ação improcedente. Pretensão de ex- cônjuge que no divórcio consensual dispensou o auxílio do outro, sem qualquer ressalva. O divórcio extingue todo o vínculo conjugal existente por força do casamento, inclusive o dever de mútua assistência. Recurso improvido. 35 Igualmente, o Tribunal mineiro: DIREITO DE FAMÍLIA - SEPARAÇÃO JUDICIAL - CONVERSÃO EM DIVÓRCIO - DECORRIDO MAIS DE 1 ANO - ALIMENTOS - NÃO FIXAÇÃO NA SEPARAÇÃO - INDEVIDOS - RECURSO IMPROVIDO. Descabe ao cônjuge receber alimentos se tal direito não veio estipulado ou ressalvado na separação judicial. 36 Corrobora o Desembargador Luiz Felipe Brasil Santos, Quando se trata de divórcio, irrelevante a circunstância de que tenha ou não ocorrido renúncia aos alimentos. É suficiente que, por ocasião da dissolução do vínculo matrimonial, nada tenha sido estipulado acerca de pensão alimentícia, para que, independente da renúncia, os alimentos não possam mais ser buscados. Isso porque faltará ao pretendente um dos pressupostos da obrigação alimentar, que ao lado da necessidade e da possibilidade é o vínculo. 37 33 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação Cível n. 2008.003620-5. Relator: Desa. Maria do Rocio Luz Santa Ritta. 3ª Câmara de Direito Civil. Julgado em 30.06.2008. Disponível em www.tj.sc.gov.br Acesso em 31.01.2009. 34 PEREIRA, Áurea Pimentel. Alimentos no direito de família e no direito de companheiros. 2 ed., Revista e atualizada de acordo com o novo Código Civil. São Paulo: Renovar, 2003, p. 110. 35 SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Apelação Cível n. 6159234600. Relator: Des. Maia da Cunha. 4ª Câmara de Direito Privado. Julgado em 18.12.2008. Disponível em www.tj.sp.gov.br Acesso em 31.01.2009. Ainda: Alimentos. Ex-cônjuge. Divórcio. Renúncia quando da extinção do vínculo matrimonial Improcedência da ação. Recurso improvido. Cf. SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Apelação Cível n. 591.016-4/4-00. 9ª CDPriv. Relator: Des. Piva Rodrigues. Julgado em 04.11.2008. Disponível em www.tj.sp.gov.br Acesso em 31.01.2009. 36 MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Apelação Cível n. 1.0301.07.027484-2/001 Relator: Des. Carreira Machado. Julgado em 05.08.2008. Disponível em www.tj.mg.gov.br Acesso em 31.1.2009. 37 SANTOS, Luiz Felipe Brasil. Novos aspectos da obrigação alimentar. In: Questões Controvertidas no novo Código Civil. São Paulo: Método Editora, p. 225. 12

Ao contrário da separação, o divórcio desvincula os ex-cônjuges de forma definitiva, impedindo, inclusive, o restabelecimento do casamento por meio de reconciliação. Assim, não se afigura razoável que após o divórcio, venha o ex-cônjuge, sob o argumento de que não pode sobreviver às próprias custas, pleitear o pagamento de pensão alimentícia. Em nosso sentir, restará ao necessitado a possibilidade de reclamar aos parentes o cumprimento da obrigação alimentar, a teor dos artigos 1.696 e 1.697 do Código Civil. 7. Conclusão Percebe-se das decisões e posicionamentos pesquisados, que longe está a pacificação da discussão em torno da possibilidade de concessão de alimentos para excônjuge após o divórcio. O legislador ao estabelecer a irrenunciabilidade dos alimentos entre cônjuge andou na contramão do histórico jurisprudencial no país sobre o tema e ressuscita a discussão sobre a validade da cláusula de renúncia no acordo de separação, antes já superada pelos Tribunais. Pela atual legislação, quem possuir o estado civil de separado poderá pleitear alimentos ao ex-cônjuge quando presentes os requisitos legais (necessidade/possibilidade), não obstante tenha renunciado ao direito em acordo. Não obstante posicionamentos contrários, a possibilidade de se buscar alimentos quando não firmados em separação encontra seu limite no rompimento do vínculo conjugal, não se podendo admitir alimentos pós-divórcio. Ao necessitado caberá pleitear alimentos aos parentes, à luz das regras vigentes no Código Civil. 8 Referências BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AGA n. 655.104/SP. 3ª turma. Relator: Min Humberto Gomes de Barros. Julgado em 28.5.2005. Disponível em www.stj.gov.br. Acesso em 31.1.2009. 13

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 701.902/ SP. Relator: Min. Nancy Andrighi. 3ª Turma. Julgado em 15.09.2005. Disponível em www.stj.gov.br. Acesso em 31.1.2009. CAHALI, Francisco José. Dos alimentos. In: DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Direito de família e o novo código civil. 2 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. CHINELATO e ALMEIDA, Silmara Juny de A. Do nome da mulher casada: direito de família e direitos da personalidade. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha. (Coord.). Família e cidadania: o novo código civil e a Vacatio Legis. Anais...III Congresso Brasileiro de Direito de Família, p. 293-300. COSTA, Maria Aracy Menezes da. Pensão alimentícia entre cônjuges e o conceito de necessidade. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha. (Coord.). Família e cidadania: o novo código civil e a Vacatio Legis. Anais...III Congresso Brasileiro de Direito de Família, p.195-225. DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 4 ed. revista, atualizada e ampliada. São Paulo: RT, 2007.. Conversando sobre alimentos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 22 ed., v. 5. São Paulo: Saraiva, 2007. GOMES, Orlando. Direito de família. 14 ed. Atualização de Humberto Theodoro Júnior. Rio de Janeiro: Forense, 2002. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. Direito de família. v. VI. São Paulo: Saraiva, 2005. HASHIMOTO, Gláucio. Renúncia ao direito de alimentos entre cônjuges na separação consensual do CC/1916 ao novo Código Civil. Disponível em http://www.cesumar.br/pesquisa/periodicos/index.php/revjuridica/article/viewfile/401/405. Acesso em 31.1.2009. LOPEZ-HERRERA. Francisco. Anotaciones sobre Derecho de família. Caracas: Universidad Católica, 1970. MADALENO, Rolf. Alimentos e sua configuração atual. In: TEIXEIRA, Ana Carolina Brochardo; RIBEIRO, Gustavo Pereira Leite (Coord.). Manual de Direito das Famílias e das Sucessões. Belo Horizonte: Del Rey, 2008, p. 425-452. PEREIRA, Áurea Pimentel. Alimentos no direito de família e no direito de companheiros. 2 ed., Revista e atualizada de acordo com o novo Código Civil. São Paulo: Renovar, 2003. 14

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