IP/03/478 Bruxelas, 2 de Abril de 2003 A Comissão autoriza uma operação de concentração entre a Stream e a Telepiù mediante determinadas condições A Comissão Europeia autorizou o projecto de aquisição à Vivendi Universal da empresa de televisão por assinatura Telepiù pelo grupo de comunicação social australiano Newscorp. A Telepiú será fundida com a Stream, a outra empresa de televisão por assinatura presente em Itália, actualmente uma empresa comum 50/50 da Newscorp e da Telecom Italia. A Newscorp deterá o controlo da nova empresa. A Telecom Italia deterá uma participação minoritária que não ultrapassará 19,9%. A operação dará origem à criação de um quase monopólio no mercado italiano da televisão por assinatura. A Comissão considerou, contudo, que era mais benéfico, para o consumidor, autorizar a operação, sob reserva de condições apropriadas, do que assistir à perturbação do mercado causada pelo encerramento provável da Stream, o mais pequeno e mais fraco dos dois operadores existentes. Congratulo-me com o facto de a Comissão, após uma investigação aprofundada e intensas negociações com as partes, ter estabelecido as condições necessárias para que o mercado da televisão por assinatura em Itália continue aberto e registe um desenvolvimento concorrencial duradouro em benefício dos consumidores", declarou Mario Monti, Comissário responsável pela concorrência. Em 16 de Outubro de 2002, a Comissão recebeu uma notificação de um projecto segundo o qual a empresa australiana The News Corporation Limited (Newscorp) tencionava adquirir o controlo do conjunto das empresas italianas de televisão por assinatura Telepiù Spa e Stream Spa através de uma aquisição de acções. A Telepiù e a Stream fundiriam seguidamente as suas actividades no âmbito de uma plataforma comum de televisão por assinatura via satélite. A Telecom Italia, o operador histórico de telecomunicações italiano, deteria uma participação minoritária (de 19,9% no máximo) na nova plataforma comum. Com excepção do envolvimento da Telecom Italia, a operação representa o inverso de uma operação anterior (que não resultou), no âmbito da qual a Vivendi teria adquirido a Stream, fundindo as suas actividades com as da Telepiù. Esta operação foi examinada e autorizada mediante condições pela autoridade italiana da concorrência em 13 de Maio de 2002, tendo no entanto sido posteriormente abandonada pelo grupo Vivendi.
Contrariamente à anterior, a nova operação -- em que a Newscorp é agora o comprador -- preenche os critérios para ser apreciada ao abrigo do Regulamento das concentrações da União Europeia 1. A operação cria um quase monopólio no mercado da televisão por assinatura. Com uma quota que representa mais de dois terços do mercado italiano da televisão por assinatura, a Telepiù ocupa já uma posição dominante, que será reforçada pela fusão com a Stream. A Telepiú e a Stream (que entraram no mercado italiano respectivamente em 1991 e 1996) nunca foram rendíveis. Na realidade, os custos de programação, resultantes principalmente da aquisição de conteúdos de qualidade direitos de filmes e desporto foram sempre superiores às receitas. Além disso, a forte presença de 12 organismos de radiodifusão nacionais de televisão gratuita em Itália principalmente os canais públicos RAI e as empresas Mediaset bem como uma grande variedade de organismos de radiodifusão locais teve um impacto na taxa de penetração da televisão por assinatura e, por conseguinte, na sua rendibilidade. Na fase final da investigação, a Newscorp alegou estarem preenchidas neste caso as condições para a aplicação da denominada "teoria da empresa insolvente" e que a Stream sairia inevitavelmente do mercado se a concentração fosse bloqueada. A teoria da empresa insolvente é um conceito jurídico e económico aceite pelas autoridades da concorrência e que foi utilizado duas vezes pela Comissão 2. Segundo esta teoria, uma operação pode ser considerada uma concentração de emergência, se a estrutura competitiva do mercado se deteriorasse de uma forma semelhante, mesmo que a concentração não se realizasse (isto é, dado que a empresa sairia do mercado). A Comissão considerou que os requisitos legais muito rigorosos para aplicação da teoria da empresa insolvente não estavam preenchidos no caso presente. No entanto, tomou na devida consideração as dificuldades financeiras crónicas com que ambas as empresas se confrontavam, as características específicas do mercado italiano e a perturbação que o eventual encerramento da Stream causaria aos assinantes italianos de televisão por assinatura. Garantia de que o mercado permanece aberto Segundo a Comissão, o desafio consistia, por conseguinte, em impor condições suficientes e adequadas à plataforma de televisão por assinatura via satélite resultante da concentração, a fim de garantir que o mercado permanece aberto. As pressões competitivas virão futuramente da e.biscom (um operador por cabo com alguns recursos em termos de capacidade), dos futuros organismos de radiodifusão da Transmissão Terrestre Digital (DTT), dos canais de televisão via satélite e, eventualmente, de uma verdadeira plataforma alternativa via satélite. No entanto, para que estas pressões competitivas se possam materializar, devem ser criadas as condições adequadas. Mais significativamente, afigura-se indispensável que os filmes de êxito e os desafios de futebol estejam acessíveis no futuro, uma vez que são os conteúdos de qualidade que fomentam as adesões à televisão por assinatura. 1 2 A Comissão tem competência relativamente às fusões e aquisições em que participem empresas com um volume de negócios total a nível mundial superior a 5 mil milhões de euros e um volume de negócios a nível comunitário de no mínimo 250 milhões de euros cada uma. Quando a Vivendi era o potencial comprador, a Stream não atingia o limiar comunitário. Agora que a Newscorp é o comprador ambos os limiares são atingidos. Processos Kali+Salz/MDK/Treuhand e BASF/Eurodiol/Pantochim. 2
Para além disso, no que diz especificamente respeito à concorrência potencial de operadores via satélite, afiguram-se essenciais o acesso a uma plataforma via satélite e os serviços conexos. Na ausência de medidas de correcção, a Newscorp seria a "guardiã" do acesso à plataforma técnica via satélite. A plataforma técnica pode ser definida como o sistema que controla o acesso condicional e o fornecimento dos serviços técnicos conexos 3. A plataforma técnica decifra os sinais radiodifundidos pelo fornecedor do programa e transmite-os a assinantes através do descodificador. A Newscorp seria igualmente a "guardiã" da tecnologia do Sistema de Acesso Condicional (CAS) (o programa informático que permite que os descodificadores descodifiquem o sinal codificado), uma vez que a nova empresa adoptará provavelmente a tecnologia privativa da NDS, uma filial da Newscorp. Os novos candidatos ao mercado dependeriam assim da Newscorp para obter licenças. Para além disso, os potenciais concorrentes que não estivessem dispostos a utilizar a tecnologia CAS da Newscorp dependeriam da vontade da Newscorp de cooperar na elaboração de disposições de simulcrypt, ou seja, sistemas que permitem que o mesmo descodificador "leia" sinais codificados com tecnologias diferentes. A Comissão concordou que o pacote global de medidas de correcção, incluindo tanto os compromissos estruturais como os comportamentais, apresentado pela Newscorp cria as condições para uma concorrência efectiva, dando uma resposta adequada a todas estas preocupações específicas. As condições de autorização Acesso aos conteúdos Os compromissos em matéria de conteúdos garantirão que os filmes de grande êxito, os jogos de futebol e outros direitos desportivos estarão disponíveis e poderão ser disputados no mercado. A Newscorp suprimirá os direitos exclusivos em relação a tais conteúdos para a transmissão sem ser por via satélite. Os operadores por cabo, DTT e Internet poderão desta forma adquirir conteúdos directamente junto dos titulares de direitos (por exemplo, produtores de filmes, clubes de futebol e outros titulares de direitos desportivos). Além disso, os concorrentes "não satélite" poderão adquirir à Newscorp conteúdos de qualidade através de uma "oferta grossista" com base no denominado "princípio do preço a retalho reduzido". A oferta grossista funcionará numa base desagregada e não exclusiva. Por outro lado, o acesso aos conteúdos será facilitado também para potenciais concorrentes via satélite, permitindo que os titulares de direitos rescindam unilateralmente sem penalização os seus contratos em vigor com a plataforma comum e limitando a duração de futuros contratos (2 anos para os clubes de futebol e 3 anos para os produtores de filmes). 3 Os serviços técnicos que podem ser fornecidos pela Newscorp através da plataforma incluem a gestão do acesso condicional, o trânsito através dos descodificadores e a inclusão na lista de serviços previamente definida (sintonização automática), digitalização e codificação, ligação ascendente via satélite e, principalmente, acesso ao Guia de Programação Electrónica (EPG). 3
Ainda para facilitar a entrada de concorrentes que operam via satélite, a Newscorp comprometeu-se igualmente a não "bloquear" a exploração dos denominados direitos de difusão dos filmes "em segunda janela". Trata-se de direitos relativos à difusão posterior e mais barata (em comparação com os direitos "de primeira janela") de filmes de grande êxito na televisão por assinatura. Na ausência destas condições, a Newscorp teria podido decidir adquirir apenas direitos "de primeira janela", impedindo simultaneamente os potenciais concorrentes de adquirirem direitos "de segunda janela". Graças a este compromisso, os obstáculos à entrada foram ainda mais reduzidos e os consumidores podem decidir quando e a que preço vêem filmes na televisão por assinatura. Acesso à plataforma Graças a estas condições, os concorrentes efectivos ou potenciais terão a possibilidade de radiodifundir por satélite sem ter de criar a sua própria plataforma, o que representaria um obstáculo muito significativo à entrada no mercado. A Newscorp concederá aos concorrentes via satélite o acesso à sua própria plataforma e oferecerá todos os serviços conexos em condições equitativas e razoáveis. Além disso, a Newscorp concederá licenças para a sua tecnologia privativa CAS a todos os candidatos numa base equitativa e não discriminatória. Finalmente, a Newscorp será obrigada a concluir acordos de simulcrypt num prazo de nove meses a contar da data do pedido apresentado por concorrentes que pretendam adoptar uma tecnologia CAS diferente da que a Newscorp possui. Alienações A Newscorp comprometeu-se a alienar as actividades de radiodifusão terrestre digital e analógica da Telepiù e a não iniciar quaisquer outras actividades DTT, quer como rede, quer como operador retalhista, o que favorecerá efectivamente a concorrência potencial através deste meio de transmissão. As frequências terão de ser adquiridas por uma empresa disposta a incluir a difusão na televisão por assinatura de um ou mais canais no seu plano de actividades para a exploração das actividades alienadas após a passagem em Itália da radiodifusão televisiva terrestre de analógica para digital. Aplicação efectiva das condições A Newscorp propôs um procedimento de arbitragem para garantir a execução efectiva dos compromissos. Este sistema de arbitragem atribui um papel primordial à AGCOM (a Autoridade italiana de regulação das comunicações) nas questões da sua competência no âmbito da legislação italiana e para a supervisão do funcionamento da oferta grossista. Duração das condições Os compromissos estarão em vigor até 31.12.2011, salvo decisão em contrário da Comissão, mediante pedido da Newscorp, no sentido de encurtar a sua duração devido ao facto de as condições de concorrência terem deixado de justificar a sua manutenção. 4
A Comissão concluiu que estes compromissos diminuirão os obstáculos à entrada e criarão as condições para uma concorrência efectiva real e potencial, eliminando, por conseguinte, as sérias dúvidas suscitadas relativamente à criação ou reforço de uma posição dominante em resultado da qual uma concorrência efectiva seria significativamente impedida. A Comissão aceitou estes compromissos, tendo por conseguinte decidido não se opor à operação. A participação minoritária da Telecom Italia e a ligação com os mercados das telecomunicações Durante a investigação foram analisados alguns problemas em mercados de telecomunicações (principalmente o acesso à Internet de banda larga) resultantes da participação da Telecom Italia no capital social da nova entidade. Contudo, não foi possível recolher elementos suficientes que permitissem concluir que a concentração conduzirá ao reforço de uma posição dominante da Telecom Italia nestes mercados. 5