Relato de experiência: os espaços de discussão na extensão universitária na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Ponta Grossa /Paraná

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Transcrição:

II CONGRESSO INTERNACIONAL DE POLÍTICA SOCIAL E SERVIÇO SOCIAL: DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS III SEMINÁRIO NACIONAL DE TERROTÓRIO E GESTÃO DE POLITICAS SOCIAIS II CONGRESSO DE DIREITO À CIDADE E JUSTIÇA AMBIENTAL Gênero, Sexualidade e Etnia Relato de experiência: os espaços de discussão na extensão universitária na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Ponta Grossa /Paraná Karoline Dutra Szul 1 Ana Paula Moreira 2 Lenir Aparecida Mainardes da Silva 3 Resumo: O relato de experiência traz à tona a oportunidade de vivenciar espaços de formação no ambiente acadêmico, propiciado pela prática de estágio na Incubadora de Empreendimentos Solidários (IESol) na disciplina de Estágio Obrigatório I no curso de Serviço Social/UEPG. Relata-se a oficina ministrada no Curso de Extensão de Noções Básicas de Economia Solidária, mais especificamente no módulo Gênero e Economia Solidária que propiciou a discussão da categoria de gênero e seus correlacionados. Notouse nas discussões com o público a importância de abertura de espaços de debate que propicie a troca de conhecimento e de experiências. Palavras-chave: Gênero; Economia Solidária; Troca de experiência. Abstract: The experience results brings to the forefront the opportunity to experience training spaces in the academic environment, provided by internship in the Incubadora de Empreendimentos Solidários (IESol) of the discipline of Mandatory Internship I in the course of Social Work/UEPG.The workshop given in the Course on Extension of Basic Notions of Solidarity Economy, specifically in the module "Gender and Solidarity Economy", provided the discussion of the gender category and its correlates. It was noted in the discussions with the public the importance about open spaces for debates that allows the exchange of knowledge and experiences. Key-words: Gender; Solidarity Economy; Exchange of experience.. 1 Acadêmica de Bacharelado em Serviço Social - UEPG. Brasil; Email: karoldszul@gmail.com. 2 Mestranda em Ciências Sociais Aplicadas UEPG; Professora Colaboradora no Curso de Serviço Social UEPG; Brasil; Email: aluapm@gmail.com. 3 Doutora em Serviço Social (PUC-SP), Professora Adjunta do Curso de Serviço Social - UEPG; Brasil; Email: lenirmainardes@gmail.com. 1

Introdução Considerando que a discussão de gênero compõe o bojo de eixos centrais da formação em Economia Solidária, ao longo do desenvolvimento do estágio, percebeu-se o tímido acúmulo sobre o tema no interior da Incubadora. Tal cenário é consequência do excesso de atividades desenvolvidas na Incubadora aliado ao parco de conhecimento geral dos integrantes sobre EcoSol quando ingressam como membros da Iesol, haja visto que o tema ainda não ocupa lugar de destaque nos cursos de graduação com temas afins, como Administração, Economia e Ciências Contábeis, entre outros. Para superar a dificuldade apontada, um dos núcleos da IESol - de Formação - é responsável por identificar as temáticas que mais demandam apoio formativo no interior da incubadora e, em seguida, organizar os encontros de formação quinzenais com os temas elencados, utilizando diferentes metodologias. Nesse contexto, constatou-se a necessidade em promover formações sobre gênero, divisão sexual do trabalho e condição da mulher na sociedade capitalista. Do ponto de vista formativo, destacam-se a necessidade de compreensão social, ambiental e política dos/as sócios/as, o que engloba o debate de gênero, principalmente direcionado à autonomia da mulher. No trabalho cotidiano também é possível visualizar o tema como demanda constante nos empreendimentos incubados. Dessa forma, incluiu-se no Curso de Extensão de Noções Básicas em Economia Solidária, realizado semestralmente pela IESol, um módulo sobre gênero e economia solidária. É importante destacar que o curso é direcionado para a comunidade em geral, não apenas para o corpo universitário, sendo assim, gratuito e de inscrição livre. 2. INCUBADORA DE EMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS (IESOL) E ECONOMIA SOLIDÁRIA: POR UMA SOCIEDADE MAIS JUSTA E IGUALITÁRIA A Incubadora de Empreendimentos Solidários (IESOL) é resultado da discussão de um grupo formado por professores, alunos e técnicos da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), foi lançado primeiramente como um projeto de extensão, mas devido a sua amplitude e alcance foi redimensionado como programa de extensão da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e vincula-se a Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais - PROEX. A IESol visa em suas atividades abrigar experiências associativas de geração de trabalho e renda, promovendo ações relacionadas ao ensino, pesquisa e extensão, 2

desenvolvendo a formação humana e profissional de estudantes de graduação, pósgraduação, egressos e voluntários, no essencial diálogo entre universidade e comunidade. Assim, o programa é fruto de um debate coletivo a respeito da importância da universidade assumir seu papel na sociedade, especificamente de contribuir para a produção de metodologias de ações para o enfrentamento do problema do desemprego e do trabalho precário na cidade de Ponta Grossa e Região dos Campos Gerais, bem como comungar com uma proposta de outra forma de viver em sociedade. A IESol trabalha a partir do viés da Economia Solidária [...] outro modo de produção, cujos princípios básicos são a propriedade coletiva ou associada do capital e o direito a liberdade individual. A aplicação desses princípios une todos os que produzem numa única classe de trabalhadores que são possuidores de capital por igual em cada cooperativa ou sociedade econômica. O resultado é a solidariedade e a igualdade, cuja reprodução, no entanto, exige mecanismos estatais de redistribuição solidária de renda. (SINGER, 2005, p.2) A atuação da IESol leva em consideração os princípios da Economia Solidária, sendo alguns: a autogestão, o cooperativismo e a solidariedade. Seja no trabalho diretamente com os empreendimentos ou nas reuniões de equipe e na rotina da IESol, esses princípios são trabalhados, dialogados e aprofundados, estando presentes na nossa prática cotidiana. Assim, a Economia Solidária preza por uma sociedade mais justa e igualitária, isso aliado ao trabalho desenvolvido pela IESol, faz com que a valorização dos princípios comece dentro da própria universidade e venha a se expandir nos empreendimentos e na sociedade. A economia solidária é uma perspectiva de desenvolvimento econômico e social baseado em novos valores culturais e novas práticas de trabalho e relação social, que visa à sustentabilidade, a justiça econômica, social, cultural e ambiental e a democracia participativa. Gaiger (2007) aponta as contribuições da economia solidária, sobretudo no âmbito da diminuição das desigualdades, isso em decorrência destas organizações, que se apoiam na cooperação e que ativam circuitos de solidariedade, tenderem a contribuir diretamente para o fortalecimento dos seus membros, propiciando-lhes maior autonomia e confiança e possibilidades de promoção da igualdade. Autonomia, no sentido de que, é o trabalhador(a) autogestionário quem propicia suas próprias condições necessárias de vida, trabalho e direitos. Conforme o Caderno de Aprofundamento da IV Plenária Nacional de Economia Solidária, os assuntos referentes a raça e etnia no contexto da economia solidária, interseccionadas com variáveis como gênero são edificantes para o enfrentamento das desigualdades vivenciadas por parcela significativa da população brasileira. 3

Guérin (2005) menciona que as iniciativas solidárias são fundamentais em três dimensões que são relevantes para a diminuição das desigualdades de gênero, principalmente diante as relações de trabalho, Em primeiro lugar, elas desempenham um papel de justiça de proximidade; ora, esta é essencial diante do caráter multidimensional da pobreza. Em segundo lugar, elas constituem espaços de discussão, de reflexão e de deliberação coletivas; elas se apresentam nesse aspecto como modo de acesso à fala pública para pessoas que geralmente não o têm. E, por meio da expressão e da reivindicação coletivas, elas podem participar da transformação das instituições, quer se trate da legislação ou das normas sociais. Em terceiro lugar, elas contribuem com a redefinição da articulação entre família, autoridades públicas, mercado e sociedade civil, e participam da revalorização das práticas reciprocitárias; ora, essa redefinição e essa revalorização devem tornar possível que se lute contra as desigualdades intrafamiliares ao permitir que as mulheres, mas também os homens, conciliem melhor vida familiar e vida profissional (Guérin, 2005, p. 17 e 18). Neste sentido, o processo de organização coletiva pode transformar as condições da mulher na sociedade e nas relações de trabalho, tendo como base sua identidade. 3. CURSO DE EXTENSÃO NOÇÕES BÁSICAS EM ECONOMIA SOLIDÁRIA MÓDULO GÊNERO E ECONOMIA SOLIDÁRIA Como dito anteriormente, o Curso de Noções Básicas em Economia Solidária é promovido semestralmente pela Incubadora de Empreendimentos Solidários (IESOL). Tem duração média de quatro tardes, sendo nessas subdivididos temas módulos que discutam a Economia Solidária, a IESol e temas afins. O módulo Gênero e Economia Solidária teve sua primeira realização no ano de 2015, por meio do projeto de intervenção de uma acadêmica do curso de Serviço Social da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Posteriormente fora repassado essa demanda para outras pessoas interessadas em debater o tema e discutir com a comunidade. Para tanto, a metodologia escolhida para a execução do módulo foi à educação popular, já que, a partir de um tema gerador, possibilita a construção da reflexão conjunta com base no diálogo aberto entre as pessoas participantes. Educação popular e economia solidária têm muito em comum. A primeira convergência diz respeito à necessidade que ambas as expressões têm de qualificar-se, isto é, de acrescentar um termo que marque a diferença entre o convencional e aquilo que elas querem representar, ou seja,: não se trata de discutir educação em seu sentido geral, mas do caráter específico de uma prática pedagógica vinculada à vida e aos interesses sociais dos setores populares; não se trata de uma economia orientada pelos valores do mercado e da concorrência, mas de uma economia vinculada à vida e aos interesses de setores sociais excluídos ao menos parcialmente das esferas de realização da economia global. (CRUZ, GUERRA, 2009, P. 1). 4

A discussão foi disparada por meio da exibição de um curta metragem intitulado Acorda Raimundo...Acorda!, que traz a tona um sonho vivido por um homem que faz parte de uma família de classe baixa, onde desempenha tarefas domésticas enquanto a mulher está ativa na vida pública. Aborda questões como: divisão sexual do trabalho, violência doméstica, conflitos familiares e o papel destinado a cada um. Logo em seguida, o grupo foi dividido em dois grupos menores e cada um deles recebeu marcadores permanentes e papel craft, com o objetivo de responder a quatro questões diferentes, a saber: O que é gênero? Há diferença entre gênero e sexo? Qual a relação entre gênero e divisão do trabalho? Há igualdade de gênero? Foram delimitados 20 minutos para a discussão e registro. Após, o conteúdo foi construído a partir do fio condutor debatido pelos grupos, aliado a intervenções da facilitadora e análise de dados. Salienta-se que a oficina tinha por objetivo: discutir questões referentes a gênero, divisão sexual do trabalho e igualdade de gênero; identificar conceitos/ideias do público alvo sobre: de gênero, divisão sexual do trabalho e igualdade de gênero; e, sensibilizar o público alvo a iniciativas de cunho crítico no que tange a temática de gênero. Imagem 1 Discussão das categorias elencadas Fonte: arquivo IESol 5

Dentre os resultados obtidos no decorrer do módulo ressalta-se: ampla participação dos participantes, principalmente em torno da discussão da relação entre gênero e divisão sexual do trabalho, tanto na diferenciação entre sexo e gênero. A discussão dos resultados com vistas às considerações finais, discutiremos em outro tópico. Importante salientar que a discussão de gênero como um meio de avaliar a diferença entre os sexos e de denunciar o uso de certos poderes a partir da afirmação da diferença. O gênero é considerado um importante instrumento que mostra a inadequação das diferentes teorias explicativas da desigualdade entre homens e mulheres por meio da natureza biológica. Concretamente, trata-se de mostrar que poderes atuam na divisão social do trabalho e na organização dos diferentes aspectos da vida em sociedade, afetos à relação entre homens e mulheres. A categoria de análise gênero desvela as relações entre feminino e masculino como construções sociais capazes de produzir certo tipo de opressão e de exclusão das mulheres de uma cidadania integral. Gebara (2000) 4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS: NO VIÉS TEÓRICO Dentre os resultados obtidos, elenca-se no seguinte quadro: O que é gênero? Identidade Construção Social Comportamento/Sentimento Qual a relação entre gênero e divisão sexual do trabalho? Desigualdade Inferioridade Hormonal Realista Machismo Cultural Fragilidade Preconceito Há diferença entre gênero e sexo? O gênero não necessariamente coincide com sexo O sexo pauta a construção social de gênero Há igualdade de gênero? Infelizmente não Quadro 1 Resultados obtidos na intervenção Nota: elaborado pelas autoras com base nas discussões transcritas pelos participantes da oficina. Nota-se no que diz respeito a gênero e a diferenciação entre sexo, a construção social ficou evidente na discussão com os participantes, considerando que a categoria de gênero construída a partir de um viés histórico de análise da sociedade nos remete a considerar que o termo gênero ultrapassa o limite do determinismo biológico, o qual 6

considera gênero apenas como a diferenciação entre homens e mulheres por meio de seus órgãos sexuais. Dessa forma, de acordo com Carrara (2009, p. 39): Ele foi criado para distinguir a dimensão biológica da dimensão social, baseando-se no raciocínio de que há machos e fêmeas na espécie humana, no entanto, a maneira de ser homem e de ser mulher é realizada pela cultura. Portanto, é necessário discutir que não se deve relativizar a relação de gênero de acordo com as dimensões biológicas corporais entre homens e mulheres, que dentre vários fatores, pontua que a mulher é frágil e deve preservar-se devido sua posição de reprodutora, enquanto o homem é considerado forte, viril e capaz de prover as necessidades básicas da família. De acordo com Scott (1989, p. 5): exige a análise não só da relação entre experiências masculinas e femininas no passado, mas também a ligação entre a história do passado e as práticas históricas atuais. Dessa forma, nota-se uma negação explicita da conotação biológica como justificadora da subordinação das mulheres por serem mães. E considera como correlação das práticas masculinas e femininas influenciam na questão de gênero, ou seja, entender tanto a história do masculino como do feminino, pois ambos são sujeitos históricos. É necessário compreender a categoria de gênero como um conjunto de representações construídas ao longo do tempo, e distanciar-se da visão de senso comum o qual muitas vezes naturaliza esse modo de subordinação entre homem e mulher. Outro aspecto importante é considerar a cultura como um elemento que constrói o gênero e simboliza as atividades como femininas e masculinas. Considerando que os aspectos culturais estão ancoradas no patriarcalismo, que se fundamentam na hierarquia e superioridade masculina sob a feminina, reforçadas por instituições e normas sociais e reproduzidas nas relações familiares. No que diz respeito às atividades tidas como femininas e masculinas mais especificamente sobre a divisão sexual do trabalho, com base nas categorias elencadas pelos participantes, notou-se que a questão da desigualdade, inferioridade e do viés cultural, foram fonte de ampla discussão. Sobre isso, com base em Kergoat (2003): A divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social decorrente das relações sociais de sexo; essa forma é adaptada historicamente e a cada sociedade. Ela tem por características a destinação prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva e, simultaneamente, a apreensão pelos homens das funções de forte valor social agregado (políticas, religiosas, militares etc). Segundo Rosaldo (1979), o que talvez seja mais notável e surpreendente é o fato de que as atividades masculinas, opostas às femininas, sejam sempre reconhecidas como predominantemente importantes e os sistemas culturais dêem poder e valor aos papéis e 7

atividades dos homens. Há uma identificação das mulheres com a vida doméstica e dos homens com a pública. Ainda de acordo com Kergoat (2003): Este processo empurra o gênero para o sexo biológico, reduz as práticas sociais a papéis sociais sexuados, os quais remetem ao destino natural da espécie. No sentido oposto, a teorização em termos de divisão sexual do trabalho afirma que as práticas sexuadas são construções sociais, elas próprias resultado de relações sociais. Portanto, ainda há a distinção nas atividades realizadas por homens e mulheres nas sociedades, a divisão sexual do trabalho decorre da função social que é imposta aos diferentes sexos de acordo com cada época e a cultura predominante, reproduzindo os padrões existentes anteriormente nas sociedades patriarcais. Considera-se que há dois princípios que definem as formas de divisão do trabalho, como pontua Kergoat (2003) o princípio de separação (existem trabalhos de homens e trabalhos de mulheres) e o princípio de hierarquização (um trabalho de homem vale mais do que um trabalho de mulher). Em vista disso, ocorre uma correlação de gênero ao sexo biológico reprimindo as práticas sociais aos papéis sociais, trazendo a divisão das funções a serem desempenhadas de acordo com o sexo feminino e masculino. No que diz respeito à igualdade de gênero relacionado a indagação feita no módulo, fica evidente que esta temática não é estanque e deve ser pauta de inúmeras problematizações. CONSIDERAÇÕES FINAIS A discussão da categoria de gênero relacionado Economia Solidária traz em seu bojo a unidade pela luta por direitos por uma sociedade mais justa e igualitária. Com a massiva expansão do capitalismo nos seus ciclos de crise que acarreta no desemprego e empobrecimento da classe trabalhadora, a mulher acaba por ser mais vulnerável a essas situações. Por isso, ao adentrar num empreendimento de economia solidária (ees) que pauta dentre alguns princípios da ECOSOL: a autogestão, solidariedade, cooperativismo, autonomia, entre outros. A mulher pode desenvolver seu protagonismo no ambiente de trabalho com vistas à ampliação da autonomia, tanto enquanto mulher e/ou trabalhadora, num ambiente que propicie uma discussão política de caráter emancipatório. A universidade mantida sobre o tripé de: ensino, pesquisa e extensão; deve conciliar e apoiar iniciativas de cunho crítico que gerem debates entre as mais diversas áreas de conhecimento que contemple os cursos oferecidos pela mesma. Salienta-se que espaços de debates são ricos em conteúdos de experiências, vivências, bagagens teóricas e 8

metodológicas e que a troca de saberes aliada a um debate constante, vem a firmar o compromisso da universidade no intercâmbio de conhecimento entre comunidade acadêmica e comunidade externa. Para tanto, a importância de espaços de discussão e formação que reflitam não somente a categoria de gênero e seus correlacionados, mas também outras categorias teóricas que necessitam de um debate e aprofundamento pessoal, vivencial e teórico, se colocam como fruto de um instrumento de democratização do saber. Pelos resultados obtidos através de uma metodologia que pode ser considerada simples, mas que obteve resultados satisfatórios na discussão e socialização dos saberes. Enfatiza-se também, que é nesses espaços que se é possível estabelecer contrapontos a fim de ponderar conceituações, visões e posturas frente a determinadas situações que envolvam a temática abordada. Por mais que tenhamos muitos estudos de gênero socializados, que discutam a categoria de trabalho, a divisão sexual e a desigualdade, nota-se que é um conteúdo que está constantemente em movimento, diante do contínuo movimento da realidade, frente à inserção da mulher no mercado de trabalho e seus determinantes. Para tanto, afirma-se novamente o compromisso que a Universidade deve firmar perante a sociedade, de socialização de saberes, troca de vivências e experiências. Para que a comunidade acadêmica não fique reclusa, mas que munida dos conhecimentos adquiridos ao longo da graduação e outras instâncias de formação, possa contribuir para que a sociedade se coloque como objeto de reflexão nas suas posturas dominantes, muitas vezes preconceituosas e autoritárias, podendo alterar esse cenário, que quanto mais valorize um debate democrático de ideias e pensamentos, mais preparados estarão para reivindicar na luta por direitos. REFERÊNCIAS CARRARA, Sérgio. Educação, diferença, diversidade e desigualdade. In: Gênero e diversidade na escola: formação de professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais. Livro de conteúdo. Versão 2009. Rio de Janeiro : CEPESC; Brasília : SPM, 2009. CRUZ, Antônio; GUERRA, Janaína da Silva. In: HEBERT, Sérgio et al. Participação e práticas educativas a construção coletiva do conhecimento. São Leopoldo: Oikós, 2009. p 90-105 GAIGER, Luiz I. A economia solidária diante das desigualdades. Revista Dados. v. 50, n. 3, 2007. GUÉRIN, Isabelle. As mulheres e a economia solidária. São Paulo: Edições Loyola, 2005. 9

GEBARA, Ivone. Rompendo o silêncio: uma fenomenologia feminista do mal. Petrópolis: Vozes, 2000. KERGOAT, Daniele. Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo. (tradução: Miriam Nobre). 2003 ROSALDO, Michelle Zimbalist. A mulher, a cultura e a sociedade: uma revisão teórica. In: ROSALDO, Michelle Zimbalist. LAMPHERE, Louise. (Org.). A mulher, a cultura e a sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. SCOTT, Joan. Gênero, Uma Categoria Útil de Análise Histórica. (tradução: Christine Rufino Dabat e Maria Betânia Ávila). Recife, 1991 SINGER, Paul. Introdução à economia solidária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2012. 10