A REGULAMENTAÇÃO DA TERCEIRIZAÇÃO PELO PROJETO DE LEI 4330/04: Avanço ou retrocesso?

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Transcrição:

A REGULAMENTAÇÃO DA TERCEIRIZAÇÃO PELO PROJETO DE LEI 4330/04: Avanço ou retrocesso? Flávia Gusmão Ferreira¹ Tatiana Bhering Roxo² Banca Examinadora 3 RESUMO: O Estudo sobre a terceirização vem crescendo ao longo dos anos e essa forma de contratação está sendo muito utilizada no Brasil. Dessa forma, a necessidade por uma regularização é grande e o projeto de lei que tentará trazer tal normatização passará a ser estudado. PALAVRAS-CHAVE: Terceirização; Forma de Contratação; Projeto de Lei 4330/04; Regulamentação; Delineamentos. SÚMARIO: 1- Intrudução; 2- Os delineamentos da terceirização atualmente pela súmula 331 TST; 2.1- Evolução histórica; 2.2- Regramento atual; 3- O projeto de lei 4330/2004: Análise; 4- Possíveis considerações do projeto de lei: avanço ou retrocesso?; 5- Considerações Finais; Referências. 1 INTRODUÇÃO Nos últimos anos a terceirização de mão de obra vem se tornando crescente no Brasil, trazendo discussões acerca de sua finalidade e contratação. Esse tipo de contratação está sendo enxergada como uma forma de valorizar os serviços prestados, mas visando, por sua vez, a diminuição dos encargos trabalhistas, e consequentemente aumento da lucratividade. No Brasil, o sistema de terceirização passou a ser implantado, por volta de 1950, quando as grandes empresas passaram a produzir apenas o objeto fim de seu negócio e repassavam para terceiros todo o restante. O objeto do estudo envolve o projeto de lei 4330/04 e sua análise sobre a normatização trazida em seu texto. Essa legislação traz uma generalidade na aplicabilidade dessa forma de contratação que é a terceirização. Com isso, passa-se ao esclarecimento se o projeto de lei seria a melhor forma de lei apresentada e se traria a solução que há tempos vem sendo buscada, já que a terceirização faz parte das mais utilizadas formas de contratação. Passa-se a estudar o surgimento da terceirização no Brasil, mostrando sua evolução histórica aos longos dos anos e chegando a única forma de regulamentação que se faz através da súmula 331 do TST. Após a evolução da terceirização, é feita uma minuciosa análise, no que tange, aos artigos do projeto de lei 4330/04, que está em trâmite no Congresso Nacional esperando por aprovação. Por fim, diante do demonstrado, conclui-se o estudo com posições, se tal aprovação geraria impacto ou não no âmbito das relações trabalhistas e se traria prejuízos aos trabalhadores terceirizados. 2 OS DELINEAMENTOS DA TERCEIRIZAÇÃO ATUALMENTE 2.1 Evolução Histórica A terceirização, segundo lição de Alice Monteiro de Barros (2006, p. 427) pode ser entendida como: (...) terceirização consiste em transferir para outrem atividades consideradas secundárias, ou seja, de suporte, atendose a empresa à sua atividade principal. Assim, a empresa se concentra na sua atividade-fim, transferindo as atividades-meio. No Brasil, o sistema da terceirização passou a ser implantado por volta de 1950, quando as grandes empresas passaram a produzir apenas o objeto fim de seu negócio e repassavam para terceiros todo o restante. Dispõe sobre o assunto Maurício Godinho Delgado (2012, p. 436), da seguinte forma: Mesmo no redirecionamento internacionalizante desapontado na economia nos anos 1950, o modelo básico de organização das relações de produção manteve-se fundado no vínculo bilateral empregado- empregador, sem notícia de surgimento significativo no mercado privado da tendência à formação do modelo trilateral terceirizante. No que tange à legislação em que regulamenta a terceirização em âmbito privado, na década de 1960, teve seus primeiros efeitos na contratação para prestação de serviços em relação à segurança bancária. Não obstante essa pequena normatização, por volta de 1970, o processo de terceirização acentuou-se e generalizou-se nas décadas seguintes a 1970. Diante do crescimento dessas relações e da necessidade de regulamentação, acerca dos direitos e deveres dos trabalhadores, surgiram as primeiras leis que iriam versar sobre o trabalho temporário (Lei n. 6019, de 1974) e o trabalho de vigilância bancária (Lei n. 7.102, de 1983). O que se percebeu, foi que o processo de terceirização expandiu-se para além das duas hipóteses até então regulamentadas, passando a se caracterizar como uma forma permanente de contratação, sem, contudo, encontrar respaldo em textos legais trabalhistas. Em face da contínua expansão da terceirização no Brasil, inclusive no setor público, apresenta-se na Constituição de 1988 limites claros ao processo de terceirização laborativa na economia e na sociedade, embora não se tenha regulamentação especifica acerca do assunto. O Doutrinador Maurício Godinho Delgado, traz em seu texto tais limitações (2012, p. 445): Os limites da Constituição ao processo terceirizante situam-se no sentido de seu conjunto normativo, quer nos princípios, quer nas regras assecuratórias da dignidade da pessoa humana ( art.1º, III), da valorização do trabalho e especialmente do emprego (art.1º, III, combinado com art. 170, caput), da busca de construção de uma sociedade livre, justa e solidária (art. 3º, I), do objetivo de erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais ( art. 3º, III), da busca da promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação ( art. 3º, IV). 61

Posteriormente, a Lei n. 8949/94 introduziu o parágrafo único ao artigo 442 da CLT, considerado uma hipótese de terceirização na forma cooperada, como dispõe o texto que qualquer que seja o ramo de atividade da sociedade cooperativa, não existe vínculo empregatício entre ela e seus associados, nem entre estes e os tomadores de serviços daquela (BRASIL, 1994). Diante da evolução das normas, em 1986, foi aprovada a edição do Enunciado 256 do Tribunal Superior do Trabalho, que regulamentava: (...) Salvo os casos previstos nas Leis ns. 6.019, de 3.1.1974 e 7.012, de 20.06.1983, é ilegal a contratação de trabalhador por empresa interposta, formando-se o vínculo empregatício diretamente com o tomador de serviços. O que se limitou no enunciado foram as práticas terceirizantes, com escopo a fazer com que as empresas evitassem o vínculo empregatício. Contudo, o Enunciado 256 do TST, devido às novas interpretações pela doutrina e jurisprudência, teve sua aplicação restringida. Em sua obra sobre terceirização e o direito do trabalho, Sérgio Pinto Martins explica que (2005, p. 120): No acórdão que deu origem ao Enunciado 256 (RR 3.442/84), no qual foi relator o Min. Marco Aurélio, ficou evidenciado que a contratação de empresa interposta só poderia ser admitida em casos excepcionais, pois a locação da força de trabalho é ilícita, visto que os homens não podem ser objeto desse tipo de contrato, apenas as coisas. Verifica-se que o TST proíbe a intermediação de mão-de-obra tanto na atividade-fim como na atividade-meio, salvo nas hipóteses do trabalho temporário e da Lei nº 7.102. Diante de tal lacuna na legislação, foi aprovado pela Resolução Administrativa nº 23/93, de 17 de dezembro de 1993, a Súmula 331 do TST que versaria em seus incisos sobre alguns aspectos do contrato de prestação de serviços e que definiria alguns grupos de terceirização tidos como lícitos, como é descrito em seus incisos I e III: trabalho temporário, serviços de vigilância, serviços de conservação e limpeza e serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador. E o que caracteriza a terceirização é justamente o que envolve a atividade dita como fim e a como meio, conceituado nas palavras de Sérgio Martins como atividade-fim aquela cujos objetivos da empresa, incluindo a produção de bens ou serviços formam a atividade central da empresa. Para entender o que se caracteriza como atividades-meio, convém citar Maurício Godinho Delgado (2006, p. 427): (...) funções e tarefas empresarias e laborais que não se ajustam ao núcleo da dinâmica empresarial do tomador de serviços, nem compõe a essência dessa dinâmica ou contribuem para a definição de seu posicionamento no contexto empresarial e econômico mais amplo. São, portanto, atividades periféricas á essência da dinâmica empresarial do tomador de serviços. A evolução da normatização da terceirização veio se adaptando e tomando forma, e com tal adaptação surgiu a elaboração da Súmula 331 do TST, que traria em seu texto alguns pontos importantes a cerca do assunto em questão, o qual passa-se a estudar em seguida. 2.2 Regramento Atual No ano de 1993, especificamente no dia 17 de dezembro de 2013, foi aprovado pela Resolução Administrativa nº 23/93, a Súmula 331 do TST que versaria sobra a contratação de prestação de serviços, nos seguintes termos: CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE (nova redação do item IV e inseridos os itens V e VI à redação) - Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011 I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974). II - A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não gera vínculo de emprego com os órgãos da Administração Pública direta, indireta ou fundacional (art. 37, II, da CF/1988). III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta. IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, desde que haja participado da relação processual e conste também do título executivo judicial. V - Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta respondem subsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso evidenciada a sua conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei n.º 8.666, de 21.06.1993, especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais e legais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida responsabilidade não decorre de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas assumidas pela empresa regularmente contratada. VI A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrange todas as verbas decorrentes da condenação referentes ao período da prestação laboral Sendo assim, seriam consideradas, de acordo com a Súmula 331 do TST, terceirização ilícita aquela que não se enquadra nos limites previstos na jurisprudência através da referida Súmula. Atualmente, a terceirização trabalhista é uma forma de utilização de prestação de serviços que visa diminuir os custos e aumentar a produção. As empresas repassam algumas atividades que não representam atividade-fim para que empresas prestadoras executem tais atividades. Lívia Miraglia (2008, p.117) afirma que como técnica administrativa a terceirização já estava consolidada na maioria das empresas, tanto no setor privado quanto no segmento público, e, portanto, tal fenômeno já estava incrustado no cotidiano empresarial brasileiro. Contudo, diante do histórico da normatização da terceirização, o que se verifica é que a única regulamentação que fala explicitamente sobre o assunto é a Súmula 331 do TST, tornando-se a regulamentação deficiente em meio a tantas discussões sobre o tema. Sendo assim, nos últimos anos foi elaborado o Projeto de Lei 4330/04 que traria em seu texto a regulamentação que faltava, o qual passa-se a estudar em seguida. 3 O PROJETO DE LEI 4330/2004: ANÁLISE A Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho que trata sobre contratações e que proíbe aquelas com caráter de atividadesfim das empresas, mas que não delimitam quais sejam essas, era até então a única norma que dava algum tipo de regulamentação a essa forma de contratação. Há em trâmite por mais de 7 anos o Projeto de Lei 4330/2004, que prevê a contratação de serviços terceirizantes para qualquer atividade de determinada empresa, sem estabelecer limites ao tipo de serviço que pode ser alvo da prática de terceirização. 62

O Debutado Sandro Mabel, que é o responsável pelo referido Projeto, dispõe em sua justificativa sobre a elaboração da PL que na prestação de serviços a terceiros reclamam urgente intervenção legislativa, no sentido de definir as. responsabilidades do tomador e do prestador de serviços. E ainda ressalta que (http://www.tirio.org. br/media/pl4330): O Projeto de Lei que ora apresentamos exclui os dispositivos que tratavam do trabalho temporário, limitando-se à prestação de serviços a terceiros, e incorpora as contribuições oferecidas por todos os que participaram dos debates do Projeto de Lei nº 4.302, de 1998. A nossa proposição regula o contrato de prestação de serviço e as relações de trabalho dele decorrentes. O prestador de serviços que se submete à norma é, portanto, a sociedade empresária, conforme a nomenclatura do novo Código Civil, que contrata empregados ou subcontrata outra empresa para a prestação de serviços. O projeto de lei regulamenta, inicialmente, a quem são aplicados as suas normas, sendo que nessa forma de contratação não existe vínculo empregatício, conforme a seguir: Art. 1º Esta Lei regula o contrato de prestação de serviço e as relações de trabalho dele decorrentes, quando o prestador for sociedade empresária que contrate empregados ou subcontrate outra empresa para a execução de serviços. Parágrafo único. Aplica-se subsidiariamente ao contrato de que trata esta Lei o disposto no Código Civil, em especial os arts. 421 a 480 e 593 a 609. Art. 2º Empresa prestadora de serviços a terceiros é a sociedade empresária destinada a prestar à contratante serviços determinados e específicos. 1º A empresa prestadora de serviços contrata e remunera o trabalho realizado por seus empregados, ou subcontrata outra empresa para realização desses serviços. 2º Não se configura vínculo empregatício entre a empresa contratante e os trabalhadores ou sócios das empresas prestadoras de serviços, qualquer que seja o seu ramo. O Deputado, ainda na justificativa sobre a elaboração da lei, afirma que se preocupou com o trabalhador no que tange às contratações sucessivas por várias empresas prestadoras de serviço. Como regulamenta o seu artigo 5º: Art. 5º São permitidas sucessivas contratações do trabalhador por diferentes empresas prestadoras de serviços a terceiros, que prestem serviços à mesma contratante de forma consecutiva. Nos artigos 7º, 8º e 9º 4 que se seguem, há uma preocupação com os direitos do trabalhador terceirizado quando se fala nas condições de segurança e saúde e do fornecimento do treinamento específico para o trabalho, além dos benefícios que podem ser estendidos a terceiros. Por outro lado, o Projeto de Lei 4330/04 traz uma inovação em seu artigo 10, parágrafo único, assegurando ação regressiva da empresa contratante em face da prestadora de serviços. Além de ressarcimento e indenização de valores pagos pela empresa contratante sobre obrigações e débitos trabalhistas. Assegura-se também a responsabilidade subsidiária de uma possível subcontratação de outra empresa pela prestadora de serviços. Como se depreende dos artigos 10 e 11: Art. 10. A empresa contratante é subsidiariamente responsável pelas obrigações trabalhistas referentes ao período em que ocorrer a prestação de serviços, ficando-lhe ressalvada ação regressiva contra a devedora. Parágrafo único. Na ação regressiva de que trata o caput, além do ressarcimento do valor pago ao trabalhador e das despesas processuais, acrescidos de juros e correção monetária, é devida indenização em valor equivalente à importância paga ao trabalhador. Art. 11. A empresa prestadora de serviços a terceiros, que subcontratar outra empresa para a execução do serviço, é solidariamente responsável pelas obrigações trabalhistas assumidas pela empresa subcontratada. Outro ponto que é mencionado no projeto é referente à contratação com a Administração Pública e suas responsabilidades. Sendo que, para que ocorra essa forma de contratação é preciso observar o disposto na Lei nº 8666/93 que dispõe especificamente sobre o assunto. Ainda, é abordado no referido projeto sobre o recolhimento da contribuição sindical compulsória, que caso venha a ser aprovado, será recolhido pela entidade representante da categoria profissional que corresponderá a atividade terceirizada. Vale ressaltar que foram excluídos da aplicabilidade dessa legislação o empregado doméstico e as atividades de vigilância e transporte de valores que já possuem sua regulamentação. Por fim, e talvez mais importante, é o que o artigo 17, 2º traz em seu texto legislativo no que se refere à anistia do empregador a penalidades, baseado em leis anteriores, incompatíveis com o que está disposto no presente projeto. Como se observa em seu texto: Art. 17. O descumprimento do disposto nesta Lei sujeita a empresa infratora ao pagamento de multa administrativa de R$ 500,00 (quinhentos reais) por trabalhador prejudicado, salvo se já houver previsão legal de multa específica para a infração verificada. 2º As partes ficam anistiadas das penalidades não compatíveis com esta Lei, impostas com base na legislação anterior. Diante de toda análise feita sobre o Projeto de Lei 4330/04, já se pode tirar algumas conclusões e posicionar se essa é realmente a melhor forma de tratar sobre um tema que a muito já vem crescendo e tomando seu espaço no meio das relações contratuais laborais. 4 POSSÍVEIS CONSIDERAÇÕES DO PROJETO DE LEI: AVANÇO OU RETROCESO? Conforme previamente demonstrado, o projeto de lei estudado tenta resgatar em seu texto o avanço de uma terceirização a muito praticada com intuito de reduzir os custos e facilitar a produtividade. Lívia Miraglia pontua que (2008, p. 124): O lema é produzir mais, em menor tempo, dispondo de estrutura empresarial enxuta e com menor gasto possível. Entre os próprios obreiros, a competência é acentuada, e por vezes, até mesmo incentivada, sob o discurso do terror do desemprego, de modo que passam a enxergar no colega uma ameaça ao seu posto de trabalho. O que mais assusta no referido projeto é a generalidade que tem sido tratado o tema, sendo proposta uma aplicação ilimitada das hipóteses de terceirização. O projeto pretende a licitude da contratação de empresas terceirizadas para o exercício de toda e quaisquer atividades desenvolvida pelas empresas tomadoras de serviço, principalmente a atividade-fim. Nessa linha de raciocínio, o já citado doutrinador e Ministro do TST Maurício Godinho (2013), faz algumas considerações: Eu nunca vi um projeto de precarização do trabalho tão impactante como esse, de tamanha amplitude e efeitos danosos, que des- 63

respeita dezenas de milhões de pessoas que vivem do trabalho. A terceirização, ao reverso do que o projeto faz, tem de ser restrita. O projeto teria de restringir a terceirização, pois ela já se tornou uma epidemia; epidemia restringe-se e se controla; ou seja, coloca-se o fenômeno dentro de margens de segurança, ao invés de se instigar a sua generalização. O PL não regulamenta, restringindo, a terceirização; ele, na verdade, desregulamenta, liberaliza, generaliza o fenômeno da terceirização. Convém analisar, se o projeto de lei não estaria em choque com o que é assegurado pela Constituição Federal, que posicionou o Direito do Trabalho como essencial ao Estado Democrático de Direito. Dessa forma, é percebida uma afrontando aos princípios, entre eles o da dignidade da pessoa humana. Nesse sentido, há posicionamento do Maurício Godinho (2003): Estamos falando do esvaziamento do papel de instituições fundamentais, como a Justiça do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho, além do próprio Direito do Trabalho, tudo isso contra o ideário da Constituição. É a nossa sobrevivência que está em jogo, como partícipes de instituições fundamentais do Estado Democrático de Direito. Todos os juízes e todos os procuradores do Trabalho estão atingidos por esse projeto. Outro princípio que é constitucionalmente assegurado, mas que não é observado, é o princípio da isonomia. Tal fato acaba gerando um desequilíbrio no referido projeto, já que, o trabalhador terceirizado e o trabalhador contratado diretamente pela empresa tomadora dos serviços não terão seus contratos regidos com igualdade. Contudo, o projeto de lei trás expressamente em seu texto legislativo que não haverá vínculo empregatício entre a empresa contratante e os trabalhadores da empresa prestadora de serviços. Ora, deixa expresso que o terceirizado será contratado para realização de uma mão-de-obra mais barata e viável para as empresas. Lívia Miraglia discorre nesse sentido (2008, p. 128): Mas, na contramão de seu raciocínio, encontra-se a realidade. Teoricamente, numa empresa de pequeno porte, o empregado teria um tratamento mais humano. Todavia, num processo de terceirização, isso não ocorre, uma vez que os obreiros são inseridos na estrutura empresarial como meros instrumentos no encalço de um fim. Ao tomador não interessa quem seja o obreiro, mas tão-somente que o produto final seja elaborado (...) Nessa esteira, os empregados terceirizados não estabelecem vínculos jurídicos com a tomadora ou com o produto final de seu labor. Daí surge o segundo problema: a perda da identidade de classe do trabalhador. Lívia Miraglia, ressalta que há problema da discriminação gerada no próprio ambiente interno da empresa tomadora entre os trabalhadores terceirizados e os empregados efetivos (2008, p. 129) Ainda sobre o mesmo aspecto, outros direitos poderiam ser violados com a regulamentação da terceirização, como a jornada de trabalho, pisos salariais, equiparação salarial e outros. Sendo que, essa violação ocorreria com a terceirização dos trabalhadores que exerceriam as mesmas atividades que os empregados diretamente contratados. Sérgio Martins Pinto ressalta que (2001, p. 225): Afetam-se também as condições de saúde e segurança do obreiro, eliminam-se benefícios sociais diretos e indiretos, promovendo-se insegurança laborativa, vez que a remuneração torna-se incerta e o recebimento das vantagens e benefícios decorrentes de um contrato de trabalho clássico ou de normas coletivas não é auferido pelo trabalhador. Outro ponto que deve ser abordado é no que tange a remuneração, que muitas vezes não é compatível com o desgaste laboral e com a função desempenhada pelo terceirizado. Nesse sentido, dispõe Lívia Miraglia (2008, p.133): Cumpre salientar que o trabalhador terceirizado percebe, em regra, remuneração mais baixa que o efetivo, labora em jornadas ainda mais extenuantes e sofre com a rotatividade que lhe é imposta. Tudo isso é asseverado pela ausência da lei especifica, que regule os aspectos e os pressupostos da terceirização trabalhista. Ademais, cumpre salientar se existiria a oportunidade desses trabalhadores terceirizados constituírem uma categoria profissional e assim formarem um sindicato assegurado pela lei brasileira. Por isso, segue-se o entendimento de Maurício Godinho, que se posiciona na linha de que a representação sindical dos trabalhadores terceirizados possui a mesma preocupação que o problema remuneratório e da responsabilidade trabalhista. Destaca que (2011, p. 443): [...] a terceirização desorganiza perversamente a atuação sindical e praticamente suprime qualquer possibilidade eficaz de ação, atuação e representação coletivas dos trabalhadores terceirizados. A noção de ser coletivo obreiro, basilar o Direito do Trabalho e a seu segmento juscoletivo, é inviável no contexto de pulverização da força de trabalho provocada pelo processo terceirizante. A responsabilidade é outro assunto questionado no âmbito da terceirização, considerando que ela define quem será o responsável por indenizar, caso haja ações trabalhistas. Ocorre que no projeto de lei a responsabilidade tratada é a subsidiária. Tendo sua previsão tratada na súmula 331, IV do TST, salienta-se que, não arcando a empresa prestadora com suas responsabilidades junto ao trabalhador, subsidiarimante, a obrigação transmite-se à empresa tomadora. Nas palavras de Elaine D Avila Coelho e Marilane Oliveira Teixeira (2013) que optando por essa responsabilidade perderá uma oportunidade de punir aqueles que têm adotado a terceirização como um instrumento de fraude e eliminação de direitos trabalhistas. Diante de todas as manifestações acerca do projeto de lei 4330/04, o que se percebe é que não existe avanço no referido projeto. Os direitos estão sendo violados, os princípios não observados O retrocesso está declarado na regulamentação que deveria ser trazida em seu texto, mas que acabou por generalizar e ampliar o problema. No mesmo sentido, o deputado federal Vicentinho (2013) aduz que, o PL amplia a precarização e ameaça os direitos de todos os trabalhadores com carteira assinada. É um projeto que não está em sintonia com as vozes das ruas, que clamam por uma sociedade mais justa e igualitária. E para finalizar Maurício Godinho (2013) clama pela rejeição do referido projeto dizendo que O desafio é muito grande, mas tenho convicção de que podemos sim convencer a sociedade política, as instituições estatais, de que se trata de um equívoco grave, que flui na antítese do bom trabalho que o Parlamento brasileiro vem fazendo no tocante a várias leis importantes e progressistas O projeto permite que os trabalhadores terceirizados sejam contratados para a realização de atividades-fim, que até então são realizadas pelas próprias empresas. Ou seja, além das atividadesmeio, como limpeza e vigilância, serão terceirizados a realização da principal atividade da empresa. Contudo, o que se percebe é um ganho por parte das empresas e não dos trabalhadores, já que essas empresas terão uma prestação do mesmo serviço com um custo menor e os trabalhadores não serão valorizados pelo serviço prestado, por justamente não ter uma regulamentação especifica acerca dessa relação de trabalho. 64

Como abordado, no que tange a responsabilidade, o projeto tratou logo de definir como subsidiária, limitando-se o ingresso de ações trabalhistas contra a prestadora de serviço. Descartando-se a responsabilidade mais benéfica que seria a solidária, conceituada pela CLT, art. 455: Art. 455 - Nos contratos de subempreitada responderá o subempreiteiro pelas obrigações derivadas do contrato de trabalho que celebrar, cabendo, todavia, aos empregados, o direito de reclamação contra o empreiteiro principal pelo inadimplemento daquelas obrigações por parte do primeiro. Quando o Deputado Sandro Mabel criou o projeto de lei 4330/04 o que se esperava era o preenchimento da lacuna que era percebido na normatização sobre a terceirização, mas, em vez disso, foi apresentada uma legislação fora do contexto com a realidade. Permitindo em seu texto expandir o que na verdade era preciso restringir. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesse contexto, o projeto de lei 4330/04 representa um importante marco na discussão legislativa do tema, motivo pelo qual é necessário ter cautela com as possíveis consequências de tal normatização. Pretendeu-se criticar a forma como foi abordado o tema terceirização e os poucos benefícios encontrados com relação aos terceirizados no texto legislativo do projeto. O que se percebe é a empresa tomando destaque, quando na verdade o destaque que espera-se é às garantias dos empregados terceirizados. A generalização que está prevista nos primeiros artigos do referido projeto já demonstra a insegurança que gerará, no primeiro momento, a utilização de mão de obra terceirizada, com redução salarial e diminuição dos encargos trabalhistas. Veja-se que, com a aprovação do projeto de lei e estendida a terceirização às atividades- fim haverá afronta ao princípio da isonomia salarial e aos direitos de tais trabalhadores. Salienta-se a questão da subsidiariedade na responsabilidade da tomadora de serviços, pois adotando essa forma de responsabilidade, a via judicial só afetará a tomadora depois de esgotada as possibilidades em face da empresa contratante. Ademais, as normas coletivas são tratadas com descaso, já que, regulamenta no referido projeto que os terceirizados teriam um sindicato e os contratados outro. O que se espera não é uma negativa total do projeto de lei 4330/04, mas uma aprovação com a observância do que se faz necessário para a licitude de uma terceirização a tanto praticada nos dias atuais. Sua aprovação requer reparos em seu texto, sem estes, será declarado o retrocesso histórico da terceirização. REFERÊNCIAS AMORIM, Helder Santos. O PL 4330/2004-A e a inconstitucionalidade da terceirização sem limite. Disponível em: <http://www.prt3.mpt.gov.br/imprensa/ wp-content/uploads/artigo-terceiriza%c3%a7%c3%a3o_helder-amorim.pdf>. Acesso em: 10 maio 2014. ANAMATRA NOTICIAS. Maurício Godinho afirma que regulamentação da terceirização vai esvaziar o papel da Justiça do Trabalho. (2013) Disponível em <http:// www.anamatra.org.br/index.php/noticias/mauricio-godinho-afirma-que-regulamentacao-da-terceirizacao-vai-esvaziar-o-papel-da-justica-do-trabalho>. Acesso em: 20 maio 2014. BARROS, Alice Monteiro. Curso de Direito do Trabalho. 4ª Ed. Ltr. 2011 COELHO, Elaine D Avila; TEIXEIRA, Marilane Oliveira. Que tempos são estes, em que é necessário defender o óbvio? Disponível em: <http://www.cut.org.br / sistema/ck/files/artigo%20terceirizacao.pdf>. Acesso em: 21 maio 2014. DELGADO, Gabriela Neves. Terceirização. Paradoxo do direito do trabalho contemporâneo, 2003 apud MIRAGLIA. Lívia Mendes Moreira. A terceirização trabalhista no Brasil. São Paulo: QuartierLatin, 2008. DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 11.ed. São Paulo: LTr, 2012. LAKATOS, Eva Maria. MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. 4ªed. rev.ampl.. São Paulo: Atlas. 2001. MIRAGLIA. Lívia Mendes Moreira. A terceirização trabalhista no Brasil. São Paulo: QuartierLatin, 2008. NOTAS DE FIM 1 Graduanda em Direito pelo Centro Universitário Newton Paiva. 2 Mestre em Direito do Trabalho pela PUC-MINAS. Professora do Centro Universitário Newton Paiva. Advogada. Sócia do Bhering e Zapata Advocacia e Consultoria Trabalhista. 3 Tatiana Bhering Roxo; Daniela Lage Mejia Zapata. 4 Art. 7º É responsabilidade da contratante garantir as de segurança e saúde dos trabalhadores, enquanto estes estiverem seu serviço e em suas dependências, ou em local por ela designado. Art. 8º Quando o empregado for encarregado de serviço para o qual seja necessário treinamento específico, a contratante deverá: I exigir da empresa prestadora de serviços a terceiros certificado de capacitação do trabalhador para a execução do serviço; ou II fornecer o treinamento adequado, somente após o qual poderá ser o trabalhador colocado em serviço. Art. 9º A contratante pode estender ao trabalhador da empresa de prestação de serviços a terceiros benefícios oferecidos aos seus empregados, tais como atendimento médico, ambulatorial e de refeição destinado aos seus empregados, existentes nas dependências da contratante ou local por ela designado. 65