CENTRO DE JUAZEIRO: UMA ANÁLISE DAS CONSEQUÊNCIAS DO CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO

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Transcrição:

CENTRO DE JUAZEIRO: UMA ANÁLISE DAS CONSEQUÊNCIAS DO CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO Rogério Martins de Oliveira Graduando em Geografia/UPE geografia02@bol.com.br

CENTRO DE JUAZEIRO: UMA ANÁLISE DAS CONSEQUÊNCIAS DO CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO RESUMO O trabalho analisa as transformações que ocorreram no espaço urbano, mais especificamente no centro da cidade, após um rápido crescimento da população urbana, com base em dados oficiais do último Censo demográfico. A análise foi feita a partir da observação da distribuição de estabelecimentos e domicílios na malha urbana da cidade de Juazeiro, tendo como fonte principal, dados do censo de 2010. O crescimento da população associado ao fenômeno da urbanização faz com que as cidades cresçam e ao crescer se modifiquem. As principais modificações decorrentes desse processo manifestam-se no centro das cidades, que é o espaço mais dinâmico e responsável por atender as principais necessidades da população. A análise desse fenômeno, bem como de suas causas e consequências, é de suma importância para que se estabeleçam, na cidade estudada, políticas públicas e privadas adequadas ao potencial de crescimento que ela apresenta. Palavras-chave: Transformações, espaço urbano, crescimento demográfico, centro. ABSTRACT The study analyzes the changes that occurred in urban areas, specifically in the city center, after a rapid growth of urban population, based on official information from the last Census. The analysis was based on the observation of the distribution of establishments and households in area of the city of Juazeiro, having as main source, information from the 2010 census. The population growth associated with the phenomenon of urbanization makes a city grow and modify. The main changes resulting from this process are manifested in center from the cities, the area most vibrant and responsible for meeting the key needs of the population. The analysis of this phenomenon and of the its causes and consequences is of extremely importance to establish themselves, in the city studied, public and private policies appropriate to growth potential it he presents.

Key words: transformations, urban space, population growth, center. INTRODUÇÃO O espaço urbano das médias cidades é um local essencialmente dinâmico, sobretudo em sua área central, pois é ela a força motriz que embala o crescimento da mesma e se modifica simultaneamente para acompanhar tal crescimento. É na região central que está concentrada a maior parte das atividades de comércio e serviços oferecidos pelas cidades médias, e por essa razão esse espaço torna-se símbolo da movimentação de pessoas, mercadorias informações e capitais. Portanto é ele o que mais vai se transformar para atender às necessidades da população. O desenvolvimento desordenado que a cidade sofre sem um bom planejamento é o tema central que esse trabalho pretende analisar, fazendo um levantamento dos problemas estruturais que a cidade apresenta ao mesmo tempo em que analisa o desenvolvimento histórico de sua configuração atual e aponta os possíveis motivos de tal desordem. É também intenção desse trabalho apontar as tendências que Juazeiro, cidade média da Bahia, apresenta ao desenvolver-se, bem como sugestões de um melhor aproveitamento de seu espaço. Em Juazeiro, o crescimento da cidade, resultante do crescimento demográfico e da expansão do tecido urbano, tem ocasionado uma significativa modificação de sua estrutura, mais evidentemente na região central. Essa modificação é consequência de um crescimento mal planejado, onde as atividades que a cidade apresenta foram mal distribuídas, em especial a atividade comercial que nessa cidade ainda se encontra basicamente concentrada em sua região central, contrariando as tendências das cidades médias que ao crescer tornam-se cada vez mais policêntricas, formando centros financeiros, de lazer, residenciais, entre outros em diferentes bairros. Ao crescer é comum que uma cidade apresente, de forma bem distribuída, diferentes espaços autônomos, onde moradores não precisem se deslocar para ter acesso às diferentes funções que a cidade apresenta. Em Juazeiro, a concentração da atividade comercial no centro ocasionou a supervalorização desse espaço, fazendo com que ele

fosse disputado também para fins domiciliares, o que viabilizou o seu crescimento vertical. 1. NASCER, CRESCER E TRANSFORMAR-SE: O CICLO DE VIDA DE JUAZEIRO Próximo de onde hoje fica situado a orla fluvial começou Juazeiro. O porto fluvial foi de fundamental importância para o seu desenvolvimento, pois era uma das principais rotas de transação pelos sertões. O reconhecimento desse porto se deu também por intermédio da veiculação de informações, negócios e viajantes. É nesse contexto que começa a se desenvolver a cidade que hoje possui mais de 197 mil habitantes e uma economia ascendente. Entre os anos de 1878 e 1885 a cidade estruturava-se como um emergente centro comercial e urbano. No entanto, sua urbanização não se deu de forma adequada, tornando-a incapaz de atender o crescimento eminente da população. O que veio a ocasionar problemas em sua infraestrutura, principalmente no centro da cidade, tais como a má distribuição espacial das quadras e vias. O Crescimento desordenado e mal planejado fez com que as ruas do centro se desenvolvessem aleatoriamente, muitas ganhando um aspecto afunilado, causando o enfeiamento de bairros centrais, problemas que dizem respeito ao trafego de veículos na área mais dinâmica da cidade, entre outros oriundos do mau planejamento. A medida que uma cidade cresce, aumenta também o numero de estabelecimentos comerciais. Em Juazeiro, não diferente do comum, o centro da cidade vem se tornando cada vez mais comercial, como mostram as figuras 1 e 2:

Figura 1: Praça da misericórdia 1975 autor desconhecido. Figura 2: Praça da misericórdia em 2012 Rogério Martins. As imagens mostram as transformações que ocorreram na Praça da Misericórdia, no centro da cidade, antes meramente residencial e hoje uma das principais áreas comerciais da cidade. O centro vem dando espaço ao comércio e a estrutura dos imóveis ganha um novo aspecto. O que se percebe é que com o crescimento do perímetro urbano, vem se observando o crescimento simultâneo da área considerada central, ou seja, o centro cresce proporcionalmente ao crescimento do tecido urbano, da população e da economia. O centro torna-se então, cada vez mais comercial e também residencial. Foi constatado através de dados oficiais do ultimo censo demográfico um aumento significativo no

numero de endereços da região central. Dentre esses endereços, chama a atenção o aumento da quantidade de estabelecimentos e domicílios dessa área urbana. Mas como se dá esse crescimento? Assim como a maioria das cidades não planejadas Juazeiro foi uma cidade que se desenvolveu a partir do centro. Sendo esse o primeiro espaço a surgir, passa a se desenvolver então a região em seu entorno. Região que vai se caracterizar por se apresentar, em seu inicio, basicamente domiciliar. Ao expandir seu perímetro urbano, à medida que surgem novos bairros, essa região do entorno do centro, antes basicamente domiciliar, vai apresentando gradativamente um aumento no número de estabelecimentos, se tornando aos poucos também comercial, ou seja, o crescimento da população ocasiona automaticamente o crescimento proporcional do comércio. Mas pra onde crescer se o espaço em seu entorno está ocupado? A resposta está na transformação parcial do espaço, transformação esta que se dá através da utilização do mesmo espaço para fins comerciais e residenciais. 2. O CENTRO DE JUAZEIRO Juazeiro é uma cidade média localizada na região Norte da Bahia. Essa cidade, que está interligada a Petrolina, exerce determinada polarização e atração regional por concentrar uma grande variedade de atividades econômicas e prestação de serviços, por ser uma das principais representantes da agricultura irrigada a nível mundial e por ser um significativo polo educacional. Em uma cidade média, o espaço costuma se apresentar de forma fragmentada. Sua estrutura se parece com um quebra-cabeça em que as peças, embora façam parte de um todo, possuem cada uma sua própria forma e função. Ao crescer e se desenvolver as cidades se tornam cada vez mais fragmentadas e esses fragmentos, cada vez mais independentes. As cidades mais desenvolvidas costumam apresentar centros comerciais, financeiros, industriais, residenciais e de lazer. Porem é comum que funções diferentes coexistam num mesmo bairro. As cidades que apresentam essa característica são chamadas de policêntricas, onde bairros ou distritos mais importantes possuem seu próprio centro, vias principais que sediam o comércio e serviços e funcionam como viabilizador do fluxo de pessoas.

A segregação das cidades em espaços independentes está diretamente relacionada ao crescimento urbano, quanto maior e mais desenvolvida a cidade, mais esse espaço costuma ser fragmentado. O comércio de Juazeiro ainda encontra-se polarizado a um espaço específico, o centro, contrariando as tendências modernas, como afirma Vargas (1993, p. 195): Estudando a localização estratégica do comércio, como a urbanização crescera a taxas bastante e elevadas, e a cidade se expandiu horizontalmente, havia condições de o comércio se viabilizar em áreas não tão centrais. O aparecimento do automóvel e o aumento do poder aquisitivo, que permitiu a sua larga difusão, libertou a circulação urbana dos trilhos (bondes e trens de subúrbio), que condicionavam rigidamente a localização da população. Agora ela podia distribuir-se pela cidade que se dispersava em direção à periferia, forçando o aparecimento de centros menores espalhados por toda a cidade. Apesar de tímida, a descentralização comercial em Juazeiro começa a se mostrar promissora, temos como representante desse fato o projeto de construção do Jua Shopping, que visa à construção do mesmo numa área distante do centro da cidade. Área que já vem sendo valorizada graças aos recentes investimentos comerciais. Isso remonta a outra característica do comércio, a capacidade de valorizar o espaço. Sendo a região central a mais valorizada (pois é esta a área propícia para o desenvolvimento das atividades comerciais, devido ao fluxo de pessoas, informações, mercadorias e capitais, e também um bom lugar para se residir, quando considerado o critério da proximidade espacial), esse espaço passa a dividir diferentes funções, onde destacasse a função comercial e residencial. Essas duas funções vão dividir o mesmo espaço e essa divisão vai acontecer priorizando o comércio, colocando ele em uma localização estratégica, próximo às vias de maior fluxo de pessoas. O resultado é a verticalização do centro da cidade. Onde a estrutura física do centro da cidade passa a se compor basicamente de prédios, onde no térreo ficam localizados estrategicamente os estabelecimentos comerciais e acima dos estabelecimentos os domicílios como mostra a figura 3:

Figura 3: Verticalização do centro Rogério Martins. Os prédios na praça da misericórdia mostram como o centro vem crescendo verticalmente e como o espaço vem sendo dividido para atender as funções domiciliares e comerciais. O aproveitamento desse espaço é proporcional ao sua valorização. Apesar da disputa por espaços no centro, diferentemente da cidade vizinha, Petrolina, Juazeiro não apresenta prédios de grande porte em sua região central. Os poucos edifícios de grande porte estão concentrados em uma área mais afastada do centro e foram construídos exclusivamente para fins residenciais. No entanto, constatado o crescimento da cidade, e principalmente de sua população, a tendência é que pequenos prédios como os mostrados na imagem a cima deem espaço a grandes edifícios, seguindo o padrão das grandes cidades brasileiras que, por sua vez, seguem o padrão das metrópoles norte americanas. Essa se tendência se justifica no aumento populacional promovido principalmente pelo agronegócio e pelas instituições educacionais, que vem atraindo cada vez mais moradores de renda considerável ao centro e na própria descentralização comercial que começa ase mostrar, principalmente no Bairro Itaberaba.

Nas cidades médias, o aumento expressivo, no decorrer da década de 1980, da reprodução territorial ampliada da cidade por meio da produção imobiliária vertical em cidades não metropolitanas foi, em grande parte, embalados pelos signos da cidade grande expressos pelas edificações em altura. (SPOSITO, 2006 p. 180) Isto denota que o processo de verticalização nas cidades, representa não somente transformações de ordem infraestrutural, mas também no estilo de vida das pessoas. Portanto, é a verticalização a mais notória transformação espacial resultante do crescimento demográfico em Juazeiro e entender esse fenômeno implica em conhecer o dinamismo que a cidade apresenta a partir de seu desenvolvimento histórico. CONSIDERAÇÕES FINAIS É de suma importância para o pleno desenvolvimento de uma cidade que a sua estrutura seja compatível com as perspectivas de seu desenvolvimento, para isso deve ser analisado o seu potencial econômico e as tendências de crescimento da malha urbana, caso contrario essa encontrará problemas em seu desenvolvimento, sobre tudo nas áreas centrais, forçando uma transformação desse espaço, muitas vezes inadequada. O crescimento das cidades tem uma forte contribuição do crescimento demográfico. Portanto esse tem papel fundamental na transformação do espaço urbano. No que diz respeito às cidades médias e pequenas, essas transformações se manifestam de forma mais evidente no centro das cidades que costuma ser o espaço mais antigo e por se encontrar muitas vezes sufocado por bairros residenciais em seu entorno, cresce com dificuldades ocasionando muitas vezes a verticalização desse espaço. O ideal seria que em Juazeiro ocorresse, durante a expansão do seu perímetro urbano, uma distribuição equilibrada das atividades comerciais em diferentes bairros, tornando assim a cidade mais policêntrica, com bairros cada vez mais valorizados e independentes do centro. A valorização do espaço central se justifica em seu aspecto dinâmico, dessa forma ele é o local estratégico para o desenvolvimento das mais variadas funções inclusive a residencial, torna-se então esse espaço o mais policêntrico de toda a cidade. Temos então o centro invadindo o espaço das residências para atender às necessidades da

população que tende a crescer e os domicílios invadindo o espaço do comércio em busca da proximidade dos lugares necessários à população. Como o espaço do centro torna-se mais valorizado, esse fenômeno causa outra consequência, a segregação espacial, onde as diferentes classes sociais se tornam mais afastadas na medida em que a cidade cresce. Os novos bairros ficam cada vez mais distantes do centro e o centro se torna cada vez mais restrito à população economicamente abastada. Em Juazeiro, com exceção dos condomínios fechados, é no centro que reside boa parte da população de maior poder aquisitivo. As desigualdades sociais se fazem presentes na paisagem urbana e se intensificam como consequência do crescimento demográfico. Quanto mais acentuadas as diferenças entre as classes sociais, maiores as desigualdades de moradia e da qualidade de vida em geral. Quando morar no centro passa a ser um indicador de rentabilidade financeira satisfatória, a busca por status social faz com que esse espaço seja cada vez mais almejado para se residir, criando uma espécie de homogeneização estrutural, onde as residências tornam-se o reflexo do poder aquisitivo de seu proprietário e deixam em evidencia a segregação espacial. Sendo o centro o espaço de maior movimentação de capital, pessoas e mercadorias, esse espaço passa a atrair boa parte dos investimentos públicos e privados. Dessa forma o desenvolvimento desorganizado da cidade e a polarizaçãoização do comércio tornam-se crucialmente prejudiciais à população que reside distante do centro, composta na maioria das vezes de pessoas menos abastadas economicamente, como diz Lefebvre (1972, p. 12): É nas grandes cidades que a indústria e o comércio conseguem mais perfeito desenvolvimento e é por consequência nelas que mais nítida e manifestamente vêm de cima as consequências que acarretam para o proletariado. É nelas que a concentração dos bens atinge o máximo, que é mais radical a destruição dos costumes e das condições de vida dos bons velhos tempos. Conclui-se então que a análise das transformações espaciais das médias cidades é de fundamental importância para o estabelecimento de políticas públicas e privadas

eficazes, favoráveis ao desenvolvimento pleno dessas cidades, pois o crescimento urbano deve acontecer de forma que garanta o melhor aproveitamento dos espaços e o bem estar de toda a população. Os bairros periféricos de Juazeiro apresentam graves problemas de infraestrutura a população de baixa renda vive cada vez mais distante daquilo considerado adequado.

REFERÊNCIAS Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico, 2010. Disponível em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br/cnefe/>. Acesso em: 11 jun. 2012. LEFEBVRE, Henri. O Pensamento Marxista e a Cidade. Lisboa: Ed. Ulisséia, 1972. SPOSITO, E. S; SPOSITO, M. E. B; SOBARZO, O. Cidades Médias: Produção do Espaço Urbano e Regional. In; SPOSITO, M. E. B; Loteamentos Fechados em Cidades Médias Paulistas- Brasil. São Paulo: Ed. Expressão Popular, 2006. p. 180. VARGAS, Heliana C. Comércio: Localização Estratégica ou Estratégia na Localização?. Tese de Doutorado. FAU-USP, São Paulo, 1993.