AÇOES PEDAGÓGICAS NO ATENDIMENTO A CRIANÇAS ONCOLÓGICAS DO HOSPITAL DO CÂNCER EM UBERLÂNDIA-MG



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Transcrição:

AÇOES PEDAGÓGICAS NO ATENDIMENTO A CRIANÇAS ONCOLÓGICAS DO HOSPITAL DO CÂNCER EM UBERLÂNDIA-MG ALMEIDA, Leonardo Augusto 1 - UFU MARQUEZ, Damaris Naim 2 - UFU FEREIRA, Francielle Miranda 3 - UFU Grupo de Trabalho Pedagogia Hospitalar Agência Financiadora: Grupo Luta Pela Vida/ Instituto Ronald MC Donald/ Rede Eletrosom Resumo Este trabalho relata ações que estão sendo desenvolvidas pelo Projeto Pedagógico Artístico e Cultural aos pacientes oncopediátricos do Hospital do Câncer em Uberlândia-MG. O projeto, em andamento, tem o objetivo de oferecer apoio pedagógico ao paciente oncopediátrico, não só para garantir seu desenvolvimento global, como também, contribuir para a sua reinserção e adaptação no ambiente escolar após a alta. É um trabalho pedagógico-educacional que favorece o desenvolvimento e a construção de conhecimentos dos pacientes, permitindo-lhes a manutenção do vínculo com a escola. Este projeto conta com um grupo de voluntários que criam estratégias e orientações adequadas, referendadas em um currículo adaptado e flexível que visa atender às necessidades psíquicas e cognitivas dos pacientes-alunos. Diferentes fatores interferem nessa modalidade de atendimento pedagógico, como a indisposição dos pacientes, as internações longas e/ou frequentes, limitações específicas e o sofrimento com os procedimentos terapêuticos invasivos, refletindo-se na aprendizagem. Deste modo, identificar e classificar as necessidades educacionais dos alunos internados ou em visitas periódicas ao hospital é fundamental no processo educativo. Dentre as ações do projeto, estão as Oficinas Pedagógicas, Artísticas e Culturais, compostas por quatro oficinas, sendo elas, Oficina de Artes Plásticas, Oficina Contação de Histórias, Oficina Criarte e Oficina de Cinema. O Atendimento Pedagógico Escolar e a Ação de Inclusão na escola de origem, também são ações desenvolvidas no Projeto. O relato traz uma análise qualitativa deste trabalho, que apontam para uma diminuição dos sintomas psicológicos da hospitalização, aumento da auto- 1 Graduado em Psicologia pela Universidade de Uberaba (UNIUBE). Cursando especialização em Psicopedagogia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Coordenador Pedagógico do Hospital do Câncer em Uberlândia. 2 Doutora em Lingüística Aplicada pela UNESP Araraquara SP; Membro do Grupo de pesquisa História da Alfabetização: Lugares de formação, Cartilhas e modos de fazes Universidade Federal de Uberlândia- MG. Membro voluntário da equipe Pedagógica do Hospital do Câncer em Uberlândia. 3 Graduada em Pedagogia pela Universidade Presidente Antônio Carlos (UNIPAC) Araguari. Especializada em Psicopedagogia Institucional pelo Instituto Passo 1. Cursando especialização em Psicopedagogia Clínica/Institucional pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professora contratada pelo Estado cedida para APAE de Araguari. Membro Voluntário da Equipe Pedagógica do Hospital do Câncer em Uberlândia.

27844 estima, melhora na disposição física e mental, além de uma melhor readaptação ao ambiente escolar, após a alta. Palavras-chave: Pedagogia hospitalar. Educação infantil. Oncológico. Introdução O Hospital do Câncer em Uberlândia é um centro de referência para o tratamento do câncer no interior de Minas Gerais, que oferece atendimento gratuito aos pacientes da cidade e região. A instituição funciona há 13 anos e atende cerca de 1.800 pacientes a cada mês, vindos de cerca de 60 cidades próximas. O Hospital é construído e mantido pelo Grupo Luta Pela Vida, única ONG responsável pela captação e administração dos recursos que chegam de doação da comunidade e empresas parceiras. Atualmente, o Hospital do Câncer conta com os serviços de Oncologia Clínica, Quimioterapia, Radioterapia, Oncopediatria, Hematologia, Cuidados Paliativos, Internação de adultos e crianças. Além do tratamento, o Hospital do Câncer tem um importante papel na formação de novos profissionais, com programas de residência médica nas áreas de Oncologia Clínica, Radioterapia e Oncopediatria. Com o objetivo de oferecer uma atenção humanizada aos pacientes, a Instituição conta com um núcleo de voluntários, que atua em diversos projetos dentro e fora do hospital. Dentre os projetos desenvolvidos está o Projeto Pedagógico Artístico e Cultural, que teve início em Janeiro de 2012. O Projeto surgiu para atender de forma diferenciada as necessidades psíquicas e cognitivas dos pacientes da Oncopediatria. A hospitalização, em geral, traz diferentes angústias ao paciente, além do desconforto físico que a própria doença produz. Crianças em contato com um ambiente estranho e pessoas desconhecidas, ao serem submetidas a procedimentos diagnósticos e terapêuticos, muitas vezes dolorosos, podem desenvolver distúrbios emocionais e do sono, regressão, insegurança e depressão (ZOMBINI, 2012). O câncer é uma doença crônica de longo período de tratamento. No caso das crianças, as várias sessões de quimioterapia e radioterapia as impedem de frequentar a sala de aula, podendo ficar até um ano fora da escola. Apesar de assegurados pela Lei 4191/2004 4, não foi 4 Lei criada pela Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) da Câmara dos Deputados em Brasília, que dispõe sobre o atendimento educacional especializado em classes hospitalares e por meio de atendimento pedagógico domiciliar.

27845 possível uma parceria junto aos órgãos responsáveis no ano de 2012, justificando as medidas de ação voluntária do Núcleo de Voluntários do Hospital do Câncer em Uberlândia. Tendo como suporte o embasamento legal, emitido pelo Ministério da Educação e a Secretaria de Educação Especial, no manual de estratégias e orientações em Classes Hospitalares e Atendimento Domiciliar, publicado em 2002 5, e as orientações que devem nortear esse atendimento educacional, o Projeto Pedagógico Artístico e Cultural visa realizar ações pedagógicas para: (a) impedir a interrupção do processo de aprendizagem da criança para que futuramente possa ser reintegrada em sala de aula; (b) contribuir para a educação da criança e lhe atribuir responsabilidades educacionais; (c) conscientizar o paciente, a escola e a família quanto a necessidade da educação após a hospitalização nos casos possíveis à aquisição de conhecimento formais e a continuidade do estudo, garantindo o desenvolvimento cognitivo da criança hospitalizada. O Projeto Pedagógico vem ganhando forma e diferentes ações são iniciadas sob a forma de oficinas. Projeto de Apoio Pedagógico Artístico e Cultural O projeto objetiva estimular e potencializar as habilidades que constituem e integram o individuo como um todo, oferecendo-lhe recursos para o enfrentamento dos sintomas da hospitalização e os procedimentos invasivos, resultando assim, numa melhor atuação em seu processo de cura. A oferta do apoio pedagógico visa ainda garantir a manutenção do vínculo com a sua escola de origem, assim como o atendimento as suas necessidades psíquicas e cognitivas. Isso porque os pacientes em tratamento algumas vezes são orientados a se ausentarem da escola, por não apresentarem condições ideais para tal. Atualmente esse projeto atende cerca de 20 pacientes semanalmente, contabilizando uma média de 90 atendimentos mensais, com a maioria de pacientes na faixa etária de 3 à 7 anos, incluindo pacientes de ambulatório e internação. Os atendimentos se dividem entre as 5 o direito à educação se expressa como direito à aprendizagem e à escolarização, traduzido, fundamental e prioritariamente, pelo acesso à escola de educação básica, considerada como ensino obrigatório, de acordo com a Constituição Federal Brasileira. A educação é direito de todos e dever do Estado e da família, devendo ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, tendo em vista o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho segundo a Constituição Federal no art. 205. Conforme a lei, o não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente (EDUCAÇÃO, p.8, 2002).

27846 Oficinas Pedagógicas Artístico-Culturais, o Atendimento Pedagógico Escolar e a Ação de Inclusão. O atendimento Pedagógico Hospitalar para crianças e adolescentes hospitalizados tem sido um desafio, porque muitas vezes eles estão indispostos para desenvolver alguma atividade. É necessário, pois, inovar e apresentar algo que desperte o seu interesse. A proposta de oferecer oficinas Pedagógicas, Artísticas e Culturais tem sido uma boa alternativa no atendimento às necessidades psíquicas e cognitivas destes pacientes. As oficinas Pedagógicas Artísticas e Culturais acontecem em quatro dias durante a semana, distribuídas em Oficina Criarte, Contação de Histórias, Artes Plásticas e Cinema. Oficina Criarte Na segunda-feira acontece a Oficina Criarte, Figura 1. Nesse dia é oferecido um trabalho em que os pacientes têm a oportunidade de produzir objetos decorativos, utensílios e brinquedos com as próprias mãos, utilizando material reciclável. É uma espécie de artesanato biossustentável, que estimula a criação e a imaginação, assim como a coordenação sensóriomotora, planejamento abstrato e o raciocínio lógico matemático. A Oficina ainda explora textos a partir da temática escolhida. Oficina Contação de Histórias Figura 1- Oficina Criarte Os pacientes participam, na terça-feira, da Oficina Contação de Histórias, Figura 2. Recursos como, teatro de fantoche, computador e livros são utilizados para abordar temas

27847 diversos do cotidiano, fora e dentro do hospital. A partir de uma história inicial surgem outras. Eles também descrevem as novas histórias dramatizando, fazendo colagem e verbalizando para o grupo. É uma modalidade de atividade que estimula os alunos-pacientes na produção e interpretação de textos, amplia a imaginação criativa e a coordenação motora, e ainda incentiva a leitura. A oficina também ganha destaque por auxiliá-los no processo de alfabetização. Oficina de Artes Plásticas Figura 2- Oficina Contação de Histórias Na quarta-feira os pacientes frequentam a Oficina de Artes Plásticas, Figura 3. Nela são produzidas telas em tinta acrílica, referenciadas em artistas famosos. Com o auxílio de uma artista plástica, eles aprendem técnicas de pintura em tela e conhecem um pouco da história da arte, a partir de catálogos que servem de inspiração. As obras produzidas no primeiro semestre de 2012 renderam 70 telas 20x30, e foram apresentadas em uma exposição itinerante, que passou pelo saguão do hospital e a Prefeitura Municipal de Uberlândia. Essa modalidade de atividade, além de contribuir para a democratização da arte, estimula a coordenação motora, a criatividade, noções de cores e o conhecimento teórico sobre a arte, também ajuda na auto-estima, reduz o estresse e a ansiedade dos pacientes internados.

27848 Figura 3 - Oficina de Artes Plásticas Oficina de Cinema Aos sábados acontece a Oficina de Cinema, Figura 4. É o momento em que os jovens aprendem a manipular a câmera, editar vídeos, dramatizar, dirigir e produzir filmes. Roteiros e filmes são criados e editados pelas próprias crianças. Esta oficina viabiliza a cultura, estimula a expressão corporal, a dramatização e a criação, fortalecendo as relações entre pacientes e acompanhantes, formando grupos de apoio. É um local onde o espontâneo se manifesta na arte do cinema. Figura 4- Oficina de Cinema Nas Oficinas, percebe-se que a adesão dos pacientes e acompanhantes favorece a criação de um ambiente de integração para o produzir e o aprender. Atendimento Pedagógico Escolar

27849 O Atendimento Pedagógico Escolar no Hospital conta com um grupo de voluntários com formação nas áreas de psicologia, pedagogia e licenciaturas. A equipe centra sua atenção no apoio educacional e psicopedagógico ao paciente oncopediátrico, não só para garantir seu desenvolvimento global, como também, contribuir para a sua reinserção e adaptação ao ambiente escolar. Para isso, realiza atendimentos na internação, no ambulatório, no domicílio, e na reinserção do paciente à escola. Pelo fato de a doença ter sinônimo de dor, sofrimento, desesperança e morte para a sociedade em geral, o atendimento escolar em hospitais nem sempre é uma realidade, pois representa um desafio para os profissionais da educação. Dificuldades como a indisposição dos pacientes em tratamento, a necessidade de isolamento, as idas alternadas ao ambulatório são situações frequentes, o que gera uma defasagem na aprendizagem pela não continuidade dos estudos. Frente a tais situações, os trabalhos dos voluntários alternam-se, adaptando-se às condições das crianças e adolescentes, que se submetem a uma avaliação inicial, para que se possa identificar e classificar suas necessidades educacionais, ensejando um melhor aproveitamento nos atendimentos educativos de caráter especializado. Assim, logo no primeiro contato com o paciente e os pais, é feita uma anamnese que busca investigar e registrar informações importantes para uma melhor compreensão do desenvolvimento da criança. Ainda no primeiro contato aproveita-se para sanar possíveis dúvidas e a aquisição de vínculo com o voluntário. Essas informações auxiliam no preparo das atividades a serem utilizadas, considerando a adaptação do currículo escolar, para que a criança consiga superar suas dificuldades e apropriar-se de novas habilidades e competências. Nas situações em que o paciente estiver inserido numa escola regular, é solicitado aos responsáveis que tragam para o hospital todo o material escolar do paciente. Desta forma é possível identificar o nível da criança e também elaborar atividades que sejam compatíveis com suas limitações. Em alguns casos é possível manter a continuidade do currículo proposto pela escola de origem. A partir desse levantamento, a equipe pedagógica dá início às atividades de acompanhamento com os pacientes, após autorização dos pais e respaldo nas informações escolares. É uma modalidade de trabalho que se caracteriza pela diversidade de propostas, muitas vezes individuais ou com um grupo multisseriado de alunos. Esses atendimentos escolares podem ocorrer em diferentes locais, como nos leitos, em uma sala preparada para

27850 esse fim e no domicílio da criança, como se observa na Figura 5. Vale ressaltar que cada paciente é, para os educadores, um ser humano ainda em formação, que necessita de cuidados com sua saúde, mas também, a atenção no âmbito afetivo, emocional e cognitivo nesses momentos de tratamento e recuperação. Figura 5 - Atendimento Pedagógico Educacional realizado na internação da oncologia pediátrica. Ceccim (1999) salienta que mesmo doente as crianças conseguem brincar, aprender, criar e interagir com seus pares, o que as leva a se recuperar mais rapidamente e a adotar uma atitude mais positiva para enfrentar os conflitos da situação. Para que os trabalhos aconteçam de forma organizada e eficiente, a equipe multidisciplinar de voluntários acompanha a organização dos materiais, o levantamento das necessidades individuais e a discussão de cada caso. Além disso, reúnem-se para estudos, revisão da bibliografia e qual a melhor forma para acompanhar criança, a partir da idade e perfil escolar. Planejam ainda o local onde será o atendimento, que recursos didáticos e materiais são indispensáveis na elaboração dos planos de aula, garantindo a continuidades das ações educativas, para que, após a alta médica, os pacientes retornem confiantes ao convívio com seus pares nas instituições que freqüentam, impedindo que suas trajetórias acadêmicas sejam interrompidas pela evasão ou exclusão do próprio sistema educacional (Barros, 1999). No transcurso do apoio escolar, diferentes ações são desenvolvidas, delineadas nos planejamentos que seguem os conteúdos dos saberes escolares, mas readaptados em metodologias lúdicas e prazerosas, como jogos específicos, desenhos e músicas com o objetivo de motivar o paciente-aluno a se recuperar na instituição hospitalar. Devido às condições excepcionais desses alunos-pacientes, são propostas pequenas atividades que

27851 apresentem começo, meio e fim no mesmo dia. Todas são registradas em um plano de aula estruturado e flexível, pois é uma modalidade de trabalho pedagógico que requer flexibilidade do voluntário-educador, compreensão e sensibilidade para definir a melhor prática, seja com temas geradores ou por meio de outros percursos mais individualizados. Ação de Inclusão Assim que o médico autoriza o paciente a regressar às aulas escolares, a equipe pedagógica realiza em parceria com a escola uma Ação de Inclusão, Figura 6. Nesta ação a equipe pedagógica vai até a sala de aula onde o paciente irá retornar e prepara o ambiente para a volta do aluno. Neste dia acontece uma aula abordando algumas questões sobre o câncer e quais atitudes podem ajudar o colega a se sentir bem e acolhido pela turma. Figura 6 - Ação de inclusão realizada na escola do paciente. A Ação de Inclusão é muito importante na reinserção do paciente à escola já que este teme não ser aceito no grupo, pois na maioria das vezes está sem cabelo ou com algum membro do corpo amputado. A Ação reduz o impacto e a ansiedade, tanto para o paciente quanto para os colegas e equipe da escola, facilitando sua readaptação. Considerações finais Antes da implantação do Projeto era comum observar crianças defasadas ou repetentes no Hospital. O câncer trás muita dor e receios ao paciente e ao acompanhante. O desinteresse em retomar as atividades escolares é comum, visto que a única preocupação é encontrar a

27852 cura. Com o surgimento do Projeto Pedagógico Artístico e Cultural, foi possível despertar o interesse para o aprendizado e para a vida. As atividades oferecidas pelo Projeto de Apoio Pedagógico Artístico e Cultural às crianças e adolescentes oncológicos no Hospital do Câncer de Uberlândia, pretendem contribuir para que esses pacientes e acompanhantes enfrentem os desafios da doença, reduzindo seu tempo de recuperação e internação. Ao longo do ano de 2012, alguns pacientes apresentaram uma diminuição nos sintomas psicológicos da hospitalização, melhorando inclusive a disposição física e mental. A essência do Projeto reside no desejo de oferecer um atendimento pleno aos pacientes-alunos, para que posam compreender, que, apesar dos problemas de saúde, têm condições para alegrar-se, participar das propostas junto aos colegas, voltar a sorrir, descobrindo-se nos personagem das histórias nas Oficinas de Contação de Histórias, nas autorias das telas pintadas nas Oficinas de Artes, nos textos produzidos no atendimento Pedagógico Escolar e vendo-se como protagonista dos filmes elaborados na Oficina de Cinema. Ou seja, viverem com a certeza de um futuro próspero superando a doença de forma menos traumática, visto que nos dias de hoje os índices de cura do câncer infantil superam os 80%. REFERÊNCIAS BARROS, A. S. A Pratica Pedagógica em uma Enfermaria Pediátrica: Contribuições da Classe Hospitalar à inclusão do alunado. Revista Brasileira de Educação, n.12, set/nov, p-84 e 93,1999. CECCIM, Ricardo Burg. Classe hospitalar: encontros da educação e da saúde no ambiente hospitalar. Pátio, Revista Pedagógica 3 (10): 41-44. 1999. Disponível em: <http://www.cerelepe.faced.ufba.br/arquivos/fotos/84/classehospitalarceccimpatio.pdf>. Acesso em: 15 abri. 2013. EDUCAÇÃO, Ministério da. Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações. /Secretaria de Educação Especial Brasília: MEC; SEESP, 2002. 35 p. 1. Disponível em:< http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/livro9.pdf>. Acesso em :17 ago.2012. ZOMBINI, Edson Vanderlei; BOGUS, Cláudia Maria; PEREIRA, Isabel Maria Teixeira Bicudo and PELICIONI, Maria Cecília Focesi. Classe hospitalar: a articulação da saúde e educação como expressão da política de humanização do SUS. Trab. educ. saúde [online]. 2012, vol.10, n.1, pp. 71-86. ISSN 1981-7746. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tes/v10n1/v10n1a05.pdf>. Acesso em: 09 out. 2012.