XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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Transcrição:

AS PRÁTICAS CURRICULARES NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A PEDAGOGIA DECOLONIAL: UMA RODA DE CONVERSA COM OS PROFESSORES DA PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Bianca Viana Santos Souza Grupo de Estudos e Pesquisas em Avaliação e Currículo GEPAC/UNIRIO Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro PCRJ Introdução Esse trabalho é uma parte do campo empírico da pesquisa que foi realizada na minha dissertação de mestrado, que procurou identificar a possibilidade de contribuição das orientações curriculares, da disciplina Educação Física, elaboradas pela Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, para as práticas pedagógicas, dentro de uma proposta de Educação Decolonial. Como professora de Educação Física, lecionando nas escolas públicas do município do Rio de Janeiro, observo, cotidianamente no contexto escolar, atitudes e outras formas de linguagens dos alunos que são, na maioria das vezes, incompreendidas por muitos educadores, no entanto, as diferentes identidades que convivem no mesmo espaço escolar, não podem ser desconsideradas. A colonialidade aparece nos processos educacionais, negando as identidades culturais que não são valorizadas por uma elite que domina nossa sociedade, mascarando preconceitos, camuflando o verdadeiro significado do processo ensinoaprendizagem nas instituições escolares que insistem em tornar os indivíduos, envolvidos nos processos educativos, falsamente iguais e crédulos de que possuem as mesmas chances de sucesso na sociedade. Lidando com indivíduos que possuem identidades e histórias diferentes, impregnados de culturas diversificadas, os conflitos e tensões, que aparecem nesse espaço, são frequentes e não são aproveitados como poderiam ser para que houvesse uma aprendizagem significativa para esses educandos. Ao contrário, muitas vezes, são velados, desvalorizando cada vez mais as diferentes culturas, em um esforço de enquadrá-los em um modelo único que perpetua a condição de subalternizados e pouco acrescenta ao ensino-aprendizagem dos indivíduos. Apoiada, portanto, na ideia que a decolonialidade é viabilizar as lutas contra a colonialidade, a partir das pessoas, das suas práticas sociais, epistêmicas e políticas (OLIVEIRA; CANDAU, 2010, p.24), buscou-sefundamentação nos estudos dos autores citados, sobre pedagogia decolonial e educação antiracista e intercultural no Brasil, um aliado às ideias sobre educação física e cultura, que permitissem refletir as questões 12367

2 curriculares da educação física e as tensões que estão cada vez mais presentesno cotidiano escolar, ao mesmo tempo contrária a ideia de visão de homem apenas de forma anato-fisiológica e das vertentes mais tecnicistas, esportivistas e biologicistas (DARIDO, 1999, p.17) que até hoje perduram na maioria das práticas pedagógicas da educação física nas escolas. Com o objetivo de analisar por meio de uma perspectiva de educação decolonial, as orientações curriculares da disciplina Educação Física, elaboradaspela Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, a fim de identificar propostas de ensino-aprendizagem que possam contribuir para o afastamento da Educação Física Escolar de práticas exclusivamente esportivizantes, era relevante o diálogo com os professoresde educação física dessa rede,sobre suas práticas curriculares emuma escola pública da Cidade do Rio de Janeiro e suas opiniões acerca da possibilidade de aproximação com uma educação decolonial. Procedimentos Metodológicos Considerando a roda de conversa como um possível instrumento de produção de dados da pesquisa, em que compreende uma forma de produzir dados em que o pesquisador se insere como sujeito da pesquisa pela participação na conversa e, ao mesmo tempo, produz dados para discussão ((MOURA; LIMA, 2014, p.98-99), utilizou-se dessa ferramentapara identificar as práticas curriculares com as quais os professores trabalhavam, a fim de refletir sobre as possibilidades de práticas pedagógicas, orientadas pelas Orientações Curriculares, com novos olhares que poderiam contribuir com abordagens decoloniais no campo da educação física. Desse modo, para compreender as práticas curriculares na educação física, especialmente suas potencialidades interculturais, foi proposto um diálogo, por meio de uma roda de conversa, com os professores de Educação Física que lecionam na rede pública da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, lotados em uma escola do município do Rio de Janeiro, localizada na zona oeste da cidade, no qual também atuo como professora de Educação Física. Todos eles ministram aulas para crianças matriculadas na educação infantil, ensino fundamental I, que correspondem a turmas que são do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental e o ensino fundamental II, compreendendo as turmas do sexto ao nono ano. A referida escola atende, aproximadamente, 1500 alunos, com turmas nos turnos da manhã, da tarde e da noite ea roda de conversafoi feita com 4 professores que 12368

3 atuaram em 35 turmas com aulas de educação física no ano letivo de 2014, da Educação Infantil até ao Ensino Fundamental II, no horário diurno, não cabendo o noturno, pois não há a oferta da disciplina educação física para os estudantesdesse turno. Desejando que os professores falassem sobre perspectivas curriculares decoloniais e entendendo a complexidade do termo, foram apresentados os conceitos sobre Decolonialidade e Interculturalidade crítica,de acordo com o trabalho de Oliveira e Candau (2010), na intenção de trazer dados para que a discussão fosse realizada, apoiada na ideia de entrevista projetiva, apresentada por Minayo (2008) que constitui um convite ao entrevistado para discorrer sobre o que vê ou lê. É geralmente utilizada para se falar de assuntos difíceis de serem tratados diretamente. (p. 262) Portanto, a roda de conversa com os professores da escola referida foi realizada, a partir da apresentação de um conceito sobre a interculturalidade crítica e decolonialidadee deum roteiro de perguntas,baseadas na ideia de entrevista aberta ou em profundidade em que o informante é convidado a falar livremente sobre um tema e as perguntas do investigador, quando são feitas, buscam dar mais profundidade às reflexões. (MINAYO, 2008, p.262) Dessa forma, questioná-los e promover discussões em torno dos conhecimentos em relação às orientações curriculares que são propostas hoje, para a Educação Física nas escolas do município do Rio de Janeiro, seus olhares em relação à proposta e suas práticas curriculares para uma perspectiva decolonial, foi o tema para que a roda de conversa fosse realizada. Discussão e Resultados Os professores provocados pelos termos apresentados demonstraram muito interesse em contribuir com suas impressões e opiniões sobre o tema,apesar da complexidade dos conceitos apresentados, como constatado na fala inicial dos professores participantes da roda de conversa, tais como: Bom, são dois temas complicados, interculturalidade crítica, decolonialidade..., seguido da fala de outro professor:...acho o termo bem complexo... talvez precise de um esclarecimento maior, em que linha realmente vamos seguir para o aprofundamento nesse tema?dessa forma, tornousenecessário recolocar o objetivo de refletir sobre as Orientações Curriculares da Prefeitura do Rio de Janeiro e as práticas pedagógicas realizadas nas aulas de educação física, a partir da ideia de decolonialidade, entendida pelos professores que ali estavam. 12369

4 Nesse caminho, com ajuda dos conceitos apresentados, entendeu-se que a Decolonialidade seria a desconstrução da colonialidade, do sentimento de colonialidade que nos condiciona a uma condição de subalternidade e dessa forma a decolonialidade seria um movimento de resistência contra esse sentimento. Nesse sentido que a discussão sobre a importância de trabalhar com outras culturas para desmistificar conceitos que trazemos enraizados conosco, foi trazido à conversa. Seguindo a ideia de reflexão sobre as possibilidades de uma educação decolonial nas práticas curriculares dos professores, foi apresentada, nas falas,a importância de valorizar a cultura dos estudantes, contribuindo para que o processo de ensinoaprendizagem tivesse sentido para eles, pois a discussão foi se complementando com a seguinte fala:...eu acho que é imprescindível que qualquer processo de aprendizagem parta daquilo que o aluno traz consigo, para eu poder, desdobrando e alinhavando ou podia estar acrescentando, ampliando, mas se eu não buscar a partir do que ele tem, vai sempre ter gap, sempre ter um abismo...(professora A) Essa fala teve eco na roda de conversa com a professora C, ao dizer que: o que você tá trazendo tem que ter um significado, se não tiver esse significado, não vai ter o porquê dele fazer, não vai ter o porquê dele aprender e a professora B: E tirar também aquela coisa que eu, por muitas vezes, enquanto estudante, sempre me questionei muito...pra quê eu estou aprendendo isso? Pra quê eu quero saber isso? E o sinal de aprovação do professor D. Uma questão foi unânime entre os professores: para a aprendizagem ser significativa, tem que partir daquilo que o indivíduo traz com ele. Também é a preocupação de muitos professores-pesquisadores da área que procuram refletir sobre práticas pedagógicas que possam ser significativas e que possam alcançar todos aqueles que estão inseridos no processo de ensino e aprendizagem. Para isso defendem que deve haver maior proximidade do professor na construção curricular e no projeto político pedagógico da escola e a inserção da cultura corporal do movimento nas práticas educativas dos alunos. Considerações Finais Os professores acreditam que levar em consideração a cultura dos alunos é fundamental para que os conteúdos de ensino possam ser compreendidos e aceitos por eles. Nessa perspectiva, os professores enxergaram uma possibilidade do trabalho voltado para a ideia da decolonialidade, tal como a fala de um dos professores: em 12370

5 relação a essa coisa da descolonização, decolonialidade, eu acho que a nossa disciplina trabalha demais isso, que a gente procura o tempo todo tá passando algo não só dos conhecimentos técnicos que a gente tem, mas as questões também do lado social, com o planejamento, o mundo com a escola, com o que o mundo táoferecendo... Os professores da escola ao refletir sobre possíveis práticas decoloniais entendem que primeiro é importante conhecer os alunos, compreender melhor o meio em que eles vivem, para poderem trabalhar com os novos e outros conceitos, que acreditam serem necessários para a formação escolar dos alunos. O grupo de professores que participaram da roda de conversa concordaram que é necessário trazer a cultura dos alunos para dentro das aulas de Educação Física, mesmo que ainda faltem elementos para que essas práticas sejam fortalecidas, como a falta de tempo para pesquisar sobre suas próprias práticas em espaços de diálogo e estudos entre os professores da escola, além da falta de estrutura física e material que tem acompanhado, há anos, as atividades escolares, dessa escola do município do Rio de Janeiro. Referências: DARIDO, Suraya Cristina. Educação Física na Escola: questões e reflexões. Araras, SP: Topázio,1999. MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento. Pesquisa Qualitativa em Saúde. 11ª ed. São Paulo: Hucitec, 2008. MOURA, Adriana Ferro; LIMA, Maria Glória. A reinvenção da roda: roda de conversa: um instrumento metodológico possível. Revista Temas em Educação, João Pessoa, v.23, n.1, p. 98-106, jan.-jun. 2014. Disponível em <http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/rteo/article/view/18338/11399> Acesso em: 24 mar.2015. OLIVEIRA, Luiz Fernando de; CANDAU, Vera Maria Ferrão. Pedagogia Decolonial e Educação Antirracista e Intercultural no Brasil.Educação em Revista, Belo Horizonte,v.26. n.01, abr. 2010, p. 15-40. 12371