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Transcrição:

Curso de Direito Civil Contratos 3ª Série UNIARA. Períodos Diurno e Noturno: Prof. Marco Aurélio Bortolin Aulas 17 e 18 - Ementa: Extinção dos contratos (1ª parte). Análise do tema em razão de suas possíveis causas determinantes. Causas decorrentes de desdobramentos previsivelmente normais. Outras causas anteriores e posteriores à celebração do contrato. I. Extinção dos Contratos. 1. Enfoque inicial. Basicamente, estudamos em Direito Civil o negócio jurídico e sua invalidade, para, em seguida, estudarmos a obrigação. Com esse cabedal de conhecimentos, nossos estudos se desenvolvem com os contratos, pois o contrato talvez represente o melhor exemplo de negócio jurídico criador de direitos através do vínculo obrigacional que une pessoas em torno de um ajustamento lícito de vontades. Consequentemente, a extinção do negócio jurídico contratual assume especial relevância, pois ao contrário do que se poderia apressadamente supor, não sempre os celebrantes conseguem o cumprimento cabal das cargas obrigacionais assumidas, e isso se dá por um campo variado de hipóteses, com desdobramentos importantes no estudo futuro dos contratos em espécie. A Doutrina não é absolutamente uniforme em relação ao detalhamento do tema, embora não encontremos profundas divisões dogmáticas, nos parecendo mais que existam nuances no campo da sistematização das causas. De qualquer forma, parece haver certo consenso no tocante a uma divisão essencial de causas, derivada tal divisão do que possam projetar os contratantes como causas previsivelmente normais para aquele contrato que estão a celebrar, de outras causas (anteriores ou posteriores à celebração), que não se apresentem previsivelmente normais, embora sempre possíveis. Há, ainda, a se extrair da Doutrina uma ou outra variação conceitual, que procuraremos aqui detalhar. 2. Causas extintivas que decorrem de uma previsibilidade normal para os contratantes. Como desejamos deixar assentado, o que nos interessa aqui é destacar causas que os celebrantes conhecem, almejando-a sempre até, ou aceitando-as desde a formação do contrato como fatores ou causas de supressão da eficácia do contrato, gerando em ambos os casos, sua extinção pré-concebida. São assim consideradas as causas seguintes: A) Cumprimento voluntário e integral da obrigação contratualmente assumida pelos celebrantes do contrato. A forma exemplarmente natural de extinção do vínculo contratual se extrai do cumprimento integral da obrigação por cada contratante. Como o contrato cria um 1

vínculo jurídico entre as partes deve seu objeto obrigacional ser cumprido pelo contratante prestador nos limites do contrato, e se assim for observado, o objeto se exaure e o contrato se extingue naturalmente, como, por exemplo, na compra e venda de um bem móvel, em que o comprador efetua o pagamento do preço ajustado na forma, no tempo e no lugar contratualmente estabelecido, e o vendedor entrega a coisa e recebe o preço na forma, no tempo e no lugar ajustados em contrato. Para os contratos de prestação continuada, o adimplemento não gera extinção do contrato, mas sim, somente ao final da obrigação sucessivamente cumprida, e em contrapartida, mesmo no silêncio do contrato, se a natureza da obrigação indicar que o objeto foi exaurido pela prestação, extingue-se naturalmente o contrato. B) Incidência concreta de alguns elementos acidentais previstos voluntariamente pelos celebrantes no negócio jurídico contratual geradores de extinção normal de eficácia. Bem, aqui devemos ser mais cautelosos no esforço de sistematização, pois não são todos os elementos de eficácia que nos permitem considerar a ocorrência de uma causa normal e previsível de extinção do contrato. Seguramente, a exceção se amolda ao descumprimento do encargo, que é uma espécie de mora, e que não pode ser classificada como causa normal de extinção. Ao contrário, o melhor exemplo de causa normalmente previsível é o termo final para contratos de duração (ou trato sucessivo), e, por óbvio, com o vencimento desse termo, automaticamente cessarão os efeitos do contrato, extinguindo-se o mesmo normalmente. Outra possibilidade de cessação dos efeitos e consequente extinção natural do contrato (de forma antecipada ao seu adimplemento) se dá pela verificação do fator futuro e incerto atrelado a uma condição resolutiva prevista no contrato. De forma mais remota, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (Novo Curso de Direito Civil V 4, T. I, 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006), também consideram que o advento inesperado de impossibilidade total do fator antes previsto como elemento possível da condição suspensiva possa gerar a extinção natural do contrato, sob pena de manter o contratante eternamente atado a um vínculo que jamais gerará efeitos. De fato, o surgimento de impossibilidade de ocorrência de evento futuro e incerto atrelado a uma condição suspensiva nos parece tornar impossível o seu objeto, gerando a invalidade do negócio. 3. Causas extintivas que não decorrem de uma previsibilidade normal para os contratantes. Nessa seara, encontramos de forma bastante arraigada na Doutrina a indicação de um marco temporal que é a própria celebração do contrato, pois comumente são localizadas causas não posteriores ao momento da celebração, de outras causas de surgimento claramente posterior ao momento da formação do contrato. Para melhor organização, seguiremos aqui a mesma e já tradicional divisão. 2

3.1. Causas anteriores ou simultâneas à formação do contrato. Não podemos perder de vista que nosso foco está, nesse momento, em abordar e identificar causas extintivas que não decorrem de uma previsibilidade normal e habitual, almejada (como o adimplemento) ou aceitas (como o termo final ou a condição resolutiva). Em esforço de sistematização, enfatizamos nesse tópico as causas costumeiramente apontadas e que se permitem reconhecer no momento da celebração. São elas: A) Fatores legais de invalidade jurídica. A primeira causa é a nulidade absoluta ou a nulidade relativa (anulabilidade) do contrato, mas em ambas, teremos uma invalidação da norma pela inobservância de um fator essencial do negócio jurídico (nulidade absoluta) ou exigido para segurança jurídica (nulidade relativa ou anulabilidade) com a supressão dos efeitos do contrato e seu consequente desfazimento por sentença de rescisão do contrato. Sua previsão está materializada nos artigos 166, 167 e 171, todos do Código Civil. A rescisão tem sentidos variados para o Direito do Trabalho e para o Direito Civil. Naquele, funciona como resilição ou resolução, e neste, como extinção em decorrência de nulidade absoluta ou relativa, mas também é utilizada por boa parte da Doutrina como forma de extinção decorrente de vícios de vontade e ausência de elementos essenciais do negócio jurídico. Há, ainda, reconhecimento de parte da melhor Doutrina de que a rescisão é gênero no Código Civil, do qual se identificam espécies, como a resilição ou a resolução, e esse último conceito passa a ser admitido aqui. B) Vícios redibitórios e evicção parcial significativa. Conforme já estudado, os contratos onerosos translatícios de propriedade de bens móveis ou imóveis recebem proteções tradicionais da norma civil, porque tais contratos encerram desvantagens patrimoniais certas aos contratantes nos dois polos da contratação que envolva a transferência de um determinado bem, e por esse motivo a deterioração da coisa ou a diminuição de seu valor por vícios desconhecidos estaria fora da perspectiva de lucro aceitável ao alienante da coisa, gerando evidente desequilíbrio contratual e insegurança jurídica por desfavorecer acentuadamente o contratante alienatário, no caso, o adquirente dessa coisa, porque esse já sofreu a desvantagem patrimonial normal do contrato oneroso pagando o justo preço, não podendo ainda sofrer o acréscimo de desvantagem inesperada com a diminuição do preço do bem ou inutilidade ao fim a que se destina por vícios redibitórios ou evicção parcial. Diante de um vício redibitório perfeitamente caracterizado ou evicção parcial, o contratante lesado poderá rejeitar o bem OU buscar o abatimento proporcional para o preço pago (artigo 442, Código Civil). Caso o contratante atingido não queira mais manter a contratação, poderá rejeitar a coisa, e por consequência, desfazer o contrato, através de ação edilícia redibitória, na qual esse contratante alienatário deverá demonstrar a existência do vício redibitório ou de evicção parcial significativa com pedido 3

de desfazimento do contrato; se o alienante desconhecia a existência do defeito, ou seja, se o defeito era oculto também para o alienante, sua responsabilidade contratual estará limitada a suportar o desfazimento do contrato, a receber de volta o bem, a restituir o valor pago (e corrigido monetariamente) pelo outro contratante (alienatário) e despesas de contratação (artigo 443, segunda parte, Código Civil). No entanto, se o contratante (alienante) sabia da existência do defeito até a data da tradição, agiu desprovido de boa-fé contratual, e nesse caso sofrerá um plus da norma em torno de sua responsabilidade contratual, e além de suportar o suportar o desfazimento do contrato, a receber de volta o bem, a restituir o valor pago (e corrigido monetariamente) pelo outro contratante (alienatário) e despesas de contratação, também terá que suportar eventual indenização por perdas e danos (artigo 443, primeira parte, Código Civil), hipótese em que a sentença judicial decretará a extinção por redibição do contrato. C) Exercício concreto de cláusula de arrependimento ou de cláusula resolutiva expressa porventura previstas no contrato. Tratam-se de causas contemporâneas ao ato de celebração do contrato e somente podem decorrer de expressa previsão contratual que, no primeiro caso, outorgue aos celebrantes o direito de desistir do contrato após sua celebração por um determinado período, com ou sem a garantia de arras 1, e no segundo caso, cláusula que irá antecipadamente prever a extinção automática do contrato por mora ou inadimplemento do celebrante, tal como prevê o artigo 474, do Código Civil 2. No caso da cláusula resolutiva expressa, a resolução se opera de pleno direito, não exigindo prévia interpelação do inadimplente, cabendo ao lesado aforar diretamente ação judicial, que, se acolhida, gerará efeitos ex tunc. Ressalvam-se, contudo, certas espécies de contratos que não a admitem, tal como o compromisso de compra e venda de bem imóvel e o arrendamento mercantil ou leasing. De qualquer forma, no geral, tais cláusulas são circunstâncias contratuais previstas pelos celebrantes, mas ambas frustram o desenvolvimento normal do contrato e a finalidade desejada que determinou aos celebrantes a celebração do contrato. Igualmente, tais fatores não alteravam a eficácia desde o início, mas sim, reservavam, no caso do arrependimento, um prazo de carência para a estabilização do contrato, e no segundo, a antecipação da extinção em caso de mora ou inadimplemento, e, certamente, nenhuma delas era imaginada como certa, concreta de se verificar, quando da celebração. 1 Art. 420, Código Civil. Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das partes, as arras ou sinal terão função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as recebeu devolvê-lasá, mais o equivalente. Em ambos os casos não haverá direito a indenização suplementar. 2 Art. 474, Código Civil. A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial. 4

3.2 Causas posteriores à formação do contrato. Ao contrário das causas anteriores ou simultâneas à celebração, que tornam o contrato pronto já com os fatores determinantes de sua futura extinção, há causas que não estão presentes no momento da celebração, e que, portanto, não contaminam o contrato desde a sua formação, podendo se afirmar que tais causas surgem incidentalmente ao longo do desenvolvimento do contrato, por vezes, até, surpreendendo as partes e assim podem ser destacadas: A) Desfazimento sem causa contratual e decorrente da vontade do(s) contratante(s). Afora os casos de extinção decorrentes de causas normalmente esperadas ou admitidas pelos contratantes, e causas não normalmente esperadas ou admitidas, e em ambas as hipóteses, desde a celebração do contrato, passaremos a analisar também as hipóteses de extinção do contrato por causas não normalmente esperadas ou admitidas e supervenientes ao momento da contratação. A primeira causa superveniente a ser estudada é a extinção motivada pela vontade dos contratantes ou de único contratante, e que não está fundada em descumprimento contratual de nenhuma das partes, mas sim, na vontade livre e admitida de rompimento imotivado do vínculo contratual, com a seguinte divisão: a.1) bilateralmente: a hipótese de desfazimento por vontade conjunta dos contratantes é sempre possível viável, pois se há vontade criadora do vínculo contratual, essa mesma vontade pode, através de novo negócio jurídico, determinar o desfazimento antecipado do contrato, ou seja, antes do adimplemento ou do inadimplemento das cargas obrigacionais ajustadas, e tal se dá através do conhecido distrato, que é um novo negócio jurídico celebrado pelos contratantes com o objetivo de desfazer o contrato inicial, sendo que os contratantes, no distrato, deverão observar a mesma forma empregada ou legalmente exigida para a celebração do contrato, inclusive, se o contrato for solene o distrato também o será, conforme estabelece o Art. 472, do Código Civil 3, e que importa na extinção do vínculo contratual através de resilição bilateral. a.2) unilateralmente: o desfazimento motivado por simples vontade, sem uma causa contratual que caracteriza mora ou inadimplemento do outro contratante é mais complexa e restrita na lei civil, pois importa no desfazimento em decorrência da vontade exclusiva de uma das partes e excepciona a força vinculante da contratação. Por essa razão tal extinção é excepcional, somente admitida em determinadas situações legais em que resta reconhecida essa necessidade peculiar do negócio jurídico por força da manutenção da confiança entre as partes ou necessidades do meio social, e em qualquer dessas 3 Art. 472, Código Civil. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato. 5

duas hipóteses, se previamente comunicada a outra parte contratante por notificação expressa, conforme estabelece o artigo 473, do Código Civil 4. Contudo, a resilição unilateral não é ilimitada. Mesmo nos contratos em que surge legalmente admitida, a resilição unilateral somente operará efeitos depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto se a outra parte promoveu investimentos econômicos em decorrência do contrato e na expectativa de cumprimento normal do contrato (artigo 473, único, Código Civil). Exemplos conhecidos de resilição unilateral admitidas expressamente pela legislação são os encontrados na locação imobiliária, no mandato e ainda, na doação onerosa. Respectivamente, na locação, a resilição é denominada denúncia; no mandato, qualquer das partes pode romper unilateralmente o contrato, de um lado, pelo instituidor do mandato, através da figura da revogação, e de outro lado, pelo instituído no mandato, através da figura da renúncia. O contrato de doação também admite revogação. Outra forma especial de resilição unilateral é o resgate, categoricamente admitida através da retrovenda de bem imóvel (artigos 505 e 506, Código Civil). B) Desfazimento com causa contratual e decorrente da mora ou do inadimplemento da carga obrigacional assumida. Ao contrário da resilição, que é contratualmente imotivada, nos contratos bilaterais há sempre o reconhecimento da possibilidade de extinção do vínculo em razão do inadimplemento contratual voluntário ou involuntário do contratante obrigado pela prestação, e é informada ainda por fatores importantes que ainda estudaremos, tais como a teoria da imprevisão e a exceção do contrato não cumprido. De qualquer forma, em geral, nos contratos bilaterais, a proteção ao contratante lesado pelo descumprimento contratual do outro é legalmente garantida e isso porque nos contratos bilaterais as obrigações dos contratantes são reflexas e não há sentido na manutenção do vínculo e da obrigação a um contratante adimplente frente ao inadimplemento do outro, facultando-se ao contratante lesado ou executar o contrato para cumprimento forçado das obrigações não personalíssimas, ou, então, pleitear judicialmente o desfazimento do contrato mais perdas e danos. Em contrapartida, no caso da cláusula resolutiva tácita, a resolução do contrato depende de prévia interpelação judicial, e em ambos os casos, o contratante lesado, repita-se, terá direito de pleitear cumulativamente indenização por perdas e danos se optar pela extinção motivada do 4 Art. 473, Código Civil. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte. Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos. 6

vínculo contratual, conforme estabelecem os Arts. 474 e 475, do Código Civil 5. C) Morte do contratante em contratos personalíssimos. Para os contratos personalíssimos, a morte do contratante é um acidente anômalo ao idealmente imaginado pelos contratantes ao tempo da celebração, porque interrompe e fulmina a própria validade do contrato por impossibilidade do objeto com efeitos ex nunc. Nos demais casos de contratos não personalíssimos, a obrigação se transmite aos herdeiros até os limites ou força da herança. II. Dispositivos do Código Civil referidos nesta aula (fonte: www.planalto.gov.br). Art. 166, Código Civil. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; IV - não revestir a forma prescrita em lei; V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. Art. 167, Código Civil. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. 1 o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados. 2 o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. Art. 168, Código Civil. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir. Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes. Art. 169, Código Civil. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo. Art. 170, Código Civil. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade. Art. 171, Código Civil. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. 5 Art. 474, Código Civil. A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial. Art. 475, Código Civil. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos. 7

Art. 472, Código Civil. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato. Art. 473, Código Civil. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte. Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos. Art. 474, Código Civil. A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial. Art. 475, Código Civil. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigirlhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos. III. Julgados relacionados aos temas da aula (Fonte:www.tjsp.jus.br). Ementa: RESCISÃO DE CONTRATO DE CONSÓRCIO DE BEM IMÓVEL SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA APELAÇÃO DA RÉ. Consorciada que alega ter firmado contrato de compra e venda de bem imóvel e não contrato de consórcio Erro na contratação - Contrato declarado nulo, de ofício Possibilidade - Ré que não possui autorização pelo Banco Central - Necessária restituição dos valores pagos Sentença mantida. Recurso não provido. (TJSP - Apelação Cível n. 1018101-54.2015.8.26.0451 - Rel. Des. Marino Neto - 11ª Câmara de Direito Privado Comarca: Piracicaba J. 10/04/2018). Ementa: RESCISÃO CONTRATUAL Prestação de serviço Contrato de subempreitada Prestação parcial Produção antecipada de prova Sem execução completa dos serviços Serviços indicados como adicionais, em verdade, abrangidos pelo contrato - Inadimplemento culposo comprovado Rescisão autorizada pela prescrição do artigo 475 do Código Civil Repetição do valor pago cuja contraprestação não fora realizada Cabimento, sob pena de enriquecimento sem causa Multa Natureza compensatória, prefixação de perdas e danos Aplicação do princípio da razoabilidade Redução da multa Inteligência dos artigos 412 e 413 do Código Civil Percentual em correspondência com a parte inadimplida Sentença mantida. Apelação não provida. (TJSP - Apelação Cível n. 0007338-04.2012.8.26.0358 - Rel. Des. Sá Moreira de Oliveira - 33ª Câmara de Direito Privado Comarca: Mirassol J. 09/04/2018). Ementa: Compromisso de compra e venda. Imóvel. Pedido de rescisão, com condenação da ré ao pagamento de multa estipulada em cláusula penal. Cabimento. Inadimplemento bem caracterizado. Suposta celebração de distrato, anteriormente ao ajuizamento da ação, que não restou devidamente demonstrada. Instrumento de distrato coligido aps autos que não se encontra devidamente firmado por todas as partes distratantes. Simples minuta de instrumento, que jamais de aperfeiçoou. Procedência do pedido, neste ponto. Condenação da requerida, por outro lado, ao pagamento de alugueres, condomínio, IPTU, água e gás. Descabimento, nestes autos. Autores que expressamente declinaram que a cobrança de tais despesas vinha sendo efetuada em outros autos, porque relativas a contrato de locação, do mesmo imóvel, celebrado 'a letere' com a ré. Sentença que decidiu, quanto ao tema, de maneira 'extra petita'. Nulidade da decisão decretada, quanto ao ponto. Ação parcialmente procedente. Recurso parcialmente provido. (TJSP - Apelação Cível n. 1010356-88.2015.8.26.0009 - Rel. Des. Vito Guglielmi - 6ª Câmara de Direito Privado Comarca: São Paulo J. 04/04/2018). 8