Imagem da Semana: Radiografia e Fotografia



Documentos relacionados
Fibrose Cística. Triagem Neonatal

Dra Camila D B Piragine Pneumopediatria

Imagem da Semana: Radiografia, Tomografia computadorizada

03/07/2012. Mônica Corso Pereira. Ação: organizando um ambulatório para acompanhamento de pacientes portadores de bronquectasias

Circulação sanguínea Intrapulmonar. V. Pulmonar leva sangue oxigenado do pulmão para o coração.

XIII Reunião Clínico - Radiológica Dr. RosalinoDalazen.

CONDUTAS: EDEMA AGUDO DE PULMÃO

Novidades e Perspectivas no Tratamento da Fibrose Cística

Bronquiectasia. Bronquiectasia. Bronquiectasia - Classificação

Imagem da Semana: Radiografia de Tórax

DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA DPOC.

7º Imagem da Semana: Radiografia de Tórax

Imagem da Semana: Radiografia de tórax

Imagem da Semana: Radiografia e tomografia computadorizada (TC)

SECRETARIA ESTADUAL DA SAÚDE HOSPITAL INFANTIL JOANA DE GUSMÃO

Infecção Bacteriana Aguda do Trato Respiratório Inferior

INFERTILIDADE MASCULINA E FIBROSE CÍSTICA

As disfunções respiratórias são situações que necessitam de intervenções rápidas e eficazes, pois a manutenção da função

IX Curso Nacional de Doenças Pulmonares Intersticiais. Tuberculose. Sumário. Patogenia da TB

PNEUMONIAS E BRONCOPNEUMONIAS

Imagem da Semana: Tomografia Computadorizada

Introdução. Metabolismo dos pigmentos biliares: Hemoglobina Biliverdina Bilirrubina Indireta (BI) ou nãoconjugada

SÍNDROME DE MOUNIER-KUHN (TRAQUEOBRONCOMEGALIA): RELATO DE CASO

Imagem da Semana: Radiografia. Imagem: Radiografia simples tóraco-abdominal em incidência ântero-posterior

A pneumonia é uma doença inflamatória do pulmão que afecta os alvéolos pulmonares (sacos de ar) que são preenchidos por líquido resultante da

Doenças Respiratórias Crônicas. Caderno de Atenção Básica 25

NOVEMBRO DOURADO VIVA ESTA IDEIA! VENHA PARTICIPAR!

Sistema Respiratório. Afecções das vias aéreas inferiores. Profa. Dra. Rosângela de Oliveira Alves Carvalho

Actualizado em * Definição de caso, de contacto próximo e de grupos de risco para complicações

O QUE VOCÊ PRECISA SABER

Perguntas e respostas sobre imunodeficiências primárias

03/07/2012 PNEUMONIA POR INFLUENZA: PREVENÇÃO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO, ONDE ESTAMOS? Encontro Nacional de Infecções Respiratórias e Tuberculose

Serviço de Pediatria HU-UFJF

04/06/2012. Pneumonias Eosinofílicas. Definição de PE. Abordagem geral para o Pneumologista

Palácio dos Bandeirantes Av. Morumbi, Morumbi - CEP Fone: Nº 223 DOE de 28/11/07. Saúde GABINETE DO SECRETÁRIO

[251] 114. AVALIAÇÃO SISTEMÁTICA DE RADIOGRAFIAS DO TÓRAX

BRONQUIECTASIAS Algoritmo diagnóstico 5ª Reunião do Núcleo de Estudos de Bronquiectasias da SPP

TEMA: Seretide, para Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).

Imagem da Semana: Fotografia, radiografia e cintilografia

Saúde da mulher em idade fértil e de crianças com até 5 anos de idade dados da PNDS 2006

IMPLICAÇÕESCLÍNICAS DO DIAGNÓSTICOTARDIO DA FIBROSECÍSTICA NOADULTO. Dra. Mariane Canan Centro de Fibrose Cística em Adultos Complexo HC/UFPR

Serviço Especial de Genética Ambulatório de Fenilcetonúria - HC Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico - NUPAD Faculdade de Medicina / UFMG

NORMAS PARA APRESENTAÇÃO DE RESUMOS PARA A VI JORNADA CIENTÍFICA DO HOSPITAL DE DOENÇAS TROPICAIS HDT/HAA

Imagem da Semana: Tomografia de órbita

Alergia e Pneumologia Pediátrica Hospital Infantil João Paulo II Hospital Felício Rocho Wilson Rocha Filho

DIAGNÓSTICO DA DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC)*

RESOLUÇÃO SS nº 73, 29 de julho de 2015

PEDIATRIA CLÍNICA 1. OBJETIVOS

Imagem da Semana: Radiografia, Tomografia Computadorizada

Introdução. ATB na infância. ( Schappert, 1992 ). Primeiros anos de vida. ( Alho; Koivu; Sorri, 1991). Aleitamento materno. Creches e berçários.

DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL. Profª. Thais de A. Almeida Aula 21/05/13

Resposta: Dilatação dos brônquios na tomografia (bronquiectasia) e nível hidro-aéreo na radiografia do tórax (abscesso).

ANATOMIA DO TÓRAX POR IMAGEM. Prof. Dante L. Escuissato

VII CURSO DE ESPIROMETRIA

Pâncreas. Pancreatite aguda. Escolha uma das opções abaixo para ler mais detalhes.

ATIVIDADE DE RECUPERAÇÃO PARALELA PREVENTIVA 3º Trimestre/2014 GABARITO

Juliana Cordeiro de Melo Franco

FARMACÊUTICOS DE FIBRA PRÊMIO PRIMEIROS PASSOS FARMACÊUTICOS - CRF-PR 2014 TEMA: DOENÇAS CRÔNICAS

Doenças pulmonares intersticiais. Ft. Ricardo Kenji Nawa

Doenças que necessitam de Precaução Aérea. TB pulmonar ou laríngea bacilífera Varicela / Herpes Zoster Sarampo

RECOMENDACÕES PARA MANEJO DA TOSSE E RESFRIADO COMUM EM PEDIATRIA Pronto-atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein

Fenilcetonúria Tratamento e Acompanhamento Nutricional

PARADA CARDIO-RESPIRATÓRIA EM RECÉM-NASCIDO

PROVA ESPECÍFICA Cargo 48. Na reação de hipersensibilidade imediata do tipo I, qual dos seguintes mediadores é neoformado nos tecidos?

Infecções de Vias Aéreas Superiores

CAMPANHA PELA INCLUSÃO DA ANÁLISE MOLECULAR DO GENE RET EM PACIENTES COM CARCINOMA MEDULAR E SEUS FAMILIARES PELO SUS.

Fique atento ao abuso de antibióticos na pediatria

Fibrose cística ARTIGO DE REVISÃO. Cystic fibrosis. Francisco J. C. Reis 1, Neiva Damaceno 2. Resumo. Abstract

Resultados de estudos sobre pneumonia na infância

Boletim Epidemiológico

Diretrizes Assistenciais

NORMA TÉCNICA 02/2013

Doenças Obstrutivas DPOC. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. Epidemiologia. DOENÇAS OBSTRUTIVAS Pode ser causada pôr alterações:

MISCELÂNIA FISIOTERAPIA CARDIORRESPIRATÓRIA

ESTUDO DIRIGIDO - PNEUMONIA

PNEUMONIAS COMUNITÁRIAS

Experiência: VIGILÂNCIA À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

P N E U M O N I A UNESC ENFERMAGEM ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO ADULTO PROFª: FLÁVIA NUNES 10/09/2015 CONCEITO

Imagem da Semana: Ultrassonografia abdominal

03/07/2012. Mauro Gomes. Mauro Gomes. Mauro Gomes

Pneumonia na Pediatria

MARIA JOSÉ SANCHES MARIN MARIA PAULA FERREIRA RICARDO MARILIA SIMON SGAMBATTI UNIDADE 6 ABORDAGEM DA CRIANÇA COM ANEMIA FALCIFORME E FIBROSE CÍSTICA

INSUFICIÊNCIA CARDÍACA E EDEMA AGUDO DE PULMÃO. Prof. Dr. José Carlos Jucá Pompeu Filho Cardiologista- Ecocardiografista

04/06/2012 INTRODUÇÃO À RAGIOLOGIA SIMPLES DO TÓRAX. Dante L. Escuissato RADIOGRAFIAS DO TÓRAX INCIDÊNCIAS: FRONTAL (PA) PERFIL TÓRAX

PROVA TEÓRICO-PRÁTICA

RESPOSTA RÁPIDA 435/2014

CURSO DE ENFERMAGEM Reconhecido pela Portaria nº 270 de 13/12/12 DOU Nº 242 de 17/12/12 Seção 1. Pág. 20

três infecções mais comuns e temidas em pessoas com FC. Aquisição da Pseudomonas aeruginosa

FISIOTERAPIA FMRP/USP. Ft. Daniella Vento Prof. Paulo Roberto Barbosa Evora

DOENÇAS INFECCIOSAS DO CORAÇÃO

[COMPLEXO RESPIRATÓRIO VIRAL FELINO]

10º Imagem da Semana: Ultrassonografia Transvaginal

Descobrindo o valor da

Faringoamigdalites na Criança. Thaís Fontes de Magalhães Monitoria de Pediatria 17/03/2014

PNEUMONIAS. Maria João Rocha Brito. Unidade de Infecciologia Hospital Dona Estefânia CHLC EPE

OUTUBRO. um mes PARA RELEMBRAR A IMPORTANCIA DA. prevencao. COMPARTILHE ESSA IDEIA.

Transcrição:

Imagem da Semana: Radiografia e Fotografia Figura 1: Fotografia da mão esquerda do paciente Figura 2: Radiografia do tórax em PA

Enunciado Paciente do sexo feminino, 8 anos, comparece ao PA do HC-UFMG com quadro de febre, tosse produtiva, vômitos e dispneia de 7 dias de evolução. Ao exame físico, apresentava baqueteamento digital, esforço respiratório, SatO2 de 67% em ar ambiente, crepitações bilaterais e difusas. Paciente em acompanhamento no ambulatório de pneumologia pediátrica, com culturas prévias de secreção de orofaringe positivas para Staphylococus aureus sensível à oxacilina (OSSA), Burkholderia cepacea e Stenotrophomonas maltophilia. Com base na história clínica e nas imagens apresentadas, o diagnóstico mais provável é: a) Discinesia ciliar primária b) Fibrose cística com exacerbação pulmonar c) Bronquiolite viral aguda d) Bronquiolite obliterante

Análise da imagem Imagem 1: Fotografia de mão esquerda da paciente evidenciando baqueteamento digital (círculos vermelhos), alteração conhecida também como dedos hipocráticos ou baquetas de tambor, comum em pacientes com fibrose cística, devido à hipoxemia. Imagem 2: Radiografia do tórax em que se observa hiperinsuflação pulmonar visualização de 11 espaços intercostais (setas vermelhas), alargados, além de retificação das cúpulas diafragmáticas (traços amarelos). Estão também presentes opacidades reticulares (sombras azuis) ao redor de imagens císticas nos lobos superiores, compatíveis com espessamentos peribrônquicos e infiltrados bilaterais, com evidência de bronquiectasias. Nota-se ainda área cardíaca aumentada, devido à hiperinsuflação. Em fases mais tardias pode haver o aumento do índice cárdio-torácico, devido ao aparecimento de cor pulmonale.

Diagnóstico Em pacientes com fibrose cística, a exacerbação pulmonar pode se manifestar com tosse, aumento de expectoração, mudança da cor da secreção, redução do peso, hiporexia e febre. Podem ser auscultados sibilos, crepitações e roncos difusos. Na discinesia ciliar primária, o paciente apresenta história de infecções de repetição do trato respiratório, otite média, bronquite e rinossinusite devido à alteração genética no transporte mucociliar. A síndrome de Kartagener é a manifestação genética clássica da doença. A bronquiolite viral aguda (BVA) é uma infecção de etiologia viral, prevalente até os 2 anos de vida, manifestando-se predominantemente em lactentes com idade inferior a 6 meses. Há acometimento inicialmente de via aérea superior, progredindo para a via aérea inferior em poucos dias. O diagnóstico é clínico e a infecção é auto-limitada. Por se tratar de um quadro viral, a BVA pode recidivar. A bronquiolite obliterante é uma síndrome de obstrução crônica do fluxo aéreo associada à lesão inflamatória das pequenas vias aéreas. Em crianças, na maioria das vezes, é precedida por uma infecção de vias aéreas inferiores, principalmente por adenovírus, e cursa com febre, tosse, sibilos e taquipneia. Discussão do caso A fibrose cística (FC) é uma doença autossômica recessiva crônica e progressiva que acomete as glândulas exócrinas de múltiplos órgãos. A tríade de características clínicas consiste em infecções pulmonares de repetição, insuficiência pancreática e déficit de crescimento. Não há cura para a doença, mas medidas de suporte são necessárias para retardar a evolução do dano pulmonar. O teste padrão-ouro para diagnosticar pacientes com FC é o teste do suor. Níveis de cloro superiores a 60 milimoles por litro, em duas dosagens, associados a quadro clínico característico, indicam que a pessoa é portadora da doença. Após o diagnóstico, é iniciado o acompanhamento ambulatorial multidisciplinar com pneumologista, gastroenterologista, enfermeiro, nutricionista e fisioterapeuta. O acometimento pulmonar é o grande responsável pela morbidade. Assim, em toda consulta, é realizada a análise de cultura de via aérea com aspirado traqueal, swab de orofaringe ou escarro desses pacientes, visando a identificação de bactérias potencialmente patogênicas, como Pseudomonas aeruginosa (PA), Staphylococcus aureus sensível ou resistente à oxacilina (OSSA e ORSA, respectivamente), Haemophilus influenzae (HI) e complexo Burkholderia cepacia (BCC). A identificação e o tratamento precoces de infecções pulmonares são essenciais para retardar a evolução da doença para bronquiectasia e perda da função pulmonar. A lesão pulmonar inicial é caracterizada pela dilatação e hipertrofia das glândulas mucosas, seguidas do surgimento de metaplasia, presença de rolhas de muco nas vias aéreas periféricas, alterações ciliares secundárias e infiltrado linfocitário na submucosa. Há evolução para bronquiectasias, com ciclos repetidos de

obstrução e infecção. A insuficiência exócrina pancreática caracteriza-se por diarreia crônica, evacuações de fezes volumosas, brilhantes, gordurosas e fétidas. A esterilidade e a presença baqueteamento digital são outras manifestações clínicas da doença. A sobrevida vem aumentando ao longo dos anos. Com o diagnóstico precoce pela triagem neonatal, estima-se que a expectativa de vida, que era em média de 35 anos, possa chegar a 50 anos. Aspectos relevantes - A fibrose cística (FC) é uma doença autossômica recessiva grave que acomete as glândulas exócrinas de múltiplos órgãos (principalmente pulmões e pâncreas). - As manifestações clínicas mais comuns são tosse crônica persistente, diarreia crônica e desnutrição. - O diagnóstico é feito pela história clínica e teste do suor positivo. - Ainda não existe cura para a fibrose cística. - É importante, durante o acompanhamento ambulatorial, tomar medidas suportivas para retardar a progressão da doença. Referências - Bedran R. Avaliação da colonização pulmonar e do estado nutricional em crianças e adolescentes com fibrose cística, antes e após a triagem neonatal. Belo Horizonte. Dissertação (Mestrado em Pneumologia) Universidade Federal de Minas Gerais; 2012. - Reis JCF, Damaceno N. Fibrose cística. J. pediatr. 1998;74(1):76-94. - Katkin JP. Cystic fibrosis: Clinical manifestations and diagnosis. In: UpToDate, Basow, DS (Ed), UpToDate, Waltham, MA, 2014. [acesso em 18/02/2014]. Disponível em: http://www.uptodate.com/contents/cysticfibrosis-clinical-manifestations-and-diagnosis - Cystic Fibrosis Foundation Patient Registry. Annual data report, 2011. [Acesso em Outubro, 2013]. Disponível em: http://www.cff.org/uploadedfiles/research/clinicalresearch/2011-patient-registry.pdf - Martins M, Neves N, Estanqueiro P, Salgado M. Hipocratismo Digital: quando os dedos denunciam. Saúde Infantil 2009;31(1):18-22.

Responsável Victor Bilman, acadêmico do 11 o período de Medicina da FM-UFMG E-mail: vbilman[arroba]gmail.com Orientadora Dra. Renata Bedran, pneumologista pediátrica, preceptora da residência em Pneumologia Pediátrica do HC- UFMG, membro da equipe de Fibrose cística do HC-UFMG, coordenadora do Pronto Atendimento pediátrico do HC-UFMG E-mail: rebedran[arroba]yahoo.com.br Revisores Cinthia Barra, Hércules Riani, Júlio Guerra, Marina Leão, Renato Campanati, Thais Salles, Profa. Viviane Parisotto