TÍTULO: CÂNCER INFANTIL: UM ESTUDO SOBRE A EXPERIÊNCIA DOS CUIDADORES INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS



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Transcrição:

TÍTULO: CÂNCER INFANTIL: UM ESTUDO SOBRE A EXPERIÊNCIA DOS CUIDADORES CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS SUBÁREA: PSICOLOGIA INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS AUTOR(ES): HELGA ZYGMANTAS LEAL, PEDRO HENRIQUE BRESSIANINI ORIENTADOR(ES): GLÁUCIA GUERRA BENUTE

Resumo A neoplasia infantil é considerada como problema de saúde pública. Desde o seu diagnóstico, os cuidadores enfrentam período marcado por incertezas. O impacto do diagnóstico propicia intensas alterações na dinâmica familiar, alterações no relacionamento conjugal, prejuízos nas atividades pessoais, profissionais e sociais. Neste estudo objetivou-se descrever a experiência dos cuidadores de crianças com câncer infantil e as expectativas acerca do tratamento. Para tanto foi realizada uma pesquisa qualitativa, com base na Análise Fenomenológica Interpretativa. Foram entrevistados 10 acompanhantes de crianças portadoras do diagnóstico de neoplasia que residiam em instituição filantrópica no ano de 2013. Os dados foram coletados mediante entrevista aberta. Constatou-se que no discurso das mulheres sobre o momento do diagnóstico destacavam aspectos sobre reação inicial, fé, morte, negação, dificuldade no diagnóstico, função materna e culpa. Quando explicitavam o que pensavam acerca do tratamento falavam sobre cura e capacidade de enfrentamento, de vencer as adversidades encontradas. Outro aspecto destacado nos discursos diz respeito à necessidade de migração e abordava os aspectos: desejo de retornar à cidade de origem, trabalho, dificuldades na migração e saudade da terra natal. Concluiu-se que a experiência dos cuidadores envolvem aspectos emocionais intensos que remetem a questões existenciais intensas, intensificando as vivências de fé e medo da morte, bem como exigindo alterações práticas na vida diária como mudança de cidade, abandono da família em função dos cuidados com a criança doente, a busca da cura e reflexões acerca da função materna. Desta forma, a assistência psicológica se torna primordial para auxiliar no processo de enfrentamento das adversidades emocionais. Palavras-chave: câncer infantil, neoplasia, cuidador.

Introdução O impacto do diagnóstico propicia mudanças na dinâmica familiar, alterações no relacionamento conjugal, prejuízos nas atividades pessoais, profissionais e sociais, administração de emergências e intercorrências, sobrecarga de cuidados, alterações nas práticas parentais, controle da relação com os filhos saudáveis, sensação de medo e tensão, resignação, ansiedade e por vezes dificuldades financeiras. O impacto da doença pode causar efeitos devastadores na família que precisa conviver com novas alterações nas rotinas, muitas mudanças e alterações constantes, exigências, diversas readaptações, propiciando que o câncer infantil tenha efeitos ocupacional, financeiro, pessoal, na interação entre a família ou terceiros. Nas cuidadoras das crianças pode haver oscilações de humor ou estado de ânimo como efeito do estresse vivido. Os pais apresentam níveis de ansiedade e depressão geralmente mais baixos do que nas mães, que possuem estes sintomas em níveis mais elevados, pois nestes casos o cuidador principal da criança é a mãe que permanece todo o tempo cuidando e suprindo as necessidades básicas daquela criança adoecida. Os dados serão analisados qualitativamente por meio da Análise Fenomenológica Interpretativa (IPA - Interpretative Phenomenological Analysis) que é muito utilizada na literatura científica para analisar dados coletados por meio de entrevistas, em que é concedido ao participante a oportunidade de contar suas histórias, de falar livremente e de apresentar e desenvolver suas ideias e preocupações. Tomando como referência o exposto até o momento, nota-se que a Análise Fenomenológica Interpretativa pode ser considerada instrumento central para análise do social e também como agente de transformação, pois pode retratar a realidade da criança adoecida e sua família. Objetivos Este estudo tem como objetivo descrever a experiência dos cuidadores de crianças com câncer infantil e as suas expectativas acerca do tratamento.

Metodologia A população estudada encontrava-se em uma instituição filantrópica da cidade de São Paulo que oferece apoio biopsicossocial e educacional a crianças e adolescentes com câncer, transplantados de medula óssea, fígado e rins, juntamente com seus acompanhantes, de baixa renda, procedentes de todo o Brasil. Na observância dessas afirmações, durante o período de tratamento, a entidade oferece para a criança e/ou adolescente com câncer e seus acompanhantes serviços de moradia, alimentação e acompanhamento nutricional, medicamentos, vestuário, transporte, serviço social, assistência psicológica, terapia ocupacional, escolarização, recreação dirigida, cursos de capacitação profissional, festas comemorativas, passeios culturais e recreativos. Trata-se de um estudo qualitativo. Foi realizada entrevista aberta com 10 acompanhantes que aí residiam no período de seu tratamento de câncer, independentemente do estágio da doença. Tal entrevista teve a finalidade de obter o maior número possível de informações sobre o tema. Das crianças com câncer infantil, cinco eram do sexo feminino e cinco eram do sexo masculino, todas cursando o ensino fundamental. Os diagnósticos foram atresia biliar (2), linfoma (2), trombose (1), leucemia LSA (1), hepatoblastoma (2), neuroblastoma (1), leucemia LLA (1), retinoblastoma (1) e sarcoma fusocelular de alto grau (1). O tempo médio de diagnóstico foi de 75,3 meses (DP = 43,4) e a média de tempo de residência na instituição foi de 54,4 meses (DP = 47,5). Com relação aos acompanhantes, todas eram mães das crianças. Quanto à escolaridade, 1 das mulheres era analfabeta, 3 cursavam ensino fundamental, 3 o ensino médio e 3 o ensino superior. Quando investigada a profissão, 9 estavam desempregadas devido ao diagnóstico da criança e 1 estava aposentada. Ao longo do texto foram utilizados nomes fictícios para preservar a identidade das entrevistadas. As cuidadoras recebidas eram procedentes de diversos Estados e Municípios brasileiros: Clarice, 38 anos, Bahia/Salvador; Marina, 40 anos, São Paulo/São Paulo; Fátima, 34 anos e Ângela, 36 anos, Brasília/Distrito Federal; Renata, 37 anos, Amazonas/Manaus; Taís, 53 anos, Santa Catarina/Chapecó; Carla, 39 anos, Acre/Rio Branco; Flávia, 32 anos, Rondônia/Porto Velho e Daniela, 32 anos, Rondônia/Ariquemes; e Mônica, 42 anos, Minas Gerais/Juiz de Fora. Os

instrumentos utilizados foram: 1) Entrevista aberta; e 2) Prime-MD (módulos para avaliação de transtornos de humor e de transtornos ansiosos). Primeiramente foi apresentado e lido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para o acompanhante, que consentiu e assinou sua participação no estudo. Após o consentimento, foi realizada e gravada, individualmente, a entrevista. Os dados foram analisados qualitativamente por meio da Análise Fenomenológica Interpretativa (IPA - Interpretative Phenomenological Analysis), criada por Jonathan Smith em 1995 para permitir exploração rigorosa de experiências subjetivas e mais especificamente de cognições sociais. Tal análise explora como as pessoas atribuem sentido e interpretam suas experiências com o meio ambiente. Após cada entrevista foi realizada transcrição literal da fala destas mulheres e a partir da transcrição foram identificados temas dos depoimentos e avaliada as conexões entre eles. A realização desta análise permitiu a descrição dos pontos em comum e das diferenças dos significados da experiência do câncer concomitante com a gestação. Desenvolvimento Observou-se que os sentimentos decorrentes da descoberta do câncer infantil foram: descoberta do diagnóstico, tratamento, migração, trabalho e estudo, ajustamento, cooperação, morte e culpa. O discurso das mulheres versava sobre: 1) Momento do diagnóstico: reação inicial, fé, morte, negação, dificuldade no diagnóstico, função materna e culpa; 2) Tratamento: cura e capacidade de enfrentamento que cada uma destas mães recorreram internamente para vencer as adversidades encontradas; 3) Migração: retorno, trabalho, dificuldades na migração e saudade da terra natal. O diagnóstico de câncer infantil desencadeia reações intensas de choque, tristeza profunda e angústia. Para lidar com tais reações, algumas mães recorreram à fé em Deus, acreditando que tudo terminaria bem. O medo da perda, da morte é intenso e encontra expressão por meio de metáforas ou expresso claramente, nomeando-se o medo da morte. O diagnóstico desperta tanto sofrimento que desencadeia angústia intensa que, muitas vezes, é preciso negá-lo para suportar a dor.

A manifestação da doença é tão intensa que mesmo diante de diagnóstico inconclusivo a mãe percebe nitidamente as alterações no dia-a-dia do filho e busca encontrar a causa para o problema. Desta forma, a descoberta do diagnóstico ocasionou sentimentos ambivalentes, como alívio por identificarem o que acontecia com a criança, juntamente com sensação de frustração. Lidar com a doença, com o medo da morte e a rotina do tratamento impossibilita uma distinção entre outros papéis sociais e a função materna. Apesar de acreditar que a dedicação é exclusiva ao filho doente e ao que deve ser feito nesse processo de tratamento visando a cura, o desgaste decorrente desta dedicação e os sentimentos de solidão e abandono são expressos nos discursos. A demonstração de sentimentos negativos na frente da família ou da própria criança é evitada, pois existe uma crença de que expor o sofrimento poderá fragilizar ainda mais a criança e as demais pessoas da família. A busca por encontrar um sentido ou uma causa para a doença é expressa, muitas vezes, por meio do sentimento de culpa. Para o casal é comum que exista a prevalência de culpa ou impotência. As acompanhantes carregam uma culpa ainda maior, seja com relação ao que foi deixado para trás ou por acreditarem que não estão cumprindo de forma adequada a função de mãe com os outros filhos, até mesmo quando o câncer é passado hereditariamente. No casal, um acaba culpando o outro, o que pode acarretar em uma discórdia conjugal. Após a cura, percebe-se o medo que as acompanhantes têm de que a doença retorne, o que implicaria para elas em reviver toda a situação do tratamento novamente. O esforço realizado, abrindo mão de todos os aspectos diários da vida para dedicação exclusiva ao filho doente, empenhando-se no tratamento da criança, com tempo integral ao lado do filho faz com que se sintam como pessoas batalhadoras e fortes. Conforme a doença é curada e regride, é comum que a cuidadora fique com uma vida instável, indo e vindo de sua casa para São Paulo, deixando muitas vezes sua família e os amigos em troca de incertezas. Junto com a cura do câncer encontra-se a condição de retomar as atividades diárias, assumir os diferentes papéis sociais, reencontrar com o restante da família e de retornar ao lar. Há saudade da terra natal, porque há uma discrepância entre as coisas que tem lá e não aqui.

Por conta da rotina de cuidadora, muitas delas têm que deixar seu trabalho na impossibilidade de uma conciliação. O afastamento do trabalho pode gerar impotência, mas as mães acabam abrindo mão de seus empregos porque a prioridade de suas vidas é a saúde do filho. Os discursos e resultados apontam para superação constante. As cuidadoras precisam enfrentar todas as suas limitações em busca do tratamento e da cura do filho. Resultados Observou-se que os sentimentos decorrentes da descoberta do câncer infantil foram: descoberta do diagnóstico, tratamento, migração, trabalho e estudo, ajustamento, cooperação, morte e culpa. O discurso das mulheres versava sobre: 1) Momento do diagnóstico: reação inicial, fé, morte, negação, dificuldade no diagnóstico, função materna e culpa; 2) Tratamento: cura e capacidade de enfrentamento que cada uma destas mães recorreram internamente para vencer as adversidades encontradas; 3) Migração: retorno, trabalho, dificuldades na migração e saudade da terra natal. O diagnóstico de câncer infantil desencadeia reações intensas de choque, tristeza profunda e angústia. Para lidar com tais reações, algumas mães recorreram à fé em Deus, acreditando que tudo terminaria bem. O medo da perda, da morte é intenso e encontra expressão por meio de metáforas ou expresso claramente, nomeando-se o medo da morte. O diagnóstico desperta tanto sofrimento que desencadeia angústia intensa que, muitas vezes, é preciso negá-lo para suportar a dor. A manifestação da doença é tão intensa que mesmo diante de diagnóstico inconclusivo a mãe percebe nitidamente as alterações no dia-a-dia do filho e busca encontrar a causa para o problema. Desta forma, a descoberta do diagnóstico ocasionou sentimentos ambivalentes, como alívio por identificarem o que acontecia com a criança, juntamente com sensação de frustração. Lidar com a doença, com o medo da morte e a rotina do tratamento impossibilita uma distinção entre outros papéis sociais e a função materna. Apesar de acreditar que a dedicação é exclusiva ao filho doente e ao que deve ser feito nesse processo

de tratamento visando a cura, o desgaste decorrente desta dedicação e os sentimentos de solidão e abandono são expressos nos discursos. A demonstração de sentimentos negativos na frente da família ou da própria criança é evitada, pois existe uma crença de que expor o sofrimento poderá fragilizar ainda mais a criança e as demais pessoas da família. A busca por encontrar um sentido ou uma causa para a doença é expressa, muitas vezes, por meio do sentimento de culpa. Para o casal é comum que exista a prevalência de culpa ou impotência. As acompanhantes carregam uma culpa ainda maior, seja com relação ao que foi deixado para trás ou por acreditarem que não estão cumprindo de forma adequada a função de mãe com os outros filhos, até mesmo quando o câncer é passado hereditariamente. No casal, um acaba culpando o outro, o que pode acarretar em uma discórdia conjugal. Após a cura, percebe-se o medo que as acompanhantes têm de que a doença retorne, o que implicaria para elas em reviver toda a situação do tratamento novamente. O esforço realizado, abrindo mão de todos os aspectos diários da vida para dedicação exclusiva ao filho doente, empenhando-se no tratamento da criança, com tempo integral ao lado do filho faz com que se sintam como pessoas batalhadoras e fortes. Conforme a doença é curada e regride, é comum que a cuidadora fique com uma vida instável, indo e vindo de sua casa para São Paulo, deixando muitas vezes sua família e os amigos em troca de incertezas. Junto com a cura do câncer encontra-se a condição de retomar as atividades diárias, assumir os diferentes papéis sociais, reencontrar com o restante da família e de retornar ao lar. Há saudade da terra natal, porque há uma discrepância entre as coisas que tem lá e não aqui. Por conta da rotina de cuidadora, muitas delas têm que deixar seu trabalho na impossibilidade de uma conciliação. O afastamento do trabalho pode gerar impotência, mas as mães acabam abrindo mão de seus empregos porque a prioridade de suas vidas é a saúde do filho. Os discursos e resultados apontam para superação constante. As cuidadoras precisam enfrentar todas as suas limitações em busca do tratamento e da cura do filho.

Considerações Finais O cotidiano da acompanhante e demais familiares é afetado pelo diagnóstico e tratamento de neoplasia infantil. O diagnóstico proporciona certo alívio pelo reconhecimento da doença latente por meio de sua sintomatologia, mas também gera reações de desesperança, choque e tristeza. As mães se sentem estressadas e cansadas tentando administrar os conflitos decorrentes das mudanças ocorridas no seu dia-a-dia. A intervenção e o apoio psicológico são necessários durante todo o processo de tratamento, visto que a cuidadora irá se sentir curada no momento em que retomar seu sentimento de invulnerabilidade e elaborar o sofrimento que vivenciou. A psicologia irá atuar na restauração da identidade da acompanhante, em busca da qualidade de vida. O apoio médico e institucional são importantes, pois auxiliam na adesão ao tratamento, disponibilizando esclarecimentos, orientações e suporte emocional. Conclui-se que na experiência vivida pelas cuidadores de crianças com câncer no momento do diagnóstico recebido são centrais os aspectos: reação inicial, fé, morte, negação, dificuldade no diagnóstico, função materna e culpa. Diferente e complementares aos aspectos quanto ao tratamento, cura e capacidade de enfrentamento. Por fim, a migração gira em torno de quatro eixos: retorno, trabalho, dificuldades na migração e saudade da terra natal. Fontes Consultadas BIGGERSTAFF, D. & THOMPSON, A. R. Interpretative phenomenological analysis (IPA): a qualitative methodology of choice in healthcare research. Qualitative Research in Psychology, Warwick, vol. 5, n. 3, p. 214-224, jul. 2008. EISER, C. The Psychology of Childhood Illness. New York: Springer-Verlag, 1985. HERMAN, A. R. S. & MIYAZAKI, M. C. O. S. Intervenção psicoeducacional em cuidador de criança com câncer: relato de caso. Arquivos de Ciências da Saúde, São Paulo, vol. 14, n. 4, p. 44-238, out.-dez. 2007. JOHNSON, S. B. The Family and the Child With Chronic Illness. New York: John Wiley & Sons, 1985.

MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento científico: pesquisa qualitativa em saúde. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, vol. 8, n. 3, p. 342-348, jul.-set. 1992. SANTOS, L. M. P. & GONÇALVES, L. L. C. Crianças com câncer: desvelando o significado do adoecimento atribuído por suas mães. Revista de Enfermagem da UERJ, Rio de Janeiro, vol. 16, n. 2, p. 9-224, abr.-jun. 2008. SANTOS, S. V. J. A família da criança com doença crônica: abordagem de algumas características. Análise Psicológica, Lisboa, vol. 1, n. 16, p. 65-75, mar. 1998. SILVA, F. A. C.; ANDRADE, P. R.; BARBOSA, T. R.; HOFFMANN, M. V. & MACEDO, C. R. Representação do processo de adoecimento de crianças e adolescentes oncológicos junto aos familiares. Revista de Enfermagem da Escola Anna Nery, Rio de Janeiro, vol. 13, n. 2, p. 41-334, abr.-jun. 2009. SMITH, J. A.; FLOWERS, P. & LARKIN, M. Interpretative phenomenological analysis: theory, method and research. London: Sage, 2009.