SISTEMA DE ESGOTO SANITÁRIO DA CIDADE DE BLUMENAU. Santa Catarina, Brasil



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Transcrição:

SAMAE - SERVIÇO AUTÔNOMO MUNICIPAL DE ÁGUA E ESGOTO Rua Bahia, 1530 - Bairro Salto - CEP 89031-000 - Blumenau - Santa Catarina SISTEMA DE ESGOTO SANITÁRIO DA CIDADE DE BLUMENAU Santa Catarina, Brasil Volume II Estudo do Corpo Receptor Referência: Carta Convite N o 34/2001 Contrato N o 127/2001 ARQUITETURA E ENGENHARIA LTDA Rua Jakob Brueckheimer, 53 89036 250 Blumenau SC 47-329-0645 Fax: 47-329-2616

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 2 de 58 ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO... 4 2. ESTUDO HIDROLÓGICO-HIDROGRÁFICO... 5 2.1 CONCEITOS GERAIS... 5 2.2 ASPECTOS DA HIDROGRAFIA REGIONAL... 8 2.3 RIO ITAJAÍ-AÇU... 9 2.4 RIBEIRÃO DA VELHA... 13 2.5 RIBEIRÃO GARCIA... 16 2.6 RIBEIRÃO ITOUPAVA... 18 2.7 RIBEIRÃO FORTALEZA... 20 2.8 RIO DO TESTO... 22 3. CONSIDERAÇÕES LEGAIS... 24 4. ESTUDO DAS CONDIÇÕES SANITÁRIAS... 27 4.1 ASPECTOS GERAIS... 27 4.2 RIO ITAJAÍ-AÇU... 31 4.3 RIBEIRÃO DA VELHA... 33 4.4 RIBEIRÃO GARCIA... 36 4.5 RIBEIRÃO ITOUPAVA... 38 4.6 RIBEIRÃO FORTALEZA... 41 4.7 RIO DO TESTO... 43 5. AVALIAÇÃO E DISCUSSÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS... 46 6. DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA... 50 6.1 RIO ITAJAÍ-AÇU... 50 6.2 RIBEIRÃO DA VELHA... 51 6.3 RIBEIRÃO GARCIA... 53 6.4 RIBEIRÃO ITOUPAVA... 54

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 3 de 58 6.5 RIBEIRÃO FORTALEZA... 55 6.6 RIO DO TESTO... 56 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 57 8. PLANTAS... 58

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 4 de 58 1. INTRODUÇÃO O presente relatório visa apresentar os conceitos básicos hidrológicos, hidrográficos, sanitários e ambientais, as avaliações e os estudos realizados nos diversos cursos de água que constituem potencialmente corpos receptores para o lançamento dos efluentes gerados no município de Blumenau após terem passado por um sistema de tratamento de efluentes. O objetivo principal do presente trabalho é a verificação dos cursos de água com relação aos seus regimes de vazão, fluxo e seu potencial de autodepuração para determinar: onde o lançamento dos efluentes tratados poderá ocorrer; e quais as exigências com relação à eficiência do tratamento a ser empregado para que a qualidade da água dos corpos receptores não seja afetada pelo lançamento de forma negativa e para que os padrões legais de lançamento sejam atendidos. A coleta dos efluentes sanitários mediante uma rede coletora e seu posterior tratamento para diminuir seu potencial poluidor requer invariavelmente um local para sua introdução e devolução ao ciclo aquático natural. O presente trabalho tem por objetivo integrar o sistema de esgotamento sanitário na melhor maneira possível ao meio ambiente, procurando-se minimizar eventuais interferências. Considerando-se as condições do município de Blumenau em aspectos topográficomorfológicos e hidrográficos existem, em princípio, diversas possibilidades de configuração técnico-sanitária para a implantação do serviço de esgotamento que vão desde uma solução central com apenas uma única estação de tratamento, até arranjos descentralizados com diversas unidades de tratamento. A quantidade de pontos de lançamento dos efluentes que vão existir após a conclusão da implantação do sistema conseqüentemente será compatível com a solução finalmente adotada.

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 5 de 58 2. ESTUDO HIDROLÓGICO-HIDROGRÁFICO 2.1 CONCEITOS GERAIS Após a coleta e a depuração dos efluentes numa estação de tratamento adequada, necessariamente existe um local onde ocorre a reintegração dos efluentes tratados ao ciclo natural da água. Dependendo da situação topográfica e da distribuição da área de atendimento em bacias de esgotamento, pode haver um único ponto de lançamento dos efluentes tratados sistema centralizado- ou vários pontos de lançamento a vários cursos de água, no caso de um sistema descentralizado. Em seguida será analisado de que forma e sob quais condições o lançamento dos efluentes tratados ao meio aquático poderia ocorrer para satisfazer critérios e exigências de natureza legal e ambiental. A densa malha hidrográfica encontrada no município de Blumenau oferece teoricamente uma série de opções para o lançamento de efluentes tratados, entre eles riachos, ribeirões e o rio Itajaí-Açu que corta a cidade no sentido leste-oeste. Cabe constatar que todos os cursos de água, até de porte menor, além do Itajaí-Açu, aos quais potencialmente pode ocorrer o lançamento de efluentes tratados de algum subsistema de esgotamento sanitário, estão inseridos na bacia hidrográfica do rio Itajaí-Açu. Portanto, o corpo receptor final seria, em todos estes casos, o Rio Itajaí-Açu. Todas as águas fluviais, objetos do presente estudo, estão inseridas na Região Hidrográfica Vale do Itajaí, RH 7, conceito preconizado pelo Diagnóstico Geral, "Bacias Hidrográficas do Estado de Santa Catarina" elaborado pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente SDM que visa formular o Plano Estadual de Recursos Hídricos. Esta região hidrográfica RH 7 é composta apenas pela bacia hidrográfica do Rio Itajaí, que por sua extensão e sua vazão média do longo período, é uma das mais expressivas e mais importantes sob aspectos sócio-econômicos.

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 6 de 58 A definição da localização da(s) unidade(s) de tratamento e do(s) ponto(s) de lançamento dos efluentes tratados depende de mais uma série de critérios tais como: disponibilidade física de áreas para a implantação; afastamento de áreas habitadas; cota de enchente; regime de vazão do corpo receptor; capacidade de autodepuração; e outros parâmetros de ordem não-técnica; cuja integração e conciliação constitui uma das principais dificuldades, particularmente quando a inserção do sistema de esgoto sanitário ocorre em áreas com estruturas urbanas já bastante consolidadas e adensadas. Nestes casos surgirão, invariavelmente, conflitos de interesses entre os aspectos mencionados acima. Cabe registrar que seu equacionamento depende de uma análise detalhada e criteriosa de todos os aspectos técnico-sanitários, ambientais, urbanísticos e afins. A insistência em posições não plenamente justificadas tem, portanto, o potencial de dificultar a implantação ou de requerer soluções tecnicamente mais sofisticadas e onerosas. Para tanto o processo de decisão requer uma visão holística do problema que consegue associar a cada uma de suas particularidades o devido valor, a devida consideração, para que, em última instância, os interesses conflitantes possam ser levados à convergência. O presente trabalho analisou as seguintes possibilidades de lançamento dos efluentes tratados: Rio Itajaí-Açu (Sistema Integral ou Sistemas Descentralizados); Ribeirão da Velha (Sistema Parcial inserido na bacia); Ribeirão Garcia (Sistema Parcial inserido na bacia do ribeirão e áreas contíguas); Ribeirão Itoupava (Sistema Parcial inserido na bacia do ribeirão); Ribeirão da Fortaleza (Sistema Parcial inserido na bacia); e Rio do Testo (Sistemas Locais inseridos na bacia do rio);

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 7 de 58 A seguir serão descritas e analisadas as principais características de cada corpo receptor considerado. Um conjunto de 25 fotos, que se encontra reunido no capítulo 6, documenta algumas das constatações e permite uma visualização das condições encontradas. Com relação aos dados estatísticos relativos a vazões médias e de estiagem das águas fluviais analisadas, obteve-se um conjunto de informações do Instituto de Pesquisas Ambientais IPA da Universidade Regional de Blumenau FURB. Uma segunda fonte de informações é o já citado Diagnóstico Geral das Bacias Hidrográficas de Santa Catarina, editado pela Secretária Estadual do Meio Ambiente que contem dados específicos para o Rio Itajaí-Açu. Todo o trabalho desenvolvido, desde as primeiras análises e discussões, está concentrado em encontrar propostas e soluções técnicas para viabilizar a implantação do serviço de esgotamento sanitário, atualmente beneficiando apenas um pequeno contingente da população blumenauense, em larga escala na cidade, paulatinamente atendendo todas as regiões da cidade. A viabilização deste empreendimento depende, obviamente, do êxito das tentativas de conciliar os aspectos técnicos, econômicos, ambientais, sociais e legais relacionados à implantação do sistema de esgotamento sanitário.

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 8 de 58 2.2 ASPECTOS DA HIDROGRAFIA REGIONAL O município de Blumenau está inserido, na sua maior parte, na bacia hidrográfica do Rio Itajaí que está localizada na região leste do Estado de Santa Catarina. Apenas uma pequena área do município, no extremo norte (Distrito Vila Itoupava), contribui, em termos hidrográficos, para a bacia do rio Itapocu. A bacia do Rio Itajaí tem uma extensão de 15.000 km 2 e se estende do litoral até o planalto catarinense, constituindo dentro da Região Hidrográfica do Vale do Itajaí RH 7- o principal curso de água e dentro da rede hidrográfica do Estado de Santa Catarina a maior bacia hidrográfica da Vertente Atlântica. Sua densidade de drenagem de 1,61 km/km 2 e sua vazão média de longo período de 205 m³/s caracterizam a bacia do Rio Itajaí como uma das mais expressivas e mais importantes do estado, tanto no que tange a aspectos hidrográficos quanto a aspectos socioeconômicos. Cabe ressaltar que como Rio Itajaí é denominado apenas o trecho do Rio Itajaí-Açu a jusante da foz do Rio Itajaí-Mirim e até a desembocadura do rio ao Oceano Atlântico. A bacia do Rio Itajaí é subdividida em sete sub-bacias que são as bacias dos formadores do Rio Itajaí-Açu (rios Itajaí do Oeste e Itajaí do Sul que se unem próximo à cidade de Rio do Sul), do Rio Itajaí-Açu no seu percurso entre Rio do Sul e Itajaí e das bacias dos seus principais afluentes (Rio Itajaí do Norte, Rio Benedito, Rio Luiz Alves e Rio Itajaí-Mirim). O trecho do rio de interesse particular no presente estudo está situado no curso inferior do segmento denominado Médio Itajaí-Açu que se estende do Salto do Pilão por uma distância de 83 km até o Salto Weissbach e no curso superior do segmento denominado Baixo Itajaí-Açu que inicia a jusante do Salto Weissbach e se estende até a barra no Oceano Atlântico. Os demais rios e ribeirões citados no capítulo anterior e cujas características hidrológico-hidrográfico-sanitário-ambientais serão estudados no presente trabalho são afluentes do Rio Itajaí-Açu no território do município de Blumenau, no seu curso entre a divisa com o município de Indaial (montante) e com o município de Gaspar (jusante).

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 9 de 58 2.3 RIO ITAJAÍ-AÇU Ponto de referência para a determinação da extensão da bacia hidrográfica do Rio Itajaí- Açu até Blumenau é a ponte Adolfo Konder que liga a Rua República Argentina (margem esquerda) à Avenida Castelo Branco (Avenida Beira Rio, margem direita). Neste ponto, onde também é localizada uma estação fluviométrica, a bacia hidrográfica do Itajaí- Açu mede aproximadamente 11.660 km 2. A bacia do Rio Itajaí-Açu possui regime tropical com seus afluentes e formadores caracterizados por trechos com declives acentuados. Em seu curso superior o Itajaí-Açu e seus formadores possuem leitos acidentados com vales suspensos e cascatas. A distribuição bastante regular e uniforme das precipitações pluviais ao longo do ano, não havendo período de estiagem definido, confere à bacia um regime fluviométrico relativamente constante. Entretanto ocorrem com certa freqüência, como comprovam as estatísticas, enchentes no Itajaí-Açu que estão diretamente relacionadas com a intensidade e simultaneidade de eventos pluviométricos na sua bacia. A seriedade do problema é amplamente conhecida e documentada pela longa lista de registros de enchentes. Estas, na maioria das vezes, provocaram imensos danos nos municípios situados ao longo do curso do rio. Em função das características topográfico-morfológicas em Blumenau, apresentando-se o leito do Rio Itajaí-Açu profundo e estreito, por um lado, e seu curso, a jusante do Salto Weissbach, com baixa declividade, por outro, a variação da vazão se associa a fortes oscilações do nível de água. Cabe constatar que as conseqüências sofridas pela população da cidade têm tanto causas naturais, entre elas o estreito vale do rio que não dispõe de várzeas em extensão suficiente, que funcionariam como um reservatório natural de retenção e o baixo declive longitudinal do leito, quanto antropógenas, pela redução da seção transversal do rio por construções e edificações, pela invasão e ocupação das últimas várzeas que ainda existiam, entre outras. Motivo principal, todavia, é a

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 10 de 58 inobservância de sinais de perigo desde os primórdios da colonização do vale, quando as enchentes logo mostraram seu potencial devastador. Em resposta às cheias catastróficas, registradas em toda história da colonização do vale do Itajaí, foi implantado no curso superior do rio e dos seus formadores um sistema de retenção com barragens. Este sistema possibilita o controle da vazão lançada para o curso a jusante das barragens com o objetivo de limitar o nível das águas para que não ocorrem inundações nas cidades ribeirinhas. As principais barragens construídas na bacia hidrográfica do rio Itajaí são: Barragem Sul, localizada no rio Itajaí do Sul com volume de detenção de 93,5 km³ de água, concluída em 1975. Barragem Oeste, no rio Itajaí do Oeste com volume de detenção de 83 km³ de água, concluída em 1973. Barragem Norte, no rio Itajaí do Norte volume de detenção de 357 km³ de água, concluída em 1992. Figura 1: Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí com sistema de controle das enchentes

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 11 de 58 O Rio Itajaí-Açu é o manancial para a captação de água potável para a maioria dos municípios localizados ao longo do seu curso. Blumenau retira atualmente entre 70 e 75% da água potável consumida na cidade do Rio Itajaí-Açu, através de duas captações e duas Estações de Tratamento de Água ETA I e ETA II situadas junto à usina hidrelétrica do Salto (captação da ETA II) e cerca 500 metros a montante da Ponte de Ferro (ETA I). O suprimento do restante da demanda por água potável ocorre a partir da ETA III, instalação mais recente e localizada junto ao curso superior do Ribeirão Garcia que abastece atualmente a região sul de Blumenau e a partir da ETA IV, instalação de porte pequeno que se situa no bairro Vila Itoupava e serve apenas para o abastecimento deste bairro. Futuramente é previsto expandir a área de atendimento da ETA III para aliviar a produção na ETA II que está operando nos limites de sua capacidade enquanto a ETA III ainda tem capacidades ociosas. As condições hidrológico-fluviométricas do Rio Itajaí-Açu em Blumenau são caracterizadas pelos seguintes dados: vazão de estiagem: Q 7,10 = 54,42 m³/s - q 7,10 = 4,56 l/s x km 2 vazão média: Q m = 311,5 m³/s - q m = 26,1 l/s x km 2 vazão máxima de enchente registrada: Q max = 5.398 m³/s (09/07/83) As condições sanitárias do Rio Itajaí-Açu estão sendo monitoradas regularmente em três pontos (N o 15 e 16) pela FAEMA, órgão de controle ambiental associado à Prefeitura Municipal. O ponto N o 15 está localizado no bairro Passo Manso junto à balsa que faz a travessia do rio e permite um monitoramento das características físico-químicas das águas do Rio Itajaí-Açu nas imediações da entrada do rio para o território municipal. O ponto de monitoramento N o 16 está localizado junto à ponte do anel viário norte e proporciona supervisionar a qualidade da água do rio na saída do município para Gaspar. A localização dos pontos N o 15 e 16, bem como de todos os demais pontos de monitoramento da qualidade da água da FAEMA, é indicada na planta N o 01 anexa ao presente relatório.

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 12 de 58 Território municipal pertencente à bacia do Rio Itapocu Território municipal pertencente à bacia do Rio Itajaí-Açu Rio Itajaí-Açu Figura 2: Hidrografia Local de Blumenau

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 13 de 58 Dos 509 km 2 do território municipal de Blumenau, cerca de 420 km 2 pertencem à bacia do Rio Itajaí-Açu e 89 km 2 à bacia do Rio Itapocu. O curso do Rio Itajaí-Açu na sua passagem por Blumenau tem uma extensão de cerca de 27,9 km, desde a divisa Blumenau Indaial (oeste) até a divisa Blumenau Gaspar (leste). 2.4 RIBEIRÃO DA VELHA O Ribeirão da Velha tem uma área de drenagem de 52,92 km 2 que está inserida integralmente no território municipal de Blumenau. Suas nascentes estão localizadas a cerca de 13 km de distância, em linha reta e ao sudoeste do centro da cidade nas encostas no sentido norte do Spitzkopf, elevação de maior altitude de Blumenau. A foz está situada no centro de Blumenau, nas imediações da Prefeitura Municipal. O curso do Ribeirão da Velha tem um comprimento de 21,83 km. De sua bacia, uma área de cerca de 19,3 km 2 (do médio curso até a foz) pertence ao perímetro urbano de Blumenau, o que exerce influência significativa sobre o regime hidráulico e a situação sanitária do ribeirão. No que tange ao regime hidráulico, podem ser constatadas alterações com relação a um regime natural em função do elevado grau de impermeabilização das superfícies (calçamento de ruas; edificações) que provoca, na ocorrência de uma chuva, o escorrimento acelerado das águas na sua superfície e, conseqüentemente, a concentração do fluxo no ribeirão. Quando da ocorrência de eventos pluviométricos de maior intensidade, o aumento repentino da vazão pode causar sobrecarga hidráulica em trechos com seção transversal insuficiente e ocasionar o transbordamento do ribeirão, afetando terrenos ribeirinhos. Outros problemas associados às mudanças no regime hidráulico são a erosão e o assoreamento, ambos agravados pela eliminação da mata ciliar.

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 14 de 58 A situação sanitária do Ribeirão da Velha é fortemente influenciada pelo lançamento de esgoto sanitário, em larga escala, às suas águas através das tubulações de águas pluviais, às quais, na inexistência ainda de uma rede coletora de esgoto sanitário, praticamente todas as conexões domiciliares são conectadas atualmente. O programa de monitoramento da qualidade das águas fluviais em Blumenau da FAEMA compreende também o controle de características físico-químicas em quatro pontos (pontos N o 11, 12, 13 e 14). O ponto N o 11 é localizado junto à ponte de madeira na Rua Franz Muller, na Velha Central, o ponto N o 12 na divisa Blumenau Indaial (Encano), na Rua Reinoldo Gutz, o ponto N o 13 junto à ponte pênsil ao lado do pátio da empresa Rodovel, na Velha, e o ponto N o 14 junto às pontes sobre o Ribeirão da Velha na Rua São Paulo / Av. Martin Luther, no centro. A localização dos pontos também é indicada na planta 01 anexa ao relatório. Rio Itajaí-Açu Figura 3: Bacia do Ribeirão da Velha

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 15 de 58 Na falta de medições com relação aos parâmetros vazão de estiagem e vazão média, efetuou-se uma pesquisa bibliográfica com o objetivo de identificar cursos de água em situações similares no que se refere à localização geográfica, às condições hidrológicas e à morfologia da bacia e para os quais existem dados de medições fluviométricas. Os resultados são apresentados na tabela abaixo. RIO ÁREA DA BACIA ( km 2 ) VAZÃO MÍNIMA DE ESTIAGEM ( l/s ) CONTR. MÍNIMA ( q 7,10 = l/s.km 2 ) Perequé 31,21 152,43 4,88 Piçarras 64,60 313,66 4,85 Itapema 7,70 37,77 4,90 Mata Camboriú 3,40 16,61 4,88 Camboriú (Braço) 138,80 684,96 4,93 MÉDIA 245,71 1.205,43 4,91 Tabela 1: Levantamento de Vazões de Estiagem Com base nesta avaliação, os parâmetros hidrológico-fluviométricos do Ribeirão da Velha podem ser estimados como segue: vazão de estiagem: q 7,10 = 4,91 l/s x km 2 Q 7,10 = 260 l/s vazão média: q m = 20 l/s x km 2 Q m = 1058 l/s

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 16 de 58 2.5 RIBEIRÃO GARCIA Dentro da hidrografia de Blumenau, o Ribeirão Garcia constitui uma posição de destaque. Sua bacia mede 163,33 km 2 e se estende no sentido sul até a divisa com os municípios vizinhos Guabiruba e Botuverá. Seu curso tem um comprimento de 41,7 km entre as nascentes, localizadas a cerca de 24 km em linha reta ao sul do centro de Blumenau, numa região montanhosa dentro da área de preservação ambiental, denominada Parque das Nascentes com 5.300 ha de extensão, e a foz, localizada nas imediações do centro da cidade. Uma área de 16,37 km 2, ou seja, cerca de 10% da bacia hidrográfica total do Ribeirão Garcia, pertence ao perímetro urbano de Blumenau. A maior parte da bacia, no entanto, está localizada na área rural do município e em áreas de preservação ambiental, como foi mencionado acima. O Ribeirão Garcia apresenta, em função disso, uma excelente qualidade de suas águas no curso superior e médio, motivo pela qual foi decidido aproveitá-lo como manancial para a complementação do abastecimento de Blumenau com água potável. A captação de água bruta foi construída no extremo sul do bairro Progresso juntamente com a Estação de Tratamento de Água ETA III que abastece atualmente com uma vazão média de produção de 200 l/s toda a região sul de Blumenau. Futuramente será ampliada a produção da ETA III, cuja capacidade de projeto é de 400 l/s, para aliviar a ETA II que está operando atualmente nos limites de sua capacidade. A bacia a montante da captação da ETA III mede cerca de 84 km 2, dos quais mais de 63% se encontram inseridos no Parque das Nascentes. A qualidade da água no curso do Ribeirão Garcia pelas áreas urbanas (curso médio e inferior) é monitorada regularmente pela FAEMA em quatro pontos (pontos N o 01, 02, 03 e 04) que estão assim localizados: o ponto N o 01 na ponte junto à Escola Margarida Freygang (a montante da área urbana), o ponto N o 02 junto à ponte pênsil entre a Rua Progresso e a Rua Santa Terezinha, o ponto N o 03 junto à Ponte Centenária na Rua Capinzal e o ponto N o 04 junto à ponte da Rua 15 de Novembro sobre o Ribeirão Garcia,

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 17 de 58 já próximo à foz. Para a localização dos pontos pode ser consultada a planta 01 anexa ao presente relatório. Rio Itajaí-Açu ETA III Figura 4: Bacia do Ribeirão Garcia

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 18 de 58 Com base nos dados obtidos através da pesquisa bibliográfica, apresentada no capítulo anterior, os parâmetros hidrológico-fluviométricos do Ribeirão Garcia podem ser estimados como segue: vazão de estiagem: q 7,10 = 4,91 l/s x km 2 Q 7,10 = 802 l/s vazão média: q m = 20 l/s x km 2 Q m = 3267 l/s 2.6 RIBEIRÃO ITOUPAVA O Ribeirão Itoupava tem uma bacia com 93,33 km 2 de extensão que se estende de sua foz, localizada entre os bairros Salto do Norte e Itoupava Norte no sentido norte, até o divisor das águas entre o Rio Itajaí-Açu e o Rio Itapocu. A área de drenagem do Ribeirão Itoupava está inserida integralmente no território de Blumenau. Suas nascentes estão localizadas a cerca de 19 km de distância em linha reta ao norte do centro da cidade. O curso do Ribeirão Itoupava tem um comprimento de 20,62 km. De sua bacia cerca de 66% (61,7 km 2 ) estão inseridos na área urbana de Blumenau, o que exerce influência significativa sobre o regime hidráulico e a situação sanitária do ribeirão, de forma similar como no caso do Ribeirão da Velha. Entretanto, as conseqüências desta inserção da bacia na área urbana não estão se manifestando com a intensidade e freqüência, como ocorre na bacia do Ribeirão da Velha, em função da ocupação ainda mais dispersa. Mas é de se esperar que os problemas se agravem na medida em que o adensamento urbano avançe. A qualidade da água no curso do Ribeirão Itoupava é monitorada também regularmente pela FAEMA em três pontos (pontos N o 08, 09 e 10) que estão assim localizados: o ponto N o 08 na Rua Rio Bonito, a 1 km da pedreira, o ponto N o 09 junto à ponte de acesso ao Salão Martin Jensen e o ponto N o 10 junto à ponte na Rua 30 de Agosto, já nas proximidades da foz. A localização dos pontos pode ser verificada na planta 01 anexa ao presente relatório.

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 19 de 58 Rio Itajaí-Açu Figura 5: Bacia do Ribeirão Itoupava Com base nos dados obtidos através da pesquisa bibliográfica os parâmetros hidrológicofluviométricos do Ribeirão Itoupava são estimados como segue:

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 20 de 58 vazão de estiagem: q 7,10 = 4,91 l/s x km 2 Q 7,10 = 458 l/s vazão média: q m = 20 l/s x km 2 Q m = 1867 l/s 2.7 RIBEIRÃO FORTALEZA A bacia do Ribeirão Fortaleza tem uma extensão de 20 km 2 que se estende de sua foz, localizada no extremo sul do bairro Fortaleza no sentido norte / nordeste. A área de drenagem do Ribeirão Fortaleza está inserida integralmente no território de Blumenau. Suas nascentes estão localizadas a cerca de 10 km de distância em linha reta do centro da cidade no sentido nordeste. O curso do Ribeirão Fortaleza tem um comprimento de 7,68 km. De sua bacia mais de 75% (15,02 km 2 ) são área urbana, o que exerce influência significativa sobre o regime hidráulico e a situação sanitária do ribeirão, no entanto, de forma ainda mais pronunciada do que nos casos anteriormente já citados (Ribeirão da Velha e Ribeirão Itoupava). Podese afirmar que em períodos de estiagem a vazão do ribeirão é formada em boa parte pelos efluentes sanitários a ele lançados, uma circunstância que se torna freqüentemente visível e perceptível pelo olfato. A qualidade da água no curso do Ribeirão Fortaleza é monitorada pela FAEMA em três pontos (pontos N o 05, 06 e 07) que estão localizados como segue: o ponto N o 05, junto à ponte na Rua Arthur Schwantz, o ponto N o 06 junto à ponte na Rua Francisco Vahldieck, esquina com a Rua Engenho e o ponto N o 07 junto à ponte nas imediações da empresa Vompar, já próximo à foz. Na planta 01 anexa ao presente relatório pode ser verificada a localização destes pontos.

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 21 de 58 Rio Itajaí-Açu Figura 6: Bacia do Ribeirão Fortaleza Com base nos dados obtidos através da pesquisa bibliográfica os parâmetros hidrológicofluviométricos do Ribeirão Fortaleza são estimados como segue: vazão de estiagem: q 7,10 = 4,91 l/s x km 2 Q 7,10 = 98 l/s vazão média: q m = 20 l/s x km 2 Q m = 400 l/s

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 22 de 58 2.8 RIO DO TESTO A bacia do Rio do Testo tem uma extensão total de cerca de 241,88 km 2 que se estende de sua foz, localizada entre os bairros Passo Manso e Badenfurt em Blumenau no sentido norte pelo município de Pomerode até o divisor das águas entre o Rio Itajaí-Açu e o Rio Itapocu, na serra entre Pomerode e Jaraguá do Sul. No seu curso inferior uma área de cerca de 31 km 2 da bacia está inserida no território municipal de Blumenau, cobrindo áreas dos bairros Badenfurt, Passo Manso, Testo Salto (integralmente) e Itoupavazinha. Suas nascentes estão localizadas a cerca de 36 km de distância em linha reta do centro de Blumenau no sentido noroeste O curso do Rio do Testo tem um comprimento de cerca de 48 km. Da parte da bacia que está inserida no território municipal de Blumenau, cerca de 64% (19,58 km 2 ) são área urbana, que se caracteriza pela presença de estabelecimentos comerciais e industriais aglomerados ao longo das rodovias BR 470 e SC 418, enquanto a ocupação por habitações ainda é relativamente dispersa. No curso médio passa pela área urbana de Pomerode, o que exerce certa influência sobre o regime hidráulico e a situação sanitária do rio. Todavia, cabe constatar que, com exceção da área central, a ocupação urbana de Pomerode está consideravelmente mais dispersa do que em muitas áreas em Blumenau, motivo pelo qual os efeitos negativos se manifestam de uma forma muito menos acentuada do que nos casos já citados (Ribeirão da Velha, Ribeirão Itoupava e Ribeirão Fortaleza). Apenas problemas de erosão, ocasionados pelo corte da mata ciliar e pela ocupação indevida de áreas ribeirinhas, são constatados mais acentuadamente em alguns trechos. A qualidade das águas no Rio do Testo no seu curso inferior que passa pelo território de Blumenau é monitorada pela FAEMA em dois pontos (pontos N o 17 e 18) que estão localizados como segue: o ponto N o 17, junto à ponte no acesso à Companhia Karsten e o ponto N o 18 junto à ponte nas imediações da Cia. Hemmer, já próximo à foz. A localização dos pontos é indicada na planta 01 anexa ao relatório.

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 23 de 58 Rio Itajaí-Açu Figura 7: Bacia do Rio do Testo - Parte inserida no território municipal de Blumenau Com base nos dados obtidos através da pesquisa bibliográfica, os parâmetros hidrológico-fluviométricos do Rio do Testo são estimados como segue: vazão de estiagem: q 7,10 = 4,91 l/s x km 2 Q 7,10 = 1.188 l/s vazão média: q m = 20 l/s x km 2 Q m = 4.838 l/s

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 24 de 58 3. CONSIDERAÇÕES LEGAIS A Legislação Ambiental Básica do Estado de Santa Catarina é constituída, na essência, pela Lei N o 5.793 de 15 de outubro de 1980 que dispõe sobre a proteção e melhoria da qualidade ambiental e dá outras providências e pelo Decreto N o 14.250 de 05 de junho de 1981 que regulamenta dispositivos da Lei N o 5.793 referentes à proteção e à melhoria da qualidade ambiental. Ambos os instrumentos passaram, desde a data em que entraram em vigor, por alterações e foram lhes dada novas redações. A Lei N o 5.793/80 passou por duas redações, a primeira pela Lei N o 5.960 de 04/11/1981 e segunda pela Lei 9.413 de 07/01/1994. Ao Decreto N o 14.250/81 foi dado uma nova redação em maio de 1983, mediante Decreto N o 19.380, em março 1984, mediante Decreto N o 21.460, em agosto 1987, pelo Decreto N o 344, em dezembro 1987 pelos decretos N o 1.140 (16/12/1987) e N o 1.250 (30/12/1987) e em 27 de julho de 1989 pelo Decreto N o 3.610. No Decreto N o 14.250 encontra-se regulamentada, entre outros aspectos, a classificação e utilização dos corpos de água situadas no território do Estado, estabelecendo-se quatro classes (Classe 1, Classe 2, Classe 3 e Classe 4) segundo grau de sofisticação técnica necessário no tratamento das águas para torná-las utilizáveis para o abastecimento doméstico com água potável e seu uso para outras finalidades. A cada classe são atribuídas proibições e exigências no que se refere ao lançamento de dejetos sólidos e líquidos às águas, à realização de obras e ao armazenamento de substâncias potencialmente prejudiciais e poluidoras nas proximidades dos recursos hídricos. São estabelecidos também padrões de qualidade da água que caracterizam cada classe e que determinam se e sob quais condições pode haver o lançamento de efluentes às águas, não sendo tolerado, por exemplo, a introdução de efluentes, mesmo tratados, a águas de classe 1. O enquadramento dos cursos de água do Estado de Santa Catarina nas classificações estabelecidas pela Portaria GM N o 0013, de 15 de janeiro de 1976, do Ministério do Interior é regulamentado pela Portaria Estadual Nº 024/79, de 19 de setembro de 1977.

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 25 de 58 Assim os cursos de água do sistema hidrográfico local de Blumenau são enquadrados nas seguintes classes: Classe 1: o Ribeirão Garcia, das nascentes até a ponte na Rua Rui Barbosa e seus afluentes nesse trecho; Classe 2: Todos os cursos de água não incluídos na Classe 1 e nem mencionados nominalmente em nenhuma outra classe. No sistema hidrográfico local de Blumenau, portanto, enquadram-se nesta classe: o Rio Itajaí-Açu, o Ribeirão Itoupava, o Ribeirão Fortaleza e o Rio do Testo, além de os formadores e afluentes dos cursos dágua mencionados e de todos os riachos, ribeirões e cursos de água não especificamente relacionados numa das outras classes; Classe 3: o Ribeirão Garcia, da ponte na Rua Rui Barbosa, até a foz no Rio Itajaí-Açu e seus afluentes nesse trecho; o Ribeirão da Velha e seus afluentes Classe 4: nenhum curso de água no sistema hidrográfico local de Blumenau está enquadrado nesta classe; A representação gráfica do enquadramento dos cursos de água pertencentes ao sistema hidrográfico local de Blumenau nas referidas classes pode ser encontrada nos anexos do presente relatório, na planta 02. Na subseção III do Decreto N o 14.250 encontram-se os parâmetros que caracterizam as classes e que, conseqüentemente, determinam os padrões e condições de lançamento de efluentes. Entre outros parâmetros, podem ser identificados os limites estabelecidos referentes à concentração da DBO 5,20 de até 5 e de até 10, para as classes 2 e 3, respectivamente. Contudo, o Art. 17 o complementa as determinações no sentido de que os limites de concentração de DBO 5,20 poderão ser elevados, caso o estudo de autodepuração do corpo receptor demonstre que os teores mínimos de Oxigênio

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 26 de 58 Dissolvido OD previstos não são desobedecidos em nenhum ponto em conseqüência da introdução do efluente. A subseção IV do Decreto N o 14.250 estabelece no Art. 19 o os limites absolutos para o lançamento de efluentes líquidos aos corpos de água, definindo, inclusive, sob item XIV uma concentração máxima de lançamento para a DBO 5,20 de 60. É admitida, no entanto, uma concentração de lançamento mais alta caso a eficiência do tratamento em termos de remoção da carga poluidora medida como DBO 5,20 alcançar no mínimo 80%. Segundo item XV, contudo, o lançamento dos efluentes, mesmo que sejam obedecidos os padrões gerais, não deverá alterar, de norma negativa, as características do corpo receptor que se associam à classe em que é enquadrado.

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 27 de 58 4. ESTUDO DAS CONDIÇÕES SANITÁRIAS 4.1 ASPECTOS GERAIS A presente parte do estudo é destinada à apresentação das avaliações realizadas para verificar as condições sanitárias dos cursos de água caracterizados no capítulo 2. Com o objetivo de caracterizar e avaliar as condições sanitárias em que se encontram os cursos de água atualmente, foram analisados os resultados do monitoramento dos recursos hídricos que é realizado pela FAEMA em 18 pontos no município. Os locais onde são coletadas as amostras para as análises físico-químicas estão localizados de tal maneira que fornecem para cada curso de água monitorado dados sobre a qualidade da água nos seguintes pontos: no curso superior, onde o curso de água ainda não está na área urbana e as águas não receberam, portanto, efluentes sanitários, ou somente em escala desprezível; no médio curso, onde o monitoramento permite documentar o aumento da poluição ao longo do percurso pela área urbana; e no curso inferior, nas proximidades da foz, para poder qualificar e quantificar a carga poluidora lançada ao curso de água ao longo do percurso pela área urbana. A localização dos pontos é indicada na planta 01 anexa ao relatório. Embora a campanha analítica disponibilizada pela FAEMA tenha uma abrangência de mais de três anos, com acompanhamento mensal, ela ainda não fornece dados suficientes para conclusões mais abrangentes. Um motivo para tal é o fato de que os parâmetros físico-químicos são levantados, sem que haja algum relacionamento com medições hidráulicas (vazão) e com a situação meteorológica (no dia da coleta e no período que a antecedem). Estas informações, no entanto, seriam necessárias para uma avaliação mais consistente.

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 28 de 58 Uma segunda limitação está relacionada ao procedimento analítico para a determinação da concentração da DBO. Para apurar a DBO, geralmente é utilizado o ensaio manométrico em que o consumo de oxigênio pela atividade microbiana num recipiente hermeticamente fechado é medido pela redução da pressão interna no recipiente ao longo de cinco dias. Entretanto a concepção deste ensaio em conjunto com a precisão dos dispositivos de medição utilizados, restringem significativamente seu valor elucidativo em qualquer aplicação que queira analisar águas com baixa concentração de DBO. Uma concentração de 10mg DBO/l representa, para este tipo de ensaio, o limite técnico de determinação. Portanto, resultados que informam a apuração de concentrações de DBO na faixa entre 0 e 10, sugerem uma exatidão que o ensaio manométrico, em função de tolerâncias e erros inerentes ao procedimento, não fornece. Na análise dos dados obtidos da FAEMA pode ser observado que em nenhum ponto e em nenhum momento no período monitorado foi registrada uma concentração de DBO abaixo de 10, mesmo que em alguns pontos este valor deve convergir à concentração de 0. No contexto das limitações do ensaio, os resultados são perfeitamente coerentes, portanto. Mas cabe ressaltar que por este motivo torna-se impraticável, pelo menos com os métodos analíticos mais utilizados, verificar as concentrações determinadas pela legislação ambiental para a DBO 5,20 de 5 e 10 relativos às classes 2 e 3. Tomando-se os resultados das análises da FAEMA como referência para o enquadramento dos cursos de água monitorados, todos pertenceriam, no mínimo, à classe 3, no que se refere ao parâmetro DBO, inclusive o curso superior e médio do Ribeirão Garcia, enquadrado oficialmente na classe 1. Fica evidente, neste contexto, que é praticamente inviável qualificar e quantificar as previsões relativos às capacidades de autodepuração e à mistura e, conseqüentemente, chegar à determinação de parâmetros de projeto no que tange à eficiência necessária do tratamento. Por outro lado, a análise dos resultados do monitoramento da FAEMA conduz a uma observação de ordem qualitativa bastante interessante: pode ser constatado que a concentração da DBO registrada nos pontos de jusante (ou junto à foz), na maioria dos

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 29 de 58 casos, é igual, ou apenas levemente superior, à concentração dos pontos a montante. Conhecendo-se a situação de esgotamento atual de Blumenau, em que a maior parte dos efluentes domésticos é lançada à tubulação das águas pluviais e chega, portanto, através delas aos cursos de água, poderia se supor que tamanha introdução de efluentes brutos às águas fluviais estivesse se manifestando mais nitidamente nos valores analíticos dos pontos de monitoramento de jusante. Faremos um pequeno exercício para verificar as condições, tomando-se como área de referência a bacia do Ribeirão Garcia. Segundo o levantamento de dados básicos no Volume 1 do presente projeto, a Região Sul de Blumenau, que está inserida na bacia hidrográfica do Ribeirão Garcia, foi habitada no ano de 2000 por 36.733 pessoas que geraram uma carga de DBO de 1.983,6 kg/d. A geração de esgoto per capita na região para o ano de 2000 foi calculada em 131,22 l/hab x d, o que corresponde a uma quantidade diária de 4.820,1 m³/d e a uma vazão média de 55,8 l/s. A partir da carga diária de DBO e da vazão média pode ser calculada a concentração média da DBO que é de 411,5. Segue o cálculo de mistura com a vazão de estiagem do Ribeirão Garcia, supondo-se, idealizando, uma concentração de 0 de DBO nas águas fluviais. Para a vazão de estiagem teríamos, portanto: (0 802) + (411,5 55,8) (802 + 55,8) = 26,8 mg DBO/l Este valor é, obviamente, apenas teórico porque a introdução da carga ocorre de uma forma dispersa, ao longo do rio e não concentrada, num único ponto. Mas ele fornece uma indicação que, tendencialmente, deveriam ser registrados nos pontos de jusante concentrações de DBO mais altas e com maior freqüência, desde que o processo de autodepuração natural não esteja desempenhando um papel importante no processo de recuperação dos meios aquáticos entre os pontos de lançamento dos poluentes e dos

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 30 de 58 pontos, onde são coletadas as amostras para a análise. Considerando-se nesta avaliação qualitativa os perfis longitudinais dos rios e ribeirões em questão, que apresentam em vários trechos declive mais forte e até pequenas corredeiras, que todos contribuem para aumentar o teor de oxigênio dissolvido no meio líquido, pode se constatar que, de fato, o processo de autodepuração contribui em Blumenau consideravelmente na redução dos poluentes provindos do lançamento dos efluentes domésticos. Todavia, uma redução em escala significativa está limitada aos cursos de água com maior vazão, que tenham, portanto, um maior potencial de diluição, e nos quais os teores de oxigênio dissolvido se mantenham elevados, seja através de acidentes naturais no curso que promovem a aeração, ou em função da relação favorável entre a vazão do curso de água e a vazão de efluentes, de tal modo, que a demanda de oxigênio para a desintegração da carga poluidora seja inferior à disponibilidade de oxigênio nas águas fluviais. Nos pontos, onde estas condições não são dadas, isto é, em cursos de água com vazão pequena e vazão de esgoto introduzida proporcionalmente grande e que ainda apresentem baixa declividade e trechos com estagnação, ou que estejam canalizados em alguns trechos, o que também reduz a aeração natural, o processo de autodepuração é comprometido. Nas circunstâncias mais desfavoráveis pode até ocorrer o colapso do processo de autodepuração, quando a vazão de efluentes e a carga poluidora introduzidas superam as capacidades hidráulicas e/ou microbiológicas do corpo receptor. A ocorrência deste fenômeno, não raro nas condições sanitárias atuais em Blumenau em alguns cursos de água menores, por exemplo no Ribeirão Bom Retiro, no Córrego Jararaca (paralelo à Rua Estanislaus Schaette) e no Córrego Salto Weissbach, mas também no Ribeirão Fortaleza e no curso médio e inferior do Ribeirão da Velha, é perceptível principalmente pela emanação do cheiro desagradável e penetrante, típico de esgoto em processo de decomposição anaeróbia.

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 31 de 58 4.2 RIO ITAJAÍ-AÇU No Rio Itajaí-Açu o monitoramento da qualidade da água pela FAEMA ocorre as em dois pontos, conforme já foi descrito em capítulos anteriores. As medições permitem uma caracterização das condições físico-químicas e sanitárias da água como ela entra para o território municipal na divisa oeste para Indaial (ponto N o 15) e como ela sai do município na divisa leste para Gaspar (ponto N o 16). A tabela que segue, traz um resumo dos dados analíticos obtidos no período entre janeiro 1998 e dezembro de 2000 nos respectivos pontos. Ponto Nr. Localização OD Colif. Fec. NMP/100ml ph DBO 5,20 N total P total Turbidez ut 15 Entrada/Passo Manso (Balsa ) 8,47 4.774 7,00 10,00 0,35 0,13 69,86 147,27 16 Saída Anel Viário Norte 8,07 15.468 6,98 10,00 0,54 0,13 54,29 122,08 Tabela 2: Médias dos Dados Analíticos 1998-2000, Rio Itajaí-Açu SST Com relação aos parâmetros verificados cabem os seguintes comentários: a concentração do oxigênio dissolvido está num nível muito bom e confere ao rio um elevado potencial de autodepuração; a concentração de DBO 5,20 apurada em laboratório com valores de 10, representa, como foi explicitado anteriormente, o limite prático-técnico de determinação com relação a este parâmetro. Por outro lado evidencia-se que a quantidade de substâncias orgânicas introduzida ao rio ao longo de seu curso e proveniente de mais de 1 milhão de pessoas residentes na sua bacia, ainda não excede às capacidades de autodepuração; na contagem dos Coliformes Fecais, no entanto, está se manifestando nitidamente o lançamento de efluentes domiciliares ao rio.

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 32 de 58 Por se tratar de um rio de porte considerável que recebe no seu curso o lançamento dos efluentes diretamente ou através de seus afluentes-, a qualidade de suas águas em termos de carga orgânica registrada nas análises pode ser considerada satisfatória. A apresentação estética de suas águas varia consideravelmente entre transparente e subjetivamente limpa a montante do Salto Weissbach e trechos com sinais visíveis de poluição, documentados mediante fotos nos dias 16 e 17 de agosto de 2001 junto à foz do Ribeirão Fortaleza, onde foi registrada a formação de espuma na superfície e à foz do Ribeirão da Velha, onde se pôde observar as águas turvo-escuras do ribeirão misturandose vagarosamente com as águas mais limpas do Rio Itajaí-Açu (fotos N o 7, 8 e 21). A condição de estiagem, sem dúvida, favoreceu tais observações porque geralmente as águas do Rio Itajaí-Açu se apresentam bastante barrentas o que dificulta diferenciar entre turbidez natural e aquela provocada pela poluição antropógena. Para determinar, em termos quantitativos, o impacto global que o lançamento dos efluentes sanitários causa no Rio Itajaí-Açu, procedeu-se um cálculo de mistura. A vazão de efluentes considerada neste cálculo corresponde à quantidade total gerada em Blumenau no ano de 2030, conforme tabela 20 do Volume I: Dados Básicos, Definição Área do Projeto, Estudo Demográficos, Critérios e Parâmetros de Projeto. Para o cálculo da mistura aplica-se a fórmula abaixo. Q DBO DBO Q DBO = [( EX E) + ( RX R)] DIL ( QE+ QR) onde : Q e = 675,92 l/s (vazão de esgoto no ano de 2030) Q r = 54.420 l/s (vazão de estiagem do Rio Itajaí-Açu) DBO e = 380,3 (DBO do esgoto bruto) DBO r = 10 (DBO do rio)

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 33 de 58 (10 54420) + (380,3 675,92) (54420 + 675,92) = 14,54 mg DBO 5,20 /l Segue análise da situação sob a condição que os efluentes sanitários gerados em Blumenau em 2030 seriam submetidos a um tratamento que atingisse uma eficiência média de remoção da DBO de 85%. A concentração de lançamento da DBO seria, portanto DBO = 57,05, o que leva para a seguinte concentração de mistura: (10 54420) + (57,05 675,92) (54420 + 675,92) = 10,58 mg DBO 5,20 /l 4.3 RIBEIRÃO DA VELHA O monitoramento da qualidade da água pela FAEMA ocorre no Ribeirão da Velha em quatro pontos, conforme foi descrito em capítulos anteriores. As medições permitem uma caracterização das condições físico-químicas e sanitárias da água como ela entra para o perímetro urbano (pontos N o 11 e N o 12) e como ela é lançada ao Rio Itajaí-Açu (ponto N o 14), dispondo-se ainda, para efeitos de comparação o ponto intermediário N o 13. A tabela que segue, traz um resumo dos dados analíticos obtidos no período entre janeiro 1998 e dezembro de 2000 nos respectivos pontos. Ponto Nr. Localização OD Colif. Fec. NMP/100ml ph DBO 5,20 N total P total Turbidez ut 11 R. Franz Müller Ponte de madeira 8,07 6.524 6,73 10,13 0,28 0,13 23,31 97,27 12 Divisa Blumenau/Encano-R. Reinoldo Gutz 5,01 17.117 6,64 10,07 0,94 0,24 21,93 146,76 13 Intermediário Ponte pencil Rodovel 8,32 60.825 7,60 15,93 4,53 0,56 23,44 277,10 9 Saída Ponte PMB - Rua São Paulo 5,75 82.597 7,06 21,41 5,48 0,63 40,89 322,93 SST Tabela 3: Médias dos Dados Analíticos 1998-2000, Ribeirão da Velha

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 34 de 58 Com relação aos parâmetros verificados cabem os seguintes comentários: a concentração do oxigênio dissolvido está num nível bom nos pontos N o 11 e 13 em função do declive do leito que promove uma aeração natural e confere ao ribeirão seu potencial de autodepuração; nos pontos N o 12 e 14 a concentração de oxigênio está mais baixa, mas ainda razoável; com relação à DBO 5,20 são observadas concentrações na ordem de 10 nos dois pontos de montante (11 e 12) de quase 16 na intermediária (ponto N o 13) e de mais de 21 nas proximidades da foz (ponto N o 14). A evolução do parâmetro DBO ao longo do curso confere com a situação sanitária encontrada que se caracteriza pela densidade de pontos de lançamento de efluentes. Apenas as condições morfológicotopográficas do terreno com trechos de declividade maior e até pequenas corredeiras que, juntamente promovem a aeração natural das águas do ribeirão, fazem com que a demanda de oxigênio ainda não supera a disponibilidade; na contagem dos Coliformes Fecais está se manifestando nitidamente o lançamento de efluentes domiciliares ao ribeirão. Por se tratar de um ribeirão de porte médio que recebe em todo o seu curso médio e inferior o lançamento dos efluentes diretamente ou através de seus afluentes-, a qualidade de suas águas em termos de carga orgânica registrada nas análises está se aproximando de padrões críticos. A apresentação visual de suas águas, avaliada e documentada mediante fotos nos dias 16 e 17 de agosto de 2001, varia consideravelmente entre levemente turva no ponto N o 11, amarelada (mas não barrenta) no ponto N o 12 e transparente e turvo-escura no ponto N o 14 e na foz. Além disso foi constatado em todos os pontos o cheiro característico de esgoto, entretanto com intensidade crescente de montante para jusante. Foram também observados sinais visíveis de poluição no fundo (sedimentos) e nas margens do ribeirão.

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 35 de 58 O registro fotográfico gerado relativo ao Ribeirão da Velha é composto por sete fotos que se encontram reunidas no capítulo 6. O impacto global que, em termos quantitativos, o lançamento dos efluentes sanitários gerados na bacia do Ribeirão da Velha causa foi avaliado mediante um cálculo de mistura. A vazão de efluentes considerada neste cálculo corresponde à quantidade total de esgoto gerado na bacia no ano de 2030, conforme tabela 20 do Volume I: Dados Básicos, Definição Área do Projeto, Estudo Demográficos, Critérios e Parâmetros de Projeto. Para o cálculo da mistura aplica-se a fórmula abaixo. onde : DBO DIL = [( QEXDBOE) + ( DBORXQR)] ( QE+ QR) Q e = 210,43 l/s (vazão de esgoto no ano de 2030, bairros Velha, Vila Nova, Victor Konder e parcialmente Asilo e Petrópolis) Q r = 260 l/s (vazão de estiagem do Ribeirão da Velha) DBO e = 380,3 (DBO do esgoto bruto) DBO r = 15 (DBO média do ribeirão) (15 260) + (380,3 210,43) (210,43 + 260) = 178,40mg DBO 5,20 /l Cabe constatar que no caso do Ribeirão da Velha o cálculo teórico de mistura fornece uma imagem distorcida da situação real em termos de valores absolutos de concentração da DBO. Fato é, no entanto, que em períodos de estiagem a vazão observada no ribeirão é formada, em boa parte, pelos efluentes lançados. Conseqüentemente a concentração da DBO se situa em níveis mais altos (valor máximo observado no ponto N o 14 pelo programa de monitoramento da FAEMA: 42 ), sem, no entanto, atingir um valor

Volume II: Estudo do Corpo Receptor página 36 de 58 próximo ao resultado do cálculo de mistura, o que se deve à forma dispersa de lançamento dos efluentes. 4.4 RIBEIRÃO GARCIA O monitoramento da qualidade da água pela FAEMA ocorre no Ribeirão Garcia em quatro pontos, conforme foi descrito em capítulos anteriores. As medições permitem uma caracterização das condições físico-químicas e sanitárias da água como ela entra para o perímetro urbano (ponto N o 1) e como ela é lançada ao Rio Itajaí-Açu (ponto N o 4), dispondo-se ainda, para efeitos de comparação dois pontos intermediários N o 2 e N o 3 ao longo do curso. A tabela que segue, traz um resumo dos dados analíticos obtidos no período entre janeiro 1998 e dezembro de 2000 nos respectivos pontos. Ponto Nr. Localização OD Colif. Fec. NMP/100ml ph DBO 5,20 N total P total Turbidez ut 1 Entrada ponte Escola Margarida Freigang 8,78 2.575 6,79 10,05 0,14 0,10 2,48 63,53 2 Intermediário Ponte Pencil 8,63 25.332 6,78 10,87 0,50 0,15 5,92 88,21 3 Ponte Centenário Rua Capinzal 8,40 44.167 7,06 10,80 1,76 0,14 6,52 146,80 4 Saída Ponte na R. XV Novembro 7,73 52.258 6,93 11,00 1,30 0,21 13,18 117,64 Tabela 4: Médias dos Dados Analíticos 1998-2000, Ribeirão Garcia SST Com relação aos parâmetros verificados cabem os seguintes comentários: a concentração do oxigênio dissolvido está num nível bom em todos os pontos o que confere ao ribeirão seu elevado potencial de autodepuração; com relação à DBO 5,20 são observadas concentrações na ordem de 10-11. Nos pontos de montante (1 e 2) os dados analíticos surpreendem e principalmente no ponto N o 1 divergem do aspecto subjetivo. Cabe observar também que os dados analíticos contrastam com o enquadramento do curso superior do Ribeirão Garcia na classe 1. Por outro lado cabe registrar que as condições sanitárias encontradas no