CARACTERIZAÇÃO DOS REGIMES DE ESCOAMENTO NO INTERIOR DE UM TAMBOR ROTATÓRIO POR MEIO DE EXPERIMENTOS E TÉCNICAS DE CFD



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Transcrição:

XXV Encontro Nacional de Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa & VIII Meeting of the Southern Hemisphere on Mineral Technology, Goiânia - GO, 20 a 24 de Outubro 2013 CARACTERIZAÇÃO DOS REGIMES DE ESCOAMENTO NO INTERIOR DE UM TAMBOR ROTATÓRIO POR MEIO DE EXPERIMENTOS E TÉCNICAS DE CFD SANTOS, D.A. 1, PETRI, I.J. 1, DADALTO, F.O. 1, SCATENA, R. 1, DUARTE, C.R. 1, BARROZO, M.A.S. 1 1 Universidade Federal de Uberlândia. dyrneq@yahoo.com.br RESUMO O estudo de tambores rotatórios vem se mostrando uma importante área de investigação devido às suas aplicações em diversos setores de engenharia, destacando-se aqui operações da indústria mineral, como a secagem e granulação. Os problemas encontrados no processamento de materiais dentro deste tipo de equipamento tem sido objeto de vários estudos que visam obter um maior nível de detalhamento da dinâmica do movimento das partículas, possibilitando, desta forma, a otimização do mesmo. Paralelo aos trabalhos experimentais, vários modelos foram desenvolvidos com o objetivo de compreender a fluidodinâmica de sistemas gás-sólido. No presente trabalho, foram realizados estudos de simulação e experimentais, do comportamento dinâmico das partículas no interior de um tambor rotatório submetido a diferentes condições de operação. Verificou-se que o comportamento das partículas em um tambor rotatório é fortemente dependente das propriedades do material particulado e das condições de operação. Foi possível, em todas as condições estabelecidas experimentalmente prever, por meio de simulações utilizando-se do modelo Euleriano granular multifásico, os diferentes regimes de escoamento presentes no interior deste equipamento. Desta forma, a técnica de simulação numérica se mostrou de grande importância para o entendimento da dinâmica de partículas em um tambor rotatório. PALAVRAS-CHAVE: escoamento multifásico; CFD; tambor rotatório. ABSTRACT Rotating drums can be used in many processes across different areas, such as fertilizers and powder metallurgy industries. Despite this widespread use of rotating drums in industrial process, the mechanisms of solids movement in this equipment are still not completely understood. So, a more detailed study about the influent factors on particle dynamic in a rotating drum should be made. Nowadays, with the great development of the computational area, as regards the improvement of data processing and storage, different simulation techniques arise in order to obtain detailed information about flow phenomena. In this work the particle dynamic behavior under different operating conditions and physical properties of particles in a rotating drum have been analyzed based on experimental results and simulation using the Euler-Euler approach. It has been found that the particle behavior in a rotating drum is strongly dependent on material properties and operating conditions. It was possible, for all conditions established experimentally, to predict through simulations the particle dynamic behavior in a rotating drum. So, the numerical simulation has contributed significant insights towards understanding of the particle dynamics in a rotating drum. KEYWORDS: multiphase flow; CFD; rotating drum. 55

SANTOS, D.A., PETRI, I.J., DADALTO, F.O., SCATENA, R., DUARTE, C.R., BARROZO, M.A.S. 1. INTRODUÇÃO Tambores rotatórios parcialmente preenchidos com material particulado são amplamente utilizados em vários setores industriais, destacando-se aqui operações da indústria mineral, como secagem, mistura, moagem, calcinação e granulação. O entendimento dos fenômenos presentes nos movimentos das partículas no interior do tambor é essencial tanto para o melhoramento dos processos, no que diz respeito ao aumento das taxas de transferência de calor, massa e quantidade de movimento, quanto para a fundamentação teórica de pesquisas de escoamentos granulares (LIU et al., 2013; LEE et al., 2012; LIU et al., 2005). Apesar dos empenhos no desenvolvimento de novas e mais especializadas tecnologias, tais como leitos fluidizados, os tambores rotatórios continuam sendo amplamente aplicados. Isto é principalmente devido à sua capacidade de lidar com vários tipos de matérias-primas, como por exemplo, lamas e materiais granulares com larga faixa de distribuição de tamanhos e diferenças significativas nas suas propriedades físicas (DING et al., 2001). No que diz respeito ao movimento das partículas no interior de um tambor rotatório, seis principais tipos diferentes de regimes podem ser observados: escorregamento, rolamento, cascateamento, catarateamento e centrifuga (MELLMANN, 2001). O regime de escorregamento é usualmente indesejado no qual o material escorrega sobre a superfície do tambor, permanecendo praticamente em repouso. No regime de centrifuga, o material permanece fixado sobre a parede do tambor sendo carreado pelo mesmo, o que ocorre quando a força centrifuga na parede, devido à rotação do tambor, excede a força gravitacional. Já os regimes de rolamento, cascateamento e catarateamento são regimes caracterizados pelo não deslizamento (no-slip) do material e são largamente empregados nas operações industriais (SANTOMASO et al., 2003). Paralelo aos trabalhos experimentais, vários modelos tem sido desenvolvidos com o objetivo de compreender os fluxos granulares presentes em tambores rotatórios. De um modo geral, a depender do tipo de tratamento empregado para a fase discreta (particulada), duas diferentes abordagens multifásicas podem ser adotadas: abordagem Euleriana e abordagem Lagrangeana. A abordagem Lagrangeana (LIU et al., 2013; MARIGO et al., 2012; WATANABE, 1999) fornece uma informação rigorosa das trajetórias de partículas sólidas visto que o balanço de forças é aplicado a cada partícula individualmente. Esta abordagem é restrita a equipamentos de pequenas dimensões (número reduzido de partículas) em virtude do alto custo de processamento e armazenamento de dados requeridos. Por outro lado, a abordagem Euleriana (DEMACH et al., 2012; HUANG et al., 2013; HE et al., 2007) trata ambas as fases como fluidas e interpenetrantes, introduzindo, desta forma, o conceito de fração volumétrica. Este tipo de abordagem requer menos tempo computacional e são preferidas para modelagem de fluxos granulares em grandes escalas. A fim de se investigar os diferentes tipos de regimes de escoamento presentes no interior de um tambor rotatório submetido a diferentes condições operacionais, foram realizados estudos experimentais e de simulação utilizando a abordagem multifásica Euleriana. Para o cálculo da distribuição de tensões na fase granular, diferentes modelos para a viscosidade granular, tanto utilizando a teoria cinética do escoamento granular quanto a teoria friccional, foram testados. 56

XXV Encontro Nacional de Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa & VIII Meeting of the Southern Hemisphere on Mineral Technology, Goiânia - GO, 20 a 24 de Outubro 2013 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1. Metodologia experimental O tambor utilizado no presente trabalho foi confeccionado em acrílico contendo paredes laterais de vidro para uma melhor visualização dos fenômenos. O interior do tambor foi revestido com uma película contendo uma determinada rugosidade no intuito de se evitar um escorregamento do material quando da sua operação. O diâmetro interno do tambor e o seu comprimento foram de 19,5 cm e 50 cm, respectivamente. Foram utilizadas esferas de vidro de 1,09 mm e 3,68 mm de diâmetro com densidade de 2460 kg/m 3. O limite máximo de empacotamento (concentração de sólidos inicial) para ambos os diâmetros foi de 63% (porcentagem em volume). Como condições iniciais de preenchimento do tambor com material particulado, foram utilizados 31,40% e 18,81 % (porcentagem em volume). As velocidades de rotação do tambor foram de 1,45, 4,08, 8,91 e 16,40 rad/s. 2.2. Metodologia numérica O modelo multifásico utilizado neste trabalho foi o Euleriano Granular Multifásico juntamente com a teoria cinética do escoamento granular, descrito com detalhes por Santos et al. (2012). A viscosidade granular é composta de três parcelas: cinética, colisional e friccional. Para a parcela friccional, utilizou-se o modelo de Schaeffer (Equação 1): Fr PFrsen 2 I 2D (1) Sendo µfr, I2D, PFr e β a viscosidade friccional, o segundo invariante do tensor tensão, pressão friccional e o ângulo de atrito interno, respectivamente (Santos et al., 2012). Quando se utiliza o modelo friccional é necessário especificar o valor da fração volumétrica de sólidos para a qual os efeitos friccionais tornam-se relevantes (limite friccional). Neste trabalho foram utilizados os valores de limites friccionais de 61% e 50% (porcentagem em volume). Visto que o ângulo de atrito interno é aproximadamente o ângulo de repouso estático, o mesmo foi determinado experimentalmente pelo levantamento de um plano inclinado contendo partículas anexadas (grudadas) sobre ele e contendo algumas partículas livres sobre as partículas grudadas. Este plano foi levantado, sob uma determinada inclinação, até as partículas livres começarem a rolar sobre as partículas grudadas. Este ângulo em questão é dito ângulo de atrito interno (HUANG et al., 2013). Para as esferas de vidro de 1,09 mm e 3,68 mm utilizadas neste trabalho, os valores dos ângulos de atrito interno medidos foram de 28,8º e 32º, respectivamente. Já para a parcela cinética-colisional, dois modelos foram utilizados: modelo de Gidaspow e modelo de Syamlal-O brien (HUANG et al., 2013). No presente trabalho foram realizadas simulações que consideraram apenas os efeitos cinético-colisional, ou seja, sem levar em conta os efeitos friccionais, e aquelas que consideraram tanto os efeitos cinético-colisional quanto os efeitos friccionais. As configurações das simulações realizadas neste trabalho se encontram na Tabela I a seguir. 57

SANTOS, D.A., PETRI, I.J., DADALTO, F.O., SCATENA, R., DUARTE, C.R., BARROZO, M.A.S. Tabela I. Configurações dos modelos de viscosidade granular utilizadas nas simulações. Configurações Modelo Modelo Limite friccional cinético-colisional friccional (% em volume) S1 Syamlal-O brien ------ ------ S2 Gidaspow ------ ------ S3 Syamlal-O brien Schaeffer 50 S4 Syamlal-O brien Schaeffer 61 As seguintes condições foram adotadas nas simulações computacionais: malha computacional contendo 300.000 células; simulações tridimensionais (3D); condição de contorno de não deslizamento (no-slip) na parede do tambor; algoritmo de acoplamento pressão-velocidade SIMPLE; esquema de interpolação espacial Up-wind de primeira ordem; tempo total de simulação de 50 s para cada condição; passo no tempo (time step) de 1x10-3 ; critério de convergência de 1x10-3. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO As Figuras 1e 2, a seguir, mostram os perfis de fração volumétrica de sólidos presentes em um tambor rotatório contendo diferentes porcentagens de preenchimento de esferas de vidro de 3,68 mm de diâmetro e submetidos a diferentes velocidades de rotação, tanto experimentais quanto simulados com diferentes modelos de viscosidade granular. (a) (b) (c) (d) (e) Figura 1. Fração volumétrica de sólidos para partículas de 3,68 mm de diâmetro e porcentagem de preenchimento de 31,40% sendo a velocidade de rotação do tambor de 1,45, 4,08, 8,91 e 16,4 rad/s no sentido de cima para baixo, respectivamente: (a) experimental; (b) S1; (c) S2; (d) S3; (e) S4. 58

XXV Encontro Nacional de Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa & VIII Meeting of the Southern Hemisphere on Mineral Technology, Goiânia - GO, 20 a 24 de Outubro 2013 (a) (b) (c) (d) (e) Figura 2. Fração volumétrica de sólidos para partículas de 3,68 mm de diâmetro e porcentagem de preenchimento de 18,81% sendo a velocidade de rotação do tambor de 1,45, 4,08, 8,91 e 16,4 rad/s no sentido de cima para baixo, respectivamente: (a) experimental; (b) S1; (c) S2; (d) S3; (e) S4. De forma semelhante, as Figuras 3 e 4 apresentam as mesmas condições, porém, para esferas de vidro de 1,09 mm de diâmetro. Observa-se, a partir dos perfis experimentais que, a baixas velocidades de rotação do tambor, 1,45 rad/s, o regime preponderante é o dito regime de rolamento. Este tipo de regime é caracterizado por um fluxo uniforme de partículas sendo que o leito de partículas permanece em uma determinada inclinação constante, possuindo, desta forma, uma superfície aproximadamente plana. Com aumento da velocidade de rotação, 4,08 rad/s, a superfície do leito deixa de ser plana e começa apresentar um certo grau de curvatura. Isto caracteriza o processo de transição para o regime de cascateamento. A curvatura da superfície do leito torna-se mais intensa apresentando um formato do tipo feijão ou rim. Aumentando-se, ainda mais, a velocidade de rotação do tambor, 8,91 rad/s, o regime de cascateamento torna-se tão pronunciado que partículas individuais escapam do leito de partículas e são lançadas para a região vazia do tambor. Este processo caracteriza a transição para o regime de catarateamento. 59

SANTOS, D.A., PETRI, I.J., DADALTO, F.O., SCATENA, R., DUARTE, C.R., BARROZO, M.A.S. No caso de novos aumentos da velocidade de rotação, 16,4 rad/s, as partículas com trajetórias próximas ao raio do tambor começam a aderir à parede do mesmo e, no caso extremo do movimento de catarateamento, ocorre o regime de centrifugação. Teoricamente, o regime de centrifugação atinge a sua fase final, quando todo o material sólido está em contato com a parede do tambor, como uma película uniforme. (a) (b) (c) (d) (e) Figura 3. Fração volumétrica de sólidos para partículas de 1,09 mm de diâmetro e porcentagem de preenchimento de 31,40% sendo a velocidade de rotação do tambor de 1,45, 4,08, 8,91 e 16,4 rad/s no sentido de cima para baixo, respectivamente: (a) experimental; (b) S1; (c) S2; (d) S3; (e) S4. No que diz respeito às simulações, observou-se que, tanto para os níveis de preenchimento de 31,40% e 18,81% quanto para os diferentes diâmetros de partículas, o modelo que melhor representou o regime de rolamento experimental foi o modelo S2, ou seja, considerando somente os efeitos cinéticos e utilizando o modelo de Gidaspow para a viscosidade granular. Para os demais modelos, os perfis apresentaram uma certa curvatura na superfície de partículas na condição regime de rolamento experimental. No caso dos modelos considerando os efeitos friccionais, S3 e S4, observou-se que, quanto menor a fração volumétrica de sólidos necessária para a qual os efeitos tornam-se importantes (menor limite friccional), maior a coesão entre as partículas e, consequentemente, maior será a deflexão na superfície de sólidos. Em relação aos demais regimes de escoamento, todos os modelos simulados conseguiram prever, de forma satisfatória, as principais características observadas experimentalmente, exceto para a 60

XXV Encontro Nacional de Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa & VIII Meeting of the Southern Hemisphere on Mineral Technology, Goiânia - GO, 20 a 24 de Outubro 2013 condição de porcentagem de preenchimento de 18,81% e velocidade de rotação de 16,4 rad/s, tanto para esferas de 1,09 mm quanto para esferas de 3,68 mm de diâmetro, mostrados nas Figuras 2 e 4. (a) (b) (c) (d) (e) Figura 4. Fração volumétrica de sólidos para partículas de 1,09 mm de diâmetro e porcentagem de preenchimento de 18,81% sendo a velocidade de rotação do tambor de 1,45, 4,08, 8,91 e 16,4 rad/s no sentido de cima para baixo, respectivamente: (a) experimental; (b) S1; (c) S2; (d) S3; (e) S4. Nestas condições, o regime observado experimentalmente é o regime de catarateamento e não o de centrífuga, como previsto através dos modelos simulados. Isto pode ser devido ao fato de que, a combinação de baixos níveis de preenchimento de partículas e altas velocidades de rotação, no caso experimental, pode levar a um certo escorregamento das partículas sobre a parede do tambor, impedindo, desta forma, a transição ao regime de centrifugação. No caso dos modelos simulados, a condição de contorno de não deslizamento (no-slip) foi imposta o que impede tal modelagem de prever o escorregamento das partículas sobre a parede do tambor. Logo, outras condições de contorno na parede do tambor, que não somente a de não deslizamento, devem ser investigadas. 4. CONCLUSÕES Verificou-se que o comportamento das partículas em um tambor rotatório é fortemente dependente das condições de operação. Foi possível, em todas as condições estabelecidas experimentalmente prever, por meio de simulações utilizando-se o modelo Euleriano granular multifásico, os diferentes regimes de escoamento presentes no interior deste equipamento. O modelo cinético se mostrou de grande importância, também, no tratamento de escoamentos densos. Outras condições de contorno na parede do tambor, que não somente a de não deslizamento, devem ser investigadas a fim de se prever o escorregamento de partículas que ocorre em determinadas condições experimentais. Desta 61

62 SANTOS, D.A., PETRI, I.J., DADALTO, F.O., SCATENA, R., DUARTE, C.R., BARROZO, M.A.S. forma, a técnica de simulação numérica se mostrou de grande importância para o entendimento da dinâmica de partículas em um tambor rotatório. 5. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem o apoio financeiro concedido pela FAPEMIG (projeto de participação coletiva em evento científico ou tecnológico PCE-00019-13) e CAPES. 6. REFERÊNCIAS DEMAGH, Y., MOUSSA, H. B., LACHI, M., NOUI, S., BORDJA, L. Surface particle motions in rotating cylinders: Validation and similarity for an industrial scale kiln, Powder Technology, v. 224, p. 260-272, 2012. DING, Y. L., SEVILLE, J. P. K., FORSTER, R., PARKER, D. J. Solids motion in rolling mode rotating drums operated at low to medium rotational speeds, Chemical Engineering Science, v. 56, p. 1769-1780, 2001. HE, Y. R., CHEN, H. S., DING, Y. L., LICKISS, B. Solids motion and segregation of binary mixtures in a rotating drum mixer, Chemical Engineering Research and Design, v. 85, p. 963-973, 2007. HUANG, A.-N., KAO, W.-C., KUO, H.-P. Numerical studies of particle segregation in a rotating drum based on Eulerian continuum approach, Advanced Powder Technology, v. 24, p. 364-372, 2013. LEE, C.-F., CHOU, H.-T., CAPART, H. Granular segregation in narrow rotational drums with different wall roughness: Symmetrical and asymmetrical patterns, Powder Technology, v. 233, p. 103-115, 2012. LIU, P. Y., YANG, R. Y., YU, A. B. DEM study of the transverse mixing of wet particles in rotating drums, Chemical Engineering Science, v. 86, p. 99-107, 2013. LIU, X. Y., SPECHT, E., MELLMANN, J. Experimental study of the lower and upper angles of repose of granular materials in rotating drums, Powder Technology, v. 154, p. 125-131, 2005. MARIGO M., CAIRNS, D.L., DAVIES, M., INGRAM, A., STITT, E.H. A numerical comparison of mixing efficiencies of solids in a cylindrical vessel subject to a range of motions, Powder Technology, v. 217, p. 540-547, 2012. MELLMANN, J. The transverse motion of solids in rotating cylinders forms of motion and transition behavior, Powder Technology, v. 118, p. 251-270, 2001. SANTOMASO, A. C., DING, Y. L., LICKISS, J. R., YORK, D. W. Investigation of the granular behaviour in a rotating drum operated over a wide range of rotational speed, Institution of Chemical Engineers, v. 81, p. 936-945, 2003. SANTOS, D. A., ALVES, G. C., DUARTE, C. R., BARROZO, M. A. S. Disturbances in the Hydrodynamic Behavior of a Spouted Bed Caused by an Optical Fiber Probe: Experimental and CFD Study, Ind. Eng. Chem. Res., v. 51, p. 3801-3810, 2012. WATANABE, H. Critical rotation speed for ball-milling, Powder Technology, v. 104, p. 95-99, 1999.