TÍTULO: REAÇÕES PULMONARES RELACIONADAS À TRANSFUSÃO SANGUÍNEA COM ÊNFASE EM TRALI (TRANSFUSION RELATED ACUTE LUNG INJURY)

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Transcrição:

TÍTULO: REAÇÕES PULMONARES RELACIONADAS À TRANSFUSÃO SANGUÍNEA COM ÊNFASE EM TRALI (TRANSFUSION RELATED ACUTE LUNG INJURY) CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: BIOMEDICINA INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS AUTOR(ES): NATHALIA PINHEIRO GIRIO, BEATRIZ SOUZA ZEFERINO ORIENTADOR(ES): PEDRO VIRGILIO DE BELLIS

1. RESUMO A TRALI, mais conhecida como Transfusion Related Acute Lung Injury, é considerada um dos motivos mais comuns no quesito de morbidade e mortalidade devido a necessidade do tratamento hemoterápico. Embora pouco conhecida, existem teorias que sugerem o motivo de seu desenvolvimento e a cada dia a elucidação de sua fisiopatologia torna-se mais importante visando a tentativa de diminuir a prevalência e a realização de uma transfusão mais segura. 2. INTRODUÇÃO Pacientes expostos a hemorragias intensas por fatores internos e externos ou anemias sintomáticas necessitam, em alguns casos, de reposição de hemocomponentes.(oliveira;cozac,2003). Apesar de a transfusão sanguínea ser considerada uma forma de terapia segura e eficaz, existem efeitos adversos que podem causar sérias complicações ao paciente e, muitas vezes, leva-lo a óbito. Uma dessas reações é denominada TRALI (Transfusion Related Acute Lung Injury), uma reação pulmonar grave relacionada à transfusão de componentes sanguíneos, onde a principal manifestação clínica é o quadro respiratório. (CALLERA et al., 2004) Os primeiros casos clínicos foram datados em 1951, porém somente em 1983 que Popovski e Moore delinearam o quadro da reação. Por não existirem muitos casos, dados clínicos confiáveis e específicos, seu diagnóstico é difícil, podendo ser confundido com outras manifestações transfusionais pulmonares semelhantes. (SLUMINSKY;SILVA,2009). Dentre os sintomas destacam-se hipoxemia, taquidispnéia, edema pulmonar não cardiogênico, hipotensão arterial, entre outros, sendo estes, os sintomas observados desde o início até 6h após a completa transfusão. (CALLERA et al., 2004; BUX,2007; SLUMINSKY;SILVA,2009). O mecanismo exato de como ocorre esta reação ainda não está totalmente esclarecido, embora estima-se que a TRALI esteja associada a presença de anti- HLA (anticorpos contra antígenos do sistema de histocompatibilidade maior) ou de anti-hna (anticorpos contra neutrófilos presentes no plasma do doador). (OLIVEIRA;COZAC,2003). Tomando como base a presença de aloanticorpos no plasma do doador, após a transfusão, estes ativarão a cascata do complemento. Esta reação estimulará a ativação e migração de células polimorfonucleares para a microcirculação pulmonar, gerando uma resposta oxidativa (ERO s - Espécies Reativas de Oxigênio) e citotóxica através de citocinas (principalmente IL-6/IL-8).

Este processo é o responsável por causar a lesão endotelial e aumento da permeabilidade vascular, gerando um profundo infiltrado alveolar intersticial resultando em edema e posteriormente, insuficiência pulmonar. (JUNIOR;LOPES;BORDIN,2007). Considerando que a fisiopatologia e etiologia da TRALI ainda não estejam completamente elucidadas e atualmente não existir um teste diagnóstico rápido, não há recomendações seguras para a prevenção de novos casos deste quadro clínico. No entanto, pesquisas vem sendo feitas a fim de tentar diminuir a incidência de novos casos. A Associação Americana de Banco de Sangue, por exemplo, defende a exclusão temporária de doadores implicados em casos de TRALI, até que testes de alta frequência contra antígenos sejam realizados (JUNIOR;LOPES;BORDIN,2007). Outra ideia é a desqualificação de mulheres multíparas, utilizando seu plasma apenas para fracionamento. É importante enfatizar que os profissionais envolvidos com as transfusões sanguíneas estejam capacitados e instruídos, caso haja alguma reação adversa e, um melhor conhecimento sobre TRALI pode também ser essencial nas possíveis medidas preventivas e no tratamento dessa severa complicação. (OLIVEIRA;COZAC,2003;JUNIOR;LOPES;BORDIN,2007). 3. OBJETIVOS Este trabalho tem como objetivo esclarecer a importância do desenvolvimento de métodos para diagnóstico da TRALI, assim como a capacitação de profissionais na identificação da complicação levando em conta a importância da coleta e armazenamento desses dados para a análise do padrão de ocorrência das reações transfusionais; bem como esclarecer a etiologia da complicação e as principais reações endógenas que ocorrem no organismo do indivíduo afetado. 4. METODOLOGIA O trabalho foi desenvolvido seguindo os preceitos de estudo exploratório por meio de pesquisa bibliográfica, utilizando-se artigos científicos sobre a temática, publicados nos últimos 13 últimos anos (2001 a 2014), sendo os mesmos acessados nas bases de dados SCIELO, LILACS, MEDLINE, BIREME, PUBMED.

5. DESENVOLVIMENTO A hemoterapia no Brasil tem se caraterizado pelo desenvolvimento de novas técnicas para aprimoramento e minimização dos riscos pós-transfusionais. Toda transfusão sanguínea não é isenta de riscos então faz-se necessária a capacitação e seleção de doadores nos testes imuno-hematólogicos e triagem sorológica. É importante enfatizar que todos os profissionais da área da saúde estejam devidamente capacitados e instruídos nos procedimentos e cuidados, desde a triagem e coleta do sangue doado (armazenamento, identificação, preparação dos testes pré-transfusionais) até o momento da infusão, levando em consideração a possibilidade de o paciente ter alguma reação transfusional, como exemplo, a TRALI (CARRAZONE;BRITO;GOMES,2004). O Brasil conta com um programa de hemovigilância com o objetivo de aumentar a segurança para os pacientes com relação à transfusões sanguíneas, dando uma ênfase em acidentes transfusionais. Levando em conta o processo de transfusão ser considerado um risco sanitário, o programa de hemovigilância é considerado uma das áreas estratégicas de atuação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e também do Ministério da Saúde (ANVISA, 2007). Um dos principais objetivos em foco do sistema de hemovigilância é o de unificar informações para melhor estudá-las, reunindo detalhes sobre essas reações que ocorrem no dia-a-dia. Todos os tipos de incidentes que tenham relação com transfusões devem ser reportados através de um questionário padronizado e ser enviado a fim de se obter o levantamento de dados sobre o ocorrido. Os tópicos inclusos neste, giram em torno de identificar o componente de sangue envolvido, itens de classificação do incidente de acordo com as causas possíveis, fornecimento de informações sobre o estado do paciente, além da avaliação do incidente perante a transfusão. Esse processo é considerado muito importante, pois é através dessa compilação que será possível a investigação das causas das reações, bem como o desenvolvimento de métodos de detecção de componentes sanguíneos que podem causá-lo com o objetivo de tentar diminuir o número de incidentes (ANDREU, et al., 2002; ANVISA, 2007). No Brasil, não se conhece a prevalência/incidência real dos incidentes transfusionais, sejam eles inerentes à terapêutica, decorrentes de má indicação e uso dos produtos sanguíneos, ou de

falhas no processo durante o ciclo do sangue. Só será possível atuar na prevenção dos incidentes transfusionais quando estes forem identificados, diagnosticados, investigados, notificados e analisados de forma sistemática (MANUAL TÉCNICO DE HEMOVIGILÂNCIA, 2003). A fisiopatologia da TRALI ainda não é totalmente conhecida. O que se sabe hoje, através de dados coletados e experiências in vitro, é que o resultado final da patologia se dá pelo aumento da permeabilidade pulmonar resultando no extravasamento do plasma alveolar. De acordo com estudos, existem duas teorias possíveis para se explicar o mecanismo da TRALI. Na primeira hipótese, estima-se uma reação mediada por anticorpos do doador contra antígenos específicos do receptor, sendo HLA/Antígeno Leucocitário Humano específico, antígenos específicos Anti-Granulócitos ou também pela infusão de antígenos do doador (no caso transfusão de leucócitos) para o receptor que já possui anticorpos específicos contra eles. Todo esse mecanismo de interação de anticorpo + antígeno ativará a cascata do complemento, resultando na migração de neutrófilos para o pulmão e ativação dos mesmos, ocasionando a liberação de agentes citotóxicos e levando o dano das células endoteliais, extravasamento de plasma do capilar e quadro de insuficiência respiratória (ZAH;MESARIC;MAJERIC-KOGLER, 2009). Já a segunda hipótese pode ser explicada a partir de dois eventos: condição clínica do paciente resultando em uma ativação endotelial pulmonar, o sequestro de células polimorfonucleadas e transfusão de um modificador de resposta biológica (substâncias que desencadeiam reações para a ativação de polimorfonucleadas) ocasionando desta forma dano endotelial, permeabilidade capilar aumentada e por fim, TRALI. Como exemplo podemos citar: anticorpos anti-granulócitos, lipídeos, CD40 solúvel e etc (ZAH;MESARIC;MAJERIC-KOGLER, 2009; TOY et al.,2005). Segundo Papovsky et al, vale lembrar também que embora a maioria dos anticorpos encontrados em casos de TRALI estarem no plasma do doador, em minoria, anticorpos contra leucócitos do doador são encontrados no plasma do receptor. (TOY et al., 2005). É importante ressaltar que houve o desenvolvimento da TRALI em modelos experimentais sem a detecção de anticorpos específicos, pressupondo-se que a transfusão de anticorpos HLA dos doadores com posterior ligação antigênica (nos

receptores) nem sempre causam a TRALI, ou em casos de TRALI comprovada, eles nem sempre são detectados no receptor (TOY et al., 2005;SAYAH et al., 2013). Dando ênfase nos lipídeos como modificador de resposta biológica, esses são observados após a degradação das membranas fosfolipídicas. Como um exemplo, a LysoPC (lisofosfatidilcolina) tem sido identificada em alguns componentes sanguíneos, que quando transfundidos, podem recrutar neutrófilos, gerando todo o processo que discutimos na primeira hipótese (TOY et al., 2005; SAYAH et al., 2013). Em geral, de acordo com estudos, foi verificada a hipótese de um evento múltiplo no desenvolvimento da patogênese, afirmando que o receptor da transfusão deve ter uma condição subjacente médica (provavelmente via alteração imunológica ) que levará a uma suscetibilidade para o desenvolvimento da TRALI, sendo desencadeado então pela transfusão de possíveis antígenos do sangue do doador e de substâncias biorreativas. Para suportar essa hipótese, de acordo com modelos animais estudados, a TRALI apenas foi induzida por anticorpos quando houve um estímulo inflamatório pré-existente. No caso dos humanos, alguns estímulos podem ser listados nos tópicos abaixo, sendo eles considerados como fatores de risco para o desenvolvimento da patologia: Doação de sangue de mulheres multíparas, que já foram alo imunizadas e produziram anticorpos anti-leucócitos (SAYAH; LOONEY; TOY, 2013; PAPOVSKY.,et al,2005); Altos níveis de IL-8, que recrutam neutrófilos para o endotélio do pulmão, evento que aumenta a inflamação e a injúria do tecido (SAYAH; LOONEY; TOY, 2013; PAPOVSKY.,et al,2005); Altas quantidades de anticorpos HLA da classe II do receptor, que neste caso é a mais importante, com a atuação de macrófagos e células dendríticas, que reconhecem especificadamente os receptores do antígeno (SAYAH; LOONEY; TOY, 2013; PAPOVSKY.,et al,2005); Choque que resulta em lesão tecidual, ocasionando um recrutamento das células do sistema imunológico através do primeiro contato do endotélio do receptor (SAYAH; LOONEY; TOY, 2013; PAPOVSKY.,et al,2005); O abuso crônico do álcool que reduz os níveis de glutationa-redutase (antioxidante), diminuindo a fagocitose das células apoptóticas aumentando assim a

resposta inflamatória pulmonar (SAYAH; LOONEY; TOY, 2013; PAPOVSKY.,et al,2005); Transplantes, cirurgia recente ou politransfusão pelo alto nível de células imunológicas e pela produção de anticorpos anti-leucócitos (SAYAH; LOONEY; TOY, 2013; PAPOVSKY.,et al,2005); A importância do armazenamento das bolsas de sangue, pois com o incorreto armazenamento da bolsa pode levar a um estresse oxidativo e morte celular levando a uma lesão endotelial pulmonar pela ativação dos neutrófilos (SOUZA, 2011); Casos de pacientes que se submeteram a pressão das vias aéreas com pico superior a 30 cm após uma ventilação mecânica antes da realização de uma transfusão (SAYAH; LOONEY; TOY, 2013; POPOVSKY et al., 2005). Como forma de prevenção das reações transfusionais, é necessário que haja um preparo e toda uma triagem da bolsa de sangue pelos profissionais, realizando a identificação, conferência e análise da bolsa com os testes pré- transfusionais para minimizar a possibilidade de falhas e aumentar a segurança da transfusão, como: captação de doadores, triagem clínica, doação de sangue, fracionamento, sorologia, imuno-hematologia, distribuição de sangue e finalmente a transfusão sanguínea (TÉCNICO EM HEMOTERAPIA, 2013; SILVA; SOARES; IWAMOTO, 2009). É necessário também a realização de exames laboratoriais para a tentativa de diagnóstico precoce da reação, como: Coombs Direto ou teste de antiglobulina direta (TAD), que constitui um método elementar e simples para demonstração de presença de IgG e\ou complemento revestindo a superfície dos eritrócitos. (CARVALHO et al., 2010). Identificação de HLA/HNA através de testes imunoenzimáticos, por citometria de fluxo ou imunofluorescência de linfócitos (JUNIOR; LOPES; BORDIN, 2007). Hemograma com queda de hemoglobina\hematócrito e após algumas horas elevação dos níveis de bilirrubina indireta (OLIVEIRA;COZAC,2003). 6. RESULTADOS Foi obtido através do estudo bibliográfico das reações pulmonares causadas por transfusão sanguínea com ênfase em TRALI, a importância do diagnóstico correto da patologia e o conhecimento dos mecanismos desencadeadores da mesma, com o intuito de ressaltar a necessidade de uma melhor capacitação dos profissionais de saúde para a identificação/diagnóstico/investigação/notificação da

mesma, bem como a orientação dos fatores de risco para o seu desenvolvimento, desde a triagem até a transfusão propriamente dita, levando em conta o fato de a prevalência/incidência das reações ainda não estarem esclarecidas dificultando-se, assim, a construção de estratégias que visam a prevenção desses incidentes. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Foi abordado no decorrer deste trabalho a importância do aprimoramento de pesquisa de novas técnicas de diagnóstico da TRALI, bem como o aprofundamento do conhecimento de sua fisiopatologia. Conclui-se que a falta de informação e conhecimento dos profissionais da saúde acarreta o mau preenchimento dos questionários que deverão ser reportados às autoridades sanitárias a fim de compilar as informações para pesquisa e levantamento de dados. Foi levantado também os principais fatores de risco conhecidos até hoje que podem levar o desenvolvimento desta patologia com alto índice de letalidade. 8. FONTES CONSULTADAS ANVISA, A.N.D.V.S. Manual Técnico de Hemovigilância. Investigação das Reações transfusionais Imediatas e Tardias não Infecciosas, Nov, 2007. OLIVEIRA, C. Reações Transfusionais: Diagnóstico e Tratamento. Urgências e Emergências Hematológicas, Ribeirão Preto, Abr/Dez, 2003. CALLERA et al. Descrições de Reações Transfusionais Agudas em Serviço Brasileiro de Transfusão. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, SLUMINSKY, S. Ocorrência de Lesão Pulmonar Aguda Relacionada com Transfusão (TRALI Transfusion Related Acute Lung Injury) em Pósoperatório de Mastectomia com reconstrução microcirúrgica de Mama. Revista Brasileira Anestesiologia, Vol.59, Curitiba, Jan/Fev, 2009. JUNIOR, LOPES, BORDIN. Lesão pulmonar aguda associada à transfusão. Jornal Brasileiro Pneumologia, São Paulo, Junho, 2007. CARVALHO et al. Anestesia em Pacientes com Teste de Coombs Direto Positivo. Relato de Três Casos. Revista Brasileira de Anestesiologia, Vol. 60, Viseu Portugal, Jan/Fev, 2010. BATISTA et al. Sepse: atualidades e perspectivas. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, Viçosa Minas Gerais, Mar, 2011.

SOUZA. The role of hemovigilance as a mechanism to increase transfusion safety. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, Vol. 33, São Paulo, Out, 2011. ROJAS et al. Transfusion- Related Acute Lung Injury em Pós-operatório de Neurocirurgia. Relato de caso. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, Vol. 20, São Paulo, Jan/Mar, 2008. SILLIMAN et al. Transfusion- Related Acute Lung Injury (TRALI): Current Concepts and Misconceptions. National Institute of Health, Ago, 2009. MARK et al. Transfusion- Related Acute Lung Injury: Definition and Review. Crit Care Med, Vol. 33, San Francisco, Abr, 2005. BUX, S. The pathogenesis of transfusion-related acute lung injury (TRALI). British Journal of Haematology, Mar, 2007. ZAH, MESARIC, MAJERIC-KOGLER. Transfused Acute Related Acute Injury (TRALI). Signa Vitae, 2009. SAYAH, LOONEY, TOY. Transfusion Reactions: Newer Concepts on the Pathophysiology Incidence, Treatment and Prevention of Transfusion Related Acute Long Injury (TRALI). Critical Care Clinics, Jul, 2013.