PROJETO CAPACITAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL

Documentos relacionados
Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

ASA e P1MC Construindo Cidadania no Semiárido Brasileiro.

PROJETO ÁGUA É VIDA : A CONTRIBUIÇÃO DA VISÃO MUNDIAL PARA A DIFUSÃO DE ALTERNATIVAS TECNOLÓGICAS SUSTENTÁVEIS NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO.

CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA NO SEMIÁRIDO: CISTERNAS DE PLACA

I Encontro Nacional do Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares

03/07/2012. Metas Físicas e Financeiras. TOTAL Quantidade de Famílias Capacitadas em GAPA Características Execução Carga horária 8

GRUPO DE TRABALHO EDUCAÇÃO AMBIENTAL. Kharen Teixeira (coord.) Uberlândia, 29/04/15

GERENCIA DE APOIO À ECONOMIA SOLIDÁRIA, CRIATIVA E APLS

ANEXO PLANO DE AÇÃO PROFESSOR

Projeto Participação Voluntária no Planejamento, Execução e Controle Social do Orçamento Participativo

DIAGNÓSTICO DOS MODELOS DE CAPTAÇÃO E ARMAZANAMENTO DE ÁGUA NAS COMUNIDADES CARUATÁ DE DENTRO E MALHADACOMPRIDA, CABACEIRAS- PB.

O USO DE BARRAGENS SUBTERRÂNEAS PARA GESTÃO HÍDICA NO SEMIÁRIDO

ANALISE DOS IMPACTOS DA IMPLANTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE CONVIVÊNCIA COM A SECA NA COMUNIDADE UMBUZEIRO DOCE, MUNICÍPIO DE SANTA LUZIA PB

TERMO DE REFERÊNCIA. 1. Justificativa :

FICHA PROJETO - nº 059-P

Exposição fotográfica: cinco anos de cooperação por um mundo sem fome

Necessidades e Oportunidades de Investimentos no Agronegócio: da Pesquisa ao Consumo. Como chegar ao campo os avanços da ciência e da tecnologia

Propor que os cursos de Pedagogia e outras licenciaturas incentivem o conhecimento e atuação nestes espaços. Incluir algumas horas de

PREFEITURA MUNICIPAL DE VOLTA REDONDA SECRETARIA MUNICIPAL DE PLANEJAMENTO DEPARTAMENTO DE ORÇAMENTO E CONTROLE PROGRAMA Nº- 108

Breve Histórico Projeto Litoral Sustentável

ATIVIDADES INTER-MÓDULOS E GRUPOS DE ESTUDO DIRIGIDO

ANALISE ESPACIAL DAS TECNOLOGIAS SOCIAIS HÍDRICAS NO SEMIÁRIDO DA PARAÍBA

POLÍTICAS PÚBLICAS APLICADAS NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO PARA PROMOVER A CONVIVÊNCIA COM AS SECAS

Programa de Fomento às Ações de Educação em Saúde Ambiental.

AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DAS RESERVAS DE ÁGUA DE CHUVA NO MUNICIPIO DE AGUIAR NA PARAÍBA

A ORGANIZAÇÃO DE ESTADOS IBERO- AMERICANOS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA E A EDUCAÇÃO AO LONGO DA VIDA

AVALIAÇÃO DO FUNDO CLIMA Modalidade Recursos Não Reembolsáveis. REUNIÃO DE PARES 29 de março de 2016

Seminário sobre Emprego para Jovens Painel 3: Desenvolvimento e promoção de políticas, estratégias e serviços integrados

ÁGUA FONTE DE VIDA E EXISTÊNCIA: O USO DAS CISTERNAS COMO FONTE ALTERNATIVA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA, NO DISTRITO DE MORORÓ, BARRA DE SANTANA-PB.

Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Escritório de Gestão de Processos

EDITAL DE SELEÇÃO DE PESSOAL Nº 001/2015

Plano de Desenvolvimento Institucional

Criando valor econômico com sustentabilidade sócio-ambiental no Brasil

Mostra de Projetos Educação no Contexto de Segurança Pública

Escravo Nem Pensar! seleciona educador(a) para São Paulo (SP)

CEADEC 16 anos de história e de luta

Ampliar e fortalecer as iniciativas de Segurança Alimentar e Economia Solidária, assegurando o direito de todos ao acesso regular e permanente a

A IMPORTÂNCIA DA CISTERNA CALÇADÃO NA AGRICULTURA FAMILIAR EM UM MUNICÍPIO DO SEMIÁRIDO PARAIBANO

Agricultura Orgânica para a Conservação da Biodiversidade PROBIO II

TÍTULO: CONSTRUINDO A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA MEDIANTE ASSESSORIA À CASA DE RECUPERAÇÃO NUTRICIONAL DO MUNICÍPIO PEDRAS DE FOGO/PB

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE FORMAÇÃO DE TECNÓLOGOS COLEGIADO DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AGRÁRIAS

Mesa Redonda Desafios da captação de água de chuva no Semi-Árido brasileiro

Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais FIEMG

Apresentação da Equipe Estadual. Coordenadora: Terezinha de Jesus Pinheiro Franco

Rede de Pesquisa, Inovação, Tecnologia, Serviços e Desenvolvimento Sustentável. em Microbacias Hidrográficas

FICHA PROJETO - nº 226-MA

GT-PEDE PLANTA. Momento Pedagógico. Grupo de Trabalho para definições estratégicas, táticas e operacionais para o projeto PEDE PLANTA

NOVO PROGRAMA. Programa Petrobras SOCIOAMBIENTAL

Relatório de Atividades

TERMO DE REFERÊNCIA (TR)

DESENVOLVIMENTO SOCIAL

Projeto Costurando o Futuro. Organização. Volkswagen do Brasil - Fundação Volkswagen. Profissional Responsável. Isadora C. Leone.

RELATÓRIO PARA AUXÍLIO DE PARTICIPAÇÃO EM EVENTO RESUMO DA PARTICIPAÇÃO

2.1. Subcoordenador Técnico Operacional (Código STO) 1 vaga Atribuições:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARA INSTITUTO DE CIENCIAS DA EDUCAÇÃO GRUPO DE ESTUDOS EM EDUCAÇÃO, CULTURA E MEIO AMBIENTE GEAM

ADVERTÊNCIA. Este texto não substitui o publicado no Diário Oficial da União. Ministério da Saúde Gabinete do Ministro

Rede Mobilizadores. Elaboração de Projetos Sociais: aspectos gerais

Brasília, 19 de janeiro de Introdução

PLANO DE TRABALHO 2011

PRIMEIRA OFICINA DE CAPACITAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA IMPLANTAÇÃO DA COLETA SELETIVA REGIÃO DO SERTÃO

AS TECNOLOGIAS SOCIAIS DE CONVIVÊNCIA COM O SEMIARIDO: UMA REFLEXÃO ACERCA DO PROGRAMA 1 MILHÃO DE CISTERNAS.

VI SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA. Universalização com Qualidade Rio de Janeiro -2012

Projetos para os municípios Motivação

A Câmara Municipal de São Bernardo do Campo decreta: CAPÍTULO I DA POLÍTICA DE FOMENTO À ECONOMIA SOLIDÁRIA E SEUS AGENTES

CONSIDERAÇÕES E PRESSUPOSTOS - Falta de cursos de pos-graduação em educação desenvolvimento sustentável e convivência com o Semiárido;

Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural. Secretaria de Agricultura

MANUAL SOBRE CURSO E OFICINA

CADERNO DE ATIVIDADES

CISTERNAS DE PLACAS NO ASSENTAMENTO JIBOIA SEMIÁRIDO BAIANO

SUSTENTABILIDADE APLICADA

CONSTRUINDO O PLANO MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária

Recursos Hídricos. A interação do saneamento com as bacias hidrográficas e os impactos nos rios urbanos

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE ÁGUAS DE CISTERNAS NA COMUNIDADE RURAL DE SANTA LUZIA, EM PICUÍ-PB

FEDERAÇÃO ESPÍRITA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. A FEEES e o Movimento Espírita do Estado do Espírito Santo

NÚCLEO DE PESQUISA APLICADA A PESCA E AQUICULTURA DO TOCANTINS - NORTE 05 RELATORIO DE ATIVIDADES. Paulo Santana Alencar Estagiário do NUPA Norte 5.

A organização da ECO-92 foi solicitada pela resolução da Assembléia Geral das Nações Unidas (dezembro, 1989);

Secretaria de Políticas para as Mulheres Presidência da República

PROGRAMA LEITE GAÚCHO MANUAL OPERATIVO

Plano de Ação Coordenadoria de Desenvolvimento Ins9tucional

PROGRAMA DE FORMAÇÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL PARA A CONVIVÊNCIA COM O SEMI-ÁRIDO: UM MILHÃO DE CISTERNAS RURAIS - P1MC

PLANO DE GOVERNO PRESSUPOSTOS E VALORES BÁSICOS

XXIX Congresso de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo. XXIX Mostra e Experiências Exitosas dos Municípios e V Prêmio David

ANEXO I CARGO: PROFESSOR ATRIBUIÇÕES:

Política Territorial da Pesca e Aquicultura

no SUS Comissão de Educação Permanente Conselho Estadual de Saúde /RS Abril 2009

TÍTULO: Educação e Mobilização Ambiental no Município de Santo André Tema: Educação Ambiental

Apresentação de Angola na XII Reunião dos Ministros do Trabalho e dos Assuntos Sociais Os Desafios na Protecção Social para alcançar a Segurança

Os avanços e as lacunas do sistema de gestão sustentável dos Recursos Hídricos no Brasil

Desdobrando o Mapa Estratégico da Justiça Federal do Rio Grande do Sul

REGIMENTO DE ESTÁGIOS CURRICULARES DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM LETRAS-LIBRAS

Pesquisa Formação e Ação Sindical No Fomento da Agenda de Trabalho Decente no Brasil

A responsabilidade socioambiental é uma preocupação global, fundamental para a qualidade de vida das futuras gerações.

O desenvolvimento do Planejamento Estratégico está dividido em 5 fases principais até a sua conclusão: Figura 1 - Fases do Planejamento Estratégico

EVOLUÇÃO DO VOLUME ARMAZENADO NOS ÚLTIMOS 10 ANOS NO AÇUDE FELISMINA QUEIROZ NO MUNICÍPIO DE SÃO VICENTE DO SERIDÓ PB.

Estratégia Nacional de Educação para o Desenvolvimento. Documento de Apoio: Desagregação das medidas e das tipologias de atividades

Agrupamento de Escolas nº4 de Évora Escola Sede: Escola Secundária André de Gouveia 1. ÁREAS DE INTERVENÇÃO

A contribuição do PEA no fortalecimento dos Direitos dos cidadãos

ATER em Feijão e Milho desenvolvida no Estado do Paraná. Germano do R. F. Kusdra Eng. Agrônomo Emater

Projeto AFAM Formação de Agentes Multiplicadores no Estado do Ceará

Transcrição:

PROJETO CAPACITAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL Antonio Cleide Gouveia, Comissão Pastoral da Terra CPT, José Dias Campos, Centro de Educação Popular e Formação Sindical CEPFS, José Camelo da Rocha, Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa AS-PTA, Maria da Glória Batista de Araújo, Programa de Aplicação de Tecnologia Apropriada às Comunidades PATAC. Cajazeiras/PB. cptsertao@uol.com.br RESUMO As características naturais do semi-árido não impedem a sobrevivência humana nessa região. A possibilidade de convivência com as secas é condicionada por fatores sociais e políticos, cuja importância é pelo menos igual, senão maior do que as condições climáticas. Diante disso, está claro o papel do Estado e da sociedade de forma geral propor e viabilizar políticas públicas que favoreçam o desenvolvimento sustentável do semi-árido e possibilitem a convivência com a famosa região das secas. Assim surgiu a Articulação do Semi-árido Paraibano (ASA-PB) para discutir essa situação tentar provocar uma mudança que, por sinal, vem sendo demonstrada há alguns anos. Inúmeras ações são desenvolvidas na perspectiva de uma melhoria na qualidade de vida, fruto de um processo participativo. Este texto apresenta algumas reflexões sobre uma ação da ASA-PB, o projeto capacitação para o desenvolvimento local.

Palavras-Chave: convivência com o semi-árido, gestão participativa, municípios referências.

INTRODUÇÃO Grande período de estiagem em toda a região semi-árida brasileira e enorme inabilidade das entidades governamentais de lidarem com essas questões e criarem políticas apropriadas à região: esse foi contexto que motivou, em 1993, a realização do I Encontro sobre o Semi-árido Paraibano, cuja conseqüência mais importante foi a criação da Articulação do Semi-Árido Paraibano (ASA-PB) Pessoas e Organizações Diversas Integradas para o Desenvolvimento na Paraíba. A Articulação é um fórum que agrega entidades sindicais e comunitárias, setores da igreja, universidades, órgãos governamentais e não-governamentais. Tem como objetivos construir uma proposta de desenvolvimento sustentável para a região e unir entidades cujos interesses se voltem a uma mesma temática, favorecer o intercâmbio de experiências bemsucedidas de convivência com o semi-árido, criar propostas que orientem as políticas públicas e estimular parcerias a partir do acúmulo/partilha de experiências e informações. Como estratégias gerais, a ASA-PB valoriza a vivência de cada entidade participante, promove debates e ações concretas, apóia mobilizações populares voltados a temas-chave para suas discussões, busca dar visibilidade a sua atuação, além de concentrar seus esforços em três temas Semente, Água e Políticas Públicas. Para facilitar as ações foram criadas comissões Água e Semente 1 nas quais a temática sobre Políticas Públicas é abordada. Pensar, discutir e elaborar uma proposta de política pública de Recursos Hídricos a partir de experiências de captação, armazenamento e gestão da água incentivando o desenvolvimento sustentável e o poder de mobilização da sociedade civil é a função da Comissão Água. Entre as ações desta Comissão onde estão inseridos debates em torno do abastecimento de água no Estado, Seminário sobre a Transposição do Rio São Francisco, Projeto de Capacitação para Construção de Cisternas, entre outras está o Projeto Capacitação para o Desenvolvimento 1 A Comissão Semente tem como objetivo construir uma proposta de políticas públicas para as sementes, tão importantes aos agricultores. Sua estratégia principal é a formação e fortalecimento de Bancos de Sementes Comunitários (BSC) que é um modelo de gestão coletiva do estoque de sementes necessário para o plantio. As famílias associam-se ao banco e têm direito a tomar emprestada uma certa quantidade de sementes, que são restituídas após a colheita em uma quantia superior, segundo valores definidos pelo conjunto de associados. O BSC permite, assim, aumentar o número de beneficiados ou formar estoques de reserva para enfrentar períodos de estiagem prolongada. Atualmente, a Articulação do Semi-Árido Paraibano acompanha 220 Bancos de Sementes Comunitários, em 55 municípios.

Local, realizado em diversos Estados do semi-árido brasileiro, mas sob a responsabilidade da Articulação do Semi-Árido Paraibano em dois deles: Paraíba e Rio Grande do Norte. UM PROJETO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL O Projeto Capacitação para o Desenvolvimento Local tinha como objetivo geral favorecer o desenvolvimento local a partir do manejo sustentável dos recursos hídricos, da produção de forragem para alimentação animal, da alfabetização de jovens adultos e da participação popular no processo orçamentário municipal envolvendo sociedade civil e entidades governamentais. O Projeto teve como área de abrangência o semi-árido brasileiro, fruto de um convênio 2 entre a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e o Centro de Estudos do Trabalhado e de Assessoria ao Trabalhador (CETRA). Na Paraíba, o CETRA celebrou um subconvênio com a Articulação do Semi-Árido Brasileiro na ordem de R$ 535.000,00 (quinhentos e trinta e cinco mil reais). O Projeto foi coordenado pela Assessoria e Serviços a Projetos de Agricultura Alternativa (AS-PTA), Centro de Educação de Popular e Formação Sindical (CEPFS) e o Programa de Tecnologia Apropriada às Comunidades (PATAC) e desenvolvido entre de fevereiro e dezembro de 2000, abrangendo 19 municípios da Paraíba 3 e 6 municípios do Rio Grande do Norte 4. PRINCÍPIOS E ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS O Projeto foi baseado em alguns princípios, tais como, a) imprimir um caráter de convivência com o semi-árido; b) buscar o fortalecimento da ASA-PB, a autonomia das organizações e o reforço de ações já estabelecidas pelas instituições da sociedade civil; c) estabelecer parcerias, alianças e uma gestão coletiva; c) aliar o trabalho de capacitação à gestão do desenvolvimento local, coordenando as ações e transformando-as em políticas públicas; d) promover a cidadania e inclusão social; e) formar multiplicadores; f) refletir permanentemente sobre as experiências práticas, educativas e políticas vivenciadas no Projeto; e g) dar um caráter 2 De valor aproximado a R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais). 3 Cacimba de Dentro, Cacimbas, Campina Grande, Esperança, Damião, Jericó, Lagoa Seca, Maturéia, Pedra Lavrada, Picuí, Pilões, Puxinanã, Remígio, Santana dos Garrotes, Solânea, Soledade, Teixeira, Santa Luzia e São Vicente do Seridó. 4 Apodi, Mossoró, Pedro Avelino, São João do Sabugi, São Miguel do Gostoso e Upanema.

permanente às ações, buscando novas e melhores opções de convivência com o semi-árido e desenvolvimento sustentável da região. Para ser desenvolvido o Projeto de Capacitação para o Desenvolvimento Local adotou algumas estratégias metodológicas. A primeira delas foi abordar de forma participativa o desenvolvimento local a partir da temática manejo sustentável dos recursos hídricos, visto que, dentre muitos problemas, destacou-se a escassez e má distribuição deste recurso natural, na região. Houve também a definição de quatro municípios-referência (Esperança, Solânea, Soledade e Teixeira), onde os trabalhos foram concentrados, com a finalidade de causar maior impacto e onde já existiam organizações locais com algumas experiências acumuladas. Nos demais municípios o trabalho se voltou para a formação e funcionamento das Comissões Municipais, bem como à realização dos cursos para Construção de Cisterna de Placas e Gerenciamento e Tratamento da Água. Para a gestão do Projeto foram construídos processos descentralizados de tomadas de decisão sendo criadas Comissões nos vários níveis: Estadual, Municipal e Comunitário, além de formada uma equipe de coordenadores municipais responsáveis pelo acompanhamento organizativo, supervisão pedagógica e monitoramento das ações. Além disso, compreendendo que o projeto se inseria num processo contínuo de formação das pessoas e organizações, foram utilizadas outras três estratégias visando à sustentabilidade a uma ação de desenvolvimento: estimular as pessoas capacitadas a divulgar os novos conhecimentos; favorecer o diálogo das organizações com o poder público municipal, visando ao acesso de recursos orçamentários para melhoria da qualidade de vida dos agricultores familiares nos municípios; e multiplicar o número de famílias beneficiadas através da implantação de fundo de crédito rotativo e comunitário entre elas 5. 5 Fundo Rotativo, simplesmente como é conhecido, é uma forma de gestão coletiva de recursos provenientes dos pagamentos dos empréstimos concedidos ao agricultor familiar ou grupo de agricultores e tem como objetivo principal ampliar o número de beneficiários na comunidade, município e/ou região. Existem várias modalidades de fundos rotativos que foram adaptadas pelas pessoas e organizações, como o Consórcio de Cisternas de Placas no qual forma-se um grupo de agricultores interessados na construção de cisternas para receber o financiamento das primeiras. Os consorciados definem a periodicidade e o valor de cada parcela em função da capacidade de pagamento das famílias. Com o dinheiro que retorna serão construídas mais cisternas, sorteadas para outros agricultores do grupo, até que todos tenham a sua. Com o pagamento da última parcela é construída uma cisterna para outro grupo e, assim, inicia-se um novo Fundo Rotativo.

RESULTADOS ALCANÇADOS Todos os cursos ou eventos desenvolvidos pelo Projeto Capacitação para o Desenvolvimento Local podem ser agrupados em quatro grandes temáticas: I Gestão participativa para o desenvolvimento local. Essa temática foi abordada durante toda a execução do projeto favorecendo a participação de pessoas e organizações nos seus vários níveis e diferentes momentos. Os principais eventos realizados foram: a) Cursos de gestão participativa em projetos comunitários; b) Curso de diagnóstico rápido e participativo em recursos hídricos; c) Oficinas de políticas públicas; e d) Curso sobre alfabetização de jovens e adultos. Para tanto, as estratégias metodológicas foram as seguintes: formação de educadores através da participação no gerenciamento estadual do projeto e reprodução desse exercício para cada município e comunidade envolvida; reflexão sistemática sobre a gestão do projeto, sobre metodologia da participação e questões administrativas; participação de duas pessoas de cada Comissão Municipal nos encontros de gestão; realização de diagnósticos rápidos participativos em recursos hídricos nos municípios-referência mobilizando pessoas-chave (agentes de saúde, líderes comunitários, etc); discussões sobre origem dos recursos, formação da receita pública, leis orçamentárias e participação popular; análise da peça orçamentária dos municípios fazendo leitura do comportamento da receita e despesa, detectando prioridades para definição de propostas em recursos hídricos; participação dos alfabetizadores e coordenadores de alfabetização nos eventos do projeto no intuito de identificar conteúdos temáticos para os cursos de alfabetização; e um processo de aprendizagem partindo da reflexão contínua da realidade. Os principais resultados alcançados foram: discussão, avaliação, ajuste e encaminhamentos para execução do projeto nos encontros de gestão; vivência de processo educativo de gestão de recursos financeiros; formação de cerca de 20 Comissões Municipais; obtenção de um panorama geral do projeto por município; elaboração de três planos de ação comunitários, na área de manejo dos recursos hídricos a partir da realização de três diagnósticos; apresentação de propostas ao Orçamento Municipal pelas organizações e pessoas envolvidas com o projeto, nos municípios- referência; formação de 16 educadores e implantação do mesmo

número de salas de aula; alfabetização de 480 pessoas, entre homens e mulheres, jovens e adultos em Esperança, Picuí, Solânea e Soledade. II Captação, armazenamento, manejo e tratamento de água. Esta temática, englobando eventos como capacitação de agricultores para construção de cisterna de placas; curso sobre barragem subterrânea; curso sobre construção de poço amazonas; curso sobre construção de tanque de pedra; e curso de gerenciamento e tratamento da água, teve como enfoque o manejo sustentável dos recursos hídricos. Os objetivos eram de aumentar a capacidade dos agricultores em armazenar água para consumo humano, doméstico e animal, bem como para realizar seu tratamento, e ainda, favorecer a utilização da água para o plantio. As principais estratégias metodológicas foram as seguintes: utilização de material didático e audiovisual nas orientações teóricas de cada curso; prática demonstrativa do processo tecnológico resultando na construção de uma infra-estrutura para captação e armazenamento de água; prática de estimulação dedutiva para o manejo adequado dos recursos hídricos; capacitação de cinco a dez pessoas no período de seis dias, ao fim do qual, uma cisterna de placas estava construída; rodízio, entre as comunidades, das fôrmas, equipamentos e ferramentas necessários à confecção das cisternas, poços e barragens subterrâneas; capacitação dos agentes comunitários de saúde como multiplicadores dos cursos de gestão e tratamento de Água; capacitação de 10 a 15 pessoas por dia no curso de gerenciamento e tratamento de água. Dentre os resultados alcançados, destacamos: 1.920 pessoas habilitadas para ser pedreiros ou auxiliares de pedreiros na construção de cisterna de placas; 591 famílias passaram a ser autosuficientes em água potável, aumentando a sua capacidade de armazenamento em 9.456.000 litros com a construção de cisternas de placas; sensibilização para o uso adequado e tratamento sanitário da água de beber; reforço e valorização do trabalho de agentes comunitários de saúde articulado a uma ação de desenvolvimento; 45 agentes de saúde reciclados sobre gerenciamento e tratamento de água; melhoria da saúde das famílias devido à diminuição na incidência de doenças contraídas pelo consumo de água contaminada; mais de 70 instrutores em construção de cisternas de placas aprimorados técnico-pedagogicamente; aumento da capacidade de armazenamento de água para uso doméstico e animal através da construção de 08 poços amazonas, 08 barragens subterrâneas e 04 tanques de pedra.

III Produção de forragem. O evento realizado nessa temática foi o curso sobre cultivo de palma consorciada, tendo as seguintes estratégias metodológicas: a) Intercâmbio de experiências; b) Discussão e definição coletiva de vários consórcios possíveis; c) Reflexão sobre a importância da palma forrageira nas estratégias gerais de alimentação do rebanho no semi-árido; d) Cultivo de 2,5 hectares de palma pelo instrutor e seus alunos; e e) Capacitação de grupos com dez participantes durante o período de quatro dias. Como resultados, foram alcançados a implantação, pelas pessoas capacitadas, de 10 hectares de campos de produção de forragens para alimentação dos rebanhos; a organização de fundos rotativos de forragens. IV Monitoramento, divulgação e perspectivas. Em relação ao monitoramento havia um quadro com alguns indicadores e fichas de monitoramento para cada curso, especificamente, em cada município. O preenchimento foi feito antes e depois de cada evento. Em relação à divulgação do projeto, buscou-se registrar e sistematizar continuamente as informações sobre o projeto; divulgar permanentemente as ações do projeto para as pessoas e organizações envolvidas e para um público mais amplo, tendo abrangência comunitária, municipal, micro-regional e estadual; utilizar os espaços de divulgação próprios das organizações ou da ASA-PB; e utilizar os veículos de comunicação de massa. Os resultados alcançados foram: elaboração e distribuição de relatórios mensais e relatório final; produção de painéis e boletins com fotos e informações; produção de apostila e álbum seriado sobre gestão de recursos hídricos; produção de uma revista; na imprensa escrita, Boletim Informativo Semi-Árido Paraibano, matérias publicadas no Jornal da Paraíba (Campina Grande) intitulada Projeto incentiva o homem à convivência com o semi-árido, e no Jornal O Oestano (Apodi/ RN) intitulada Projeto constrói cisternas de placas no município ; na imprensa falada, entrevistas nas rádios em Campina Grande e Bananeiras; realização de 25 encontros municipais de encerramento do projeto; realização de um encontro estadual de divulgação do projeto. CONCLUSÃO: RESULTADOS EDUCATIVOS E POLÍTICOS Existem pontos em comum a todos os municípios, que abrangem desde a metodologia de alguns cursos até mudanças comportamentais. São eles: sensibilidade dos gestores do projeto

para realizar as metas de acordo com a realidade local; aulas práticas; exposição de vídeos e leitura coletiva de cartilhas; treinandos participando de todas as etapas dos cursos; pessoas aprofundando e adquirindo novos conhecimentos; mutirões de solidariedade; aumento da autoestima e mais poder de decisão; grupos mais fortes, confiantes e com iniciativas; gerenciamento dos recursos pela comunidade; comissões municipais buscando soluções para os problemas; credibilidade no trabalho aumentando a participação e cooperação; monitoramento do aprendizado, reciclagem dos instrutores; intercâmbio de experiências; aumento da auto-estima dos educandos e instrutores; fortalecimento dos laços de companheirismo; descoberta de novos parceiros e aliados; surgimento de novas lideranças que passaram a se envolver com as instituições locais de base e de assessorias; diminuição da incidência de doenças transmitidas pelo consumo de água contaminada. Além disso, o projeto capacitação para o desenvolvimento local aproveitou as experiências existentes e avançou na consolidação dessas experiências. O rico processo vivenciado pelas organizações e pessoas envolvidas trouxe novas lições que devem ser consideradas como uma referência por qualquer política pública de convivência com o semiárido. Para as famílias beneficiadas, o projeto foi um divisor de águas na triste história do semiárido e pode ser colocado entre um antes e depois, na vida de dezenas de comunidades em 25 municípios da Paraíba e Rio Grande do Norte. Entre março a novembro de 2000, através de recursos governamentais e não governamentais, foi possível construir de mais de 600 cisternas de placas, acrescentando aproximadamente 10.000.000 de litros de água própria para o consumo humano. Também aumentou a quantidade dos reservatórios para água de consumo animal e uso doméstico. Enfim, cada ação provocou sua reação, percebidas em dois sentidos. Por um lado, em relação aos resultados quantitativos, afinal, as metas foram, no mínimo, atingidas, quando não superadas. E, por outro, em relação ao aprendizado de cada um, não só no que se refere aos cursos, mas à capacidade de negociação, de luta, de poder e união. Muitas comunidades do semiárido, com a realização deste projeto, mudou sua cara. A seca, a falta d água e suas agruras agora mostram-se menos cruéis, menos vulneráveis, em função do que se construiu, não só de tecnologia, mas principalmente de auto-estima da população.