Direito Civil IV. Faculdade de Direito da UFMG Ana Clara Pereira Oliveira Professor(a): Edgar Marx 2015/2º - Diurno

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Transcrição:

Responsabilidade Civil Faculdade de Direito da UFMG Ana Clara Pereira Oliveira Professor(a): Edgar Marx 2015/2º - Diurno 1) Teoria geral da Responsabilidade Civil 1.1) Ilícito e Responsabilidade Civil: Responsabilidade civil: obrigação civil de reparar um dano causado por um ilícito injusto. O que é ilícito? A discussão entre o lícito e o ilícito, no âmbito civil, perpassa por noções de direito, ou seja, se algo está em conformidade ou desconformidade com o direito, em termos gerais, através da análise da conduta. O ilícito tem várias espécies de tipicidade que pode ser civil, penal ou administrativa. Há também uma quarta esfera de ilícito, que seria a improbidade. Nota-se que a conduta pode ser classificada, ao mesmo tempo, em todas a espécies de ilícito enumeradas. Até que ponto as diferentes espécies de ilícito influem umas nas outras? Depende da relação entre elas. A absolvição de um ilícito penal não gera a absolvição do ilícito em âmbito civil. Havendo, porém, exceções, como é o caso da negativa de autoria ou da negativa de materialidade. De outra sorte, no caso da culpa ser constatada em âmbito penal ela vinculará a esfera cível. A medida da responsabilidade civil é o dano (vítima), ou seja, não se pode falar em ilícito civil sem dano. A indenização é devida mesmo que tenha sido praticada com mera culpa, ou seja, ela não depende de dolo. Art. 944 (CC) A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização. 1 de 10

Percebe-se que o parágrafo único do artigo prevê a redução equitativa da indenização caso haja desproporção entre o grau da culpa do agente é o dano. Além disso, outra hipótese de redução equitativa seria pelo caso disposto pelo artigo 945, em que à vítima é atribuída a culpa concorrente em relação ao autor do dano. Art. 945 (CC) Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano. Essa opção do direito civil pelo dano como medida da responsabilidade é uma forma de proteção à vítima, já que, para ela, é muito mais fácil provar o dano do que a culpa. Elementos da responsabilidade civil: Importante ressaltar que, no direito brasileiro, nem todos os danos são indenizáveis. O dano precisa ser injusto. Um exemplo é o dano gerado pela legítima defesa (esse dano será justo e, portanto, não indenizável). Ex.: um assaltante pede indenização por um dano causado quando sua vítima o atropela em legítima defesa. Função da responsabilidade civil: - Preventiva (primordial); - Reparatória/compensatória; - Punitiva Ônus da prova: segundo o artigo 333 do Código Civil, via de regra, o ônus da prova recai sob a vítima (autor) que deve então provar o fato constitutivo de seu direito. Por outro lado, o réu deve fazer prova de fatos impeditivos, modificativos e extintivos do que foi alegado em seu desfavor. Art. 333. O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Parágrafo único. É nula a convenção que distribui de maneira diversa o ônus da prova quando: I - recair sobre direito indisponível da parte; II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito. 2 de 10

Atenção à existência de exceções, como é aquela apresentada pelo direito do consumidor. No caso do CDC, ocorre a inversão do ônus da prova (menos no caso dos profissionais liberais, na qual a culpa é subjetiva), há responsabilidade objetiva do fornecedor pelos danos causados por defeitos ou ausência de informação adequada aos consumidores. 1.2) Responsabilidade objetiva X Responsabilidade subjetiva: Responsabilidade civil subjetiva: ação + culpa + nexo causal + dano A ideia da culpa é o que indivíduo poderia ter agido de outra forma. Em matéria de defesa, para retirar a culpa, normalmente se usa a estratégia do caso fortuito ou força maior, que por retirar o elemento subjetivo, pode até mesmo isentar o autor do dano. É a regra geral do direito civil. Responsabilidade civil objetiva: ação + nexo causal + dano A ideia tutelada nesse caso é de desenvolvimento do risco (mesmo que lícito). É a lei que estabelece as hipóteses de responsabilidade objetiva. Art. 927. "(...) Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem." O professor critica a segunda parte do artigo, suscitando que este gera insegurança jurídica devido ao estabelecimento da responsabilidade objetiva pos factum, já que não há lista especifica que estabeleça quais atividades trazem "em sua natureza" o ônus da responsabilidade objetiva. Importante ressaltar que o direito do consumidor, através do CDC, estabelece como regra geral a responsabilidade objetiva, haja vista o artigo 12 e o artigo 14 do mencionado dispositivo legal. Porém, importante se faz definir o âmbito de aplicação do CDC, sendo este as relações entre consumidor e fornecedor. A definição de consumidor está disposta do 1 artigo 2º do CDC, sendo ele o destinatário final dos produtos ou serviços em questão. Art. 12. (CDC) O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. (...) 1 Art. 2º CDC: "Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo." 3 de 10

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. (...) Conquanto, existem excludentes à culpa objetiva, dispostas ainda no artigo 14, parágrafo 3º e incisos: Art. 14. (...) 3º - O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Além disso, ainda no artigo 14, tem-se o caso dos profissionais liberais, que representa uma exceção à regra geral do Código do Consumidor. Assim, para essas atividades, a responsabilidade será subjetiva e apurada mediante culpa. Art. 14. (...) 4º - A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa. Obs.: O dano estético também é indenizável (tutela estética) Peculiaridades em relação à culpa: - Responsabilidade civil do Estado: tratada pelo artigo 37, CF/88, em seu parágrafo 6º. Percebe-se que é o Estado o responsável pelas ações de seus agentes e os possíveis e eventuais danos causados. Art. 37.(CF) (...) 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. - Culpa in vigilando: Culpa atribuída àqueles que têm obrigação de vigiar. A lei torna-os civilmente responsáveis pelos atos daqueles que não vigiam adequadamente. Em outras palavras, é a responsabilização do indivíduo que não toma conta de alguém que deveria ter tomado. 2 Um exemplo são as crianças e os animais. É tratada pelo art. 932, inciso I do Código Civil: 2 Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior. 4 de 10

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; (...) - Culpa in eligiendo: Ocorre quando alguém que age em nome de outra pessoa comete ilícito. O indivíduo será, então, responsável na medida em que errou ao escolher seu representante. Isso está disposto também no art. 932, porém no inciso III: Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: (...) III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; (...) Além disso, a Súmula 341 do STF estabelece que é presumível a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto. Atenção: Não mais se trata tais hipóteses como culpa presumida. A doutrina agora trata essa responsabilização como objetiva. Tal posicionamento tem embasamento no artigo seguinte: Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. Além do enunciado nº 451: V Jornada de Direito Civil: enunciado n. 451: A responsabilidade civil por ato de terceiro funda-se na responsabilidade objetiva ou independente de culpa, estando superado o modelo de culpa presumida. Abuso de direito: Disposto pelo artigo 187 do Código Civil. O comportamento não é ilícito inicialmente, porém, naquela situação específica o mencionado comportamento gera um ilícito. Em outras palavras, é um abuso no modo de exercer um direito. O artigo não menciona, porém parte da doutrina coloca como figura central desse instituto a vontade de causar prejuízo. Entende-se então, de forma majoritária, que a culpa não é necessária para configurar o abuso de direito. Atenção ao fato do artigo ser inespecífico, devendo ser analisado à luz do caso concreto. Além disso, o artigo trás os bons costumes que diferem dos costumes. Entende-se como bons costumes os 5 de 10

comportamentos morais e eticamente adequados reiterados pela 3 sociedade (ver enunciado 413 da V Jornada de Direito Civil ): Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Enriquecimento sem causa: A figura do enriquecimento sem causa surge na Roma antiga. No enriquecimento sem causa, há o deslocamento patrimonial indevido. Salienta-se que, não necessariamente o enriquecimento sem causa será derivado do dano. Ex.: indenização por benfeitoria. A benfeitoria é lícita, porém, há um deslocamento indevido do benefício para aquele que para a benfeitoria não contribuiu. O enriquecimento sem causa é tratado pelo artigo 884 do Código Civil e é considerado sempre de forma subsidiária. Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários. (...) É preciso ter cautela para não confundir enriquecimento ilícito com enriquecimento sem causa. O enriquecimento ilícito, obviamente, surge de um ato ilícito e essa diferenciação é interessante principalmente para efeitos de tributação, já que só cabe tributação sob renda lícita. Caso fortuito: O caso fortuito é uma das causas excludentes da responsabilidade civil, previsto no artigo 393, do Código Civil: Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. 3 V Jornada de Direito Civil - Enunciado 413: Os bons costumes previstos no art. 187 do CC possuem natureza subjetiva, destinada ao controle da moralidade social de determinada época; e objetiva, para permitir a sindicância da violação dos negócios jurídicos em questões não abrangidas pela função social e pela boa-fé objetiva 6 de 10

O caso fortuito se divide em: - Caso fortuito interno: fato imprevisível e inevitável que se relaciona com os riscos da atividade desenvolvida. Por ser risco próprio da atividade, não exonera o indivíduo do dever de indenizar. Ex.: empresa transportadora que causa um dano após o estouro de um pneu ou mal súbito do motorista. - Caso fortuito externo: também se caracteriza por fato imprevisível e inevitável, porém, é alheio à atividade exercida. É excludente da responsabilidade civil mesmo quando ela é objetiva. Ex.: fatos da natureza como enchentes e raios. É denominado por parte da doutrina como força maior. Atenção, apenas o fortuito externo, ou força maior, trazem a possibilidade de excluir a responsabilidade. 1.3) Exclusão da responsabilidade: Artigo 188: Art. 188. Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo - O primeiro inciso trata da legítima defesa. É um ato interceptativo, servindo para bloquear a prática de outro ilícito. Atenção ao fato de que existem algumas diferenças com relação à legítima defesa do direito penal, como por exemplo, o caso da legítima defesa putativa. Já o segundo tem conexão com o estado de necessidade. - Atenção, os atos que se enquadram nos incisos do 188, não são ilícitos, porém ensejam responsabilidade civil. Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram. 1.4) O nexo causal: Equivalência dos antecedentes: Causalidade adequada: Havendo o ilícito o que seria previsível de ocorrer. Causalidade direta e imediata: O dano ocorre de forma próxima ao ato. Dano em ricochete: dano que uma pessoa sofre decorrente do dano causado a outrem. Normalmente, se dá entre familiares. 7 de 10

2) Responsabilidade Contratual e Extracontratual: 2.1) Extracontratual ou aquiliana Prescrição: regra do artigo 206, 3º do Código Civil - 3 anos. 2.2) Contratual Prescrição: regras do artigo 205 e 206 do Código Civil - alguns prazos são determinados especificamente pelo artigo, porém no geral o prazo é de 5 anos para contrato escrito com dívida líquida (art. 206, 5º, I) e de 10 anos para contratos não escritos e/ou com dívida ilíquida (art. 205). 2.3) Responsabilidade por ato de incapaz: Os danos gerados por incapazes deverão ser de responsabilidade dos pais ou do responsável que detém a guarda da criança. O que se configura, então, é um tipo de responsabilidade objetiva sobre fato de terceiro. Art. 932. (CC) "São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; (...)" Art. 933. (CC) "As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos." 4 Ressalte-se que caso o incapaz seja emancipado, ele continuará se enquadrando no artigo 932, mesmo não mais estarão sob sua autoridade. Isso pois, a emancipação voluntária (por vontade dos pais) não se sobrepõe à obrigação legal do artigo 932. Nos casos em que a emancipação é legal, por outro lado, há discussão doutrinária. O incapaz (emancipado ou não) continua podendo responder por seus atos, haja vista o artigo 928: Art. 928. (CC) "O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser eqüitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem. " No antigo modelo, esse caso se enquadrava na culpa in vigilando. 4 Porém, importante lembrar que a responsabilidade penal não se atém à mesma lógica. Apenas podem ser imputados crimes aos maiores de 18, independente de serem ou não emancipados. Mas a sanção penal não traz prejuízo à civil. 8 de 10

2.4) Outros tipos de responsabilidade: Dono de animais pelos danos que estes causarem: Art. 936. (CC) "O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior." Dono de imóvel pelos danos de sua ruína (ex.: queda de marquise). Art. 937. (CC) "O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta." O habitante do prédio pelos objetos que dele caírem: Art. 938. (CC) "Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido." O credor que demandar o devedor por dívida não vencida: Art. 939. (CC) "O credor que demandar o devedor antes de vencida a dívida, fora dos casos em que a lei o permita, ficará obrigado a esperar o tempo que faltava para o vencimento, a descontar os juros correspondentes, embora estipulados, e a pagar as custas em dobro. " Indivíduo que demandar dívida já paga deverá pagar o dobro ao credor e se pedir quantia além do que é devido deverá pagar o equivalente. Art. 940. (CC) "Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrição." A morte de um indivíduo gera a possibilidade dos sucessores de cobrar pela reparação dos danos. Quanto aos danos morais, no entanto, há divergências. Majoritariamente, entende-se que só poderão ser aferidos os benefícios se o falecido já tiver entrado com a demanda. Não há possibilidade de colher, por exemplo, o testemunho da vítima, já que essa já teria morrido, restando assim o contraditório prejudicado. Art. 940. (CC) "Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrição." 9 de 10

2.5) Indenização: A indenização é estabelecida pela extensão do dano. Atenção ao fato de que poderá ser reduzida equitativamente a indenização quando exista desproporção entre a gravidade da culpa é o dano comprovado. Art. 944. (CC) "A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização." A constituição em mora do devedor: 405 (relações não contratuais e ilíquidas) e 397 (relações contratuais). Art. 405. (CC) "Contam-se os juros de mora desde a citação inicial." Art. 397. (CC) "O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor. Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial. " 2.6) Responsabilidade civil do Estado: O estado não seria responsável pelo risco integral (garantidor geral), mas sim pelo risco administrativo. Porém, existem situações em que o Estado responde integralmente: - Materiais bélicos; - Material nuclear; - Dano ambiental 10 de 10