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O Grupo Cultural AfroReggae é uma organização que luta pela transformação social e, através da cultura e da arte, desperta potencialidades artísticas que elevam a autoestima de jovens das camadas populares. Tem por missão promover a inclusão e a justiça social, utilizando a arte, a cultura afro-brasileira e a educação como ferramentas para a criação de pontes que unam as diferenças e sirvam como alicerces para a sustentabilidade e o exercício da cidadania. O InfoReggae é uma publicação semanal e faz parte dos conteúdos desenvolvidos pela Editora AfroReggae. Sede Rio de Janeiro Rua da Lapa, nº 180 Centro Rio de Janeiro (RJ) +55 21 3095.7200 Representação São Paulo Rua João Brícola, nº 24 18º andar Centro São Paulo (SP) +55 11 3249.1168 InfoReggae - Edição 36 AfroReggae debate estratégias de combate à violência na ONU 23 de maio de 2014 Coordenador Executivo José Júnior Coordenador Editorial Marcelo Reis Garcia Gerência de Informação e Monitoramento Danilo Costa Responsável Técnico do AfroReggae Thales Santos Assistente de Pesquisa Nataniel Souza Pedro Henrique Nunes Contatos www.afroreggae.org facebook.com/afroreggaeoficial twitter.com/afroreggae inforeggae@afroreggae.org É permitida a reprodução dos conteúdos desta publicação desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas. Patrocínio Institucional Parcerias Apoio
Apresentação O InfoReggae desta semana apresenta a participação do AfroReggae em um encontro onde importantes atores mundiais, como gestores públicos, representantes de diversas ONGs e representantes da ONU debateram suas experiências a fim de contribuir com as estratégias de combate à crimes violentos como o narcotráfico e o terrorismo. É um passo marcante que o AfroReggae está dando em sua história na contribuição e multiplicação para uma discussão sobre a reinserção social de jovens e adultos egressos do mundo das drogas. Thales Santos, sociólogo no AfroReggae, representará a instituição e debaterá com outros diversos especialistas quais os pricipais elementos da nossa estratégia que podem se aplicar em outros contextos assim como trará para o Brasil inovações que poderão contribuir com o nosso trabalho. 3
O que é o Encontro e quem participa? Nas últimas décadas, gestores públicos, pesquisadores e técnicos das mais variadas instituições entenderam que um sistema de segurança pautado apenas em estretégias de punição, por meio das unidades carcerárias, não são suficientes para combater a propagação da violência extrema, como o tráfico de drogas, homicídios e, inclusive, o terrorismo, especialmente entre o público jovem. Há um crescente consenso sobre a necessidade de priorizar programas que de alguma forma mantenham os jovens e adultos fora do mundo do crime, seja pela prevenção, ou por meio da reabilitação. Ao reunir os formuladores de políticas, profissionais e especialistas de diferentes países, o encontro tem como objetivo ampliar o conhecimento sobre o assunto de reabilitação de egressos do mundo do crime por meio de experiências e pontos de vista de diferentes contextos. Participam do evento gestores públicos com um importante papel na implementação de políticas de segurança da Turquia, como Secretário de Segurança do país, que vai dividir a mesa de abertuta com o Diretor do instituto de pesquisas da ONU, Jonathan Lucas. Além do AfroReggae, outras ONGs também foram convidadas a participar como a CLEEN Foundation (Nigeriana) que também trabalha com a reinserção de egressos dos sistema penitenciário no mercado de trabalho, Exit Sweden (Suécia) que trabalha com a prevenção de ideologias nazistas. 4
Quem organiza o Encontro? Desde 2006, os Estados Membros das Nações Unidas reconheceram a importância em se criar um centro internacional de combate ao terrorismo. Entretanto, apenas em 2011, a partir dos acontecimentos de 11 de setembro, foi possível lançar o Centro Antiterrorista das Nações Unidas (UNCCT) por meio de uma contribuição voluntária do Governo da Arábia Saudita. O UNCCT surgiu com o objetivo de promover a cooperação internacional contra o terrorismo e apoiar os Estados-Membros em uma implementação da Estratégia Antiterrorista Global das Nações Unidas. Operando sob o Secretário-Geral das Nações Unidas, por meio do Departamento de Assuntos Políticos, o centro tem um importante papel em fomentar pesquisas, debates e a implementação de estratégias contra o terrorismo. O Workshop no qual o AfroReggae apresentou sua experiência faz parte de um programa estratégico sobre temas relacionados à crimes violentos, mais especificamente o terrorismo, a partir de experiências com grande destaque no cenário mundial. 5
Por que o AfroReggae está participando? O AfroReggae proporciona à pessoas ligadas ao crime e/ou cumprindo pena, uma segunda chance para reconstruir sua vida. A ONU convidou a instituição, uma das únicas participantes do encontro com a experiência na reinserção de egressos do mundo do crime, como o narcotráfico. Além disso, o AfroReggae é bastante reconhecido em todo o mundo por trabalhar com elementos artísticos como a percussão, a dança e o circo, previnindo assim a entrada das crianças e jovens no tráfico de drogas. Como o objetivo do encontro é justamente a troca de experiências de sucesso, para que outras organizações possam debater os elementos possíveis de serem aplicados em suas práticas, o AfroReggae terá um papel de grande importância em mostrar como quebramos todas as barreiras existentes, combatemos o preconceito e permitimos a reiserção de egressos no meio social. 6
Apresentação do AfroReggae no Encontro Criado em 1993, no Rio de Janeiro, o AfroReggae é uma Organização Não Governamental empenhada em promover a inclusão e justiça social por meio da arte, da cultura afro-brasileira, da educação e da abertura de novas oportunidades para pessoas envolvidas ou que já estiveram envolvidas no mundo do crime. Atuando sempre em comunidades pobres, o AfroReggae procura atrair crianças, adolescentes e adultos oferecendo atividades como circo, teatro, dança, música e oportunidades no mercado de trabalho. O AfroReggae nasceu do esforço voluntário de pessoas de origem simples, que carregam histórias de vida semelhante com a do próprio público que agora buscam ajudar. A minha intenção é apresentar nossa metodologia de trabalho e a partir do debate com todos os presentes, tentar destacar os principais pontos que podem ser multiplicados em diferentes contextos culturais. Antes de qualquer passo, é importante apresentar a realidade desses jovens moradores de favelas em todo o Brasil. De acordo com as estatísticas mais recentes sobre os números da violência no Brasil, em 2013, mais de 28.906 crianças e jovens foram assassinados, sendo aproximadamente 80% vítimas do narcotráfico. Os jovens moradores de favelas tem disponível em seu dia a dia uma grande diversidade de sinais e informações que orientam suas escolhas e tomadas de decisão. São realidades muitas vezes contraditórias. Digo contraditórias porque ao mesmo tempo em que se convive com a ostentação e com o luxo que o tráfico pode proporcionar, convive-se com a perda na guerra entre traficantes e entre a polícia e o traficante. Ao sair de seu espaço da favela e entrar em contato com os moradores dos bairros formais, esse jovem percebe, desde o primeiro contato o forte preconceito que existe contra a sua realidade. O simples fato de caminhar pelo shopping, por exemplo, torna-se um ato humilhante quando esse jovem morador de favela vivencia os olhares de preconceito da população que frequenta esses espaços. Assim como 7
percebe que todos ao seu redor tem acesso à produtos como tênis e roupas de marca, joias, e ele não consegue consumir porque não tem dinheiro. Ao mesmo tempo em que na favela existe a presença de muitas expressões culturais, festas e abundante solidariedade entre os moradores, existe também a pobreza e a convivência com a falta de referência. Uma pesquisa desenvolvida pela UNESCO em 4 favelas do Rio de Janeiro, no ano de 2011, demostra que na faixa de idade entre 12 e 17 anos, para cada 3 jovens moradores de favela, dois relatam a ausência do pai, um em cada quatro relatam a ausência da mãe e 18,1% relatam a ausência do pai e da mãe. (Sociabilidade Subterrâneas, UNESCO). Ainda segundo a pesquisa, a maioria dos respondentes, mesmo relatando a família como instituições muitas vezes ausente, a descrevem como um fator de suma importância na definição de sua trajetória de vida. Esses elementos convergem em um sentimento de ausência e falta de pertencimento à uma identidade. Dessa forma, é justamente nesta fenda que o tráfico se aproveita, se apresentando ao jovem como uma alternativa. O narcotráfico apresenta-se como uma possibilidade pela qual o jovem se vê pertencente a um grupo de poder, pode ser reconhecido como alguém importante, gerar renda e possuidor de um status de força e poder. Uma vez no crime, esse jovem se afasta por completo de seus vínculos sociais com a sociedade fora da favela. Abandona os estudos e, por questões de segurança, dificilmente conhece a realidade fora dos muros e becos do lugar onde mora. A forma como o AfroReggae acessa esse jovem ou adulto no tráfico se dá pela ampla exposição do nosso trabalho dentro das favelas, seja pelas atividades culturais desenvolvidas, seja pelo trabalho social de acompanhamento das famílias. Muitas vezes, familiares e amigos entram em contato com a nossa instituição para que possamos ir ao encontro desse jovem. A partir de então se inicia um trabalho intenso de acompanhamento, desde o aconselhamento, análise das pendências jurídicas com a polícia, até a inserção deste jovem ou adulto no mercado de trabalho e em seu novo meio social. Em nossa experiência, temos percebido que uma das principais formas de reinserir um jovem egresso do tráfico na sociedade ocorre por meio de sua entrada no mercado de trabalho. Quando se retira a referência do tráfico, é necessário a 8
substituição por outras referências, seja por um emprego, seja por um trabalho artístico. O AfroReggae, por meio de seu projeto Segunda Chance, estabelece parcerias com empresas diversas que tem o interesse em dar uma oportunidade à esses jovens de recomeçar uma vida. O projeto ativa o processo de ressocialização, dando apoio psicológico, capacitação profissional e regularização de documentação, desde o momento de saída do sistema prisional e/ou do tráfico, passando pelo encaminhamento efetivo a postos de trabalho e acompanhamento do desempenho do jovem no ambiente de trabalho. Recentemente, o AfroReggae tem trabalhando também na capacitação desses jovens para que consigam melhores posições no mercado de trabalho. Mais que um diploma, esses profissionais receberão uma oportunidade para construírem uma nova vida. Uma vida pautada na dignidade e no respeito e que será de grande importância para desconstruir o preconceito que existe em relação às pessoas que um dia estiveram ligadas ao crime. Cada jovem egresso do narcotráfico inserido no mercado de trabalho mostra a toda a sociedade, a importância da segunda chance e da possibilidade de reconstrução da vida, desde que oferecida uma oportunidade. O AfroReggae antes de qualquer coisa, nunca desiste de um jovem. Não existe jovem ou adulto perdido no tráfico e que não tenha solução. Assim como também, não podem existir barreiras. Todas as barreiras devem ser quebradas pelo convívio com a diferença. Não existe inserção social sem que haja a convivência desse jovem ou adulto com a sociedade de forma ampla. Seja nos espaços de cultura, espaços de lazer e espaços de trabalho. Neste contexto, é importante a estratégia do desaprender. Desaprender significa se afastar dos vícios e rotinas aprendidos no tráfico, das gírias frequentemente utilizadas, do comportamento constante de uso da ilegalidade. Desaprender o ódio pelo outro pelo simples fato de ser de uma outra facção. O melhor caminho para isso é colocar em contato pessoas que um dia já estiveram em posições opostas e odiosas como, por exemplo, facções adversas e policiais e traficantes. Juntos os atores se entendem e se colocam um no lugar do outro, percebem que há muito mais semelhanças do que desavenças. 9
Uma das lições, até o momento com o projeto é sobre a importância das parcerias na inclusão social e no combate aos problemas fruto do preconceito bem como disponibilizar uma estrutura que seja ampla e que permita o acompanhamento do jovem não só no mercado de trabalho, mas em sua vida social como um todo e sua adaptação ao retorno à sociedade. Parcerias permitem um tipo de ação coletiva em inclusão social, produzindo alianças entre parceiros de conhecimentos e práticas diferentes, mas que se complementam e facilitam as travessias sociais da exclusão, para a inclusão social. Gostaria de apresentar um vídeo de aproximadamente 3 minutos que apresenta a experiência de pessoas que um dia já trabalharam recrutando jovens para o narcotráfico, hoje trabalham com o AfroReggae recrutando traficantes para o mercado de trabalho. http://vimeo.com/94030883 Termino a minha fala com um trecho do Manifesto do AfroReggae, importante por guiar o nosso trabalho: 10
Um Debate a ser feito A participação do AfroReggae no workshop se mostrou de extrema importância para apresentar ao mundo e à ONU a necessidade, principalmente, de combater o preconceito contra o egresso do sistema prisional e contra os envolvidos no narcotráfico. Diversas práticas foram compartilhadas, ONGs de todo o mundo reconhecidas por utilizarem as melhores práticas no que se refere à reabilitação de envolvidos em crimes violentos como o terrorismo e o narcotráfico, entretanto, nenhuma proposta incluía a voz do beneficiado como o AfroReggae propõe. A nossa experiência é muito rica por trazer para dentro da instituição uma grande diversidade de trabalhadores, entre eles ex traficantes e egressos da prisão. Infelizmente, a percepção sobre a motivação de entrada ao mundo do crime não é um consenso e muitas vezes carrega uma visão preconceituosa. Para muitos, o crime é visto como uma escolha e sendo assim, quem opta por este caminho, deve entender que fez uma escolha errada e para isso, deve ser punido e de forma bem rígida, em alguns pontos com pena de morte. Um ponto destacado por todos os presentes é sobre o papel das ONGs no processo de reabilitação, uma vez que atua como um importante mediador entre o Estado e os envolvidos com o mundo do crime. Esse papel permite o acesso aos beneficiados de uma forma que o estado não alcançaria, e a parceria com o governo local permite a ONG facilitar o seu trabalho uma vez que atinge um número maior de pessoas. Entre os principais pontos apresentados, o AfroReggae destacou três direcionamentos que devem ser dados no processo de reabilitação de egressos do mundo do crime: - Egressos do mundo do crime devem participar ativamente do processo de elaboração de políticas e projetos que buscam a sua reabilitação. 11
- Deve-se buscar sempre derrubar todas as barreiras que impedem o acesso de egressos do crime à sociedade. O preconceito deve ser combatido de forma efetiva. - O trabalho de prevenção à entrada no mundo do crime é importantíssimo para resultados mais efetivos no processo de reabilitação do egresso. O AfroReggae começa a dar visibilidade mundial para um debate que tem sido feito há muito tempo pela instituição nos espaços em que atua: a importância de se quebrar as barreiras que impede o crescimento e o desenvolvimento de quem está em uma situação vulnerável, seja ela um jovem no tráfico, uma crianças sem referência, um adulto sem escolaridade e fora do mercado de trabalho, uma travesti sem a sua identidade reconhecida, entre outros diversos casos. A apresentação do nosso trabalho foi muito bem recebido por todos. Os participantes ficaram muito impressionados com o Segunda Chance, com a possibilidade de termos egressos atendendo egressos e com a nossa ideologia de que nunca há casos perdidos. 12
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