CONSULTORIA ESCOLAR: UMA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO



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Transcrição:

CONSULTORIA ESCOLAR: UMA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO Resumo ANGST, Rosana PUCPR roangst@gmail.com SILVA, Mariita Bertassoni da PUCPR mariitabertassoni@hotmail.com Área Temática: Práticas e Estágios nas Licenciaturas Agência Financiadora: Não contou com financiamento A consultoria escolar surge como uma resposta às críticas da utilização do modelo clínico na escola, no qual eram realizados atendimentos individualizados e centrados na queixa trazida pelos agentes educativos. A consultoria no contexto educacional caracteriza-se como um processo colaborativo entre profissionais, professores, diretor e alunos, que visa reunir métodos para identificar dilemas e selecionar estratégias que auxiliem na resolução de problemas de forma coletiva. O trabalho ocorre entre um profissional que oferece ajuda, e outro que pede ajuda para o bem-estar de uma terceira pessoa sobre a qual possui responsabilidades. As mudanças não são focadas em apenas uma parcela da escola, e sim no ambiente escolar como um todo. O objetivo do presente trabalho é abordar os principais conceitos relacionados à consultoria escolar e exemplificá-los com a experiência da primeira autora como estagiária de 5º ano em consultoria escolar/educacional de uma universidade particular de Curitiba e da segunda autora como supervisora do estágio. Mostrou-se de grande importância levar em consideração que cada escola apresenta suas peculiaridades, e torna-se possível entender as formas de funcionamento da mesma e propor soluções viáveis e que possibilitem a mudança quando há um conhecimento sobre a instituição. A experiência de estágio nesta modalidade de atuação do psicólogo trouxe um crescimento para a estagiária como futura profissional e a visão do todo necessária para o melhor entendimento de qualquer contexto na qual estiver inserida. Mostra-se necessária a maior divulgação e conhecimento da prática da consultoria escolar/educacional para que instituições educativas possam beneficiarse do serviço, e posteriormente ao trabalho, estejam instrumentalizadas para resolver problemas e dilemas futuros. Palavras-chave: Consultoria Escolar/Educacional. Estágio. Psicologia Escolar/Educacional. Introdução O psicólogo é o profissional capacitado para lidar com conflitos, independente do local no qual atua. Um dos locais que encontramos este profissional é a escola, e até os dias

1551 atuais há uma certa confusão sobre qual é o seu papel e quais são as suas atribuições e limitações em sua atuação nesse contexto. Para Martins (2003, p. 40), o psicólogo escolar é visto como o profissional responsável pelo trabalho de ajustamento de alunos considerados problema e adaptação dos mesmos. Esta forma de atuação baseia-se em atendimentos individuais, considerando o aluno como culpado do conflito existente. O mesmo autor cita Andaló (1984), que sugere uma nova forma de se trabalhar no contexto escolar. Ele coloca o psicólogo como um agente de mudanças, que ao invés de abordar os problemas escolares enfatizando o aluno, ele atuaria sobre as relações que se estabelecem, considerando o meio social no qual a situação ocorre, abarcando a instituição como um todo. Essa possibilidade de trabalho permite uma reflexão sobre os objetivos da escola, seus procedimentos, métodos de avaliação e práticas realizadas. Diante desta nova forma de trabalho do psicólogo escolar é possível compreender o trabalho de consultoria escolar. A consultoria escolar surge como uma resposta às críticas da utilização do modelo clínico na escola. O modelo clínico, baseado na psicanálise, interpretava qualquer comportamento anormal ou inapropriado como sintoma de uma causa inconsciente. Em conseqüência dessa forma de atendimento, priorizava-se o atendimento ao aluno, deixando de analisar o contexto escolar, e com isso era possível atender apenas um aluno de cada vez, havendo listas de espera, pois não haviam profissionais qualificados para o atendimento de todos que o necessitavam. Em meados de 1948, em Israel, Caplan foi solicitado a dar supervisão a um Centro de Saúde Mental, que atendia uma população em torno de 16 mil filhos de imigrantes. Inicialmente, o trabalho era feito baseando-se no trabalho clínico e individual. Porém, a equipe de Caplan começou a observar que certas instituições indicavam pessoas para tratamento com queixas semelhantes. Esta observação levou a equipe a experimentar técnicas de prevenção, no estilo de consultorias. Assim, reduziu-se o tempo com atendimentos individuais e foi possível conversar com os responsáveis das instituições e compreender o contexto no qual estavam inseridos. Posteriormente, Caplan publicou trabalhos sobre psiquiatria comunitária, demonstrando que o aspecto central da consultoria é o relacionamento cooperativo e não hierárquico (WECHSLER, 1989, p. 1). Dessa forma, de acordo com Polonia e Wechsler (1995, p. 44), a consultoria caracteriza-se como um processo

1552 colaborativo entre profissionais, professores, diretor e alunos, que visa reunir métodos para identificar dilemas e selecionar estratégias que auxiliem na resolução de problemas de forma coletiva. Ocorre entre um profissional que oferece ajuda, e outro que pede ajuda para o bemestar de uma terceira pessoa sobre a qual possui responsabilidades. Assim, as mudanças não são focadas em apenas uma parcela da escola, e sim no ambiente escolar como um todo. A consultoria é uma proposta, com caráter preventivo, que para atingir uma maior população escolar e suas reais necessidades, realiza atividades de forma ampliada. O objetivo deste tipo de serviço é que ocorram mudanças estruturais no ambiente como um todo, e não apenas no indivíduo. O objetivo do presente trabalho é abordar os principais conceitos relacionados à consultoria em psicologia escolar/educacional e exemplificá-los com a experiência da primeira autora como estagiária de 5º ano (último) em estágio profissionalizante, na área de consultoria em psicologia escolar/educacional de uma universidade particular de Curitiba, e da segunda autora como supervisora do mesmo estágio. Desenvolvimento Procedimentos realizados no serviço de consultoria escolar/educacional O serviço de consultoria em psicologia escolar/educacional da referida universidade é oferecido às escolas desde 1995. Silva, Galafassi, Guerra e Wolf (2000, p. 1) relatam a experiência da consultoria em Psicologia Educacional, sendo seu objetivo oferecer auxílio a instituições de ensino no diagnóstico de suas dificuldades, e implementação de propostas que facilitem a relação ensino-aprendizagem. A prestação de serviços elaborada pela ASSED (Assessoria em Psicologia Educacional) visa ajudar o cliente a resolver os problemas da organização e fornecer autonomia para lidar com situações que podem ocorrer futuramente. O atendimento às instituições é prestado pelos estagiários do último ano de graduação, os quais são supervisionados semanalmente por um profissional da área capacitado para tal. Andrada (2005, p. 197) afirma que o paradigma da prática do psicólogo está mudando. Anteriormente, o psicólogo escolar focava-se no aluno-problema e na queixa da escola.

1553 Assim, o Psicólogo Educacional que se baseia no novo paradigma já não pode mais eleger um único modelo de explicação para as dificuldades de aprendizagem como, por exemplo, o modelo organicista, pois precisa considerar múltiplas versões de um mesmo fenômeno (...) e trabalha na interdisciplinaridade (ANDRADA, 2005, p. 198). Dessa forma, o atendimento em consultoria escolar/educacional visa trabalhar a instituição como um todo, e não apenas uma parcela desta. Ao efetuar atendimentos de consultoria na ASSED, alguns passos são obedecidos, e serão descritos a seguir. Em primeiro lugar, é importante ressaltar que uma das funções dos estagiários da consultoria é fazer a divulgação dos serviços prestados pela ASSED. É elaborada uma lista das escolas que solicitam o serviço, as quais são atendidas conforme a ordem cronológica das inscrições e o calendário acadêmico dos estagiários. Quando há a disponibilidade de atendimento a uma escola, esta é contatada para averiguar se ainda há interesse pelo serviço. Caso haja, é marcado o primeiro encontro na instituição para esclarecimentos sobre a forma de atuação da consultoria. Quem solicita o serviço é denominado de consultado. Durante a primeira visita à instituição, o estagiário escuta a queixa do consultado, quais são as suas percepções sobre esta, e o que já foi feito para a resolução do problema. Posteriormente, é explicado como funciona o serviço da ASSED: inicialmente é elaborado um levantamento de necessidades, onde há a análise de documentos, realização de entrevistas com professores, alunos, funcionários e demais agentes educativos e observações participantes. Esse procedimento é realizado, pois a percepção do consultado pode estar relacionada a um aspecto do problema, que pode ser melhor compreendido após o levantamento de dados, e pela possibilidade de realizar um trabalho personalizado para cada instituição. Nesse momento, é importante frisar ao consultado que é de grande importância que todos da instituição conheçam o motivo da presença do consultor na instituição, e que a colaboração de todos é essencial para a realização de um trabalho com sucesso. A consultoria escolar deve priorizar o estabelecimento de vínculo profissional-ético entre os profissionais atuantes no contexto, como direção, coordenação pedagógica, trabalhadores de serviço de apoio, professores e alunos. É necessário que professores, psicólogos e outros profissionais escolares firmem parcerias colaborativas, de modo que consigam trabalhar para o bem-estar de todos os alunos

1554 inseridos no ambiente escolar. Assim sendo, trabalhar sob o ponto de vista sistêmico é necessário. (SANTOS, FADEL E WECHSLER, 2009, p. 49) Os primeiros contatos com a instituição já são importantes para a elaboração do diagnóstico, sendo necessário conhecer a história da mesma e seus delineamentos. Os dados coletados geram a caracterização da instituição, na qual há a compilação de tudo o que foi levantado durante a fase de diagnóstico. Posteriormente é elaborado o levantamento de necessidades, no qual o consultor/estagiário analisa os dados levantados e elabora o plano de ação, que são atividades propostas para que haja uma reflexão e mudança da estrutura atual da instituição, visando a resolução do problema. Este plano é apresentado e discutido com o consultado para sua aprovação, sendo que posteriormente à aprovação é firmado o contrato entre as partes. A partir do estabelecimento do contrato se inicia a prestação de serviços após o pagamento da primeira parcela do valor estabelecido. As atividades são previamente agendadas de acordo com a disponibilidade do estagiário e da instituição, e podem envolver tanto os alunos, professores, pais, corpo diretivo e/ou funcionários. Ao final das atividades, é realizada uma devolutiva com o consultado para que se discutam os resultados obtidos durante a implementação do plano de ação e como a instituição pode ela mesma resolver conflitos futuros. Se mostrar-se necessário, são feitos acompanhamentos periódicos das ações propostas até o desligamento final. (SILVA, 2009, p. 39) Aspectos do trabalho de consultoria Ao iniciar o trabalho de consultoria, pede-se para que o consultado informe todos da instituição sobre a presença do consultor e qual é a sua função. Na prática, nem sempre há essa comunicação, sendo necessário que o consultor explique quantas vezes achar necessário que o seu trabalho envolve toda a instituição, e que ele não está em busca de culpados por determinada situação. Por esse motivo, mostra-se de grande importância que o sigilo seja mantido sobre quem é entrevistado, quem respondeu determinado questionário, para que seja possível a colaboração de todos.

1555 Valore (2003, p. 3) enfatiza que ao se fazer uma leitura institucional, deve-se analisar os diferentes autores institucionais, o seu fazer, e as relações estabelecidas entre eles. A intervenção institucional sustenta-se numa aposta tanto nossa como, e principalmente, da instituição no desejo de mudança, na possibilidade de escolher e de implicação pessoal nessa escolha. (VALORE, 2003, p. 5) Dessa forma, para que um trabalho englobe a todos da escola, deve ser feito grupalmente e não focalizando apenas no problema. É possível observar que há professores e alunos que se recusam a responder questionários pelo medo de serem identificados e serem delatados para a diretoria. Por isso, enfatiza-se que os dados obtidos serão de uso exclusivo da consultoria. Bleger (1984, p. 39) afirma que quando psicólogos são contratados para a resolução de um problema em uma instituição, o profissional psicólogo deve ser um assessor, e não fazendo parte da hierarquia desta. Por não fazer parte da hierarquia e não ter um vínculo empregatício com a instituição, o consultor consegue observar aspectos diferenciados dos sujeitos que estão envolvidos no contexto escolar. O trabalho mostra-se mais eficaz quando há uma relação de confiança entre o consultor e o consultado para que possam ser esclarecidas dúvidas e falar sobre aspectos da escola. De acordo com Wechsler (1989, p. 3) o consultor necessita apresentar dois tipos de poder: o poder de perito e o poder de referência. O poder de perito ocorre quando o consultado atribui ao consultor os conhecimentos e habilidades para que os objetivos de sua contratação sejam atingidos. Já o poder de referência caracteriza-se pelo relacionamento e sentimento de pertencer a um grupo que o consultado sente em relação ao consultor. A melhor estratégia para que este poder se desenvolva é pela facilitação da identificação entre o consultor e consultado. Durante a experiência da estagiária, houve dois momentos no qual foi possível analisar a ausência e a presença do poder de perito e de referência. Em uma primeira escola, em uma das atividades a ser realizada com os professores e ajudantes, houve apenas a presença de uma ajudante. Pode-se concluir naquele contexto que os professores não se sentiram à vontade para participar da atividade, pois acharam que a estagiária não seria capaz de ajudá-los a resolver o problema que estes enfrentavam, e nem a viam como uma pessoa na

1556 qual confiavam para falar sobre suas dificuldades. Já em uma segunda escola, outro tipo de trabalho foi realizado com os professores, e mesmo que não houvesse a presença de todos que foram solicitados a comparecer, os que estavam presentes discutiram sobre a questão proposta demonstrando confiança no trabalho realizado pela consultoria. Diante do pedido do consultado para que seja realizado um trabalho de consultoria, há a percepção de que algo deve ser mudado, mesmo que não se saiba ao certo o quê. Para que uma instituição solicite e aceite o assessoramento de um psicólogo enquanto psicólogo institucional, a instituição tem que haver chegado a um certo grau de maturidade ou insight de seus problemas ou de sua situação conflituosa, mas a função do psicólogo conduz também a que se tome maior consciência de sua necessidade (BLEGER, 1984, p. 42). Muitas vezes, por nem todos os envolvidos na instituição terem o insight de que algo deve ser feito, o consultor depara-se com a não colaboração de determinados agentes educacionais. Essa atitude pode atrapalhar ou impedir que determinadas atividades possam ser realizadas, e os objetivos estabelecidos pelo consultor não conseguirão ser atingidos. A estagiária vivenciou uma situação na qual o consultado agendou um horário de realização de atividades, e ao chegar para realizar a atividade, foi comunicada de que não havia sido feita a divulgação da mesma, e que, portanto, a mesma não poderia ser realizada. Esta situação ilustra uma forma de resistência a mudanças, na qual se sabe que há algum problema na instituição, mas não se deseja mudar e proporcionar soluções alternativas. Porém, é possível encontrar no mesmo ambiente agentes educativos que desejam que a mudança ocorra e realizava esforços para que as atividades propostas fossem realizadas. Durante a fase de aplicação de questionários em alunos, uma professora pediu à estagiária se ela gostaria de acompanhá-la durante as suas aulas do dia, assistisse uma parte da aula e aplicasse ao final desta os questionários. Essa situação mostrou que há agentes educativos que se comprometem com a proposta e mostram-se dispostos a colaborar e mudar a situação existente. Ao final do processo, Espera-se também que o consultado adquira repertório de conhecimentos e habilidades e que os componentes da díade transfiram sua efetividade para eventos futuros (POLONIA e WECHSLER, 1995, p. 44). Por meio das atividades propostas objetiva-se mudar a forma de pensar e agir da instituição como um todo, para que novas

1557 formas de atuar sejam viáveis, e quando alguma situação similar ocorrer, eles estejam instrumentalizados a resolvê-la. Desenvolvendo o trabalho de consultoria, o estagiário começa a construir sua identidade profissional tanto como psicólogo, quanto como consultor. Ao iniciar os atendimentos em consultoria, a estagiária apresentou sentimentos de insegurança por não saber como lidar com determinadas situações ocorridas. A supervisora então auxiliava e instrumentalizava a estagiária para que esta encontrasse por ela mesma as respostas de seus questionamentos. Posteriormente, foi possível compreender que situações de dúvidas existirão, e que há diferentes formas de lidar com elas, e que estas podem ajudar no estabelecimento do diagnóstico e intervenção institucional. Ao final do ano de estágio, a estagiária observou um crescimento pessoal e profissional, que irá acompanhá-la não apenas na prática escolar, e sim na formação como profissional psicólogo. Considerações Finais O presente trabalho visou abordar a consultoria escolar como uma forma de atuação em psicologia que é pouco explorada e mostra-se eficaz para a resolução de problemas. Mostra-se necessário um maior conhecimento sobre esse tipo de consultoria para que se possibilite o aumento da realização de trabalhos no ambiente escolar. A experiência de estágio nesta modalidade de atuação do psicólogo trouxe um crescimento para a estagiária como futura profissional e a visão do todo necessária para o melhor entendimento de qualquer contexto na qual estiver inserida. A supervisão semanal guiou a estagiária a realizar ações que viabilizassem o trabalho de consultoria independente do ambiente no qual se encontrava. É de grande importância levar em consideração que cada escola apresenta suas peculiaridades, e ao se elaborar o levantamento de necessidades torna-se possível entender as formas de funcionamento da mesma e propor soluções viáveis de serem realizadas e que possibilitem a mudança. É dever do consultor observar estas peculiaridades e intervir baseado nestas.

1558 Em psicologia institucional, interessa-nos a instituição como totalidade, podemos nos ocupar de uma parte dela, mas sempre em função da totalidade. Para isto, o psicólogo deduz sua tarefa de seu próprio estudo diagnóstico (...) (BLEGER, 1984, p.39). O objetivo principal do trabalho de consultoria escolar é instrumentalizar os agentes educativos a serem capazes de resolver problemas futuros por eles mesmos. Como afirma Silva (2009, p. 7), o trabalho do psicólogo baseia-se na arte de se tornar desnecessário. REFERÊNCIAS ANDRADA, Edla Grisard Caldeira de. Novos paradigmas na prática do psicólogo escolar. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 18, n. 2, pp. 196-199, 2005. BLEGER, José. Psico-higiene e psicologia institucional. Trad. de Emilia de Oliveira Diehl. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984. MARINHO-ARAÚJO, C. M.; ALMEIDA, S. F. C. Psicologia escolar: construção e consolidação da identidade profissional. Campinas SP: Alínea, 2005. MARTINS, João Batista. A atuação do psicólogo escolar: multirreferencialidade, implicação e escuta clínica. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 8, n. 2, p. 39-45, 2003. POLONIA, Ana da Costa ; WECHSLER, Solange Muglia. Consultoria: uma forma de ação preventiva na escola. Estudos de Psicologia, v. 12, n. 1, p. 43-56, 1995. SANTOS, Eliana; FADEL, Susana de Jesus e WECHSLER, Solange Muglia. Consultoria escolar: um encontro entre psicologia escolar e educação. In: SILVA, Mariita Bertassoni da. (Org). Consultoria em Psicologia Escolar/Educacional: princípios teóricos e técnicos e contribuições de práticas sistematizadas. Curitiba: Juruá, 2009. SILVA, Mariita Bertassoni da ; GALAFASSI, Maria Fernanda ; GUERRA, Isabel S. ; WOLF, Mariane P. Consultoria em psicologia educacional: a experiência da ASSED PUCPR. I Encontro Sul-Americano de Psicologia. Curitiba. Anais do I Encontro Sul- Brasileiro de Psicologia, 2000. SILVA, Mariita Bertassoni da. Consultoria em psicologia escolar/educacional: reflexões sobre a teoria, a prática profissional e o estágio supervisitonado. In: SILVA, Mariita Bertassoni da. (Org). Consultoria em Psicologia Escolar/Educacional: princípios teóricos e técnicos e contribuições de práticas sistematizadas. Curitiba: Juruá, 2009.

1559 SILVA, Mariita Bertassoni da. (Org). Consultoria em Psicologia Escolar/Educacional: princípios teóricos e técnicos e contribuições de práticas sistematizadas. Curitiba: Juruá, 2009. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA-UnB. Instituto de Psicologia. WECHSLER, Solange Muglia. Consultoria escolar: características básicas. Apostila não publicada, 1989. VALORE, Luciana Albanese. O psicólogo e a escola: algumas contribuições à luz da psicologia institucional. Psico UTPonline, n. 2, p. 1-5, 2003.