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RESUMO A relação professor-aluno nas aulas de Biologia Elisandra Carneiro de Freitas 1 Marilda Shuvartz 2 O presente trabalho traz resultados da investigação da dissertação de mestrado desenvolvida no Programa de Mestrado em Educação em Ciências e Matemática da Universidade Federal de Goiás (UFG). Nesta pesquisa, procuramos entender a organização da disciplina escolar Biologia no Ensino Médio, e para isso tomamos como objeto de análise as aulas do componente curricular Biologia, postadas no Espaço da Aula do Portal do Professor (MEC). Selecionamos como critérios de análise dessas aulas, para o presente trabalho, a relação professor-aluno que pôde ser evidenciada nos planos de aula. Procuramos nas estratégias de ensino sugeridas e na explicação sobre o desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem retirar elementos que pudessem nos conduzir ao reconhecimento de como os autores percebem a interação entre professores-alunos e a construção do conhecimento. Percebe-se que muitos professores ainda concebem o processo de ensino aprendizagem, sob uma perspectiva tradicional de ensino. Reconhecemos este posicionamento pedagógico quando observamos a quantidade de aulas em que o papel do professor como responsável pela transmissão do conteúdo adquire maior relevância. Por outro lado, encontramos aulas em que os autores assumiram uma postura de mediação docente entre o conhecimento e a aprendizagem, como propõe o Portal. Nessas aulas, a atividade do aluno ganha outro status, pois o professor assume as tarefas de orientação e incentivo à reflexão. Diante deste cenário reconhecemos a importância do planejamento na atividade docente, exercício que envolve um maior comprometimento com a qualidade do processo de ensino aprendizagem. Como também a necessidade de diálogo na formação de professores sobre o entendimento do verdadeiro sentido da atividade docente e a relação professor-aluno numa perspectiva que se aproxime da mediação. biologia PALAVRAS-CHAVE: Portal do Professor, Relação professor-aluno, Aula de Introdução Neste trabalho, tomamos a aula como unidade organizadora fundamental do processo de ensino-aprendizagem, e a partir desta procuramos entender como se organizam as aulas da disciplina Biologia no Ensino Médio. Para compreender o que é uma aula partimos do pressuposto de que ela não existe descontextualizada das posturas de educação, de ensino e de aprendizagem trazidas pelo professor. E que, portanto o plano de aula construído pelos professores nos oferecem 1 Professora substituta da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás - elisandrabio@gmail.com 2 Professora adjunta da Universidade Federal de Goiás e do programa de Mestrado em Educação em Ciências e Matemática marildas27@gmail.com

subsídios para entender quais são os posicionamentos exercidos pelos professores no processo de ensino aprendizagem. A aula enquanto espaço da relação professor-aluno De acordo com Araújo (2008), a aula pode ser entendida como uma forma de comunicação - que envolve sujeitos (professores e alunos) - específica da escola como instituição educativa que assume como empreendimento o ensino e a aprendizagem. De maneira que a aula não é algo que se dá, mas algo que se faz, ou melhor, que professores e alunos fazem juntos (RIOS, 2008, p.75). De outra maneira também podemos afirmar que professor e alunos estabelecem, pela comunicação durante a aula, uma relação baseada na diferença de papéis e também na reciprocidade. Rios (2008) destaca ainda, a questão de que a atividade do professor não tem sentido sozinha, que só o ensino não pode ser dado, mas ele precisa se concretizar na aprendizagem. Não adianta dizer que houve ensino se não houver aprendizagem. Entende-se que os papéis do professor e do aluno são diferentes, mas dependentes um do outro. Cunha (2004) acrescenta a esta relação dos sujeitos na aula a ligação que estabelece com o conhecimento e com as metodologias empregadas pelo professor. A autora esclarece que a forma como o docente se relaciona com a sua área de conhecimento, a sua percepção de ciência e de produção do conhecimento são fundamentais, interferem e fazem parte da relação professor-aluno. Metodologia Como objeto de nossas análises, selecionamos o Portal do Professor, um site do Ministério da Educação e Cultura (MEC) em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Uma das principais áreas do Portal é o Espaço da Aula 3, um ambiente virtual no qual o professor pode criar, visualizar e compartilhar sugestões de aulas. Selecionamos neste ambiente as dez primeiras aulas de Biologia (quadro 01) disponíveis no mês de outubro de 2010, sob o critério de mais acessadas. Nº da aula A1 A2 A3 A4 A5 A6 Nome da aula A importância das bactérias para a vida Natureza e interação: relações ecológicas Tempo geológico e evolução Do macro ao micro: o universo das células Os répteis: Classe Reptilia Homeostase e Fisiologia Humana 3 Grifo nosso.

A7 A8 A9 A10 Vírus seres vivos ou não? Vamos montar uma célula? Cadeia alimentar Transporte passivo Difusão Quadro 01: Quadro das aulas analisadas Considerando o nosso objeto de estudo, optamos por uma análise documental, de acordo com Lüdke & André (1986), como forma de abordagem da realidade investigada. Ainda, para compreender a proposta do Portal e a organização das aulas, recorreremos à técnica da análise de conteúdo, de acordo com a proposta de Bardin (2010). Neste trabalho trazemos, a partir do discurso dos professores, autores das aulas, o entendimento a respeito da relação professor-aluno no processo de ensino e aprendizagem. Procuramos nas estratégias de ensino sugeridas e na explicação sobre o desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem retirar elementos que pudessem nos conduzir ao reconhecimento de como os autores percebem a interação entre professores-alunos e a construção do conhecimento. A relação professor-aluno nas aulas de Biologia Ao voltar o olhar para os planos de aula, percebemos a exposição oral como estratégia bastante presente nas aulas. Com exceção da aula A8, as demais apresentam momentos de exposição do conteúdo, alterando-se em um gradiente em que estes momentos predominam, até aulas em que momentos de exposição complementam outras atividades. Percebendo este gradiente dividimos as aulas analisadas em dois grupos. Nas aulas que representam um primeiro grupo (A1, A2, A5, A6 e A7), os momentos expositivos, apesar de apresentar os verbos questionar e discutir, que indicam uma posição de reconhecer o aluno como integrante do processo de ensino, estes momentos estão relacionados a posições de transmissão do conteúdo. Em A1 e A2, por exemplo, os verbos perguntar e questionar estão presentes nas aulas, no entanto as habilidades de explicar, falar, expor, enfatizar, mostrar, informar e relembrar predominam nessas aulas. Na aula A5 a proposta de encaminhamento do processo de ensino aprendizagem inicia-se com uma abordagem expositiva, na qual a atividade do professor de transmitir o conteúdo ainda é o ponto principal, seguida da proposta de um jogo, como atividade complementar. Neste jogo, percebemos a atenção com o lúdico e com a necessidade de despertar o interesse dos alunos, no entanto o objetivo da atividade se assemelha às finalidades de uma proposta tradicional de ensino, quando o autor relata O objetivo (da atividade) é testar e reforçar a aprendizagem das características desta classe e das ordens que a

constituem (A5). Identificamos, portanto, que apesar de novas estratégias utilizadas, em que o aluno participa e interage durante a aula, o entendimento do autor sobre o processo de ensino aprendizagem centra-se em uma concepção tradicional em que o conteúdo é transmitido pelo professor e a atividade intelectual do aluno inicia-se após a exposição, no momento de realização de exercícios (MIZUKAMI, 1986). As últimas aulas deste primeiro grupo (A6 e A7) seguem o padrão da atividade centrada no exercício de exposição do professor, com alguns momentos de diálogo com os alunos e o fechamento da aula com atividades que envolvam os estudantes. Desta maneira, os alunos participam do processo de ensino-aprendizagem, mas depois da atividade de exposição do professor, o que demonstra que o papel central do processo ainda se encontra na atividade docente. De outro modo, no segundo grupo de aulas (A3, A4, A8, A9 e A10), percebemos que o foco das atividades deixa de estar situado na prática docente para evidenciar o trabalho dos alunos. Em A3, percebemos presente no plano de aula os verbos: discutir, introduzir, apresentar, convidar, ouvir, questionar; referentes à atividades docentes e, os verbos: participar, construir, falar, questionar, associar, posicionar e compreender, referindo-se aos alunos. Os verbos, de ambas as categorias, nos remetem a um formato diferente de desenvolvimento da aula. Por meio da estratégia de construção de uma escala de tempo, o professor traz o aluno para participar da construção do conhecimento, e é a partir das informações que os alunos trazem, em associação com imagens que lhe são distribuídas, que o professor se apoia para o desenvolvimento do conteúdo. Tendo sempre como ponto de partida os entendimentos dos alunos e dando-lhes espaço para a verbalização de dúvidas e posicionamentos. De forma semelhante, em A4, A8, A9 e A10 os verbos discutir, orientar, questionar, associar, exemplificar, revisar, relacionar, corrigir e conduzir da postura do professor; e os verbos montar, escrever, relacionar, aprender, participar, organizar, pesquisar, cooperar, identificar, interferir, formular ideias, exemplificar, registrar hipóteses e resolver indicam atividades do professor e do aluno para além da transmissão e recepção do conhecimento. Nessas aulas, entendemos que os autores buscam uma postura de mediação, orientando os alunos nas atividades propostas e organizando, a partir das elaborações deles, a construção do conhecimento. Percebemos nessas orientações que os autores estão dispostos a trabalhar por meio da mediação, observamos assim, a disposição do professor para ouvir os alunos, dialogar, trabalhar com eles e a abertura para os mesmos expressarem seus pensamentos. Para Libâneo

(2006) e Moysés (2010), por meio dessas atividades, a mediação se expressa e é a partir delas que o professor conseguirá elevar o nível dos conceitos espontâneos, buscando a abstração, a sistematização e a generalização ampla dos conceitos científicos (MOYSÉS, 2010). Considerações finais Após as analises das aulas de biologia, presentes no Portal do professor, percebemos que muitos professores ainda concebem o processo de ensino aprendizagem, sob uma perspectiva tradicional de ensino. Nessas aulas, os elementos que a constituem (objetivos, estratégias de ensino, recursos didáticos, postura do professor e do aluno, e avaliação) se manifestam apoiando e dando unidade a um modelo pedagógico de transmissão de um conteúdo por meio da atividade expositiva do professor. Por outro lado, encontramos aulas em que os autores assumiram uma postura de mediação docente entre o conhecimento e a aprendizagem, como propõe o Portal. Nessas aulas, a atividade do aluno ganha outro status, pois o professor assume as tarefas de orientação, mediação e incentivo à reflexão. Reconhecemos o planejamento didático como tarefa fundamental da atividade docente que irá permitir ao professor um maior comprometimento com a qualidade do processo de ensino aprendizagem orientando-se de acordo com seu posicionamento pedagógico. Por causa das duas realidades diferentes a respeito do entendimento dos professores sobre o modo de conduzir o processo de ensino aprendizagem encontradas nos planos, chamamos a atenção para a necessidade de incentivo a discussão na formação de professores sobre o papel docente no processo de ensino aprendizagem diante da perspectiva de conceber o professor como mediador desse processo. Bibliografia ARAÚJO, J. C. S. Disposição da aula: os sujeitos entre a tecnia e a polis. In: VEIGA, I. P. A. (org.) Aula: Gênese, dimensões, princípios e práticas. Campinas: Papirus, 2008. BARDIN, L. Análise de conteúdo. 4ª ed. Trad. por Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa, Portugal: Edições 70, 2010. CUNHA, M. I. A relação professor-aluno. In: VEIGA, I. P. A. (Org.) Repensando a didática. 21ª ed. Campinas: Papirus, 2004. LIBÂNEO, J. C.. Adeus professor, adeus professora? : novas exigências educacionais e profissão docente. 9ª ed. São Paulo: Cortez, 2006. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MIZUKAMI, M. G. N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. MOYSÉS, L. M. O desafio de saber ensinar. 15ª ed. Campinas: Papirus, 2010.

RIOS, T. A. A dimensão ética da aula ou o que nós fazemos com eles. In: VEIGA, I. P. A. (org.) Aula: Gênese, dimensões, princípios e práticas. Campinas: Papirus, 2008.