MODELAGEM E SIMULAÇÃO NUMÉRICAS APLICADAS À DISPERSÃO DE POLUENTES SOB EFEITO DE MARÉS SEMI-DIURNAS NA ORLA DE MACAPÁ E SANTANA - AP



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Transcrição:

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1 MODELAGEM E SIMULAÇÃO NUMÉRICAS APLICADAS À DISPERSÃO DE POLUENTES SOB EFEITO DE MARÉS SEMI-DIURNAS NA ORLA DE MACAPÁ E SANTANA - AP Alan Cavalcanti da Cunha 1 ; Luis Aramis dos Reis Pinheiro 2 ; Helenilza Ferreira Albuquerque Cunha 3 & Leandro Rodrigues de Souza 4 RESUMO O objetivo do estudo foi simular o comportamento do escoamento hidrodinâmico e as influências dos processos de dispersão de plumas de poluentes na orla fluvial entre as cidades de Macapá e Santana durante um ciclo de maré semi-diurna. A metodologia consistiu em uma análise numérica do escoamento em que foram consideradas seis fontes poluentes contínuas hipotéticas em regime transiente. Foi utilizado o pacote de softwares da Ansys CFX 11.0 e uma base de dados da hidrodinâmica aproximada no desenvolvimento do modelo 3D. As fontes contínuas de poluentes foram escolhidas em pontos estratégicos da orla, tais como áreas de drenagem principais, o Porto de Santana e fontes próximas do posto de captação de água da CAESA, localizado no rio Amazonas. Os resultados permitiram avaliar preliminarmente os potenciais impactos e riscos ambientais causados por lançamentos de efluentes sanitários ao longo da orla, principalmente o alcance das plumas. Como conclusão, observa-se que as plumas tendem a se manter concentradas na orla, inclusive atingindo o ponto de captação de água de Macapá, não se dispersando ao longo dos ciclos de marés semi-diurnas. Estes indicativos sugerem a necessidade urgente de sistemas de monitoramento sistemáticos da qualidade da água para prevenir futuros problemas de saúde pública. Palavras-chaves: Dispersão de poluentes, Modelagem Hidrodinâmica, Zona Costeira-AP 1 Prof. Adjunto II, Ciências Ambientais: Universidade Federal do Amapá UNIFAP. Rodovia JK, km 02. Jardim Marco Zero. Macapá- AP. e-mail: alancunha@unifap.br. 2 Mestrando em Eng. Mecânica Universidade de Brasília-UnB. aramis.pinheiro@iepa.ap.gov.br 3 Profa. Adjunta IV, Ciências Ambientais: Universidade Federal do Amapá UNIFAP. Rodovia JK, km 02. Jardim Marco Zero. Macapá- AP. e-mail: helenilzacunha@unifap.br. 3 Coordenadora do PPGBIO-UNIFAP. Helenilza.cunha@ unifap.br 4 Mestando em Meteorologia Universidade Federal de Campina Grande - PB. leandro.souza@iepa.ap.gov.br.

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 2 ABSTRATC MODELAGEM E SIMULAÇÃO NUMÉRICAS APLICADAS À DISPERSÃO DE POLUENTES SOB EFEITO DE MARÉS SEMI-DIURNAS NA ORLA DE MACAPÁ E SANTANA - AP The objective this research is to simulate the behavior of the hydrodynamic flow processes and the influences of dispersion of pollutants plumes in the coast fluvial between the cities of Macapá and Santana during a cycle of semi-diurnal tide. The methodology consisted of a numerical analysis of flow in six hypothetical continuous pollution sources under transient flow regime. We used the software package Ansys CFX 11.0 and a database of the hydrodynamic approximation to the development of the 3D model. The continuous sources of pollutants were chosen at strategic points of the coast, such as major drainage areas, the Port of Santana and sources close to the station supplies water intake, located in the Amazon River. Preliminarily, the results shows the potential environmental impacts and risks caused by releases of wastewater along the coast, particularly the extent of the plumes of pollutants. In conclusion, we observe that the plumes tend to remain "concentrated" on the coast, even reaching the point of water supply of Macapá city, no dispersing throughout the tidal cycles semi-diurnal. These indicators suggest the urgent need for systematic monitoring systems of water quality to prevent future health problems. Keywords: Dispersions of pollutants, Hydrodinamic Modelling, Coast Zone-AP 1.INTRODUÇÃO Segundo Bastos (2010), até 2020 o crescimento populacional na bacia amazônica está estimada em 9,5 milhões de habitantes, com uma densidade demográfica de 2,5 hab/km 2, com distribuição significativamente desigual, com maior concentração nas principais cidades como Manaus, Santarém, Porto Velho, Belém, Boa Vista, Rio Branco e Macapá. De acordo com estas informações, um dos aspectos mais relevantes das águas é a melhoria das condições de saneamento das capitais e dos principais núcleos urbanos, mediante a ampliação ou a implementação de sistemas de tratamento de esgotos domésticos, além de sistemas de tratamento de efluentes industriais e de disposição final de sólidos. De acordo com Carrera-Fernandez e Garrido (2002) a demanda de água para uso humano surge tanto das atividades estritamente domésticas, quanto de quaisquer outras atividades praticamente inseparáveis destas e que também exijam requisitos de qualidade e quantidade, além da garantia de abastecimento. As demandas de água no meio urbano são definidas com base na população e em

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3 índices de consumo por habitante, características sócio-econômicas, como hábitos e nível de vida da comunidade, estrutura do ordenamento territorial, nível de atividades urbanas e características naturais, tais como a qualidade da água, precipitação pluviométrica, influências de marés, etc. De acordo com Hespanhol (2002) apud Pinheiro et al., (2008a,b) nos países em estágio de desenvolvimento e, mesmo em grandes regiões menos favorecidas de países em franco estágio de expansão industrial, tais como Brasil e a Índia, a situação é bastante diferente dos países desenvolvidos, onde os problemas de saúde pública são menos dependentes das tarifas de cobranças para a disposição de serviços de saneamento básico. Isto é, as tarifas do suprimento de consumo de água são baixas em relação às rendas médias auferidas pelas populações, quando comparadas aos países em desenvolvimento. No caso das doenças infecciosas associadas à água, é possível classificá-las de acordo com os modos de propagação, por permitir uma avaliação direta dos efeitos das melhorias, ou ações corretivas que são implementadas. Neste último aspecto, é extremamente importante entender como se dispersam os poluentes na água, pois estes são um dos principais responsáveis pela sua veiculação (Bastos, 2010). Um aspecto a ser também considerado é o desenvolvimento de tecnologias de tratamento de águas, ocorrido na segunda metade do século XX, que levou à aceitação indiscriminada da idéia de que os mananciais que recebem efluentes industriais contendo micropoluentes sintéticos orgânicos e inorgânicos poderiam ser convenientemente tratados, permitindo a produção de água absolutamente segura. Independentemente dos níveis de poluição desses mananciais, acreditava-se que os processos e operações unitárias de coagulação-floculação, sedimentação, filtração e desinfecção, seriam suficientes para tornar a água segura, para abastecimento doméstico, eliminando agentes etiológicos causadores de doenças contagiosas transmitidas pela água. Na época, era a principal preocupação de saúde pública associada ao abastecimento público (Hespanhol, 2002). Com a produção de milhares de compostos orgânicos sintéticos surgiram o problema da eutrofização acelerada dos rios e o riscos de doenças crônicas, associadas às concentrações muito baixas de micropoluentes, orgânicos e inorgânicos, que não são absolutamente removidos pelos sistemas convencionais de tratamento, como é o caso da maioria das Estações de Tratamento de Água no Brasil. De acordo com Pinheiro et al., (2008b), no Amapá, assim como a maioria dos sistemas brasileiros, o tratamento da água de água de abastecimento (CAESA) segue o mesmo processo: coagulação-floculação, sedimentação, filtração, desinfecção. Considerando os aspectos relacionados à proteção, conservação e uso múltiplo dos recursos hídricos do Estado do Amapá, o presente estudo visa

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 4 a análise dos fenômenos de transportes que governam a dispersão de poluentes em zonas estuarinas ao longo de um trecho da orla de Macapá próxima à captação de água de abastecimento da CAESA. Desta forma, pretende-se também avaliar os riscos de influência de potenciais plumas de poluentes sobre a ETA da CAESA, utilizando-se um modelo numérico e simulação computacional para este fim. Uma justificativa para o estudo é a necessidade de gerenciamento e controle de poluição dos recursos hídricos nos ambientes amazônicos (Bastos, 2010). Isso porque, em condições de abundância e uso pouco intensivo da água, como é o caso do rio Amazonas, com elevado volume d água, há o mito de que o mesmo dilui quaisquer quantidades de resíduos ali lançados, sem a preocupação com sua qualidade final (Cunha et al., 2004). Entretanto pesquisas recentes no Estado (Cunha et al., 2006; Cunha et al.; 2007) têm apontado uma significativa alteração da qualidade da água em rios próximos da área costeira de Macapá e Santana. Neste contexto, a principal indagação da pesquisa seria: o lançamento de resíduos perigosos sem tratamento ao longo da orla de Macapá atingiria o sistema de captação de água da CAESA ou outros pontos vitais quaisquer? Se este fosse o caso, quais seriam as áreas consideradas mais perigosas? Para responder a este questionamento, no presente trabalho, foram desenvolvidos estudos preliminares sobre a dispersão de poluentes na água na região que abrange a orla de Macapá e Santana (entre o Igarapé do Jandiá até o rio Matapi, em Santana) e a variação da concentração de potenciais poluentes em pontos estratégicos da orla, em especial o posto de captação de água da CAESA. A hipótese (H o ) ao problema levantado seria: H o : as plumas de poluentes apresentam um comportamento dispersivo pouco eficiente dos poluentes ao longo da orla, haja vista que as correntes tendem a concentrá-las nas margens do rio (orla) aumentando os potenciais riscos sanitários e ao abastecimento de água de Macapá (CAESA). Com base nestas observações, foram empreendidos métodos seguintes para alcançar os objetivos da pesquisa. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Caracterização do Estudo

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 5 A região estudada tem como limite norte a linha que corta o Canal do Jandiá (0 3'24.67"N e 51 2'28.93"W) a leste o rio Amazonas (051 0'10.54"W), a oeste (51 16'22.33"W) e ao sul na linha que passa nos limites do rio vila ( 0 5'20.86"S e 51 13'17.17"W ), com uma área de 254.603.000 m². (Figura-1). b c e d a f Figura 1: a) rio Vila Nova; b) rio Matapi; c) Igarapé do Jandiá; d) posto de captação da CAESA; e) Cidade de Macapá; f) Ilha de Santana. Em azul, o rio Amazonas. FONTE: Google Maps (2008). Trata-se da região mais urbanizada do estado do Amapá. Nesta local está situado o Igarapé das Mulheres, principal ponto de chegada da produção agropecuária e pesqueira do estado do Amapá e da Ilha do Marajó, a Fortaleza de São José de Macapá, o posto de captação de água da CAESA, a estação das Docas de Santana, ilha de Santana e os rios Vila Nova e Matapi, nas quais se desembarcam grande parte dos produtos industrializados do Estado do Amapá. 1. A foz do Amazonas concentra-se no lado ocidental da ilha de Marajó. Isso faz com que a cidade de Macapá seja considerada a única capital banhada por este imenso rio. O volume de água despejado pelo rio é da ordem de 210 mil m 3 /s. Contudo, todo esse volume de água tem sido incapaz de diluir ou dispersar os poluentes em áreas próximas das cidades ribeirinhas, como é o caso de Macapá e Santana. As razões, provavelmente são devido a massa de água apresentar alguns efeitos de correntes de marés que direcionam preferencialmente os poluentes para regiões mais próximas das margens dos rios (Cunha et al. 2004). A seguir apresentamos os motivos pelos quais nos levaram aos questionamentos sobre a diluição dos poluentes na água, ora descritos pelas etapas metodológicas a seguir. Alguns estuários, como o Amazônico, são típicos de regiões de planície costeira que se formaram durante a transgressão do mar no Haloceno, que inundou os vales de rios. Esses estuários são relativamente rasos, raramente excedendo 30 m de profundidade (Cunha et al., 2006). A área de seção

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 6 transversal do rio, em geral, aumenta estuário abaixo, às vezes de forma exponencial e a configuração geométrica tem a forma de V, em que a razão entre a largura/profundidade, em geral, é grande. O rio Amazonas, nos trechos estudados da zona estuarina estão na faixa de 25 a 35 m profundidade e muitos complexos do ponto de vista geométrico (Lung, 1993; Miranda et al, 2002). 2.2 Dados da área estudada No presente estudo, consideramos a região estudada como um fundo plano, cuja profundidade média foi de aproximadamente 5 m, que é a profundidade média do local mais próximo da margem esquerda do rio Amazonas próximas de Macapá e Santana. Assim, consideramos os fenômenos de dispersão superficial como quase bidimensional (águas rasas) e o nível de água como constante para efeito de simplificação da análise (Cunha, 2008). As simulações computacionais foram embasadas em comportamento de medidas de descarga líquida dos referidos corpos de água acima citados, cujos dados experimentais e computacionais têm sido utilizados por Cunha et al. (2006; 2007). As medidas experimentais, portanto, foram aproximações das variações reais de medidas de descargas líquidas em períodos completos de marés semidiurnas utilizadas para compor o balanço de massa nas seções estudadas (condições de contorno e iniciais). 2.3 Digitalização do Domínio Geração da Geometria 3D da Orla de Macapá Seguindo as orientações de Pinheiro (2008), para a geração do domínio computacional da orla de Macapá em três dimensões foram usados dois softwares: Techdig e o Solidworks CAD, no Laboratório de Energia e Ambiente da UnB (LEA-UnB). O primeiro gera uma série de coordenadas cartesianas (X,Y) demarcados usando uma imagem de satélite do domínio, como mostrado pela Figura 2. Depois foi gerada a curva inserida no software Solidworks CAD, através do arquivo de texto do Techdig. Posteriormente é convertida em um esboço geométrico e usada um recurso de extrusão do plano formado. O recurso de extrusão serve para dar a dimensão de profundidade do domínio e transformá-lo em um sólido, como mostra a Figura-3 (Pinheiro et al., 2008a,b). O resultado deste procedimento foi a geração de uma malha computacional discretizada espacialmente e interpretável pelo sistema de pré-processamento do CFX 11.

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 7 Figura 2: curva gerada a partir dos dados do Techdig na qual é gerado um sólido no Solidworks. 2.4 Geração da Malha Computacional Elementos de Volume Finitos Antes de gerar a malha computacional, ou grade, foi necessário importar a geometria criada no Solidworks para o software Ansys Workbench 11.0. Neste ambiente a malha é convertida para o formato de arquivo aceito pelo Ansys CFX 11.0. No procedimento metodológico, a malha foi desenvolvida no modulo do software Ansys Workbench 11.0, CFX Meshing, resultando uma estrutura de 211.364 nós e 791.708 tetraedros (elementos computacionais onde todas as soluções numéricas do escoamento ocorrem). Ver Figura-3, abaixo. Figura 3: Destaque do trecho da malha computacional em três dimensões gerada no modulo cfx-meshing usada na simulação. O Escoamento foi resolvido para o regime transiente 3D acoplado a um sistema lagrangeano para a dispersão de constituintes na água (poluentes).

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 8 As trajetórias e os fluxos de água ao longo do trecho da bacia hidrográfica estudada são determinados com base na topografia aproximada, a qual pode ser representada numericamente através de Modelos Numéricos de Terreno (MNT). Diferentes abordagens podem ser utilizadas para representar um MNT. A forma mais comum de representação de um MNT é a grade regular, onde um valor de cota é atribuído a cada elemento da grade (Rennó e Soares, 2001). 2.5 Modelagem Numérica da Dispersão de Poluentes sob Efeitos de Marés em Regime transiente no Ansys CFX-11.0 O pacote comercial ANSYS 11.0 (CFX 11.0) apresenta-se na seguinte seqüência metodológica: a) Ansys CFX - Pre para o pré-processamento; b) Ansys CFX - Solver para o processamento da dinâmica de escoamento e dispersão de um passivo escalar (poluente); e c) Ansys CFX - Post para o pós-processamento (Pinheiro e Cunha, 2008). A taxa de emissão de poluente e a quantidade de emissores no domínio são dadas na Tabela 1, abaixo. A taxa de emissão de poluentes nesta simulação possui valores hipotéticos para estudo do comportamento das plumas na hidrodinamica, as quais foram fontes contínuas, como se fossem traçadores e livres dos processos biogeoquímicos (decaimentos). A disposição destes emissores no domínio pode ser observada na Figura 4, onde foram representados por esferas vermelhas. Tabela 1: pontos de emissão e taxa de emissão de poluente orgânico hipotéticos, a ordem dos emissores na Figura 8 é de cima para baixo. Fontes Taxa de Emissão (Kg/s) (Hipotética) EMISSÃO 1 0,5 EMISSÃO 2 0,05 EMISSÃO 3 0,02 EMISSÃO 4 0,1 EMISSÃO 5 0,3 EMISSÃO 6 0,4

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 9 A simulação representa o escoamento em um regime transiente de 13 h. Os passos de tempo foram de 3 min cada. Ou seja, em um evento de treze horas teremos o controle das variáveis de cinco em cinco minutos. A simulação numérica consiste na discretização das equações de Navier-Stokes utilizando o modelo turbulento Shear Stress Transport solução do escoamento livre. 3 6 1 7 2 8 10 9 5 4 Legenda: 1- Orla de Macapá e Santana (região compreendida entre o bairro do Perpetuo Socorro e foz do rio Vila nova), abrange uma área de 254.603.000 m²(região tipo wall, sem deslizamento); 2- Rio amazonas(a região que representa o fundo do rio é do tipo wall sem deslizamento e a parte de cima é do tipo wall com deslizamento livre); 3- Sentido Norte do Rio (região de entrada e saída de fluxo, região do tipo opening); 4-Sentido Sul do Rio (região de entrada e saída de fluxo, região do tipo opening); 5- Ilhas do arquipélago do Marajó (região de tipo wall, sem delizamento); 6-Secção de simetria do rio (região tipo symmetry); 7-Ponto de controle localizado no posto de captação de água da Cidade; 8-Rios Matapi, acima, e Vila Nova embaixo são regiões de entrada e saída de fluxo (tipo opening); 9- Ponto de emissão de poluente; 10 Ilha de Santana(wall sem deslizamento). Figura 4: Ambiente gráfico do CFX Pre - os pontos vermelhos são fontes de emissão de poluentes (Pinheiro e Cunha, 2008). 2.5.1 Modelo Numérico e o Modelo Turbulento Híbrido - SST O modelo de turbulência escolhido foi o SST (shear stress transport do CFX). O modelo SST surge da necessidade do melhoramento de dois modelos k ε e k ω. O modelo k ε é um modelo robusto no estudo de escoamentos complexos, mas é pouco elucidativo nos fenômenos que ocorrem na camada limite da superfície de escoamento. Nesse ponto, o modelo k ω é mais eficiente, porém a equação ω é muito sensível para descrição de escoamentos livres, o que torna inviável a substituição do modelo k ε pelo k ω Menter (2003) apud Cunha (2006). Para que a lógica desse modelo funcione, o modelo κ ε é multiplicado por uma função de mistura e adicionado ao modelo κ ω também

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 10 multiplicado por essa função de mistura. Então, impõe-se que a função tenha valor unitário na região logarítmica e gradativamente torne-se nula fora da mesma. As especificações para esse modelo são: Viscosidade turbulenta µ t = ρ max( 1 a a ω, 1 k 2 ( S ) 1 ij S ij F 2 (1) ( ) 1 2 onde SijSij é uma medida invariante do tensor taxa de deformação e F 2 é uma das funções de combinação e é determinada por: F 2 = tanh max 2 B k 500 ν, 2 ω y y ω * 2 (2) A formulação das funções de mistura F 1 (Equação-6) e F 2 (Equação-2) é baseada na distância até a parede e nas variáveis. As funções de mistura têm como característica a delimitação de zonas onde cada modelo irá atuar. Através do valor encontrado para as funções, o modelo irá mudar a formulação nas equações de transporte, onde a primeira função de mistura (F 2 ) é responsável pela troca de modelos na formulação da viscosidade turbulenta e a outra função de mistura, F 1 é responsável pela determinação das constantes do modelo, e pela troca de modelos na equação de transporte de ω (Noleto, 2006). F 1 é igual a 1 considerando afastado da parede (utiliza a função κ ε) e é igual a zero quando considera a função próxima à parede (nesse caso, faz uso da função κ ω). Assim, a equação de transporte para a energia cinética turbulenta k, é dada por: k ρ t + ρ u i k x j = x j µ t µ + σ k k x j ~ + P k * β ρκω ; (3) onde: u i u u i j P µ min (,10. β * k = t + Pk = Pk ρκω ); x i x j x (4) i Equação de transporte para ω é: ω ω 2 2 1 k u i ω ( t ) ω ρ + ρ = µ + σ + S + 2( 1 F1 ) w2 ; t x j x ω µ αρ βρω ρσ j x (5) j ω xi xi

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 11 onde F 1 é definida como: F 1 = tanh κ 500ν 4 ρσ min max, * 2, B ωy y ω CD κω w 4 2κ 2 y (6) com 1 κ ω 10 CD κω = 1 max 2 ρσ ω 2, 10 ω x i x e y é a distância da superfície de não deslizamento. i As outras constantes são todas oriundas dos modelos κ ε e κ ω com alguns ajustes e são determinadas como: β*=0,09, α 1 =5/9, β 1 =3/40, σ k1 =0,85, σ ω1 =0,5, α 2 =0,44, β 2 =0,0828, σ k2 =1 e σ ω2 =0,856 (Menter, 2003). 2.5.2 Processamento Resolução da Modelagem Segunda etapa do modelamento, CFX Solver, no processamento são resolvidas as equações discretizadas de Navier-Stokes, permitindo o acompanhamento do processo de convergência do problema, assim como toda a informação do pré-processamento e os valores das variáveis em cada espaço de tempo. Na etapa é requerido grande esforço computacional na solução do problema. Para a resolução das equações diferenciais são impostos condições de convergência (erro quadrático médio da massa, momento em U, V e W, da ordem 10-4 ) estipulado pelo usuário do modelo. O limite de iterações numéricas impostas para os loops de tempo foi até 150 passos. Estes valores foram definidos no CFX- Pré 11.0 (Figura-5). Erro = 0.0001 A B Figura 5: CFX-Solver, (a) gráfico de convergência de erros, fornece informações, como momento de massa, energia cinética turbulenta, devem ser especificados no cfx-pre 11.0.(b) relatório do processamento e passo de tempos. No Solver é disponibilizado todos os dados referentes à simulação, assim como os valores monitorados pelo ponto de controle de concentração do constituinte químico orgânico. A visualização desses dados é a saída gráfica da simulação são geradas no CFX Post.

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 12 3. RESULTADOS A partir da fase de pós-processamento são geradas as figuras seguintes. Na Figura 6 (a,b,c e d) observam-se as plumas que se dispersam num período de tempo t = τ até t=τ+ t, onde τ é o tempo requerido para cada passo temporal futuro na simulação. A simulação ocorre num período de 13,5h (maré semidiurna). A visualização do comportamento da pluma é próxima do tempo real. Tais resultados são considerados de grande valor na tomada de decisões e estudos de lançamento de poluentes causados por vários fatores antropogênicos e seus impactos negativos sobre os ecossistemas aquáticos. Nestes casos, são mostrados os resultados das simulações ao longo da evolução das plumas, as quais foram geradas a partir de seis pontos de emissão. (a) (b) (c) (d) Figura 6: Dispersão de poluentes (sentido da corrente de sul para norte). Da esquerda para a direita, temos: a) t= 270 min, b) t = 300 min, c) t = 330 min e d) t = 360 min, até alcançar a baixa mar.

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 13 O sentido do escoamento é na direção de sul para norte de acordo com campo vetorial de velocidade. Isto significa que a maré está à baixa mar. As plumas tendem a percorrer correntes preferenciais ao longo da margem acompanhando a hidrodinâmica do rio e se distanciando em média 800 m das mesmas próximos das cidades de Macapá e Santana. Os detalhes das Figuras 7 a, b, c e d mostram o inicio do refluxo da maré, ou seja, o momento em que a maré inicia o processo de cheia (sentido norte sul). Neste momento, ocasionalmente, as plumas começam a reverter o seu fluxo em direção a região costeira de Santana, empurrando as plumas em direção ao continente (orla). (a) (b) (c) Figura 6: da esquerda para a direita, temos: a) t= 630 min, b) t = 660 min, c) t = 690 min e d) t = 710 min. Até a maré alcançar a pré à mar. A saída gráfica do CFX post possibilita uma visualização da dinâmica da dispersão de poluentes. Na figura 6 observa-se a dinâmica das plumas para um tempo posterior ao visto na Figura 7, quando a maré está revertendo seu sentido para cheia. Percebe-se o deslocamento da pluma para a (d)

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 14 região próxima da captação de água da CAESA (em detalhe na Figura 8). Parte da pluma que vai para Santana se desloca para parte inferior da Ilha de Santana. Mas com o refluxo esta tende a seguir em direção à margem do rio. As plumas que percorrem o espaço entre a cidade e a ilha acumulam-se, aumentando a concentração de poluentes no local, provavelmente devido às fontes de emissão serem continuas favorecendo este acúmulo. Mais detalhes deste resultado para ponto de monitoramento localizado próximo da captação de água pode ser observada na Figura 8, na qual pode ser visualizado o momento de maior concentração de plumas dos poluentes, no passo de tempo de t = 681 min ou após 11,3 h, do inicio do ciclo de maré enchente. Neste momento, a maré já está em fase de cheia, e o valor da concentração atingiu 8,13 x 10-5 Kg/m³. Posto de Captação Figura 8: Momento de ocorrência do pico de concentração de poluente simulada no ponto de controle, no passo de tempo t = 681 min, nota-se pelos vetores velocidade que a maré está enchendo. Para visualizar a concentração de poluentes em uma determinada região foi necessário determinar vários pontos de monitoramento receptores. Neste trabalho, foram inferidos três receptores (pontos de monitoramento da qualidade da água) em volta da região da captação de água da CAESA, num um raio de 100 m. A Figura 9 mostra da variação da concentração exatamente no posto de captação de água. Assim a concentração de poluentes nestes pontos foram plotados em um gráfico:

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 15 Concentração de poluente [Kg/m³] Passos de Tempo [ h] Figura 9: concentração de poluentes para dois receptores próximos ao posto de coleta e um exatamente ao local do posto. Outra região monitorada foi a desembocadura do rio Matapi, Figura 10, devido à grande atividade econômica nesta região. Neste local estão localizadas duas empresas multinacionais (MMX- Anglo Ferrous Brazil e International Paper e o Porto de Santana). Assim, as pluma simulam uma potencial atividade industrial. Concentração de poluente [Kg/m³] Passos de Tempo [ h] Figura 10: concentração de poluentes para região um ponto na desembocadura do rio Matapi (Porto de Santana e Distrito Industrial), esta região apresenta os maiores concentrações potenciais de poluentes. A região estudada merece mais atenção não só pelos problemas de urbanização e industrialização, mas pela configuração social e geográfica da zona estuarina de Santana, que se assemelha a um canal estreito. Devido à influencia da ilha de Santana os poluentes dispersos neste local não se distribuem por todo o estuário. Assim, de acordo com Bastos (2010), estes podem se acumular por certo tempo dentro do ciclo de maré afetando a qualidade da água na região. Há o fato, também, destas plumas se deslocarem para o rio Matapi, que já sofre impacto devido ao fluxo de embarcações no transporte de cargas (Figura 10). Verifica-se na região correspondente à orla e à Ilha de Santana que as plumas tendem a permanecer nesta região e não há uma dispersão definida.

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 16 Observa-se pelas saídas gráficas da Figura 11 que os ciclos de marés semidiurnas (t = 11 h às 13 h) se apresentam de forma extremamente dinâmicos. Durante os ciclos de marés também se percebe que há vários pontos (receptores) com maior riscos de contaminação. Nestes casos, as potencialidades das ferramentas computacionais são demonstradas justamente nessas situações. Portanto, mesmo considerando as simplificações aqui impostas, é facilmente perceptível sua intensidade na analise de gerenciamento ambiental. (a) (b) (c) (d)

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 17 (e) (f) Figura 11: dinâmica da dispersão de poluentes dispersos na região em frente de Santana, as plumas tendem a permanecer no local entre a ilha de Santana e o Porto de Santana durante todo o ciclo, t = 11 h às 13 h no fim de um ciclo de maré. Considerando o poluente disperso como um traçador, percebem-se os riscos do lançamento de efluentes sem nem um tipo de controle, que estão próximos dos valores estabelecidos pela Environmental Protection Agency (EPA). A Tabela 2 abaixo representa os limites para metais: Tabela 2: Limites Máximos de concentração de metais na água doce para sobrevivência de vida aquática. Concentação Pontos de Monitorameno Traçador (mg/l) Indicador Limite Maximo (mg/l) Legislação Posto de captação 0,00813 Cádmio 0,004 EPA* (1972) Ponto próximo ao posto *** 0,0552 Chumbo 0,03 EPA* (1972) Ponto próximo ao posto *** 0,232 Cobre 0,009 CONAMA** (2005) P.socorro 0,239 Cromo 0,05 CONAMA** (2005) Ponto Ilha de Santana 0,0936 Mercúrio 0,0002 EPA* (1972)... Zinco 0,18 CONAMA* * (2005)... Níquel 0,025 CONAMA** (2005) *Environmental Protection Agency (EPA) EUA adaptado de Pádua et al (1983). ** Resolução 357/05 Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) Brasil ***Pontos localizados próximos ao posto de Captação em um raio menor que 100 metros.

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 18 A Tabela 2 acima indica as concentrações máximas resultantes da simulação em cada ponto de controle e faz uma relação com o limite máximo de concentração, por exemplo, de metais determinados pela EPA e pela CONAMA. Com esta comparação percebe-se o risco da dispersão indiscriminada de poluentes no rio Amazonas, para os casos hipotéticos. Como já mencionada a dispersão do poluente na simulação é na forma de traçadores, então é possível manter uma relação entre a dispersão de constituintes químicos em rios, pois estes estão associados à efluentes despejados no rio, dependentes do comportamento hidrodinâmico deste. No caso do chumbo, por exemplo, o limite máximo permitido pela EPA (1972) é de 0,03 mg/l. Se a matéria dispersa na simulação fosse o chumbo a concentração no ponto de controle próximo ao posto de captação seria 0,0552 mg/l o que representa um perigo, devido o chumbo ser um metal tóxico que tende a se acumular nos tecidos do homem e de outros animais. O mesmo pode ocorrer com outras substâncias tóxicas. 4 CONCLUSÕES O presente estudo avaliou problemas de poluição na zona estuarina de Macapá, os quais podem representar alguns riscos à orla de Macapá e Santana e em, especial, ao sistema de abastecimento público de água de Macapá, representado pela captação de água da CAESA. Este tipo de análise é aborda temas técnicos de interesse de gestores que atuam na área de monitoramento da qualidade da água no Estado do Amapá. Neste trecho do rio Amazonas, em frente das cidades de Macapá e Santana, observou-se os seguintes problemas, com base nas simulações preliminares: As plumas de poluentes, quando se consideram fontes contínuas e pontuais, alcançam em média, durante um ciclo de maré semi-diurna, uma distancia de aproximadamente 800 m além da orla da cidade, sendo que o posto de captação da CAESA está a apenas 500 m da orla. Portanto, é possível observar certo grau de risco de contaminação da captação de água de abastecimento, se consideramos fontes como as simuladas e estudadas no presente trabalho (p. exemplo esgoto doméstico, produtos químicos ou derramamento de óleo ou combustível, etc). Os modelos numéricos parecem ser capazes de descrever com certo realismo a hidrodinâmica de plumas de poluentes. Desta forma, este tipo de estudo pode auxiliar as instituições públicas, como a Secretaria de Meio Ambiente, Saúde e a Defesa Civil, no gerenciamento de eventos adversos, naturais ou não, onde haja necessidade de evacuação e/ou paralização do sistema de abastecimento de água;

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 19 Foi possível avaliar razoável eficácia do processo de modelagem na representação da dispersão de poluentes e da qualidade da água obtidas e a segurança para o funcionamento da operação na ETA da CAESA (captação). Neste aspecto, a partir das análises preliminares, o estudo auxiliar em possíveis comparações entre dados experimentais e a elaboração de cenários criados pelo modelo e vislumbrar problemas ambientais futuros. Com a obtenção de dados experimentais, associado com o aperfeiçoamento do modelo, talvez seja possível elaborar cenários mais aprofundados e confiáveis havendo, no entanto, a necessidade de calibração e validação dos mesmos com os primeiros. Assim, será possível integrar o conhecimento científico com a gestão pública de recursos hídricos, saneamento ambiental e saúde pública. Sem esse conhecimento é quase impossível avaliar decisões técnicas para disposição resíduos e esgotamentos sanitários não tratados e sua relação com os riscos ambientais sobre a captação de água da CAESA e seus efeitos sobre a saúde pública de Macapá e redondezas. AGRADEDIMENTOS UNIFAP/PPGBIO, Laboratório de Modelagem e Simulação Ambientais do curso de Ciências Ambientais; Projeto SUDAM-Rede Integrada de Monitoramento, Projeto REMAM II/FINEP/UFPA/IEPA, Projeto CNPq Produtividade. REFERÊNCIAS Alegria, S. A. F. Diniz, G. L. Dispersão de poluentes em um trecho do rio Coxipó: Modelagem e aproximação numérica. Artigo completo publicado nos Anais de Trabalhos e Resumos do XXX CNMAC - CD ROM. S D. BASTOS, A. M. Modelagem de escoamento ambiental como subsídio à gestão de ecossistemas aquáticos no Baixo Igarapé da Fortaleza. Dissertação (Mestrado em Biodiversidade Tropical), Universidade Federal do Amapá, Macapá, 133f, 2010. Carreira-Fernandez, J. e Garrido, R. J. Economia dos recursos hídricos. EDUFBA, Coleção Pré-Textos. Salvador, BA. 2002. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. 1986. Resolução do CONAMA n o 20/1986. Classificação dos Corpos de Água. Brasília-DF. Cunha, A. C. et. al. 2006. Estudo numérico do escoamento superficial na foz do rio Matapi Costa Interna Estuarina do Amapá. Proceedings of the 11th Brazilian Congress of Thermal Sciences and Engineering - ENCIT 2006. Braz. Soc. of Mechanical Sciences and Engineering - ABCM, Curitiba, Brazil, Dec. 5-8.

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 20 Cunha, A. C. et al. 2007. Estudo experimental e numérico da dispersão de poluentes sob efeito de marés na foz do rio Matapi Distrito Industrial de Santana AP. VIII Ecolab, Macapá - AP, Agosto, 6-12, SI, p. 40-44. ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY. Quality criteria for water. Washington, D.C., Pre- Publication Coppy, 1972. Hespanhol, I. Água e saneamento básico - uma visão realista. In: Águas Doces no Brasil. Cap. 8, pp. 249-304. 2002. Lung, Seng-Wu. 1993. Water quality modeling. Vol III: Application to Estuaries. CRC Press, Inc.USA. 194 p. Maliska, C. R.Transferencia de calor e mecanica dos fluidos computacional, Rio de Janeiro: livros tecnicos e cientificos, 1 ed., 1995. Menter, F. R. A scale-adaptative simulation model for turbulent flow predictions, 41st Aerospace Science Meeting Exibit, 6-9 january, Reno, Nevada. 2003. Miranda, L. B; Castro, B. M. e Kierfve, B. Princípio de Oceanografia Física. Editora Edusp, São Paulo SP; 414p. (2002). Noleto, L. Comunicação pessoal. Estudo de escoamentos de cilindros. Simulação numérica híbrida e grandes escalas do escoamento turbulento em uma matriz de cilindros. Dissertação Mestrado (2006). Pinheiro, L.A.R et al. Simulação Computacional Aplicada à Dispersão de Poluentes e Análise de Riscos à Captação de Água na Orla De Macapá-Ap. Revista Pesquisa & iniciação cientifica. Revista Oficial de Iniciação Cientifica CNPq/PIBIC/ IEPA (ISSN 1983-9782). Macapá Ap,2008a. Pinheiro, L.A.R. et al. Simulação Computacional Aplicada à Dispersão de Poluentes e Saneamento Ambiental: Potenciais Riscos à Captação de Água na Orla de Macapá-AP. REVISTA AMAZÔNIA: CIÊNCIA & DESENVOLVIMENTO (ISSN 1809-4058), Banco da Amazônia Belém-PA, 2008b. Pinheiro, L.A.R. et al. Modelagem da Hidrodinâmica e Dispersão de Plumas de Constituintes Químicos na Água em Rios sob Influência de Marés: Zona Estuarina Urbana de Macapá e Santana - AP. Conferência Científica Internacional Amazônia em Perspectiva Ciência Integrada para um Futuro Sustentável. Manaus AM, 2008c. Rennó, C. D e J. V. Soares. Discretização espacial de bacias hidrográficas. Anais X SBSR. 21 26 abril 2001, p. 485-492, Sessão Técnica e Oral, Foz do Iguaçu-MS. Vargas, B. M. et al. Estudos de Circulação D água de Dispersão de Poluentes no Complexo Lagunar Sul de Santa Catarina UFSC-SC. (2000).