Princípios e Diretrizes. para atenção à saúde dos povos indígenas isolados e em contato inicial

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Transcrição:

Princípios e Diretrizes para atenção à saúde dos povos indígenas isolados e em contato inicial

APRESENTAÇÃO Este documento tem como objetivo oferecer uma sistematização dos princípios e diretrizes imprescindíveis na elaboração de uma estratégia regional para a proteção e cuidados da saúde dos Povos Indígenas em Isolamento e em Contato Inicial (PIACI), realizada no âmbito do Convênio OTCA/BID entre 2011 e 2014. Essa estratégia deve incluir os princípios em nível nacional, os planos especiais de contingência, o modelo de formação de equipes especializadas em atenção à saúde para situações de contato e sugestões para uma norma técnica de saúde em âmbito regional, apontando diretrizes básicas para a elaboração de um plano regional de proteção à saúde dos PIACI. PRINCÍPIOS E DIRETRIZES Os Princípios e Diretrizes são orientações básicas consolidadas por técnicos especializados para contribuir com as iniciativas na atenção de saúde. Os registros da existência dos PIACI na Amazônia variam, segundo diversos especialistas e instituições, e considerando as referências estudadas e as que estão em estudo, em 2011 seriam 126 povos indígenas isolados e em contato inicial, distribuídos entre os Países Membros da OTCA. PRINCÍPIOS Princípio de alta vulnerabilidade O contato significa, para os PIACI, um risco muito grande de adoecer e morrer pelo fato de não terem desenvolvido uma resposta imunológica adequada para microorganismos comuns. Constitui uma situação de emergência para estes povos e devemos estar preparados para enfrentá-la e mitigar seus efeitos negativos em suas vidas e em sua saúde. As doenças afetam o povo todo e não somente o indivíduo. Estes povos ou segmentos de povos indígenas em isolamento não mantém contato regular com a maioria da população e tendem a rejeitar todo tipo de contato com pessoas fora do seu grupo, o que agrava o quadro de vulnerabilidade. Princípio da prevenção Este princípio deve ser aplicado tendo em conta que não são possíveis intervenções de saúde direta nos PIACI. Neste sentido, as ações devem estar orientadas a dar monitoramento à saúde de todos os atores que vivem perto dos territórios dos povos isolados. A este respeito, é importante trabalhar a partir da criação de cordões de proteção sanitária para garantir a saúde dos povos em isolamento e que não sofram as consequências de eventuais epidemias e doenças das comunidades vizinhas. Princípio da autodeterminação Respeito e garantia do direito à autodeterminação. Para os povos indígenas em isolamento, a garantia do direito à autodeterminação se traduz em respeito à sua decisão de permanecer em isolamento, sem que isso pressuponha que a situação desses povos não possa mudar no que se refere ao seu desejo ou necessidade de estabelecer contato.

Princípio da participação, consulta e consentimento prévio, livre e informado Este princípio geral deve ser aplicado tendo em conta as realidades específicas dos PIACI, considerando particularmente o respeito ao direito à saúde e o direito à participação, consulta e consentimento prévio, livre e informado dos povos afetados. A Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas (2007) contém mais de 30 disposições gerais relativas aos povos indígenas e à tomada de decisões. Tanto a Convenção 169 da OIT como a Declaração da ONU estabelecem que as consultas devem ser realizadas por meio de instituições representativas dos povos indígenas. As consultas devem ser feitas de boa fé e devem permitir que os povos indígenas expressem suas opiniões baseadas no pleno entendimento das questões tratadas, de tal maneira que possam influenciar o resultado e que o consenso seja alcançado. No caso dos povos indígenas em isolamento, o direito à consulta com o objetivo de obter seu consentimento prévio, livre e informado deve ser interpretado levandose em conta sua decisão de permanecer em isolamento e a necessidade de maior proteção dada sua situação de vulnerabilidade, o que pode se refletir em sua decisão de não usar esse mecanismo de participação e consulta. No caso dos povos indígenas em contato inicial, a participação faz referência a considerá-los sujeitos ativos em todas as ações que possam ser tomadas nas relações com a sociedade que os envolve. Como sujeitos ativos e detentores de direitos e como povos com o direito de decidir por si mesmos o seu presente e futuro, devem ser capazes de decidir as ações a serem realizadas e de que forma deve ocorrer sua participação. Caso contrário, existe o risco de se implementar medidas ou realizar atividades que não respeitem seus direitos. Princípio de respeito e garantia do direito à saúde O respeito e garantia do direito à saúde dos indivíduos e dos povos apresenta complexidades de aplicação em relação aos povos indígenas, tanto em isolamento voluntário quanto em contato inicial. No caso dos povos indígenas em isolamento voluntário, a garantia do direito à saúde deve ser interpretada de forma a que se leve em conta o desejo desses povos de se manter em isolamento e a necessidade de maior proteção desses povos dada sua situação de vulnerabilidade.

DIRETRIZES As seguintes diretrizes são uma ferramenta de referência para oficinas nacionais, para que colaborem para uma melhor contextualização do direito à saúde dos PIACI em virtude de sua extrema vulnerabilidade e o elevado risco à saúde a que estão expostos. Todos os programas para a proteção à saúde dos povos isolados e em contato inicial devem responder a duas finalidades claras: evitar a transmissão de doenças para as pessoas pertencentes a esses povos e garantir o seu acesso e uso tanto de suas medicinas tradicionais como do sistema biomédico nos casos de contato inicial. Para isso, os Estados deveriam definir e implementar seus programas de proteção e atenção à saúde, tendo em conta os seguintes critérios: Responsabilidade profissional É importante que toda a atenção no âmbito da saúde seja prestada sempre por pessoal especializado tanto em questões de saúde quanto em questões indígenas e que possam estabelecer uma relação culturalmente apropriada. Apenas um pessoal com conhecimento especializado em saúde para povos indígenas isolados e em contato inicial e o estabelecimento de relações interculturais com povos indígenas pode garantir a saúde de seus membros e ao mesmo tempo garantir o respeito aos demais direitos que os povos indígenas em contato inicial possuem. Formação específica e exigente em diversas questões relacionadas com a interculturalidade, a medicina tradicional e as práticas culturais dos povos com os quais se vai trabalhar. O conhecimento das línguas desses povos é importante para minimizar impactos negativos em casos de contatos involuntários ou ainda para manter a comunicação com os recém contatados. Desenvolver programas de formação de profissionais de saúde que possam atuar em diferentes programas de proteção de povos indígenas isolados ou em contato inicial. Promover o intercâmbio de experiências e conhecimentos técnicos com outros países da região buscando otimizar os cuidados à saúde, a prevenção de doenças e a proteção dos PIACI.

Tratamento de saúde diferenciado Promover e tratar a saúde de PIACI considerando cada cultura de forma particularizada e contextualizada. Isso pressupõe que as oficinas nacionais devem contribuir e apoiar a definição de políticas públicas específicas de saúde para os PIACI. Tais políticas públicas devem ajudar a: Definir e criar equipes específicas e qualificadas para trabalhar com a saúde desses grupos, inclusive cuidando da saúde da própria equipe de profissionais, como a vacinação prévia e a compreensão mínima de antropologia da saúde. Capacitar o pessoal de saúde sobre os protocolos técnicos para situações de encontro com PIACI. Criar e manter um plano de emergência (contingência) para lidar com situações em que ocorra um contato, acidental ou não, que traga gravidade para a saúde desses povos, com ameaça de morte em massa iminente. Criar também mecanismos rápidos e ágeis para uma ação mais imediata e eficiente, inclusive com a liberação de recursos. Oferecer tratamento de saúde preferencialmente dentro do próprio território dos grupos de contato inicial, com disponibilidade de recursos humanos, recursos materiais e de comunicação específicos. Realizar programas ativos e permanentes de promoção da saúde no entorno do território onde vivem os PIACI (cintos de proteção) com articulação interinstitucional a fim de controlar os fatores epidemiológicos, sociais, ambientais e econômicos que possam trazer danos físicos e mentais. Promover a atenção permanente em postos de saúde, a ser realizada por pessoal capacitado na problemática dos PIACI, em atenção preventiva e de emergência em cada um dos distritos ou distritos locais próximos às áreas de presença desses povos. Garantir o fornecimento de medicamentos, especialmente para doenças no aparelho digestivo, doenças respiratórias e tropicais, bem como vacinas básicas para recém-nascidos e lactentes e soros antiofídicos.

Garantir as condições para manutenção do modo de vida, da dieta tradicional e conservação ambiental, pois são essenciais para a manutenção da saúde desses grupos. Incorporar práticas tradicionais em proteção e atenção à saúde dos PIACI. Promover a conservação ambiental como fator essencial para a saúde desses grupos. Um meio ambiente preservado e equilibrado é uma contribuição valiosa e inestimável para a manutenção da saúde da população. Financiamento Os responsáveis pela atenção à saúde dos PIACI devem justificar aos seus respectivos Ministérios a inclusão de itens nos orçamentos anuais para garantir os recursos e pessoal necessários para esta finalidade. Devem também apoiar as autoridades de saúde, regionais e locais, para que tomem as medidas necessárias para atender os PIACI em sua jurisdição, de acordo com os seus poderes e responsabilidades. Monitoramento Cada país deverá criar mecanismos para monitorar a implementação de políticas e planos de ação e manter estreita a comunicação com as organizações indígenas de cada país, ao longo de todo esse processo. Isso se traduz em atividades, tais como: Desenvolver um sistema para monitorar a situação de saúde dos povos e pessoas localizadas em áreas adjacentes a dos territórios habitados pelos PIACI. Identificar e estruturar áreas de amortecimento adjacentes às áreas onde estão os PIACI. Estabelecer mecanismos ou sistema de monitoramento constante baseados na realização e atualização de estudos e relatórios sobre a situação de saúde dos povos indígenas isolados e em contato inicial. Esse monitoramento não deve ser invasivo, não deve perturbar os isolados. Desenvolver ferramentas para os sistemas de monitoramento. Podemos destacar o acesso a informações obtidas por meio de entrevistas; imagens de satélite e georreferenciadas; sobrevoos; expedições terrestres e fluviais; observação de vestígios deixados por indígenas (artefatos, alimentos consumidos, habitação, etc.); documentação histórica; aprendizagem de algumas línguas indígenas; registro e sistematização das informações coletadas e os dados oficiais produzidos pelo Estado, com referência às áreas ocupadas pelos índios isolados e em contato inicial.

Incluir no monitoramento pessoal local, se possível, das comunidades indígenas que vivem na região. O monitoramento deve ser integral, ou seja, deve incluir na análise todos os elementos que podem afetar a saúde dos PIACI. Entre os elementos a serem integrados em um plano de monitoramento estão as condições de saúde dos índios contactados que compartilham o mesmo território de povos isolados e em contato inicial, bem como a população indígena e não indígena que vive nas imediações do território daqueles povos; a ocupação territorial (conhecer o território ocupado por povos indígenas ou grupo que utiliza o território, por exemplo, pode se desenvolver em diferentes épocas do ano); condições ambientais no local, com o inventário da fauna, flora e recursos hídricos; padrões culturais, habitacionais e alimentares; artefatos utilizados; a situação da sustentabilidade desses povos indígenas (se estão conseguindo se sustentar com os recursos ambientais disponíveis e realizar as suas práticas culturais); o ambiente (situação socioeconômica no entorno dos territórios dos povos isolados e em contato inicial, condições de saúde, atividades econômicas e empreendimentos públicos e privados, tais como projetos de colonização, de utilização de recursos naturais e de infraestrutura). Estabelecer um mecanismo de intercâmbio de informações em nível regional por meio da OTCA. Programas de coordenação e trabalho conjunto entre as ações de monitoramento da saúde a serem desenvolvidas pelo Estado, como consequência de suas obrigações e as ações de monitoramento que são desenvolvidas pela sociedade civil, promotores comunitários de saúde indígena e organizações indígenas. A coordenação e a troca de informações entre todos esses atores são fundamentais. Sensibilização Considera-se relevante um maior envolvimento dos Estados na proteção e garantia da saúde dos PIACI. Isto se manifesta em ações como as seguintes: Estabelecer um diálogo fluido entre os governos locais, municipais, regionais e nacionais, promotores comunitários de saúde indígena, organizações indígenas e ONGs sobre a situação em que vivem esses povos e os desafios para o planejamento e implementação de ações e medidas concretas de proteção, prevenção e atenção à saúde, estabelecendo mesas de diálogo permanentes que permitam a participação de todos os atores. Formar redes institucionais a favor da saúde dos PIACI. Desenvolver programas de sensibilização sobre a existência e saúde dos PIACI para a sociedade em geral, particularmente no entorno dos territórios indígenas, adaptando esses programas para grupos sociais específicos e aos programas educacionais para crianças e jovens. Capacitação Os processos de capacitação devem incluir um amplo espectro de atores. Capacitação e sensibilização permanente para funcionários públicos da área de saúde em relação aos cuidados com os PIACI, tendo em conta a rotatividade interna.

Capacitação e sensibilização das equipes do poder judiciário e legislativo, bem como dos ministérios e secretarias que tenham ou possam vir a ter implicações diretas para a proteção desses povos, como exemplo, os Ministérios da Cultura e Educação, além da Saúde. Participariam destas capacitações funcionários que têm poder de decisão além dos técnicos que implementam as políticas. Promover atividades de capacitação específicas com organizações indígenas, bem como assegurar a sua participação em outras atividades de capacitação em saúde, monitoramento e avaliação. NOTA Princípios e Diretrizes para a Atenção à Saúde dos Povos Indígenas Isolados e em Contato Inicial (PIACI) foram elaborados no âmbito do programa Marco Estratégico para a Elaboração de uma Agenda Regional de Proteção dos Povos Indígenas em Isolamento e em Contato Inicial, executado entre 2011 e 2014, com financiamento do BID e dos Países Membros da OTCA. OTCA - Organização do Tratado de Cooperação Amazônica SHIS QI 05, Conjunto 16, Casa 21, Lago Sul CEP: 71615-160 Brasília-DF, Brasil Tel: +(55 61) 3248-4119 Fax: +(55 61) 3248-4238 www.otca.info www.otca.org.br/piaci