Maria Dionísia do Amaral Dias

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Transcrição:

Maria Dionísia do Amaral Dias

OBJETIVO Compreender as relações entre condições de vida e de trabalho e o surgimento, a frequência ou a gravidade dos transtornos mentais.

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GRUPO I TRABALHO É CAUSA NECESSÁRIA Doenças profissionais stricto sensu e intoxicações agudas exposição a substâncias tóxicas metais pesados: mercúrio, chumbo, manganês pode comprometer funções cognitivas ou levar ao quadro de transtorno orgânico de personalidade exposição a um evento ou situação estressante de natureza excepcionalmente ameaçadora (vítimas de assaltos, p.ex.) pode desencadear o quadro de estresse pós-traumático. Abrange os diagnósticos de demência, delírio não sobreposto a demência, transtorno cognitivo leve, transtorno orgânico de personalidade, transtorno mental orgânico, episódios depressivos, síndrome de fadiga e transtorno do ciclo vigília-sono.

GRUPO II TRABALHO COMO FATOR DE RISCO, CONTRIBUTIVO, MAS NÃO NECESSÁRIO Doenças comuns, mas frequentes ou mais precoces em determinados grupos ocupacionais e para as quais o nexo causal é de natureza eminentemente epidemiológica. vivência de esgotamento profissional em um contexto de estresse laboral prolongado, com ritmo de trabalho penoso e ambientes que passam por transformações organizacionais pode levar à exaustão emocional e desencadear a Síndrome de esgotamento profissional ou a neurose profissional, nas quais o trabalho pode ser considerado fator de risco no conjunto de fatores de risco associados à etiologia da doença.

GRUPO III TRABALHO É PROVOCADOR DE UM DISTÚRBIO LATENTE, OU AGRAVADOR DE DOENÇA JÁ ESTABELECIDA OU PREEXISTENTE - CONCAUSA Condições degradantes, atividades que coloquem a vida do trabalhador em risco, jornadas extensas e/ou em turnos alternados ou noturnos, dentre outros pode se tornar importante fator psicossocial que leva ao desencadeamento de distúrbios psíquicos latentes ou ao agravamento de doenças já existentes, tais como a síndrome de dependência do álcool.

INVESTIGAR O trabalho: os relacionamentos (incluindo os externos ao trabalho), o conhecimento e o controle que o trabalhador dispõe sobre o processo de trabalho, a natureza e o conteúdo das tarefas, o reconhecimento social que o trabalho lhe concede e a descrição detalhada das atividades realizadas. As condições de trabalho: temperatura, vibração, umidade, exposição a substâncias químicas e biológicas, ruído, ventilação, equipamentos, etc. (investigação de importância para detectar possíveis exposições a agentes tóxicos).

A organização do trabalho: horário, turno, escalas, pausas, horas-extras, ritmo, políticas de pessoal, tipo de vínculo, intensidade e quantidade de trabalho (a organização de trabalho é responsável principalmente pelas repercussões na saúde psíquica dos trabalhadores). Identificar as exigências físicas (esforços, movimentos repetitivos, postura), mentais (atenção, memória, quantidade de informações a processar) e psicoafetivas (relacionamentos, vínculos, dedicação ao trabalho, sentido do trabalho).

Levantar as percepções dos trabalhadores sobre os riscos. Localizar os momentos em que o trabalhador começa a perceber as mudanças e os problemas associados a essas mudanças. Informar-se sobre condições de vida (família, moradia), uso de drogas, doenças pré-existentes. Considerar a história clínica e a história do trabalho em relação à história de vida.

Levantar a avaliação do trabalhador sobre sua trajetória profissional e as repercussões sobre a sua saúde. Evidências epidemiológicas incidência de certos quadros atingindo grupos de trabalhadores específicos. Ex: transtornos de humor em bancário, comerciário em comércio varejista, trabalhador da segurança pública etc. Complementar todas essas informações com exames médicos e psicológicos necessários.

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA Pode ser empregada, também, com o objetivo de identificar alterações intelectuais, sensoriais, de memória e aprendizagem, espaciais e de personalidade (alterações de comportamento e de humor) decorrentes da exposição a agentes tóxicos.

REFERÊNCIAS Glina et al, 2001 Lima, 2003 Jacques, 2007