O INÍCIO DE UMA NOVA ERA

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Transcrição:

O INÍCIO DE UMA NOVA ERA O principal indicador de sucesso das negociações em Copenhague é um resultado que garanta à atmosfera terrestre experimentar uma redução das emissões de gases de efeito estufa a um nível que evite uma catastrófica interferência humana no sistema climático ANDRÉA ZENÓBIO GUNNENG De Oslo, Noruega andreagunneng@yahoo.com.br A COP15 poderá representar uma nova história, mais amorosa e sustentável, para a humanidade e a Terra 22 JB ECO LÓ GI CO NOVEMBR O DE 2009 NASA/ESA/G. BACON (STSCI) Da qui a duas se ma nas Co pen - ha gue se dia rá a con ferên cia cli má ti ca das Na ções Uni das mais am pla men te di vul ga da, me lhor aten di da em ter mos dos 'gran des' da chan ce la ria di plo má ti ca, an sio sa - men te es pe ra da e mi nu cio sa men te ana li sa da des de o es ta be le ci men to da Con ven ção Qua dro das Na ções Uni - das so bre Mu dan ças Cli má ti cas (em in glês, UN FCCC), em 1992. Mais de 16 mil pes soas, en tre po lí ti - cos, di plo ma tas, jor na lis tas, am bien - ta lis tas e eco no mis tas - a lis ta é lon ga - de 192 paí ses e cer ca de 40 pre si den - tes já con fir ma dos até ho je, se reu ni - rão nos sa lões de con fe rên cia do Be lla Cen ter pa ra ne go ciar um tra ta do su - ces sor do Pro to co lo de Kyo to, que ter - mi na em 2012. Na agen da es tão no vas me tas de re - du ção de emis sões de ga ses de efei to es tu fa (GEE) pa ra os paí ses in dus tria - li za dos; me tas de re du ção de cres ci - men to das emis sões de GEE pa ra os paí ses em de sen vol vi men to; re cur sos fi nan cei ros ad vin dos dos paí ses ri cos pa ra que os paí ses po bres pos sam mi - ti gar o cres ci men to de suas emis sões e se adap tar às mu dan ças cli má ti cas; e trans fe rên cia de tec no lo gia lim pa. As ex pec ta ti vas são as mais va ria - das. Da mes ma for ma que acei ta mos 'me lhor' a mor te de um en te que ri do que já es ta va doen te há anos do que a mor te sú bi ta de al guém sa dio, al guns ne go cia do res-cha ve e mes mo lí de res de va rias na ções, com o apoio da mí - dia, vêm apre goan do des de o mês pas sa do o fra cas so da 15 a Con fe rên cia das Par tes (COP15). Mas que fra cas so se ria es se? A não as si na tu ra fi nal de um tra ta do em Co - pen ha gue? Va le a pe na lem brar aqui que o Pro - to co lo de Kyo to le vou dois anos pa ra ser ne go cia do e se te anos pa ra en trar em vi gor. Que mes mo de pois de o Pro - to co lo ter si do ado ta do, foi pre ci so mais se te COPs e uma COP-bis pa ra NOVEMBRO DE 2009 JB ECOLÓGICO 37

SLIM ALLAGUI/AFP FIQUE POR DENTRO FLORESTA devastada na província de Riau, Indonésia, em uma das últimas áreas verdes da Ilha de Sumatra Os ne go cia do res che gam à COP15 ten do avan ça do em al gum grau nas dis cus sões so bre adap ta ção, coo pe ra ção tec no ló gi ca, me ca nis mos de fi nan cia men tos pa ra paí - ses em de sen vol vi men to e de Re du ção de Emis sões por Des ma ta men to e De gra - da ção Flo res tal (RE DD). En tre tan to, em dois anos de ne go cia ções, pou co se avan çou em ter mos de me tas de re du ção das emis sões dos paí ses de sen vol vi dos e fi nan cia men to, dois com po nen tes crí ti cos pa ra se lar um acor do em Co pen ha gue. UM PESCADOR de barco desvia-se de fragmentos da Geleira Ilulissat, na Groenlândia, que diminuiu 94 km 2 entre 2001 e 2005 que os im pas ses po lí ti cos fos sem re - sol vi dos e os de ta lhes acor da dos. Tal vez se ja is so o que irá acon te cer em Co pen ha gue (guar dan do as de vi - das pro por ções, é cla ro). Tal vez se ja um acor do de "com pro me ti men to po - lí ti co" o re sul ta do fi nal da COP15, e não um tex to "le gal men te obri ga tó - rio", o que cria ria en tão a ne ces si da de de se or ga ni zar uma COP-bis em maio/ju nho de 2010. Tal vez es se acor - do le gal só saia na COP16, no Mé xi co, dan do as sim tem po pa ra o Se na do ame ri ca no vo tar a le gis la ção cli má ti - ca da que le país. O que in te res sa é que um acor do de com pro me ti men to po lí ti co da COP15 te rá em seu es co po to dos os itens de um acor do le gal fi nal, in cluin do me - tas e ca len dá rios es pe cí fi cos pa ra re - du ções de emis sões de GEF, nú me ros de re cur sos fi nan cei ros pa ra os paí ses po bres li da rem com as mu dan ças cli - má ti cas, uma de cla ra ção glo bal dos ob je ti vos a lon go pra zo, jun to com uma sé rie de de ci sões su ple men ta res so bre trans fe rên cia de tec no lo gia, re - com pen sas fi nan cei ras pa ra frear o des ma ta men to e re cur sos pa ra a cons tru ção de in fra-es tru tu ras que per mi tam adap ta ção ao aque ci men to glo bal. Des sa ma nei ra, os "com pro me - ti men tos po lí ti cos" se trans for ma rão em "com pro me ti men tos le gais" da qui a al guns me ses, se guin do o mes mo per cur so do Pro to co lo de Kyo to. Além dis so, cer ta men te as pro mes - sas 'po lí ti cas' fei tas em Co pen ha gue te rão 'o mes mo va lor' co mo se fos sem le gal men te obri ga tó rias, uma vez que as na ções irão fa zer seus com pro mis - sos no fó rum pú bli co de uma reu nião da ONU, ten do co mo ex pec ta do res e tes te mu nhas to dos os ci da dãos do pla ne ta Ter ra. O pro ble ma é que o mun do te me que o 'mo men tum po lí ti co' cria do pe la COP15 se ja des per di ça do ao não se as - si nar um no vo tra ta do cli má ti co in ter - na cio nal. Mas na rea li da de, es se 'mo - men tum po lí ti co' já es tá sen do to tal - men te ca pi ta li za do em ter mos de cons ciên cia cli má ti ca por to dos os ato - res da so cie da de hu ma na. An tes mes - mo de co me çar, a Cú pu la do Cli ma, co - mo é tam bém cha ma da a COP15, já é um su ces so. To do es se pro ces so de ne - go cia ções cli má ti cas que se ini ciou com o Pla no de Ação de Ba li em 2007, quan do foi es ti pu la do um pra zo de dois anos de ne go cia ções de um no vo tra ta do cli má ti co e que a COP15 se ria o pra zo fi nal pa ra sua as si na tu ra, sim - ples men te res ta be le ceu al tas ex pec ta - ti vas en tre em pre sá rios, go ver nos, or - ga ni za ções não-go ver na men tais e ci - da dãos de que pre ci sa mos e po de - mos con fron tar se ria men te os de sa - fios im pos tos pe las mu dan ças cli má - ti cas. Nun ca a hu ma ni da de es te ve tão cons cien ti za da das con se quên - cias de vas ta do ras das mu dan ças cli - má ti cas e do po ten cial que te mos pa - ra com ba tê-las. Co mo dis se o lau rea do pe lo Prê mio No bel da Paz 2007, Al Go re, ao lan çar há duas se ma nas seu no vo li vro 'Nos - sa Es co lha - Um pla no pa ra re sol ver a cri se cli má ti ca': "Os se res hu ma nos têm uma ten - dên cia a con fun dir o iné di to com o im - pro vá vel. Se al go nun ca acon te ceu an - tes, ten de mos a as su mir que não acon te ce rá no fu tu ro. Mas atra vés da his to ria, têm ha vi do exem plos da so - cie da de hu ma na se con fron tan do com amea ças ter rí veis, e des co brin do que, em suas res pos tas a es tas amea ças, nós so mos ca pa zes de mui to mais do que pen sa mos que éra mos." Im pos sí vel aqui des con si de rar o sen ti men to de frus tra ção e afli ção dos paí ses po bres e em de sen vol vi men to ao con fron ta rem com a não ra ti fi ca - ção le gal de um no vo tra ta do in ter na - cio nal já na COP15. Afi nal, eles já es tão en fren tan do as con se quên cias ca tas - tró fi cas das mu dan ças cli má ti cas. E tal atra so po lí ti co se rá pa go com mi lhões de vi das de seus po vos. En tre tan to, há uma gran de di fe ren ça en tre o mun do ideal e o mun do real, pe lo me nos em meio à so cie da de con ce bi da pe los se - res hu ma nos. Mes mo as sim, pre ci sa mos tam bém re co nhe cer que, se che ga mos aqui ho - je, a duas se ma nas de ne go ciar mos um dos mais am bi cio sos tra ta dos cli - má ti cos de to da a his to ria da hu ma ni - da de, é por que lá em 1992 foi cria do a UN FCCC, por que lá em 1997 foi as si na - do o Pro to co lo de Kyo to, que só en trou em vi gor em 2005... O im por tan te é que, se guin do um pro ces so, nós che ga - mos aqui, até a COP15, on de es tão sen - do ne go cia das as mu dan ças dos fun - da men tos da nos sa ci vi li za ção in dus - trial. Co pen ha gue é ape nas o iní cio de uma no va era. 38 JB ECO LÓ GI CO NOVEMBR O DE 2009 NOVEMBRO DE 2009 JB ECOLÓGICO 39

MITIGAÇÃO ESCALA DE AMBIÇÃO CLIMÁTICA PRECISA SER INCREMENTADA FIQUE POR DENTRO COM PRO MIS SOS DO MÉS TI COS MANAN VATSYAYANA/AFP Se so mar mos to dos os com pro mis sos de re du ção (mi ti ga ção) de emis sões de ga - ses de efei to es tu fa fei tas pe los paí ses de - sen vol vi dos e em de sen vol vi men to du - ran te as ne go cia ções cli má ti cas pre pa ra - tó rias pa ra a COP15 ain da es ta mos lon ge de al can çar o ní vel ne ces sá rio pa ra li mi - tar o aque ci men to glo bal a 2 C. As re du ções de emis sões es ti pu la das pe los paí ses in dus tria li za dos co mo um to do al can çam a me ta de 8-12% abai xo dos ní veis de 1990 até 2020, in cluin do nes ta con ta os cré di tos flo res tais que ain - da vi rão. Va lor mui to di fe ren te dos 25-40% des cri tos co mo ne ces sá rios pe lo Pai - nel In ter go ver na men tal so bre Mu dan ças Cli má ti cas (IPCC). Se pre ten de mos al can çar bai xas con - cen tra ções de GEE na at mos fe ra, e con se - quen te men te, man ter o au men to da tem pe ra tu ra glo bal den tro de li mi tes 'se - gu ros', pre ci sa mos de me tas mui to mais am bi cio sas do que as que es tão na me sa de ne go cia ções. Por ou tro la do, é bem ani - ma dor cons ta tar que as ações pro pos tas pe los paí ses em de sen vol vi men to po dem con tri buir pa ra uma re du ção de 5-20% no cres ci men to to tal das emis sões em 2020. Ana li san do ho je as car tas que es tão na me sa, é pos sí vel com pro var uma di - fe ren ça enor me de am bi ção e von ta de po lí ti ca en tre os 192 paí ses que irão com pa re cer à COP15. Li de ram a lis ta dos mais com pro me ti - dos Mal di vas e Cos ta Ri ca, que pro pu se - ram se tor nar car bo no-neu tros por vol ta de 2020. En tre os mais am bi cio sos es tão No rue ga (30-40%), Ja pão (25%) e Suí ça (20-30%), com sig ni fi ca ti vas pro pos tas de re du ção de GEE abai xo dos ní veis de 1990. Lá no meio da es ca la de am bi ção cli má - 40 JB ECO LÓ GI CO NOVEMBR O DE 2009 ti ca es tão os paí ses em de sen vol vi men - to, co mo a In do né sia (26%), Chi na (20%), Mé xi co (8%) e Bra sil. No úl ti mo dia 13, a mi nis tra Dil ma Rous sef, re pre sen tan do o go ver no bra si lei ro, anun ciou que o país se com pro me te rá vo lun ta ria men te a re du zir as emis sões na cio nais de GEE en tre 36,1% a 38,9% até 2020, em re la ção ao que po lui ria, se na da fos se fei to. E es - tes va lo res são ba sea dos em uma pro je - ção de cres ci men to es ti ma da en tre 4% a 6%. As me tas de re du ção irão en glo bar qua tro gran des se to res: agro pe cuá ria, ener gia, des ma ta men to (cu jos ín di ces fo ram es ti pu la dos em 24,7% até 2020) e ou tros, co mo a si de rur gia, que subs ti tui - rá o car vão de des ma te pe lo ori gi ná rio de flo res tas re plan ta das. Já a União Eu ro peia fi ca com seus 20% já va li da dos em lei, mas po den do al can - çar um per cen tual de 30% até 2020 abai - xo de 1990 se ou tros gran des emis so res tam bém se com pro me te rem. En tre o meio e a par te mais bai xa da es ca la de am bi ção cli má ti ca es tão os Es - ta dos Uni dos, cu ja pro pos ta (que ain da nem com pro me ti men to é) pas sa lon ge do in ter va lo de 25-40% des cri tos pe lo IPCC pa ra man ter o aque ci men to glo bal den tro de li mi tes mais bai xos. E lá no fun dão da es ca la es tão os paí ses que de - vem ain da pro por me di das subs tan ciais pa ra além de "bu si ness as usual". São eles: Ucrâ nia (20%), Rús sia (10-15%) e Be - la rus (8%). Ne go cia ções po lí ti cas du ran - te a COP15 pre ci sam mo di fi car es sa es ca - la, pro du zin do um au men to do atual ní - vel de am bi ção da maio ria dos paí ses pa ra que a re du ção das emis sões de GEE es te jam em con for mi da de com os im pe - ra ti vos da ciên cia - mi ti ga ção glo bal de É a pro pos ta apre sen ta da pe los EUA, apoia da pe lo Ca na dá, Aus trá lia e Ja pão - e con de na da por to dos os paí ses em de sen vol vi men to, que acu sa ram os paí ses ri cos de que rer 'ma tar' o Pro to co lo de Kyo to (in clu si vo Yvo de Boer, se cre tá rio exe cu ti vo da UN FCCC de cla rou: "Não se jo ga fo ra o par de sa pa tos ve lhos se já não se tem em mãos um par de sa pa tos no vos"). Já que até ho je to dos os es - for ços di plo má ti cos não pro du zi ram uma es tru tu ra po lí ti ca, eco nô mi ca, e am bien tal men te viá vel pa ra um acor do cli má ti co fu tu ro, EUA e seus alia dos aqui, pro põem en - tão a con si de rar um por tfó lio in ter na cio nal de com pro mis sos do - més ti cos. Nes te acor do, os paí ses se com pro me te riam a hon rar me tas de re du ções de GEE es ta be le ci dos por suas pró prias leis e re gu la men ta ções na cio - nais. Es te acor do po de ria ser um pro - du to de uma COP da UN FCCC, ou en tão ne go cia do en tre si den tro de um gru - po me nor de paí ses de gran des eco - no mias, e de pois ou tros paí ses se riam con vi da dos a ade rir. 40% das emis sões até 2020 abai xo dos ní veis de 1990 - e se jam com pa tí veis com o grau de de sa fios que a hu ma ni da - de e o pla ne ta en fren tam dian te das mu dan ças cli má ti cas. É im pe ra ti vo lem - brar que, se gun do o IPCC, mes mo den tro des te ce ná rio, há so men te 50% de chan - ces que as mais ca tas tró fi cas con se - quên cias das mu dan ças cli má ti cas se - jam evi ta das.

CICLISTA chineses pedalam entre a fumaça tóxica expelida pelas chaminés das indústrias: o país é um nome de peso para o fechamento de um novo acordo climático pes soas se tor na rão re fu gia dos cli má ti - cos até 2050. ADAPTAÇÃO QUEM SOFRERÁ MAIS? MELHOR: QUAL SERÁ O NÍVEL DE COOPERAÇÃO INTERNACIONAL? Con fron tar mu dan ças cli má ti cas não se re su me a uma re du ção - ou mi - ti ga ção - das emis sões de GEE. Sua ou - tra fa ce, adap ta ção, de man da tão quan to - ou ain da mais - aten ção e ne - go cia ções po lí ti cas. Mu dan ças cli má ti cas amea çam to dos os es for ços de se pro mo ver de sen vol vi - men to eco nô mi co e so cial sus ten tá vel e de se re du zir a po bre za. Im pac tos ad ver - sos já são par te do co ti dia no de mui tos paí ses. Daí ser ab so lu ta men te es sen cial que adap ta ção se ja con si de ra da e ne go - cia da nos mes mos ní veis que mi ti ga ção, e que al can ce re sul ta dos subs tan cio sos e con cre tos den tro do tra ta do cli má ti co glo bal a ser as si na do em Co pen ha gue. Os im pac tos mais ad ver sos das mu - dan ças cli má ti cas se rão ex pe ri men ta - dos pe los paí ses mais po bres, por aque - les que não têm qual quer meio de li dar com rea li da des ain da mais du ras. En tre eles, des ta ca o IPCC: - Em 2020, os ren di men tos da agri cul - tu ra plu vial de al guns paí ses afri ca nos (o mé to do mais do mi nan te na que le con ti nen te) se rão re du zi dos em até 50%. - Cer ca de 20-30% das es pé cies de ani - mais e plan tas do pla ne ta es ta rão so bre o ris co au men ta do de ex tin ção se a mé - dia da tem pe ra tu ra glo bal ex ce der 1,5-2,5 C. - Mais de 20 mi lhões de pes soas fo - ram de sa lo ja das so men te em 2008 de - vi do a sú bi tos de sas tres re la cio na dos ao cli ma. Es ti ma-se que 200 mi lhões de PETER PARKS Fi nan cia men to - A União Eu ro peia (UE) de ci diu que se rão ne ces sá rios 100 bi lhões de eu ros (US$ 148 bi lhões) por ano até 2020 pa ra que os paí ses em de - sen vol vi men to pos sam li dar com as mu dan ças cli má ti cas e ga ran tiu que pa - ga rá sua 'jus ta par te'. En tre tan to, tal de - ci são es tá sen do amea ça da por um gru - po de no ve paí ses eu ro peus 'po bres', que ar gu men tam que os paí ses eu ro peus mais ri cos de vem pa gar mais. Is so por - que a UE fa lou que, pa ra al can çar os 100 bi lhões de eu ros por ano até 2020, iria 'co le tar' en tre 22 bi lhões e 50 bi lhões de eu ros de fun dos pú bli cos de to dos os paí ses. En tre tan to, ain da per ma ne ce o enig ma de quan to se rá a con tri bui ção fi nal da UE. Di nhei ro na me sa - O se cre tá rio exe cu ti vo da UN FCCC, Yvo de Boer, afir - ma que os paí ses ri cos pre ci sam pro vi - den ciar um fun do de aces so rá pi do de cer ca de pe lo me nos US$ 10 bi lhões pa ra que paí ses em de sen vol vi men to pos - sam co me çar ime dia ta men te a de sen - vol ver es tra té gias de cres ci men to com bai xa emis são de GEE e adap ta ção, além de cons truir ca pa ci da de in ter na na cio - nais pa ra li dar com as con se quên cias ad ver sas das mu dan ças cli má ti cas. Ao mes mo tem po, os paí ses de sen vol vi dos pre ci sam in di car a for ma co mo pre ten - dem ob ter fi nan cia men tos pre vi sí veis e sus ten tá veis a lon go pra zo e quais se rão seus com pro mis sos em lon go pra zo. Pro je tos pi lo tos - Três paí ses afri - ca nos - Mo çam bi que, Ni gé ria e Zâm - bia - irão re ce ber, ca da um, até US$ 70 mi lhões em doa ções ou em prés ti mos a ju ros mui to bai xos ad vin dos de dois fun dos ge ren cia dos pe lo Ban co Mun - dial pa ra aju dá-los a in te grar ris cos cli má ti cos e re si liên cia em seus pla - nos de de sen vol vi men to. AGRICULTOR observa uma floresta destruída na Indonésia: imagem do passado ou do futuro que nos espera? 42 JB ECO LÓ GI CO NOVEMBR O DE 2009 NOVEMBRO DE 2009 JB ECOLÓGICO 43

ARQUIVO GRUPO MAGGI GESTÃO FLORESTAL É UMA DAS FORMAS MAIS CONSISTENTES DE BARRAR O DESFLORESTAMENTO O MANEJO florestal sustentável é um conceito dinâmico que pode evitar a destruição das áreas verdes do planeta De pois de 20 anos de dis cus são, os paí ses mem bros da Or ga ni za ção das Na ções Uni das che ga ram mês pas sa - do a um acor do es ta be le cen do o ca - mi nho pa ra o fi nan cia men to da ges - tão sus ten tá vel de flo res tas. O Fó rum das Na ções Uni das so bre Flo res tas, con cor dou, em uma reu nião na se de da ONU em No va York, em es ta be le - cer duas ini cia ti vas que "aju da rá par - ti cu lar men te os paí ses po bres que pre ci sam de as sis tên cia". Um pro ces so in ter go ver na men tal es tá sen do cria do pa ra con du zir, ao lon go dos pró xi mos qua tro anos, aná li - ses de ta lha das de to das as for mas de fi nan cia men to flo res tal. Ao mes mo tem po, um ou tro pro ces so aju da rá os paí ses a mo bi li zar fun dos pa ra que eles pos sam pro te ger suas flo res tas. Vi da ou mor te - Ges tão sus ten - tá vel de flo res tas ou ma ne jo flo res tal sus ten tá vel? So men te uma ques tão de ter mi no lo gia? Ab so lu ta men te não. Es - tá es cri to no Pla no de Ação de Ba li so - bre o me ca nis mo de Re du ção de Emis - sões por Des ma ta men to e De gra da ção Flo res tal (RE DD): "Es ta be le ce rá abor da - gens po lí ti cas e in cen ti vos po si ti vos so bre as sun tos re la cio na dos com RE DD em paí ses em de sen vol vi men to; e o pa - pel de con ser va ção, ges tão sus ten tá vel de flo res tas e va lo ri za ção dos es to ques de car bo no das flo res tas nos paí ses em de sen vol vi men to". Ges tão sus ten tá vel de flo res tas é um con cei to di nâ mi co e em evo lu ção, ado ta do ofi cial men te pe la ONU, e que im pli ca ma nu ten ção e va lo ri za ção eco - nô mi ca, so cial e am bien tal de to dos os ti pos de flo res tas pa ra o be ne fi cio das ge ra ções pre sen tes e fu tu ras. En tre tan to, a in dús tria ma dei rei ra vem fa zen do um for te lo bby e con se - guiu que a ter mi no lo gia 'ma ne jo flo - res tal sus ten tá vel', que per mi te a ex - tra ção-in dus trial de ma dei ra 'de ma - nei ra sus ten tá vel', fos se in cluí da nos tex tos ne go cia dos nas con ver sas cli - má ti cas em Bang coc e Bar ce lo na da ONU es te ano. Em vá rias par tes do tex - to, as duas ter mi no lo gias são usa das al ter na da men te. O de ba te con ti nua rá du ran te a COP15, mas uma for te cam pa nha de cons cien ti za ção so bre o sig ni fi ca do e a di fe ren ça que as duas ter mi no lo gias im pli cam vem sen do de sen vol vi da en - tre os ne go cia do res e jor na lis tas por or - ga ni za ções não-go ver na men tais. A ado ção de uma ou ou tra te rá um pro - fun do im pac to na vi da de 1,6 bi lhão de pes soas ao re dor do mun do que de pen - dem di re ta men te das flo res tas pa ra sua sub sis tên cia. Per cen tual er ra do - Aten ção jor na lis tas e po lí ti cos bra si lei ros! O per cen tual de cer ca de 20% pa ra re pre - sen tar o va lor glo bal de emis sões de CO2 ad vin das de des flo res ta men to e de gra da ção flo res tal não cor res pon de a rea li da de. No vas aná li ses pu bli ca das no iní cio des te mês no jor nal cien tí fi co Geo ciên cia da Na tu re za com pro vam que a me lhor es ti ma ti va ho je é de que es se per cen tual se ja de cer ca de 15%. A mu dan ça de es ti ma ti va das emis sões é de vi do a vá rios fa to res, in cluin do au - men to das emis sões de com bus tí veis fos seis, co mo tam bém re vi são das es ti - AS FLORESTAS devem ser utilizadas conscientemente e valorizadas do ponto de vista moral e ético, de sua importância no ciclo natural do planeta ma ti vas de emis sões ad vin das de des - flo res ta men to gra ças ao avan ço de no - vos da dos e aná li ses cien tí fi cas. Es sa mu dan ça de 20% pa ra 15% não é de vi - do a uma di mi nui ção de des ma ta men - to des de 1990. De fa to, aná li ses glo bais con fir mam que os ní veis de des flo res - ta men to de 2000 fo ram si mi la res aos de 1990. En tão, es ta no va es ti ma ti va de 15% do va lor glo bal das emis sões de CO2 ad vin das de des flo res ta men to não é um si nal de pro gres so! NOVEMBRO DE 2009 JB ECOLÓGICO 45