ASSOCIAÇÃO ENTRE TRAUMATISMO DENTÁRIO E FATORES PREDISPONENTES RELACIONADOS À QUALIDADE DE VIDA: UMA REVISÃO DE LITERATURA

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Transcrição:

ASSOCIAÇÃO ENTRE TRAUMATISMO DENTÁRIO E FATORES PREDISPONENTES RELACIONADOS À QUALIDADE DE VIDA: UMA REVISÃO DE LITERATURA Camila Lima de Oliveira (1); José de Alencar Fernandes Neto (2); Ana Luzia Araújo Batista (3); Nayla Fernandes Dantas Muniz (4); Maria Helena Chaves de Vasconcelos Catão (5). Universidade Estadual da Paraíba, camilinhalima80@gmail.com (1); Universidade Estadual da Paraíba, jneto411@hotmail.com (2); Universidade Estadual da Paraíba, analuziabatista@globo.com (3); Universidade Estadual da Paraíba, naylafernandesmuniz@gmail.com) (4); Universidade Estadual da Paraíba, mhelenact@zipmail.com.br (5) RESUMO O traumatismo dentário é considerado um problema de saúde pública com elevada prevalência, causando aos atingidos, diversos danos, além de altos custos expendidos na reabilitação bucal. Aliado a isso, essa injúria pode ocasionar perdas dentais irreparáveis, o que torna relevante investigar a associação dessa condição com fatores relacionados à qualidade de vida. Esse estudo de revisão de literatura teve por objetivo relatar informações sobre o traumatismo dentário bem como evidenciar a correlação de tal injúria com o padrão socioeconômico, o consumo de álcool e o uso de drogas ilícitas. Para tanto, um conjunto de artigos foram coletados nas bases de dados eletrônicas Pubmed, Scielo e Lilacs, utilizando isoladamente ou em associação os seguintes descritores: traumatismo dentário, bebedeira, drogas e fator socioeconômico. A coleta de dados foi realizada no período de dezembro de 2016 à março de 2017. Como critério de inclusão do levantamento bibliográfico utilizou-se: período de publicação, relação com o tema proposto, significância estatística e confiabilidade dos resultados apresentados pelos autores. Constatou-se que a prevalência assim como os fatores etiológicos do traumatismo dentário são variáveis. Embora o número de estudos ainda seja considerado reduzido, a comunidade científica evidencia que fatores como padrão socioeconômico, consumo de álcool e uso de drogas ilícitas podem estar associados as injúrias dentárias. Ao evidenciar a correlação entre traumatismo dentário e fatores relacionados a qualidade de vida, a odontologia além de nortear políticas públicas voltadas para o combate do consumo de álcool e de drogas ilícitas, contribui para melhorar a compreensão de fatores sociais interligados à saúde bucal. Portanto, pode-se concluir que estudos epidemiológicos são fundamentais para o planejamento das ações de saúde. Palavras-chave: Traumatismo dentário, Bebedeira, Drogas, Fator socioeconômico. INTRODUÇÂO

A adolescência é caracterizada por uma fase de grandes transformações físicas, psicológicas e sociais, onde indivíduos na faixa etária entre 10 e 19 anos vivenciam períodos de grandes desestruturações. O traumatismo dentário é considerado a segunda principal causa de abordagem odontológica, consistindo em uma lesão de extensão, intensidade e gravidade variáveis, de origem acidentária ou intencional (TRAEBERT et al., 2012). Tal injúria acarreta impacto negativo na qualidade de vida dos indivíduos em virtude de ocasionar comprometimento em questões estéticas e funcionais bem como limitações em atividades diárias (CARVALHO et al., 2013). No Brasil os riscos relacionados à vulnerabilidade dos adolescentes abrangem o lugar de moradia, acesso a instituições e serviços públicos, a falta de disponibilidade dos espaços destinados ao lazer, às relações de vizinhança, envolvimento em situações de violências, relações sexuais desprotegidas bem como problemas relacionados ao alcoolismo e uso de drogas (AYRES et al., 2003). O padrão socioeconômico é investigado como um dos fatores relacionados ao traumatismo dentário, onde estudos tentam correlacionar a influência da classe social dos indivíduos no processo da perda dentária (TRAEBERT; PERES, 2006). O alcoolismo e o uso de drogas ilícitas consistem em graves problemas de saúde pública e social. Em ambos os casos, os indivíduos apresentam um autocontrole reduzido, aumentando assim o encorajamento aos comportamentos de risco, como acidentes de trânsito, transmissão de doenças sexualmente transmissíveis, gravidez indesejada, infarto do miocárdio, violência e ferimentos não intencionais (SANCHEZ et al., 2013). A associação entre traumatismo dentário e fatores sociais voltados para a qualidade de vida ainda é um tema pouco enfatizado na literatura. Diante do exposto, o objetivo desse estudo foi relatar, através de uma revisão de literatura, informações referentes ao traumatismo dentário, o que inclui a correlação dessa injúria com o fator socioeconômico, o consumo de álcool e o uso de drogas ilícitas. METODOLOGIA Para alcançar o objetivo proposto, realizou-se uma revisão de literatura conduzida através do acesso às bases de dados Scielo, Pubmed, e Lilacs, utilizando as palavras chaves Traumatismo dentário, Bebedeira, Drogas e Fator socioeconômico. A coleta de dados foi realizada no período de dezembro de 2016 à março de 2017, através da obtenção de artigos

publicados na língua portuguesa e inglesa, que foram classificados como elegíveis e não elegíveis de acordo com os critérios pré-estabelecidos (estudos completos disponíveis, com abordagem no tema proposto e que fossem publicados em revistas científicas no período de 2000 à 2016). Durante a análise dos trabalhos, considerou-se as informações contidas nos textos, significância estatística e consistência dos resultados apresentados pelos autores. RESULTADOS E DISCUSSÃO Estudos evidenciaram que a prevalência do traumatismo dentário varia entre 5% e 16,4% (BAUSS; RÖHLING; SCHWESTKA POLLY, 2004). Para Côrtes e Bastos (2004), a variação na prevalência de tal injúria é reflexo da falta de padronização nos métodos de exame e diagnóstico empregado na coleta de dados dos estudos epidemiológicos. A literatura revela que o traumatismo dentário ocorre em maior frequência em escolares do sexo masculino, provavelmente por serem mais ativos e realizarem atividades físicas mais fortes, como esportes de contato físico sem proteção apropriada, brincadeiras rudes como lutas e equipamentos com maior potencial de risco (CARVALHO et al., 2013). No entanto, esta diferença entre os gêneros vem sendo reduzida em virtude da maior participação das mulheres em atividades consideradas, há até algum tempo, exclusivas dos homens (DE SOUZA-FILHO et al., 2010). Divergindo os estudos mencionados, na pesquisa de Malikaew, Watt e Sheiham (2006) não foi possível verificar diferença estatística significativa do traumatismo dentário em relação aos gêneros. Quedas, colisões contra objetos ou pessoas, acidentes automobilísticos, práticas esportivas e violência são relatadas como as principais causas do traumatismo dentário. Nos jovens, as causas mais comuns são as quedas diversas seguidas de pancadas; acidentes automobilísticos; traumatismos na prática esportiva; além das agressões (TRAEBERT et al., 2004). A bebida alcoólica é uma das poucas drogas psicotrópicas que tem seu consumo admitido e até incentivado pela sociedade, configurando a substância psicoativa mais precocemente consumida pelos jovens. Para Bendo et al. (2009) o consumo excessivo álcool é uma das principais causa de lesões (incluindo os resultantes de acidentes de trânsito), violência (especialmente a violência doméstica) e mortes prematuras. O autor enfatiza que o álcool reduz o autocontrole e aumenta os comportamentos de risco.

O uso excessivo de bebidas alcoólicas (05 doses de bebidas alcoólicas em uma única ocasião) foram descritas em um estudo realizado em capitais brasileiras com escolares entre 14 a 18 anos de idade. A prevalência do consumo abusivo de álcool foi de 32% e maiores risco de envolvimento em bebedeira foi relatado para os estudantes do sexo masculino, pertencentes à classe sociais alta, mais velhos e que frequentavam escola privada (SANCHEZ et al., 2013). Na literatura estudos evidenciaram a associação entre o uso excessivo de bebidas alcoólicas e traumatismo dentário (OLIVEIRA FILHO et al., 2013). Na pesquisa de Jayaraj et al. (2012), o consumo exacerbado de álcool foi considerado uma das principais causas para a incidência de traumatismos facial na população australiana. Quando se trata de discutir a correlação entre trauma dental e o padrão socioeconômico dos indivíduos, a literatura apresenta resultados controversos para o tema em questão. Apesar de alguns estudos encontrarem maior ocorrência de traumatismo dentário em escolares pertencentes à classe socioeconômica alta (JORGE et al., 2012), outros reportaram associação entre traumatismo dentário e a classe socioeconômica menos favorecida (MARCENES; MURRAY, 2001). Na pesquisa de Oliveira Filho et al. (2013) não foi verificado correlação entre traumatismo dentário e classe socioeconômica. Segundo Traebert e Peres (2006) a ausência de proteção durante práticas desportivas é um dos aspectos que interfere nas perdas dentárias. A restrição a aquisição de tais equipamento é apontada como característica das classes sociais menos favorecidas, o que as tornam mais susceptíveis ao acometimento do traumatismo dentário. O consumo de drogas ilícitas pode culminar no uso combinado do álcool com outras drogas bem como favorecer a violência física. Com o intuito de analisar a relação entre trauma dental e fatores sociais voltados à qualidade de vida Paiva et al. (2016) realizou um estudo com escolares de 12 anos. Na pesquisa em questão foi evidenciado associação entre traumatismo dentário e consumo de drogas ilícitas. Para Bendo et al. (2009) além do número de estudos que avaliam a correlação entre as variáveis em questão serem considerados reduzidos, a falta de padronização nos indicadores e amostras dos estudos epidemiológicos dificultam a interpretação em relação ao tema. CONCLUSÕES

Os estudos epidemiológicos são fundamentais para o planejamento das ações de saúde. A eficácia dos programas de saúde pública está diretamente relacionada à veracidade dos resultados evidenciados nos trabalhos científicos, que necessitam de um correto delineamento para que os dados sejam considerados representativos. Apesar de pesquisas revelarem fortes evidências da relação entre traumatismo dentário e fatores relacionados a qualidade de vida ( consumo de álcool, uso de drogas ilícitas e padrão socioeconômico), mais estudos são necessários para aumentar a confiabilidade dos resultados. A carência de trabalhos científicos que avaliem a correlação entre traumatismo dentário e fatores associados à qualidade de vida, revela a necessidade de inovação nos estudos que se detém a investigar a prevalência e os fatores etiológicos das injúrias dentárias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AYRES, J. R. C. M. et al. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências, v. 3, p. 117-140, 2003. BENDO, C. B. et al. Correlation between socioeconomic indicators and traumatic dental injuries: a qualitative critical literature review. Dental traumatology, v. 25, n. 4, p. 420-425, 2009. BAUSS, O.; RÖHLING, J.; SCHWESTKA POLLY, R. Prevalence of traumatic injuries to the permanent incisors in candidates for orthodontic treatment. Dental Traumatology, v. 20, n. 2, p. 61-66, 2004. CARVALHO, B. et al. Traumatismo Dentário em Adolescentes entre 15 e 19 Anos na Cidade do Recife-PE e Fatores Associados-Estudo Preliminar. Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada, v. 13, n. 1, 2013. CÔRTES, M. I. S.; BASTOS, J. V. Traumatismo dentário. In: ESTRELA, C.Ciência Endodôntica. v. 2. São Paulo: Artes Médicas, 2004. 1009p DE SOUZA-FILHO, F. J. et al. Avaliação das injúrias dentárias observadas no Centro de Trauma Dental da Faculdade de Odontologia de Piracicaba Unicamp. Revista da Faculdade de Odontologia-UPF, v. 14, n. 2, 2010.

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