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Transcrição:

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Autores Herivaldo Ferreira da Silva (Autor-coordenador) Doutor em Hematologia pela Universidade de Sāo Paulo. Professor de Semiologia e de Hematologia do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará. Preceptor do Internato e da Residência Médica do Hospital Geral César Cals de Oliveira. Médico do Serviço de Hematologia do Hospital Universitário Walter Cantídio. Médico hematologista do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Estado do Ceará. Ana Flávia de Holanda Veloso Graduanda do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará. Membro Danielle Souza Carvalho Maciel Graduanda do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará. Membro Deivide de Sousa Oliveira Médico graduado pela Universidade Estadual do Ceará. Residência de Clínica Médica do Hospital Geral César Cals de Oliveira. Felipe Guedes Bezerra Filipe Marques de Oliveira Francisco Eliézio Tomaz Filho Gabriel Pinheiro Martins de Almeida e Souza 101 hemogramas - completo rev1.indd 5 05/02/2018 14:06:13

Gisele Nogueira Bezerra Graduanda do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará. Membro Jéssica Bezerra Custódio Graduanda do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará. Membro Matheus Martins de Sousa Dias Melissa Lou Fagundes de Deus e Silva Graduanda do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará. Membro Paulo Esrom Moreira Catarina Paulo Reges Oliveira Lima Rafaell da Silva Lima Saymon Medeiros Távora 101 hemogramas - completo rev1.indd 6 05/02/2018 14:06:13

Prefácio Existem poucos livros sobre a abordagem clínica do hemograma, e esse assunto não é devidamente discutido na graduação. Durante o internato e a residência médica, várias gerações entram em diversos serviços hospitalares com as mesmas dificuldades na interpretação clínica do hemograma e ainda com muitos dos vícios da graduação: anemia microcítica é sinônimo de carência de ferro; macrocítica é carência de B12 ou de folato ou dos dois; leucocitose ou é curada por algum antibiótico ou é uma leucemia; eosinofilia é igual à alergia ou a alguma parasitose; plaquetopenia é indicação de corticoterapia; pancitopenia é indicação irrevogável de mielograma e, às vezes, até biópsia de medula óssea; dependendo do seu valor, citopenias indicam inquestionável suporte hemoterápico. Anemia, leucocitose, eosinofilia, plaquetopenia e pancitopenia não são doenças, mas sim síndromes clínicas, guardiãs de numerosos diagnósticos! Muitos médicos creem que a história clínica e os exames simples tornaram-se obsoletos pela revolução dos exames de ponta em imunologia, em citogenética, em biologia molecular e em radiologia. A verdade é que, mesmo com o avanço exponencial da Medicina, a arte do diagnóstico mantém-se a mesma desde tempos imemoriais. Os autores deste livro almejam que o leitor saiba aliar a história clínica detalhada com as vantagens que a interpretação do hemograma pode proporcionar. Em julho de 2015, a fase final da confecção desta obra se iniciou no Campus Itaperi, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), a partir da realização de um evento denominado Interpretação Clínica do Hemograma junto com a Liga e com outros profissionais da área médica. A partir daí, foram estudados 98 casos reais oriundos de pacientes do Hospital Geral Dr. César Cals de Oliveira, do Hospital Universitário Walter Cantídio e do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Estado do Ceará, aos quais você terá acesso nas próximas páginas. No transcorrer de um ano, vi a evolução de meus alunos colaboradores na abordagem dos casos aqui relacionados, e você, caro leitor, também poderá desfrutar dessa experiência ao ler o livro. Espero que, no final da última página, qualquer leitor seja capaz de perceber o quão mágico e inspirador pode ser se deparar com todas as possibilidades que um simples hemograma pode ensejar. Desenvolver este material não seria possível sem a colaboração de todos. Uma boa leitura! Herivaldo Ferreira da Silva Doutor em Hematologia pela Universidade de Sāo Paulo Professor de Semiologia e de Hematologia do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará Preceptor do Internato e da Residência Médica do Hospital Geral César Cals de Oliveira Médico do Serviço de Hematologia do Hospital Universitário Walter Cantídio Médico hematologista do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Estado do Ceará 101 hemogramas - completo rev1.indd 9 05/02/2018 14:06:13

Sobre a leitura deste livro O hemograma é decerto o exame laboratorial mais solicitado pelos médicos. Nesse momento, muitos pacientes estão colhendo uma alíquota de seu sangue para processamento e posterior interpretação dos valores hematimétricos. Diante do resultado, muitos médicos atentam para as variáveis e almejam obter alguma informação que direcione o diagnóstico ou que explique a sintomatologia do paciente. A interpretação daqueles valores nem sempre é tão simples ou tão reveladora, mas pode ajudar a iluminar o caminho para o diagnóstico definitivo. Na maioria das vezes, as ferramentas para o jovem médico acessar as possibilidades ditadas pelo hemograma não são ensinadas nos cursos de Medicina. Deparamo-nos com o exame, tendo de retirar dele informações, apesar de não sabermos sempre a maneira adequada de enxergá-lo e como as suas variáveis funcionam. Como a própria Medicina, ler um hemograma exige técnica e arte. Na verdade, existe quase uma magia profética nesse ato, algo parecido com a quiromancia. Os dados da história clínica e do exame físico nos direcionam para as probabilidades principais, as quais podem ser refutadas, confirmadas ou não explicadas por esse exame. O livro se propõe a expor casos desafiadores nos quais o diagnóstico pode ser acessado pela interpretação conjunta dos dados da história do paciente e da correta leitura do hemograma. Dividiram-se os casos em cinco níveis de dificuldade, os quais vão necessitar, cada vez mais, de conhecimento das Ciências Básicas, da Semiologia, da Farmacologia e da Clínica Médica. Ao final de cada desafio, haverá um conjunto de perguntas que se propõem a aguçar o raciocínio clínico e a perspicácia do aprendiz em Medicina. Ao final do livro, estarão as respostas dos desafios. A explicação da evolução do caso e de fatos médicos a ele relacionados faz que cada hemograma apresentado se torne uma pequena lição de Clínica Médica. Os títulos de cada desafio se propõem a dar dicas a respeito dos casos. Alguns podem soar estranhos e jocosos, mas a intenção é aguçar a perspicácia e a intuição do leitor. Deivide de Sousa Oliveira Graduado em Medicina pela Universidade Estadual do Ceará Residência em Clínica Médica do Hospital Geral César Cals de Oliveira 101 hemogramas - completo rev1.indd 13 05/02/2018 14:06:15

Hemograma Referência Eritrograma Hemácias H: 4,5 6,5 / M: 4,0 5,0 milhões/mm³ Hemoglobina H: 13 18 / M: 12 15,5 g/l Hematócrito H: 40 54 / M: 36 45 % VCM 80 98 fl HCM 27 32 pg CHCM 32 36 g/dl RDW 11 15 % Leucograma % /mm³ Leucócitos 4000 10000 Neutrófilos 40 75 1600 7500 Promielócitos 0 0 Mielócitos 0 0 Metamielócitos 0 1 0 100 Bastões 0 5 0 500 Segmentados 40 75 1600 7500 Eosinófilos 1 5 40 500 Basófilos 0 2 0 200 Linfócitos 25 45 1000 4500 Monócitos 2 10 80 1000 Blastos 0 0 Plaquetograma Plaquetas 150000-450000 /mm³ % /mm³ Contagem de Reticulócitos 0,5 1,5 25000 75000 101 hemogramas - completo rev1.indd 15 05/02/2018 14:06:15

Sumário Prefácio 9 Carta aos leitores 11 Sobre a leitura deste livro 13 Hemograma Referência 15 Siglas Usadas 17 01 O mal do interno 24 02 Do corte às plaquetas 26 03 Três vacinas para três sinais 28 04 O estranho caso do Sr. Addison Biermer 30 05 Algo a sempre se pensar 32 06 Águas paradas não movem moinhos 34 07 Entre perdas e ganhos 36 08 Megadieta 38 09 Idosa dengosa 40 10 Tem infecção? 42 11 Foi-se o tempo 44 12 Artralgia não reumatológica 46 13 Um jovem carente 48 14 Cinderela do abdome 50 15 Uma família premiada 52 16 Da Geriatria à Hematologia 54 101 hemogramas - completo rev1.indd 19 05/02/2018 14:06:15

17 Cadê minha virose? 56 18 Perna ansiosa 58 19 Assim como o vinho 60 20 As horas de ouro 62 21 Quanto mais alto, maior a queda 64 22 Anemia da ginecologista 66 23 Aranhas gástricas 68 24 Típica atipia 70 25 Dias febris 72 26 As mil e uma hemoglobinas 74 27 α ou β? 76 28 Escleras azuis, sangue pálido 78 29 Palidez à portuguesa 80 30 Olhar suspeito 82 31 Efeito borboleta 84 32 A vegana engana 86 33 Sem delongas 88 34 Time reserva 90 35 Linfocitose na terceira idade 92 36 Preste atenção na prescrição 94 37 Calazar ou não calazar? Eis a questão! 96 38 Te inibe! 98 39 As sete perdas 100 40 A valva esquisita 102 101 hemogramas - completo rev1.indd 20 05/02/2018 14:06:15

41 Eliminando infecção 104 42 Nem de nenos, nem DMARD 106 43 Nos menores frascos, os piores venenos 108 44 Picacismo 110 45 Trama plaquetária 112 46 Púrpura anêmica 114 47 Entre gastrites e quedas 116 48 Invasores siderais 118 49 A nociva rebelde 120 50 Caso alfa 122 51 O triunvirato 124 52 Como diria Hobbes 126 53 Fantástica hemólise 128 54 Dengue esquisita 130 55 Vestido escarlate 132 56 Sangue lento 134 57 Um prurido não clássico 136 58 Faça o seu julgamento 138 59 Uma ligação com a infecto 142 60 Basta estar no Ceará 144 61 Jovem tensão 146 62 Parece, mas não é! 148 63 Uma bagagem febril 150 64 Sopa de aveia 154 101 hemogramas - completo rev1.indd 21 05/02/2018 14:06:15

65 Chagas aberto, coração Ferrido 156 66 Oceano de plaquetas 158 67 Hemorragia multinacional 160 68 Maquinaria da dor 162 69 RO-HO 164 70 Anéis e pérolas 166 71 Manto de linfócitos 168 72 MMA 170 73 Males do Mediterrâneo 172 74 Uma combinação infrutífera 174 75 Ele não se safou... 176 76 Três em um 178 77 Uma anemia complexa 180 78 Quiromancia 182 79 Nem sempre é tuberculose? 184 80 Esquerda ou Droit? 186 81 AVC febril 188 82 Positividades negativas 190 83 O enigma africano 192 84 Esquisitos inimigos 194 85 O ocaso das hemácias 196 86 Quente ou frio? 198 87 Combinando o teste 200 101 hemogramas - completo rev1.indd 22 05/02/2018 14:06:15

88 Chorando se foi 202 89 Duas hemoglobinas para uma mãe 204 90 Sangue azul 206 91 π = 3,1415 208 92 ATRAvés do nada 210 93 O mistério das plaquetas 212 94 Nem tudo são flores 214 95 Síndrome de Estocolmo 216 96 Mosquito dá em nada! 218 97 Le Festin du Macrophage 220 98 Não tão normal 222 99 O último desafio 224 Respostas 226 Referências 260 101 hemogramas - completo rev1.indd 23 05/02/2018 14:06:15

h e m o g r a m a CASO 01 O mal do interno Apresentação do caso clínico Interno de Medicina, 24 anos, procurou preceptor com queixa de não conseguir estudar à noite por dificuldade de concentração e, às vezes, sonolência. Há cinco anos, alterou dieta por opção familiar, não fazendo ingestão de carne vermelha. Antecedentes: sem história prévia de sangramento evidente, negou tabagismo, etilismo, uso de medicamentos e de drogas ilícitas. O estudante não referia alterações do hábito intestinal e do apetite. Ao exame físico, apresentava apenas discreta palidez. QUESTÕES PARA ORIENTAR A DISCUSSÃO 1. Quais as principais alterações encontradas no hemograma? 2. Com os dados clínicos acima e as alterações do hemograma, que hipóteses diagnósticas devem ser lembradas? 3. Paciente com LDH e contagem de reticulócitos normais. Diante disso, que exames devem ser solicitados para esclarecimento diagnóstico da anemia? 4. Qual abordagem terapêutica deve ser instituída?? 24 101 hemogramas - completo rev1.indd 24 05/02/2018 14:06:15

Eritrograma Hemácias 5,6 milhões/mm³ Hemoglobina 12,1 g/l Hematócrito 39,4 % VCM 70,3 fl HCM 21,7 pg CHCM 30,8 g/dl RDW 14,8 % Leucograma % /mm³ Leucócitos 6100 Neutrófilos 67 4087 Promielócitos 0 0 Mielócitos 0 0 Metamielócitos 0 0 Bastões 2 122 Segmentados 65 3965 Eosinófilos 1 61 Basófilos 1 61 Linfócitos 22 1342 Monócitos 9 549 Blastos 0 0 Plaquetograma Plaquetas 241800 /mm³ Obs.: MICROCITOSE. HIPOCROMIA. NEUTRÓFILOS SEM SINAIS DEGENERATIVOS. LINFÓCITOS SEM ATIPIA. 25 101 hemogramas - completo rev1.indd 25 05/02/2018 14:06:15

h e m o g r a m a CASO 02 Do corte às plaquetas Apresentação do caso clínico Mulher, 36 anos, com diagnóstico de plaquetopenia imune há três anos. Realizou vários exames laboratoriais; afastou-se LES e SAF. Abordagens terapêuticas já realizadas: corticosteroides, imunoglobulina humana, azatioprina, vincristina e dapsona. A paciente não adquiriu perfil cirúrgico adequadamente. Após transfusões de plaquetas e otimização da imunossupressão, uma conduta terapêutica foi realizada. QUESTÕES PARA ORIENTAR A DISCUSSÃO 1. Que medida terapêutica foi realizada? 2. Que achado no hemograma pode se esperar do paciente que realizou a medida terapêutica da questão 1? 3. Antes da medida terapêutica da questão 1, o paciente deve realizar imunização para que agentes infecciosos?? 26 101 hemogramas - completo rev1.indd 26 05/02/2018 14:06:15

Eritrograma Hemácias 3,4 milhões/mm³ Hemoglobina 10,8 g/l Hematócrito 30,9 % VCM 89,7 fl HCM 31,4 pg CHCM 35,0 g/dl RDW 14,8 % Leucograma % /mm³ Leucócitos 8950 Neutrófilos 52 4654 Promielócitos 0 0 Mielócitos 0 0 Metamielócitos 0 0 Bastões 0 0 Segmentados 52 4654 Eosinófilos 5 447 Basófilos 2 179 Linfócitos 30 2686 Monócitos 11 984 Blastos 0 0 Plaquetograma Plaquetas 14600 /mm³ Obs.: DISCRETA POLICROMASIA. PRESENÇA DE MACRÓCI- TOS. CORPÚSCULOS DE HOWELL-JOLLY. PONTILHA- DO BASOFÍLICO. PRESENÇA DE MACROPLAQUETAS. 27 101 hemogramas - completo rev1.indd 27 05/02/2018 14:06:15

Respostas 1. O mal do interno 1. Anemia microcítica hipocrômica. 2. Anemia ferropriva, anemia da inflamação, talassemia, anemia sideroblástica. 3. Perfil do ferro (ferro sérico, índice de saturação de transferrina e ferritina). O perfil do ferro revelou ferro sérico, índice de saturação de transferrina e ferritina baixos, confirmando o diagnóstico de anemia ferropriva. Vale ressaltar que em pacientes com anemia ferropriva refratária à reposição de ferro oral deve-se investigar infecção por H. pylori via EGD e biópsia gástrica e, em alguns casos, doença celíaca. 4. Deve retornar-se à ingestão de carne vermelha e reposição de sulfato ferroso oral por no mínimo seis meses. 2. Do corte às plaquetas 1. Esplenectomia. 2. Corpúsculos de Howell-Jolly e plaquetose. 3. Pneumococo, meningococo e hemófilo. 226 101 hemogramas - completo rev1.indd 226 05/02/2018 14:06:26