A indivisibilidade dos Direitos Humanos Direitos Humanos também é coisa de polícia



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Transcrição:

1 A indivisibilidade dos Direitos Humanos Direitos Humanos também é coisa de polícia Elenir Ferreira Cunha Trabalho de finalização da disciplina Referências Jurídico-Consititucionais e Segurança Cidadã, ministrada pela professora Delze Santos, no curso de Especialização Lato Sensu em Polícia Comunitária e Segurança Cidadã, da Escola Superior Dom Helder Câmara em parceria com a Secretaria Nacional de Segurança Pública. Se o meu mundo não fosse humano, também haveria lugar para mim: eu seria uma mancha difusa de instintos, doçuras e ferocidades, uma trêmula irradiação de paz e luta: se o mundo não fosse humano eu me arranjaria sendo um bicho. Por um instante então desprezo o lado humano da vida e experimento a silenciosa alma da vida animal. É bom, é verdadeiro, ela é a semente do que depois se torna humano. (Clarice Lispector)

2 A indivisibilidade dos Direitos Humanos Direitos Humanos também é coisa de polícia Elenir Ferreira Cunha Trabalho de finalização da disciplina Referências Jurídico-Consititucionais e Segurança Cidadã, ministrada pela professora Delze Santos, no curso de Especialização Lato Sensu em Polícia Comunitária e Segurança Cidadã, da Escola Superior Dom Helder Câmara em parceria com a Secretaria Nacional de Segurança Pública. 1. Introdução O objetivo deste trabalho é o de refletir a respeito do tema proposto, tendo como referência o texto A Indivisibilidade dos Direitos Humanos, de autoria do professor José Luiz Quadros de Magalhães, Doutor em Direito Constitucional pela UFMG. Visando aprofundar no tema e despertar a discussão a respeito de como os direitos humanos são tratados dentro das corporações policiais, foram incluídos os textos: Direitos Humanos: Coisa de Polícia, de autoria do professor Ricardo Balestreri, Secretário Nacional de Segurança Pública e especialista em Segurança Pública; parágrafos do livro Pelas Mãos de Alice de autoria do professor português Boaventura de Souza Santos, nascido em 1940, doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale e professor titular da Universidade de Coimbra; o texto As Categorias de Direitos Humanos: Indivisibilidade e Interdependência, de autoria da professora Ana Paula Teixeira, Assistente do Curso de Direito da Faculdade Moraes Júnior, que por sua vez cita Thomas Marshall, no seu livro Cidadania, Classe Social e Status, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1967, pag. 63; e um texto de autoria do professor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília e ex-secretário Estadual de Segurança Pública do Distrito Federal, Roberto Armando Ramos Aguiar, no site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%c3%a7ao.htm. Acesso: 27 de out 2007. 114 AGUIAR, Roberto Armando Ramos, p 35.114. Portanto, o trabalho passa pelos conceitos mais importantes das categorias de Direitos Humanos, pelas contextualizações dos momentos históricos quando surgiram as gerações dos direitos humanos, pensamentos considerados importantes de autores consagrados.

3 2. Contextualização Pela primeira vez, na história republicana, mais de meio século depois da Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948, os direitos humanos passaram a ser assumidos como política oficial do governo, num contexto social e político desta primeira década do século XXI extremamente adverso para a maioria das não-elites na população brasileira. A luta pelos direitos humanos é um processo contraditório, no qual o Estado, qualquer que seja o governo no regime democrático, e a sociedade civil têm responsabilidades necessariamente compartilhadas. É uma parceria que se funda sobre princípios rígidos e irrenunciáveis, qualquer que seja a conjuntura. No entanto, vivemos dicotomias quase inexplicáveis sob a luz dos Direitos Humanos, como é o caso recente da catástrofe ocorrida no Haiti, que traz à tona toda uma história também catastrófica de miséria política, social e econômica que antecede a última. Boaventura de Souza Santos, nascido em 1940, doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale e professor titular da Universidade de Coimbra, no seu livro Pelas Mãos de Alice, fala de uma crise mundial, quando houve - e ainda está acontecendo - um agravamento das injustiças sociais e devastação ecológica, uma perda da autonomia nacional, um aumento da concentração de capital (veja a compra do Unibanco pelo Itaú). Afirma ele: A acumulação das irracionalidades no perigo iminente de catástrofe ecológica, na miséria e na fome a que é sujeita uma grande parte da população mundial quando há recursos disponíveis para lhes proporcionar uma vida decente e uma minoria da população vive numa sociedade de desperdício e morre de abundância, na destruição pela guerra de populações e comunidades em nome de princípios étnicos e religiosos que a modernidade parecia ter descartado para sempre, na droga e na medicalização da vida como solução para um cotidiano alienado, asfixiante e sem solução todas estas e muitas outras irracionalidades se acumulam ao mesmo tempo em que se aprofunda a crise das soluções que a modernidade propôs, entre elas o socialismo e o seu máximo de consciência teórica possível, o marxismo. As racionalidades parecem racionalizadas pela mera repetição.

4 Afirma também que a explicação de fenômenos unicamente pela estrutura econômica reducionismo econômico retira dos fenômenos políticos e culturais a vida e dinâmica próprias. O autor propõe uma nova teoria da democracia e da emancipação social ao defender que justamente o excesso de regulação e déficit de emancipação presentes na Modernidade comprometem de diversas maneiras uma articulação saudável entre subjetividade e cidadania, deixando as sociedades capitalistas contemporâneas sem alternativas emancipatórias. Diante da perda de confiança epistemológica e societal, Boaventura aponta medidas consideradas por ele importantes e urgentes. O autor ainda apresenta a proposta do reflorescimento das racionalidades locais, das práticas locais contra a episteme dominante, que é a racionalidade legislativa global moderna. Apresenta a idéia de mil comunidades interpretativas que colaboram com a construção de novas formas de democracia e produção econômica. Um arquipélago de racionalidades locais adequadas às necessidades locais, fortalecendo as comunidades locais interpretativas, isto é, capazes de construir seu próprio modo de conceber a vida e a organização social, onde indivíduos diferenciados atuam em espaços onde o crescimento, a inclusão e a autonomia sejam possíveis nessa sociedade produtora de desigualdades e de exclusão, ou seja, indivíduos que atuam em brechas emancipatórias, desenvolvendo habilidades empreendedoras voltadas para o impacto social positivo e sólidos princípios éticos. Neste ambiente é que se deve trabalhar por fazer valer os Direitos Humanos, na sociedade como um todo, incluindo os agentes promotores da defesa social que integram as corporações militares e civis do sistema de segurança pública. De acordo com o Prof. José Luiz Quadros de Magalhães, Professor Doutor em Direito Constitucional pela UFMG, ao lado do processo de internacionalização dos direitos humanos, que desenvolveu o conceito de universalidade e indivisibilidade, tem-se uma violação maciça destes direitos.

5 E apresenta de forma clara como foram instituídos os Direitos Humanos nesta primeira fase de sua proposta: Em 1945, foi assinada a Carta das Nações Unidas, tratado constitutivo da Organização das Nações Unidas (ONU). No seio da organização, em 10 de Dezembro de 1948 foi adotada uma declaração que proclamou os direitos mais elementares do ser humano. Essa declaração é considerada o marco inicial do processo de internacionalização dos direitos humanos. Dessa forma, a Declaração Universal de Direitos Humanos das Nações unidas inaugurou a concepção contemporânea desses direitos, como direitos universais e indivisíveis. Universais, porque todo ser humano deve ser protegido contra todo e qualquer ato atentatório a sua dignidade, inclusive quando perpetrado por seu Estado de origem. E indivisíveis porque direitos civis, políticos e sociais, econômicos e culturais formam um todo interdependente, onde o exercício pleno de um deles somente é possível por meio da garantia e efetividade dos demais. Mais adiante, o Prof. José Luiz trata da despolitização e a naturalização dos direitos humanos como poderoso instrumento ideológico, o que nos remete ao seu esvaziamento histórico e ideológico. Como ele mesmo diz, se afirmarmos estes direitos como naturais fazemos o que fazem com a economia agora. Retiramos os direitos humanos do livre uso democrático e transferimos para um outro. Este outro, dono do poder, irá dizer o que é natural e o que é natureza humana. Diz ainda, o que é de essencial importância para o assunto que será introduzido a seguir, tendo como gancho o brilhante estudo desse mestre do Direito: Se afirmarmos os direitos humanos como históricos, estamos reconhecendo que nós somos autores da história e logo, o conteúdo destes direitos é constituído pelas lutas sociais, pelo diálogo aberto no qual todos possam fazer parte.

6 3. Fundamentação das Categorias de Direitos Humanos A Profa. Ana Paula Teixeira, Assistente do Curso de Direito da Faculdade Moraes Júnior, no seu texto As Categorias de Direitos Humanos: Indivisibilidade e Interdependência confirma as palavras do Prof. José Luiz, dizendo que os direitos humanos, em sua gênese, são frutos de longo processo histórico, protagonizado por diferentes atores e grupos sociais, em determinados contextos históricos. Acrescenta que o surgimento de diversos direitos humanos ocorre quando emergem novos carecimentos e interesses, face à própria evolução das sociedades que estão sujeitas a contínuas transformações. No tocante às categorias de Direitos Humanos, é preciso registrar que houve séculos em que cada grupo de direitos teve predominância, o que não lhes substrai a importância que cada qual exerceu uniformemente. Conforme cita a professora Ana Maria, segundo Thomas Marshall, no seu livro Cidadania, Classe Social e Status, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1967, p. 63, verifica-se que os direitos civis (liberdade de ir e vir, liberdade de imprensa, pensamento e fé, direito à propriedade, direito de concluir contratos válidos e ainda direito à Justiça) encontraram o seu apogeu no século XVIII; os direitos políticos (direito de participar do exercício do poder político como eleitor ou como eleito) afirmaram-se no século XIX e os direitos sociais (direitos que assegurassem uma participação igualitária dos membros da sociedade nos padrões básicos de vida) foram conquistados posteriormente no século XX. De acordo como esquema interpretativo de Marshall, para que houvesse a estabilidade democrática seria necessário que houvesse instituições fortes, capazes de garantir a vigência dos direitos civis, políticos e sociais. Tais instituições seriam respectivamente os Tribunais de Justiça, o Poder Legislativo e o Poder Executivo. O Século das Luzes consagrou os direitos civis, que constituíram condições para que fosse viabilizada a nascente economia de mercado, decorrente do ideal do laissez-faire. Este grupo de direitos teve a função de garantir a liberdade e a igualdade de todos, ainda que formalmente, para que a economia de mercado pudesse funcionar numa ordem estatal, favorecendo

7 assim, o desenvolvimento do capitalismo e das desigualdades sociais que o acompanharam, tão compatíveis com o caráter individualista desses direitos. Com a aquisição das liberdades civis, surgiu a reivindicação pela participação na vida política através da extensão do direito de voto às classes menos favorecidas. A incorporação política ao núcleo dos direitos humanos provocou uma transformação na própria ordem jurídica, à medida que, com o crescente número de eleitores, as leis deixaram de privilegiar os direitos da burguesia e passaram a legislar também para os produtores dos produtos industriais. Neste cenário, desenvolveram-se os direitos sociais impostos pelo Poder Público como consequência da necessidade de uma nova ordem jurídica, compatível com a conjuntura social que se apresentava. O século XX corresponde ao período no qual os direitos sociais foram aplicados pelas múltiplas instituições que, no conjunto, constituem o * Welfare State, numa tentativa de mitigar as desigualdades sociais produzidas pelo capitalismo. * Welfare State ( Wikipédia) : Estado de bem-estar social (em inglês: Welfare State), também conhecido como Estadoprovidência, é um tipo de organização política e econômica que coloca o Estado (nação) como agente da promoção (protetor e defensor) social e organizador da economia. Nesta orientação, o Estado é o agente regulamentador de toda vida e saúde social, política e econômica do país em parceria com sindicatos e empresas privadas, em níveis diferentes, de acordo com a nação em questão. Cabe ao Estado do bem-estar social garantir serviços públicos e proteção à população.[1] Os Estados de bem-estar social desenvolveram-se principalmente na Europa, onde seus princípios foram defendidos pela social-democracia, tendo sido implementado com maior intensidade nos Estados Escandinavos (ou países nórdicos) tais como a Suécia, a Dinamarca e a Noruega e a Finlândia),[2] sob a orientação do economista e sociologista sueco Karl Gunnar Myrdal. Ironicamente Gunnar Myrdal, um dos principais idealizadores do Estado de bem-estar-social dividiu, em 1974, o Prêmio de Ciências Econômicas (Prêmio Nobel) com seu rival ideológico Friedrich August von Hayek, um dos maiores defensores do livre mercado, economista da Escola Austríaca. Esta forma de organização político-social, que se originou da Grande Depressão, se desenvolveu ainda mais com a ampliação do conceito de cidadania, com o fim dos governos totalitários da Europa Ocidental (nazismo, fascismo etc.) com a hegemonia dos governos sociais-democratas e, secundariamente, das correntes euro-comunistas, com base na concepção de que existem direitos sociais indissociáveis à existência de qualquer cidadão. Pelos princípios do Estado de bem-estar social, todo o indivíduo teria o direito, desde seu nascimento até sua morte, a um conjunto de bens e serviços que deveriam ter seu fornecimento garantido seja diretamente através do Estado ou indiretamente, mediante seu poder de regulamentação sobre a sociedade civil. Esses direitos incluiriam a educação em todos os níveis, a assistência médica gratuita, o auxílio ao desempregado, a garantia de uma renda mínima, recursos adicionais para a criação dos filhos etc.

8 O modelo pragmático proposto por Marshall apresenta uma sequência lógica dos direitos, na qual os indivíduos munidos de suas garantias civis e políticas, reivindicam um lugar na herança social através dos direitos sociais; sequência essa que não foi verificada no Brasil, onde surgiram primeiro os direitos políticos, seguidos dos direitos civis e, posteriormente, os direitos sociais, o que talvez justifique a deficiência do desenvolvimento dessas três categorias de direitos e a falta de conscientização jurídica sobre cada uma delas. Os direitos civis, juntamente com os direitos políticos, embasaram a concepção liberal clássica de direitos de primeira geração. Assim, as liberdades clássicas nasceram em reação ao absolutismo, delimitando com precisão a esfera de liberdade que o Estado deve respeitar, abstendo-se de intervir, exceto para salvaguardar esta esfera. A Segunda geração de direitos, conquista do movimento operário em alguns países ou, em outros casos, concessão dos Estados Capitalistas, mantém uma relação com o Estado daquela existente nos direitos de primeira geração, uma vez que requerem intervenção ativa do Estado para a sua efetivação, sendo por isto denominados de poderes, direitos-crédito ou direitos-participação, visto que foram positivados no Estado Providência com o objetivo de transformar direitos meramente formais em direitos reais, exigindo-se para tanto uma ação positiva do Estado na qualidade de devedor. Por conseguinte, face às vicissitudes históricas, emerge a consciência de novos desafios referentes não mais à liberdade e à igualdade, mas em especial à qualidade de vida dos povos e à solidariedade, conduzindo ao surgimento dos chamados direitos de terceira geração. Trata-se de um conjunto de direitos que se têm desenvolvido no plano internacional, tendo sido enunciados em sucessivas reuniões da ONU e da UNESCO, englobando o direito à paz (deduzido do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, adotado pela Assembléia Geral das Nações Unidas, em 1966 e na Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos). O direito à autodeterminação dos povos (apontado no art. 1º, parágrafo 2º e Art. 55 da Carta das Nações Unidas, no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos em seu Art. 1º e na Carta Africana em seu Art. 20); o direito à comunicação (objeto de manifestações da UNESCO como a decisão 3.3. do Conselho Executivo em

9 1978): o direito ao meio ambiente (previsto na Declaração de Estocolmo de 1972 e na Declaração do Rio de Janeiro de 1992); o direito ao patrimônio comum da humanidade em relação ao fundo do mar e seu subsolo, previsto na Carta dos Direitos e Deveres Econômicos dos Estados, adotada pela ONU em 1974 e, posteriormente objeto de negociações da Terceira Conferência da ONU sobre o direito do mar, que chegou ao seu fim em 1982 com a conclusão e a assinatura de uma convenção em Montego Bay, na Jamaica; e o direito ao desenvolvimento (apontado no âmbito da ONU em 1977 pela Comissão de Direitos Humanos, inscrito na Declaração sobre a raça e os preconceitos raciais da UNESCO em 1978, na Carta Africana e em vários outros dispositivos, tendo sido consagrado posteriormente na Declaração específica sobre direito ao desenvolvimento editada pela ONU em 1986 e na Conferência de Viena em 1993). Os direitos de terceira geração são concebidos como direitos de titularidade coletiva, ou direitos difusos. São sujeitos destes direitos grupos humanos como os povos, a nação, coletividades regionais ou étnicas e a própria humanidade. Diferentemente de banalizar os direitos humanos, os direitos de terceira geração contribuem para a salvaguarda da pessoa humana, surgindo exatamente para acompanhar a evolução dos povos, em virtude da dinâmica das múltiplas transformações. Nesse sentido, com a crescente expansão da própria concepção de direitos humanos a abarcar novos valores e novas categorias de direitos que acompanham os avanços de uma época convulsionada, tendo sido defendida, no plano internacional, a tese da indivisibilidade dos direitos humanos, a partir da Conferência de Direitos Humanos de Teerã em 1968. Reconheceu-se na Conferência de Teerã que a plena realização de direitos civis e políticos seria impossível sem o efetivo gozo dos direitos sociais, proclamando-se a profunda interconexão existente entre esses direitos. A Proclamação de Teerã sobre Direitos Humanos adotada pelo plenário da Primeira Conferência Mundial de Direitos Humanos em 13.05.1968 ponderou ainda em seu parágrafo treze que como os direitos humanos e as liberdades fundamentais são indivisíveis, a realização dos direitos civis e políticos sem o gozo dos direitos sociais torna-se impossível. A consecução de um progresso

10 duradouro na implementação dos direitos humanos depende de sólidas e eficazes políticas nacionais e internacionais de desenvolvimento econômico e social. A partir daí, a ONU tem aprovado diversas resoluções reafirmando a tese de interrelação dos direitos humanos, como a Resolução 32/130 de 1977: A plena realização dos direitos civis e políticos sem o gozo dos direitos econômicos, sociais e culturais torna-se impossível. A consecução de um progresso duradouro na implementação dos direitos humanos depende de políticas nacionais e internacionais de desenvolvimento econômico e social, sólidas e eficazes, como reconhecida pela Proclamação de Teerã de 1968, endossada pela Resoluções 39/145 de 1984 e 41/117 de 1986 da Assembléia Geral da ONU, diz ainda a Profa. Ana Paula Teixeira. José Alcebíades Oliveira Júnior (OLIVEIRA JUNIOR, José Alcebíades. Op. cit., p. 100.), citado num dos textos lidos, por sua vez, entende como direitos de quarta geração os relativos à manipulação genética, biotecnologia, bioengenharia e bioética, acrescentando ainda uma quinta geração: direitos da realidade virtual, informática e internet. Dizer que não houve ou não há esforços para a implementação dos Direitos Humanos, no âmbito nacional e internacional é uma inverdade, dado o descrito acima. Agora, se foi alcançado um grande sucesso, é outra questão. 4. Direitos Humanos nas Corporações Civis e Militares E é sobre o alcance deste sucesso na implementação dos direitos pelas políticas de segurança pública a partir do interior das próprias corporações civis e militares que vamos discutir a seguir. Será introduzido, nesta resenha, o texto: Direitos Humanos: Coisa de Polícia, do Prof. Ricardo Balestreri, na íntegra, para constar sempre, não como contraponto ao texto do Prof. José Luiz ou de qualquer outro pesquisador, mas como alerta às políticas de Segurança Pública no Brasil, objeto do curso de especialização em andamento e como os direitos humanos são tratados neste contexto; também por meio do texto do professor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília e ex-secretário Estadual de Segurança Pública do Distrito Federal, Roberto Armando Ramos Aguiar:

11 *Ricardo Balestreri Direitos Humanos: Coisa de Polícia Treze reflexões sobre polícia e direitos humanos Durante muitos anos o tema Direitos Humanos foi considerado antagônico ao de Segurança Pública. Produto do autoritarismo vigente no país entre 1964 e 1984 e da manipulação, por ele, dos aparelhos policiais, esse velho paradigma maniqueísta cindiu sociedade e polícia, como se a última não fizesse parte da primeira. Polícia, então, foi uma atividade caracterizada pelos segmentos progressistas da sociedade, de forma equivocadamente conceitual, como necessariamente afeta à repressão anti-democrática, à truculência, ao conservadorismo. Direitos Humanos como militância, na outra ponta, passaram a ser vistos como ideologicamente filiados à esquerda, durante toda a vigência da Guerra Fria (estranhamente, nos países do socialismo real, eram vistos como uma arma retórica e organizacional do capitalismo). No Brasil, em momento posterior da história, a partir da rearticulação democrática, agregou-se a seus ativistas a pecha de defensores de bandidos e da impunidade. Evidentemente, ambas visões estão fortemente equivocadas e prejudicadas pelo preconceito. Estamos há mais de um década construindo uma nova democracia e essa paralisia de paradigmas das partes (uma vez que assim ainda são vistas e assim se consideram), representa um forte impedimento à parceria para a edificação de uma sociedade mais civilizada. Aproximar a polícia das ONGs que atuam com Direitos Humanos, e vice-versa, é tarefa impostergável para que possamos viver, a médio prazo, em uma nação que respire cultura de cidadania. Para que isso ocorra, é necessário que nós, lideranças do campo dos Direitos Humanos, desarmemos as minas ideológicas das quais nos cercamos, em um primeiro momento, justificável, para nos defendermos da polícia, e que agora nos impedem de aproximar-nos. O mesmo vale para a polícia. Podemos aprender muito uns com os outros, ao atuarmos como agentes defensores da mesma democracia. Nesse contexto, a partir de quase uma década de parceria no campo da educação para os direitos humanos junto a policiais e das coisas que vi e aprendi com a polícia, é que gostaria de tecer as singelas treze considerações a seguir: CIDADANIA, DIMENSÃO PRIMEIRA 1ª - O policial é, antes de tudo um cidadão, e na cidadania deve nutrir sua razão de ser. Irmana-se, assim, a todos os membros da comunidade em direitos e deveres. Sua condição de cidadania é, portanto, condição primeira, tornando-se bizarra qualquer reflexão fundada sobre suposta dualidade ou antagonismo entre uma sociedade civil e outra sociedade policial. Essa afirmação é plenamente válida mesmo quando se trata da Polícia Militar, que é um serviço público realizado na perspectiva de uma sociedade única, da qual todos os segmentos estatais são derivados. Portanto não há, igualmente, uma sociedade civil e outra sociedade militar. A lógica da Guerra Fria, aliada aos anos de chumbo, no Brasil, é que se encarregou de solidificar esses equívocos, tentando transformar a polícia, de um serviço à cidadania, em ferramenta para enfrentamento do inimigo interno. Mesmo após o encerramento desses anos de paranóia, seqüelas ideológicas persistem indevidamente, obstaculizando, em algumas áreas, a elucidação da real função policial. *Ricardo Brisolla Balestreri é educador e especialista em Psicopedagogia Clínica. É membro do Comitê de Coordenação Política do Centro de Recursos Educacionais (CRE), com base no Instituto Interamericano de Direitos Humanos - San José / Costa Rica. Participa, como consultor independente, do Núcleo de Acompanhamento da Execução do Programa Nacional de Direitos Humanos / Ministério da Justiça. Integrou, como especialista, o Grupo de Trabalho instituído pela Portaria Ministerial nº 406/96, para avaliação do atendimento sócio-educativo ao adolescente autor de ato infracional, em colaboração com o Departamento da Criança e do Adolescente (DCA), da Secretaria Nacional de Direitos Humanos

12 POLICIAL: CIDADÃO QUALIFICADO 2ª - O agente de Segurança Pública é, contudo, um cidadão qualificado: emblematiza o Estado, em seu contato mais imediato com a população. Sendo a autoridade mais comumente encontrada tem, portanto, a missão de ser uma espécie de porta voz popular do conjunto de autoridades das diversas áreas do poder. Além disso, porta a singular permissão para o uso da força e das armas, no âmbito da lei, o que lhe confere natural e destacada autoridade para a construção social ou para sua devastação. O impacto sobre a vida de indivíduos e comunidades, exercido por esse cidadão qualificado é, pois, sempre um impacto extremado e simbolicamente referencial para o bem ou para o mal-estar da sociedade. POLICIAL: PEDAGOGO DA CIDADANIA 3ª - Há, assim, uma dimensão pedagógica no agir policial que, como em outras profissões de suporte público, antecede as próprias especificidades de sua especialidade. Os paradigmas contemporâneos na área da educação nos obrigam a repensar o agente educacional de forma mais includente. No passado, esse papel estava reservado unicamente aos pais, professores e especialistas em educação. Hoje é preciso incluir com primazia no rol pedagógico também outras profissões irrecusavelmente formadoras de opinião: médicos, advogados, jornalistas e policiais, por exemplo. O policial, assim, à luz desses paradigmas educacionais mais abrangentes, é um pleno e legítimo educador. Essa dimensão é inabdicável e reveste de profunda nobreza a função policial, quando conscientemente explicitada através de comportamentos e atitudes. A IMPORTÂNCIA DA AUTO-ESTIMA PESSOAL E INSTITUCIONAL 4ª - O reconhecimento dessa dimensão pedagógica é, seguramente, o caminho mais rápido e eficaz para a reconquista da abalada auto-estima policial. Note-se que os vínculos de respeito e solidariedade só podem constituir-se sobre uma boa base de auto-estima. A experiência primária do querer-se bem é fundamental para possibilitar o conhecimento de como chegar a querer bem o outro. Não podemos viver para fora o que não vivemos para dentro. Em nível pessoal, é fundamental que o cidadão policial sinta-se motivado e orgulhoso de sua profissão. Isso só é alcançável a partir de um patamar de sentido existencial. Se a função policial for esvaziada desse sentido, transformando o homem e a mulher que a exercem em meros cumpridores de ordens sem um significado pessoalmente assumido como ideário, o resultado será uma auto-imagem denegrida e uma baixa auto-estima. Resgatar, pois, o pedagogo que há em cada policial, é permitir a ressignificação da importância social da polícia, com a conseqüente consciência da nobreza e da dignidade dessa missão. A elevação dos padrões de auto-estima pode ser o caminho mais seguro para uma boa prestação de serviços. Só respeita o outro aquele que se dá respeito a si mesmo. POLÍCIA E SUPEREGO SOCIAL 5ª - Essa dimensão pedagógica, evidentemente, não se confunde com dimensão demagógica e, portanto, não exime a polícia de sua função técnica de intervir preventivamente no cotidiano e repressivamente em momentos de crise, uma vez que democracia nenhuma se sustenta sem a contenção do crime, sempre fundado sobre uma moralidade mal constituída e hedonista, resultante de uma complexidade causal que vai do social ao psicológico.

13 Assim como nas famílias é preciso, em ocasiões extremas, que o adulto sustente, sem vacilar, limites que possam balizar moralmente a conduta de crianças e jovens, também em nível macro é necessário que alguma instituição se encarregue da contenção da sociopatia. A polícia é, portanto, uma espécie de superego social indispensável em culturas urbanas, complexas e de interesses conflitantes, contenedora do óbvio caos a que estaríamos expostos na absurda hipótese de sua inexistência. Possivelmente por isso não se conheça nenhuma sociedade contemporânea que não tenha assentamento, entre outros, no poder da polícia. Zelar, pois, diligentemente, pela segurança pública, pelo direito do cidadão de ir e vir, de não ser molestado, de não ser saqueado, de ter respeitada sua integridade física e moral, é dever da polícia, um compromisso com o rol mais básico dos direitos humanos que devem ser garantidos à imensa maioria de cidadãos honestos e trabalhadores. Para isso é que a polícia recebe desses mesmos cidadãos a unção para o uso da força, quando necessário. RIGOR versus VIOLÊNCIA 6ª - O uso legítimo da força não se confunde, contudo, com truculência. A fronteira entre a força e a violência é delimitada, no campo formal, pela lei, no campo racional pela necessidade técnica e, no campo moral, pelo antagonismo que deve reger a metodologia de policiais e criminosos. POLICIAL versus CRIMINOSO: METODOLOGIAS ANTAGÔNICAS 7ª - Dessa forma, mesmo ao reprimir, o policial oferece uma visualização pedagógica, ao antagonizar-se aos procedimentos do crime. Em termos de inconsciente coletivo, o policial exerce função educativa arquetípica: deve ser o mocinho, com procedimentos e atitudes coerentes com a firmeza moralmente reta, oposta radicalmente aos desvios perversos do outro arquétipo que se lhe contrapõe: o bandido. Ao olhar para uns e outros, é preciso que a sociedade perceba claramente as diferenças metodológicas ou a confusão arquetípica intensificará sua crise de moralidade, incrementando a ciranda da violência. Isso significa que a violência policial é geradora de mais violência da qual, mui comumente, o próprio policial torna-se a vítima. Ao policial, portanto, não cabe ser cruel com os cruéis, vingativo contra os anti-sociais, hediondo com os hediondos. Apenas estaria com isso, liberando, licenciando a sociedade para fazer o mesmo, a partir de seu patamar de visibilidade moral. Não se ensina a respeitar desrespeitando, não se pode educar para preservar a vida matando, não importa quem seja. O policial jamais pode esquecer que também o observa o inconsciente coletivo. A VISIBILIDADE MORAL DA POLÍCIA: IMPORTÂNCIA DO EXEMPLO 8ª - Essa dimensão testemunhal, exemplar, pedagógica, que o policial carrega irrecusavelmente é, possivelmente, mais marcante na vida da população do que a própria intervenção do educador por ofício, o professor. Esse fenômeno ocorre devido à gravidade do momento em que normalmente o policial encontra o cidadão. À polícia recorre-se, como regra, em horas de fragilidade emocional, que deixam os indivíduos ou a comunidade fortemente abertos ao impacto psicológico e moral da ação realizada. Por essa razão é que uma intervenção incorreta funda marcas traumáticas por anos ou até pela vida inteira, assim como a ação do bom policial será sempre lembrada com satisfação e conforto.

14 Curiosamente, um significativo número de policiais não consegue perceber com clareza a enorme importância que têm para a sociedade, talvez por não haverem refletido suficientemente a respeito dessa peculiaridade do impacto emocional do seu agir sobre a clientela. Justamente aí reside a maior força pedagógica da polícia, a grande chave para a redescoberta de seu valor e o resgate de sua auto-estima. É essa mesma visibilidade moral da polícia o mais forte argumento para convencê-la de sua responsabilidade paternal (ainda que não paternalista) sobre a comunidade. Zelar pela ordem pública é, assim, acima de tudo, dar exemplo de conduta fortemente baseada em princípios. Não há exceção quando tratamos de princípios, mesmo quando está em questão a prisão, guarda e condução de malfeitores. Se o policial é capaz de transigir nos seus princípios de civilidade, quando no contato com os sociopatas, abona a violência, contamina-se com o que nega, conspurca a normalidade, confunde o imaginário popular e rebaixa-se à igualdade de procedimentos com aqueles que combate. Note-se que a perspectiva, aqui, não é refletir do ponto de vista da defesa do bandido, mas da defesa da dignidade do policial. A violência desequilibra e desumaniza o sujeito, não importa com que fins seja cometida, e não restringe-se a áreas isoladas, mas, fatalmente, acaba por dominar-lhe toda a conduta. O violento se dá uma perigosa permissão de exercício de pulsões negativas, que vazam gravemente sua censura moral e que, inevitavelmente, vão alastrando-se em todas as direções de sua vida, de maneira incontrolável. ÉTICA CORPORATIVA versus ÉTICA CIDADÃ 9ª - Essa consciência da auto-importância obriga o policial a abdicar de qualquer lógica corporativista. Ter identidade com a polícia, amar a corporação da qual participa, coisas essas desejáveis, não se podem confundir, em momento algum, com acobertar práticas abomináveis. Ao contrário, a verdadeira identidade policial exige do sujeito um permanente zelo pela limpeza da instituição da qual participa. Um verdadeiro policial, ciente de seu valor social, será o primeiro interessado no expurgo dos maus profissionais, dos corruptos, dos torturadores, dos psicopatas. Sabe que o lugar deles não é polícia, pois, além do dano social que causam, prejudicam o equilíbrio psicológico de todo o conjunto da corporação e inundam os meios de comunicação social com um marketing que denigre o esforço heróico de todos aqueles outros que cumprem corretamente sua espinhosa missão. Por esse motivo, não está disposto a conceder-lhes qualquer tipo de espaço. Aqui, se antagoniza a ética da corporação (que na verdade é a negação de qualquer possibilidade ética) com a ética da cidadania (aquela voltada à missão da polícia junto a seu cliente, o cidadão). O acobertamento de práticas espúrias demonstra, ao contrário do que muitas vezes parece, o mais absoluto desprezo pelas instituições policiais. Quem acoberta o espúrio permite que ele enxovalhe a imagem do conjunto da instituição e mostra, dessa forma, não ter qualquer respeito pelo ambiente do qual faz parte. CRITÉRIOS DE SELEÇÃO, PERMANÊNCIA E ACOMPANHAMENTO 10ª - Essa preocupação deve crescer à medida em que tenhamos clara a preferência da psicopatia pelas profissões de poder. Política profissional, Forças Armadas, Comunicação Social, Direito, Medicina, Magistério e Polícia são algumas das profissões de encantada predileção para os psicopatas, sempre em busca do exercício livre e sem culpas de seu poder sobre outrem. Profissões magníficas, de grande amplitude social, que agregam heróis e mesmo santos, são as mesmas que atraem a escória, pelo alcance que têm, pelo poder que representam.

15 A permissão para o uso da força, das armas, do direito a decidir sobre a vida e a morte, exercem irresistível atração à perversidade, ao delírio onipotente, à loucura articulada. Os processos de seleção de policiais devem tornar-se cada vez mais rígidos no bloqueio à entrada desse tipo de gente. Igualmente, é nefasta a falta de um maior acompanhamento psicológico aos policiais já na ativa. A polícia é chamada a cuidar dos piores dramas da população e nisso reside um componente desequilibrador. Quem cuida da polícia? Os governos, de maneira geral, estruturam pobremente os serviços de atendimento psicológico aos policiais e aproveitam muito mal os policiais diplomados nas áreas de saúde mental. Evidentemente, se os critérios de seleção e permanência devem tornar-se cada vez mais exigentes, espera-se que o Estado cuide também de retribuir com salários cada vez mais dignos. De qualquer forma, o zelo pelo respeito e a decência dos quadros policiais não cabe apenas ao Estado mas aos próprios policiais, os maiores interessados em participarem de instituições livres de vícios, valorizadas socialmente e detentoras de credibilidade histórica. DIREITOS HUMANOS DOS POLICIAIS HUMILHAÇÃO versus HIERARQUIA 11ª - O equilíbrio psicológico, tão indispensável na ação da polícia, passa também pela saúde emocional da própria instituição. Mesmo que isso não se justifique, sabemos que policiais maltratados internamente tendem a descontar sua agressividade sobre o cidadão. Evidentemente, polícia não funciona sem hierarquia. Há, contudo, clara distinção entre hierarquia e humilhação, entre ordem e perversidade. Em muitas academias de polícia (é claro que não em todas) os policiais parecem ainda ser adestrados para alguma suposta guerra de guerrilhas, sendo submetidos a toda ordem de maustratos (beber sangue no pescoço da galinha, ficar em pé sobre formigueiro, ser afogado na lama por superior hierárquico, comer fezes, são só alguns dos recentes exemplos que tenho colecionado a partir da narrativa de amigos policiais, em diversas partes do Brasil). Por uma contaminação da ideologia militar (diga-se de passagem, presente não apenas nas PMs mas também em muitas polícias civis), os futuros policiais são, muitas vezes, submetidos a violento estresse psicológico, a fim de atiçar-lhes a raiva contra o inimigo (será, nesse caso, o cidadão?). Essa permissividade na violação interna dos Direitos Humanos dos policiais pode dar guarida à ação de personalidades sádicas e depravadas, que usam sua autoridade superior como cobertura para o exercício de suas doenças. Além disso, como os policiais não vão lutar na extinta guerra do Vietnã, mas atuar nas ruas das cidades, esse tipo de formação (deformadora) representa uma perda de tempo, geradora apenas de brutalidade, atraso técnico e incompetência. A verdadeira hierarquia só pode ser exercida com base na lei e na lógica, longe, portanto, do personalismo e do autoritarismo doentios. O respeito aos superiores não pode ser imposto na base da humilhação e do medo. Não pode haver respeito unilateral, como não pode haver respeito sem admiração. Não podemos respeitar aqueles a quem odiamos. A hierarquia é fundamental para o bom funcionamento da polícia, mas ela só pode ser verdadeiramente alcançada através do exercício da liderança dos superiores, o que pressupõe práticas bilaterais de respeito, competência e seguimento de regras lógicas e suprapessoais. 12ª - No extremo oposto, a debilidade hierárquica é também um mal. Pode passar uma imagem de descaso e desordem no serviço público, além de enredar na malha confusa da burocracia toda a prática policial

16 A falta de uma Lei Orgânica Nacional para a polícia civil, por exemplo, pode propiciar um desvio fragmentador dessa instituição, amparando uma tendência de definição de conduta, em alguns casos, pela mera junção, em colcha de retalhos, do conjunto das práticas de suas delegacias. Enquanto um melhor direcionamento não ocorre em plano nacional, é fundamental que os estados e instituições da polícia civil direcionem estrategicamente o processo de maneira a unificar sob regras claras a conduta do conjunto de seus agentes, transcendendo a mera predisposição dos delegados localmente responsáveis (e superando, assim, a ordem fragmentada, baseada na personificação). Além do conjunto da sociedade, a própria polícia civil será altamente beneficiada, uma vez que regras objetivas para todos (incluídas aí as condutas internas) só podem dar maior segurança e credibilidade aos que precisam executar tão importante e ao mesmo tempo tão intrincado e difícil trabalho. A FORMAÇÃO DOS POLICIAIS 13ª - A superação desses desvios poderia dar-se, ao menos em parte, pelo estabelecimento de um núcleo comum, de conteúdos e metodologias na formação de ambas as polícias, que privilegiasse a formação do juízo moral, as ciências humanísticas e a tecnologia como contraponto de eficácia à incompetência da força bruta. Aqui, deve-se ressaltar a importância das academias de Polícia Civil, das escolas formativas de oficiais e soldados e dos institutos superiores de ensino e pesquisa, como bases para a construção da Polícia Cidadã, seja através de suas intervenções junto aos policiais ingressantes, seja na qualificação daqueles que se encontram há mais tempo na ativa. Um bom currículo e professores habilitados não apenas nos conhecimentos técnicos, mas igualmente nas artes didáticas e no relacionamento inter-pessoal, são fundamentais para a geração de policiais que atuem com base na lei e na ordem hierárquica, mas também na autonomia moral e intelectual. Do policial contemporâneo, mesmo o de mais simples escalão, se exigirá, cada vez mais, discernimento de valores éticos e condução rápida de processos de raciocínio na tomada de decisões. CONCLUSÃO A polícia, como instituição de serviço à cidadania em uma de suas demandas mais básicas Segurança Pública tem tudo para ser altamente respeitada e valorizada. Para tanto, precisa resgatar a consciência da importância de seu papel social e, por conseguinte, a auto-estima. Esse caminho passa pela superação das seqüelas deixadas pelo período ditatorial: velhos ranços psicopáticos, às vezes ainda abancados no poder, contaminação anacrônica pela ideologia militar da Guerra Fria, crença de que a competência se alcança pela truculência e não pela técnica, maus-tratos internos a policiais de escalões inferiores, corporativismo no acobertamento de práticas incompatíveis com a nobreza da missão policial. O processo de modernização democrática já está instaurado e conta com a parceria de organizações como a Anistia Internacional (que, dentro e fora do Brasil, aliás, mantém um notável quadro de policiais a ela filiados). Dessa forma, o velho paradigma antagonista da Segurança Pública e dos Direitos Humanos precisa ser substituído por um novo, que exige desacomodação de ambos os campos: Segurança Pública com Direitos Humanos. O policial, pela natural autoridade moral que porta, tem o potencial de ser o mais marcante promotor dos Direitos Humanos, revertendo o quadro de descrédito social e qualificando-se como um personagem central da democracia. As organizações não-governamentais que ainda não descobriram a força e a importância do policial como agente de transformação, devem abrir-se, urgentemente, a isso, sob pena de, aferradas a velhos paradigmas, perderem o concurso da ação impactante desse ator social. Direitos Humanos, cada vez mais, também é coisa de polícia!

17 O professor Titular da Faculdade de Direitos da Universidade de Brasília e ex-secretário Estadual de Segurança Pública do Distrito Federal, Roberto Armando Ramos Aguiar, no site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%c3%a7ao.htm. Acesso: 27 de out 2007. 114 AGUIAR, Roberto Armando Ramos, p 35.114 enfatiza trinta afirmações para Segurança Pública democrática e efetiva, traremos seis delas: 5. Conclusão Uns acreditam que os problemas nesse setor serão resolvidos por transformações políticas, sociais e econômicas, exclusivamente; outros pensam que é a reforma dos organismos policiais que conseguirá diminuir a violência e a criminalidade; para eles, o problema se cingiria a mais homens (e, raramente, mulheres), mais viaturas e mais armas. Nenhuma dessas concepções circunscreve o problema em sua totalidade, pois é impossível resolvermos os problemas de segurança, sem a educação formal que qualifique a juventude, nem podemos esperar uma sociedade sem violência quando as famílias são desagregadas por absoluta falta de apoio em todos os níveis, além do crescimento da exclusão econômica e aumento do desemprego. Por outro lado, enquanto as polícias viverem sob a égide da doutrina de segurança nacional, enquanto forem submetidas a uma disciplina e hierarquia que fere os direitos humanos, enquanto sofrerem uma formação inadequada e a destempo dos problemas contemporâneos, também não haverá um instrumento democrático para garantir os próprios avanços democráticos da sociedade e os direitos fundamentais daí advindos. Além disso, sem a participação da cidadania, seja no planejamento, seja na execução, seja fiscalização, a segurança pública nada mais será que um instrumento de garantia dos privilégios dos grupos hegemônicos. O resultado disso é a necessidade premente de instituição de ouvidorias independentes com atribuição de fiscalização e investigação, que por sua autonomia não sofrerá nenhum risco de corporativismo ou parcialidade. Para Roberto Aguiar, a Segurança Pública não é uma atividade de guerra que tem como adversário o cidadão, mas um conjunto de atividades que procura alcançar a paz nas sociedades, tendo como destinatário o cidadão e como escopo à radical diminuição da violência. Por isso devemos considerar fundamental a desmilitarização do policiamento preventivo ao mesmo tempo em que sejam diminuídas as patentes das policias militares, que são cópias do Exército, que têm como função o combate bélico clássico, que nada tem a ver com a atividade policial. Os policias, principalmente os militares, vivem sob regulamentos desumanos, invertidos em suas prioridades valorativas, punindo severamente falhas absolutamente insignificantes, o que diminui a identidade dos praças, ao mesmo tempo em que não punem atos de suma gravidade, como homicídios e abusos de poder. Ora, como pedir respeito aos direitos humanos para quem nunca os viveu ou nunca tiveram sua prerrogativas fundamentais garantidas? Urge modificar os regimentos disciplinares, como por exemplo, já foi feito no Rio Grande do Sul. Para que os projetos previstos pelo Programa Nacional de Segurança Cidadã-Pronasci, em especial o de Polícia Comunitária, sejam sucesso em

18 todo o território nacional, há que se considerar os profissionais das corporações destinadas a zelar pela segurança pública ou defesa social, tanto da área administrativa quanto operacional, como cidadãos, seres humanos, pais de família, homens de bem, antes de tudo, incluídos no Plano Nacional de Direitos Humanos, com afinidades de objetivos, envolvimento e comprometimento, sem o que, muito pouco poderá ser feito. A violência que até há pouco tempo permeava e, em algumas situações, ainda permeia as relações internas às corporações policiais é incompatível com a construção de uma sociedade de paz por estes mesmos sujeitos operadores da segurança pública vítimas desta, além de vítimas da violência que reina na sociedade brasileira, além dos portões das polícias militares, civis e da guarda municipal. É preciso pacificar as polícias internamente, para posteriormente, numa verdadeira parceria de sentimentos, objetivos, envolvimento e comprometimento, construir uma sociedade de paz, a partir da absorção do perfil de Polícia Comunitária, do policial que resguarda os direitos humanos e zela pela ordem social, garantindo, assim, o bem comum.

19 6. Referências Bibliográficas MAGALHÃES, José Luiz Quadros de Magalhães - A Indivisibilidade dos Direitos Humanos ; BALESTRERI, Ricardo Brisolla Direitos Humanos: Coisa de Polícia, Diretor da Senasp e especialista em Segurança Pública; SANTOS Boaventura de Souza, parágrafos do livro Pelas Mãos de Alice nascido em 1940, doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale e professor titular da Universidade de Coimbra; TEIXEIRA Ana Paula, o texto As Categorias de Direitos Humanos: Indivisibilidade e Interdependência, Assistente do Curso de Direito da Faculdade Moraes Junior - Mackenzie Rio, que por sua vez cita Thomas Marshall, no seu livro Cidadania, Classe Social e Status, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1967, p. 63 AGUIAR, Roberto Armando Ramos; professor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília e ex-secretário Estadual de Segurança Pública do Distrito Federal, no site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%c3%a7ao.htm. Acesso: 27 de out 2007. 114 AGUIAR, Roberto Armando Ramos, p 35.114.