AVALIAÇÃO DO IMPACTO DE UM PROJETO DE EXTENSÃO EM SAÚDE E EDUCAÇÃO



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Transcrição:

AVALIAÇÃO DO IMPACTO DE UM PROJETO DE EXTENSÃO EM SAÚDE E EDUCAÇÃO 1 - INTRODUÇÃO Aline Gomes Martins (UFSJ) - lininhagm@yahoo.com.br Walter Melo (Orientador/ UFSJ /DPSIC/LAPIP) wmelojr@gmail.com Tacyana Auxiliadora Pereira (UFSJ) - tacy_psic@yahoo.com.br Joely Andrade (UFSJ) - joelyandrade@yahoo.com.br O traballho em questão trata-se de uma pesquisa financiada pelo CNPq, desenvolvida pelo Laboratório de Pesquisa e Intervenção Psicossocial da Universidade Federal de São João Del Rei(UFSJ). Possui como objetivo, avaliar o Impacto de um projetode extensão desenvolvido pelo mesmo laboratório. O projeto de extensão avaliado apresenta como pressupostos a implantação de oficinas artíticas no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de São João Del Rei e a realização de seminários em Saúde e Educação na UFSJ. Trata-se de uma ação que busca promover a reinserção social dos usuários do CAPS Del Rei através de atividades artísticas, modificando a concepção estritamente medicamentosa do tratamento psiquiátrico. Partindo do pressuposto que o fazer científico deve ser realizado e problematizado de forma crítica e que o papel da ciência é fundamental na construção social, torna-se essencial que o conhecimento produzido esteja em consonância com suas implicações dentro das instituições envolvidas nesse processo. A universidade, responsável por essa produção, é também um dos alicerces do desenvolvimento de sistemas públicos que orientam os serviços essenciais atuantes na melhoria das condições de vida da população. Sua atuação social, baseada em seu tripé estrutural ensino, pesquisa e extensão, possui diversos níveis de ação na sociedade. Assim, da mesma forma que a extensão universitária pode ser considerada como a principal via de aplicação do conhecimento universitário na comunidade, deve-se entender a pesquisa como forma de embasamento para essas mesmas aplicações, bem como o ensino sendo uma face dessa articulação. A partir desse ponto de vista, torna-se vital a realização de uma crítica científica que sustente a própria ação universitária. A iniciativa do projeto de pesquisa, de avaliar o impacto de um projeto de extensão, é decorrente da preocupação em verificar se os objetivos e práticas do mesmo são eficazes e produzem resultados efetivos. O impacto da ação do projeto de extensão foi avaliado nos seguintes grupos: usuários, familiares e funcionários do CAPS Del Rei, além dos alunos e professores do Campus Dom Bosco da UFSJ, compreendendo a amplitude das ações desenvolvidas, sejam elas favoráveis ou desfavoráveis para essas populações. 2 REVISÃO DE LITERATURA A loucura, como todos os elementos constituídos e constituintes da rede social, é significada de maneira dialética, de acordo com o contexto sócio-histórico e concomitante às práticas e necessidades sociais. Ao longo da história da loucura, as ideologias e necessidades de cada época produziram formas de organização social, que resultaram na marginalização e exclusão do sujeito da desrazão. Assim, o problema social, configurado pelo fenômeno da loucura, foi apartado da sociedade para ser resolvido entre os muros dos manicômios, através

de regras e mecanismos de defesa contra o louco e a favor da suposta ordem e desenvolvimento social (FOUCAULT, 1987). Foucault (1987) em História da Loucura na Idade Clássica apresenta as condições de surgimento do louco como doente mental, deixando claro que o conceito de loucura é algo construído histórica e culturalmente, a depender do contexto social em que se está inserido. O que hoje denominamos de crise psicótica já foi entendido como sinônimo de bruxaria, forma de purificação, revolta social, manifestação de sabedoria e, por fim, como doença. As formas de abordar a doença mental também se modificaram ao longo da história, a depender de como a mesma era vista. As abordagens variaram desde fogueira, confinamento, tratamento moral, eletrochoque, contensão física e/ou medicamentosa (cf. FERIGATO, CAMPOS e BALLARIN, 2007). Com o nascimento do modo de produção capitalista, trazido pela era industrial, ocorreram várias transformações sociais que demarcaram as primeiras fases do processo de criação da doença mental. Nesse contexto, o mercado de trabalho possibilitou a diferenciação do louco de outros sujeitos marginalizados, através de processos de inclusão-exclusão na ordem produtiva da sociedade. Dessa forma, os asilos que, inicialmente eram ocupados por outros segmentos sociais discriminados, passam a ser locais de isolamento apenas do louco. São muitos os autores que se propuseram a estudar a loucura, sendo divergentes as visões que apresentam. Os autores da Psiquiatria Clássica movimento que teve início no século XVIII e que propagava a visão de louco como aquele desprovido de razão lançam um olhar mais biologicista sobre a loucura, classificando-a como doença e sugerindo uma forma de tratamento baseada no estilo hospitalocêntrico. Tinham como objetivo a exclusão do doente mental do seio da sociedade. O tratamento deveria ser feito no isolamento, era conferido ao doente mental o mesmo destino que se atribuía aos leprosos e demais marginalizados da sociedade. Com o movimento da Antipsiquiatria que propõe a desconstrução literal do modelo hegemônico pregado pela psiquiatria clássica a representação social de loucura tende a mudar. O doente mental passa a ser visto como um sujeito que fala e produz, através dos sintomas, diversos questionamentos. Dá-se voz ao doente. Ele não é mais percebido como um alienado da realidade, um desprovido de razão, como defende a psiquiatria clássica, mas como sujeito de sua história. De acordo com essa nova representação social de loucura, baseada na Antipsiquiatria emerge o movimento da Reforma Psiquiátrica. Franco Basaglia na direção do Hospital Provincial Psiquiátrico de Gorizia inicia um movimento de transformação. Basaglia defendia a idéia de que a prática psiquiátrica produz um saber sobre o doente mental, impondo-lhe uma série de conseqüências que não são decorrentes do seu estado de doente mental. O tratamento do modo como vinha sendo feito na psiquiatria clássica, através da internação, contenção medicamentosa e física, produzia um duplo da doença. O aspecto em que se encontrava o doente mental passou a ser visto como produto da sociedade que o rejeita e da psiquiatria que o gere (cf. AMARANTE, 1996). Para Basaglia a psiquiatria exerce a função de dominação sobre o sujeito e, portanto, deveria ser ela questionada e não o sujeito. A partir dessa visão surge a nova psiquiatria que visa à modernização do saber psiquiátrico e se fundamenta na abordagem psicoterapêutica e nas relações sociais (cf. AMARANTE, 1996). No Brasil, no final da década de 1970, surge o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), influenciado pelas idéias da Reforma Italiana, que passou a protagonizar as iniciativas reformistas na psiquiatria nacional. Em decorrência do movimento da reforma psiquiátrica, foi aprovada em 2001 a chamada Lei Paulo Delgado (nº 10.216), que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtorno mentais e redireciona o modelo assistencial em Saúde Mental. A lei diz que a internação ocorrerá apenas quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes, sendo que o

tratamento visará à reinserção do paciente ao seu meio (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Como se pode notar, a lei expõe as idéias do movimento da Antipsiquiatria, que defende a desinstitucionalização. Esta apresenta a modificação das experiências da loucura e do sofrimento humano. O movimento de reforma psiquiátrica difunde na sociedade uma nova representação social do doente mental. Diferente daquela construída ao longo da história. Objetiva mostrar para a sociedade que o louco é um sujeito construído socialmente, resultado da exclusão da mesma e ainda visa divulgar novas formas de tratamento, divergentes do tratamento clássico, baseado na internação e medicamento. O doente mental é ouvido e passa a ser tratado através de medidas psicossociais. A doença é deixada em segundo plano e o sujeito é tratado, com o intuito de reabilitá-lo e reinseri-lo na sociedade. Considerando que a formação dos indivíduos, dos laços sociais entre eles e suas relações com a sociedade está estritamente ligada à organização social nas quais estas se apresentam, pode-se afirmar que a figura do louco é construída a partir do etiquetamento de seus atos, relegados à exclusão por sua periculosidade, inutilidade e ameaça de perturbação da expansão e risco para o bem-estar do corpo social (Foucault, 1987). Nessa relação de poder e de expressão da vontade de excluir, os asilamentos podem ser considerados como o berço do processo gradual de desintegração e despersonalização do sujeito. Mediante a necessidade de novos modelos de tratamento que visem a reinserção do doente mental na sociedade, aliados à luta contra os estigmas da doença mental, surgem novos dispositivos, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Hospitais-Dia, Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS), dentre outros centros que objetivam o tratamento aliado ao convívio social. A portaria que regulamenta os CAPS prega a necessidade e existência de um tratamento ampliado composto por médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e oficineiros. Estes últimos têm como objetivo, juntamente com toda a equipe que compõe o CAPS, promover, através da arte, a reinserção e reabilitação social do sujeito. Partindo de uma visão ampla e integrada da realidade social, a prática proposta pelo Plano Nacional de Extensão (2001), visa um processo transformador, emancipatório e democrático, sem perder de vista sua responsabilidade enquanto instrumentalizadora do processo dialético teoria/prática. Segundo Souza (2005) trata-se de uma prática acadêmica de caráter inter, multi e transdiciplinar com dimensões dialética e pedagógica, na qual universitários e membros da sociedade aprendam e ensinam. Dessa forma, com a prática da extensão universitária, o estreitamento dos laços entre os Sistemas de Saúde e de Educação pode favorecer a ampliação e a reestruturação dos novos serviços no campo da Saúde Mental. Isso se dá na medida em que se busca um trabalho interdisciplinar, formando profissionais mais reflexivos, críticos e solidários para as questões da diversidade. A implementação de ações conjuntas entre os dois sistemas é de fundamental importância para o aprimoramento das práticas e saberes na área da saúde e, principalmente, para pensar os usuários dos serviços de saúde mental como únicos e não compartimentalizados, que possuem famílias, interesses e direitos, transformando o imaginário social em relação à loucura. Além de implementar ações de transformações ideológicas e sociais, a universidade, como lugar de produção de conhecimento e de saúde, tem importante papel de analisador das ações desenvolvidas, no sentido de compreender o que foi ou está sendo realizado, a qualidade e o alcance dessas ações como forma de levantar conhecimentos para a continuidade dos trabalhos implementados. Em decorrência das novas formas de tratamento defendidas pela reforma psiquiátrica e devido a escassez de oficinas no CAPS da cidade de São João Del Rei, alunos do curso de psicologia tiveram a iniciativa de instituir oficinas no CAPS da cidade. Esta iniciativa é fruto

de um programa de extensão vinculado ao Laboratório de Psicologia e Intenverção Psicossocial do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São João Del Rei. Desde 2007 as oficinas funcionam no CAPS da cidade. No momento são oferecidas oficinas de teatro, artes plásticas e música. Elas são ministradas por alunos do curso de psicologia sob a supervisão de um Professor Doutor em Psicologia Social. O programa de extensão possui como objetivo, além da reinserção social gerada pelas oficinas, promover questionamentos referentes ao campo da saúde mental e incitar os funcionários do sistema de saúde mental da cidade a perceberem a importância de um tratamento ampliado, que ofereça a oportunidade de o sujeito se expressar e se colocar como agente de sua história. Tal objetivo está sendo cumprido através das oficinas, Seminários e debates em Saúde Mental desenvolvidos pelo programa de extensão. O programa estabelece, ainda, parceria com o Conselho Municipal de Saúde da cidade com o intuito de fazer contato com o processo deliberativo e de controle social que pode ser exercido pela população sobre as questões que envolvem a saúde em São João Del Rei. Para averiguar o impacto das oficinas e seminários, implementados pelo programa de extensão foi formulado o projeto de pesquisa intitulado Saúde e Educação: estreitamento dos laços e ações conjuntas. 2.1 - Avaliação de Impacto A partir das discussões e reflexões advindas do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras realizadas em 2001, elaborou-se um documento que incentiva o processo avaliativo de diversas ações no campo da extensão universitária. Com o nome Avaliação Nacional da Extensão Universitária, este documento ressalta que: (...) é de fundamental importância a avaliação da sociedade sobre o papel da universidade, bem como a análise dos impactos da ação extensionista na transformação da própria universidade, que pode ser percebido pelo estabelecimento de novas linhas de pesquisa, criação de estágios e novos cursos (2001, p.24). A partir da proposta da Avaliação Nacional de Extensão, o processo de avaliação deve investigar se a prática caminha articulada com o ensino e a pesquisa e, principalmente, se articula as relações entre a comunidade acadêmica e a sociedade na perspectiva de transformação social. É importante salientar o conceito de impacto utilizado na pesquisa. Impacto foi definido com base em um artigo de autoria de Amanda Faria Arruda Campêlo, Mestre em Administração e Bacharel em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco. Ela define impacto baseada nas idéias de Roche (2002). De acordo com Roche apud Câmpelo (2006), impacto consiste na relação de resultados alcançados e efeitos produzidos com a mudança na vida das pessoas. É avaliado ao se analisar até onde os resultados de uma intervenção conduziram a mudanças, seja na vida daqueles que se pretendia beneficiar, seja na vida de outros que não estavam envolvidos no programa. O processo de avaliação de impacto abre a possibilidade de participação das pessoas na construção de uma ação condizente com seus interesses, necessidades e história de vida. Oferece espaços para as suas percepções, discussões e críticas sobre o que lhe é oferecido a partir de seu contexto social. Como já enfatizado pela Avaliação Nacional de Extensão Universitária, a análise do impacto das ações extensionistas torna-se importante para a compreensão da proporcionalidade da ação implementada e as falhas ocorridas, possibilitando uma reestruturação interior do projeto e da própria universidade. 3 METODOLOGIA

A pesquisa em questão teve início com o levantamento bibliográfico de materiais referentes à saúde mental que poderiam servir como base teórica para a realização da mesma. Em seguida foi formulado um roteiro de entrevista para ser aplicado nos usuários do CAPS Del Rei. O roteiro é composto por oito questões que, além de averiguar o impacto causado pelas oficinas e seminários em saúde mental, verifica aspectos que envolvem o nível de informação dos usuários a respeito do tratamento e atividades oferecidas pelo CAPS, a importância das oficinas para o tratamento dos pacientes, bem como o envolvimento dos mesmos para com a problemática da saúde mental. Para a validação do roteiro, o mesmo foi submetido à avaliação de professores da área de psicologia social, envolvidos com questões da saúde. Após a análise desses roteiros foram realizadas entrevistas semi-estruturadas e abertas com trinta usuários do CAPS da cidade. Após serem efetuadas as entrevistas, estas foram submetidas à análise de conteúdo e organizadas em categorias a posteriori. É importante salientar que todos os entrevistados consentiram as entrevistas. Foi assinado um termo de consentimento permitindo a efetuação da entrevista e a divulgação dos resultados. 4 RESULTADOS 4.1 CAPS Del Rei Em relação ao conhecimento dos participantes sobre o projeto desenvolvido, observou-se que a maioria relatou já ter assistido e/ou participado das oficinas oferecidas, com exceção dos familiares. Estes, apesar de saberem da existência das oficinas, em sua maioria nunca assistiram ou participaram devido à falta de tempo, dificuldade de acesso ao CAPS pela distância e horários de funcionamento das oficinas. Após a análise da opinião dos participantes sobre o projeto, 28% das respostas dos funcionários remeteram a uma Qualificação Positiva do Projeto, 24% a uma contribuição para a melhoria dos serviços prestados pelo CAPS, isto é, oferecendo atividades e ajudando o serviço a diminuir a falta de recursos humanos. Outras categorias foram: Ajuda os pacientes (16%); Oferece uma Ocupação (16%) e Ajuda na Reinserção Social dos pacientes (16%). Portanto, para os funcionários, o projeto de extensão abre possibilidades para os pacientes se sentirem mais úteis e não ficarem ociosos, além de favorecer o contato social e não se sentirem sozinhos. Nossa só veio a aumentar e a melhorar o serviço. (...) nossa ajudou demais a ocupar o tempo dos pacientes e eles até clinicamente melhoraram muito...(enfermeira) Durante as entrevistas, ficou evidente que a ociosidade, neste contexto, é um problema real enfrentado tanto pela família como pelo próprio usuário. Para as famílias, a realização de atividades apresenta-se como uma possibilidade de solução para o problema do seu parente, o qual se ocupa realizando atividades diversificadas. As categorias apresentadas em relação as opiniões sobre o projeto foram: Qualificação Positiva do Projeto (42,85%); Oferece uma Ocupação (28,57%); Ajuda o CAPS (14,28%) e Contribui para o tratamento dos pacientes (14,28). Os familiares que já assistiram ou participaram, enfatizaram que oficinas de teatro e cerâmica, por exemplo, ajudam no desenvolvimento da mente e distração dos usuários. No que diz respeito aos usuários, 73,52% de suas respostas qualificam o projeto como bom e que gostam muito de participar, 8,88% dizem sobre a capacidade e eficiência dos oficineiros. Além dessas, 5,88% ressaltaram o desenvolvimento de algumas habilidades, 5,88% que oferece uma distração e 5,88% que favorece a socialização. Era bom, a gente distraía, a hora passava rapidinho, a gente passava a conhecer melhor os colegas lá, a gente comé que fala, interagia com eles.

De acordo com os funcionários, as oficinas têm um papel fundamental no tratamento do usuário, pois, além do caráter de reinserção social, favorecem o cuidado, facilitando o controle sobre o paciente em relação aos medicamentos e, conseqüentemente, evitando as crises. Nesse mesmo sentido, as atividades contribuem para motivar o paciente a ir para o CAPS para tomar os medicamentos, além de possibilitar a expressão dos seus sentimentos e melhorar a auto-estima. Participar das oficinas é importante para os usuários, pois os deixa mais ativos, desenvolve a memória, o raciocínio e possibilita que eles aprendam com outras pessoas. Também oferece a oportunidade de distrair, divertir, diminuir os medicamentos e, mais que isso, aprender coisas novas e até descobrir dons. A importância? Ah! pro meu cerebo é uma coisa muito boa, porque eu tenho que fazer pra mostrar, os paciente todos nem somente eu, aliás eles todos, pra mostrar pra essas pessoas do portão pra fora que a gente né louco não, não somos normal até mais normal de que eles. Ao perguntar aos familiares se houve mudanças no seu parente depois que começou a participar das oficinas, 57,14% das respostas mostraram que sim, 28,57% que não e outras 14,28% que não sabe se houve mudanças. Os familiares que apresentaram respostas positivas afirmaram que foram identificadas mudanças significativas na qualidade de vida dos usuários participantes, como aumento de concentração, participação no meio social, melhora na maneira de conversar e tratar as pessoas. O que, na visão dos familiares, facilita e ajuda no próprio convívio familiar. No começo ela não ia não e depois começou a ir. Até tem apresentado uma certa melhora até. Antigamente quando eu fazia alguma reunião em casa de amigos ela corria pro quarto e agora ela fica na cozinha, faço na garagem e ela fica da cozinha olhando, quer dizer ela já começou a participar também. Tá tendo efeito positivo. Dos usuários entrevistados, 83,33% de suas respostas afirmaram perceber mudanças depois que passaram a fazer as oficinas. Dentre essas mudanças, 55,88% das respostas referese à categoria Pacientes se sentem melhor, na qual inclui estarem mais tranqüilos, calmos, alegres, melhorou a depressão. Alguns relataram diminuir o choro e esquecer da doença. As outras foram Aumentou a sociabilidade (41,17%) e Passou a gostar do CAPS (2,94%). Para a maioria dos funcionários, os benefícios e as mudanças acarretadas pelo projeto foram bastante significativas. Nesse sentido, as principais categorias organizadas foram: Os pacientes se sentem mais valorizados (64,70%); Os pacientes estão mais sociáveis (29,41%) e Os pacientes gostam mais do CAPS (5,88%). Segundo os funcionários, os pacientes estão mais abertos, acessíveis e foi ampliado o contato deles com as pessoas. Vale ressaltar que as mudanças não ocorreram apenas para os usuários, pois o desenvolvimento do projeto de extensão acarretou, também, mudanças no funcionamento da instituição e, principalmente, na rotina de trabalho dos funcionários. Em relação ao conhecimento dos participantes sobre o Seminário de Saúde e Educação ocorrido na universidade anualmente, percebeu-se que a maioria dos funcionários teve conhecimento e alguns até participaram, com exceção dos usuários e, mais uma vez, dos familiares que, em sua maioria, não teve conhecimento, ressaltando a falta de comunicação e trocas de informações entre o CAPS, a família e o Programa de Extensão. (...) eu tenho uma crítica bastante...forte em relação a falta de comunicação... esse projeto tá falho nesse sentido... eu acho que deveriam pegar os endereços dos pacientes e passar essas informações diretamente, o que está acontecendo, esse seminário, porque de repente eu posso ter um

tempo disponível e ir participar e me ajudar muito. Então a sugestão que eu tenho é essa... primeiro a comunicação e mais atividades relativas à saúde... ensinar higiene, essas coisas(...) Para os 60% dos funcionários que participaram do Seminário realizado pelo projeto, o evento representa um espaço importante para adquirir informações e esclarecimentos sobre a Saúde Mental, além de favorecer a reinserção social dos pacientes. Dos usuários que participaram, todos relataram terem gostado e que foi um momento excelente e produtivo. Portanto, a realização desses eventos na área de Saúde Mental dentro da Universidade oferece às populações do CAPS a oportunidade de refletir suas práticas e trabalhar, através dos contatos com os alunos, a ressocialização dos usuários e a quebra de seus preconceitos. 4.2 Campus Dom Bosco Após a análise dos dados coletados, tanto os alunos quantos os professores relataram a oferta de oficinas ligadas à arte e ministradas pelos estudantes da universidade como atividades oferecidas no CAPS. A partir disso foi investigado qual seria, então, a importância do desenvolvimento dessas atividades no tratamento e na reinserção dos pacientes. Das respostas dadas pelos professores, 25% delas remeteram a Possibilidade de expressão, ou seja, que a realização das oficinas ajuda os pacientes a entenderem seus sentimentos, conviverem com suas dificuldades e se expressarem. Outra categoria apresentada nesse momento, foi a de que as oficinas Contribuem para a recuperação dos pacientes (20%), exercendo função terapêutica. A Possibilidade de reabilitação (15%) apareceu ressaltando a importância na inclusão e na retirada da visão patologizante dos portadores de sofrimento mental. Eu acho que qualquer tentativa de se trabalhar tirando essa visão patologizante né, ajudando as pessoas a se encontrarem, a conviver com as dificuldades das diversas etapas da vida que elas tem né. Eu acho que são atividades que ajudam, e até ajuda a pessoa ta se colocando mais, entendendo seus sentimentos... Ao investigar sobre o conhecimento dos alunos e professores sobre o Projeto de Extensão desenvolvido pela universidade em parceria com o CAPS da cidade, 70% das respostas dos professores e 60% dos alunos enfatizaram desconhecer o trabalho. Dos 30% que conheciam, ressaltaram ser um projeto importante no sentido de integração social dos usuários, pois estes teriam a oportunidade de, através das oficinas, circularem em outros espaços e se relacionarem com outras pessoas. É importante ressaltar que mesmo alguns professores do curso de Psicologia não conhecem o trabalho, o que remete a pensar uma nova forma de divulgar e compartilhar informações sobre o projeto desenvolvido. Para os 40% das respostas dos alunos demonstraram saber da existência do projeto de extensão, porém, a maioria não soube relatar como é o trabalho desenvolvido. Os que sabem, ressaltaram que o projeto trabalha uma área pouco explorada, principalmente na Psicologia, e que é um trabalho de grande abrangência, pois além de envolver a psicologia, também discute a educação e sociedade. E eu acho que a união com a educação, com o processo social e a junção também da outras possibilidades da área da Psicologia, eu acho que ele tem uma abrangência muito maior porque não foca na doença, o foco não é no doente e sim... Não é da doença e sim no doente, no sofrimento dele eu acho. Tudo que aquilo vai percorrer na vida dele, não só no ser doente. Sobre o conhecimento dos participantes em relação ao Seminário Saúde e Educação, 60% dos professores desconheciam o evento e, os 40% que já havia escutado falar, ressaltou ser uma iniciativa interessante do projeto de extensão para a formação dos alunos, pois abre

espaços para a discussão das questões de saúde mental. Dos alunos entrevistados, 80% das respostas enfatizaram o desconhecimento do evento e apenas 20% relataram conhecer ou ter participado. O reconhecimento de uma relação intrínseca entre teoria e prática proposta pelo seminário, parece ser um elemento de particular relevância para os alunos entrevistados, pois segundo eles, o evento representa um momento de discussão que possibilita a transição entre o campo teórico e a prática. 5 CONCLUSÕES Com a realização dessa pesquisa, pôde-se notar a face da ação universitária que se articula com as populações que compõe um serviço de saúde mental e, dessa forma, observar alguns dos entraves na efetivação da mudança proposta. Relatos de familiares, funcionários, usuários e professores puderam indicar a visão ainda medicalizante que se mantém acerca do tratamento do sofrimento psíquico, bem como a manutenção da idéia de um local especializado onde esse tratamento deva ocorrer. Com os dados obtidos e as análises realizadas, verificou-se que as intervenções empreendidas pelo Projeto de Extensão provocaram um impacto positivo nas populações envolvidas. As entrevistas demonstraram diversas mudanças que se traduzem em melhorias no CAPS Del Rei, contribuindo para o desenvolvimento do tratamento e a reinserção social dos usuários. Do ponto de vista dos alunos e professores, o projeto permite à comunidade acadêmica o encontro direto com uma outra realidade social, muitas vezes estigmatizada e marginalizada, o que possibilita uma melhor compreensão e a mudança de visão sobre a doença mental. A pesquisa nos permitiu também averiguar aspectos positivos e negativos, que são de suma importância para a melhoria dos trabalhos oferecidos pelo programa de extensão. Averiguamos falhas no que diz respeito a maior necessidade de divulgação das oficinas e seminários, e da ampliação da comunicação do CAPS com os membros do grupo de extensão. Assim, através de uma avaliação coletiva dos sujeitos envolvidos, buscou com este trabalho, o exercício da reflexão sobre uma prática universitária, oferecendo espaços para discussões e questionamentos dessas intervenções, o que possibilita o aumento do alcance das transformações sociais promovidas. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARANTE, P. O homem e a serpente: outras histórias para a loucura e a psiquiatria. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1996. BRASIL. Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pesoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Brasília (DF). Recuperado em 19 de abril, 2009, de http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/legislacao_mental.pdf CAMPÊLO, A. F. A. (2006). Avaliação de Programas Sociais em ONGS: Discutindo Aspectos Conceituais e Levantando Algumas Orientações Metodológicas Sobre Avaliação de Impacto. Pernambuco. FERIGATO, S. H; CAMPOS, R.T.O & BALLARIN, M.L.G.S. (2007). O atendimento à crise em saúde mental: ampliando conceitos. Revista de Psicologia da UNESP. 6(1), 31-44. FOUCAULT, M. História da Loucura na Idade Clássica. São Paulo: Perspectiva, 1987. PLANO NACIONAL DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA. Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras. Coleção Extensão Universitária. Ilhéus: Editus, v.1, 65p., 2001.