Transcrição da Entrevista - Entrevistado do grupo amostral constituído por indivíduos com orientação heterossexual 5 (online)

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Transcrição da Entrevista - Entrevistado do grupo amostral constituído por indivíduos com orientação heterossexual 5 (online) [Sexo: homem] Entrevistador: Boa tarde. Entrevistado: olá, boa tarde Entrevistador: Começo por dizer que a presente entrevista faz parte de um estudo sobre Homossexualidade e Exclusões Sociais, com particular incidência para a área da cidadania, como já lhe tinha dito. Entrevistador: O objectivo é a compreensão das percepções dos entrevistados relativamente à (homo e hétero)sexualidade no âmbito da parentalidade, em particular sobre a desigualdade de direitos no acesso à Reprodução Medicamente Assistida e à adopção, devido à orientação sexual dos indivíduos. No fundo, pretende-se conhecer as suas opiniões sobre estas matérias e os significados que atribui a determinadas condições sociais e legais. Para tornar mais claro o que se entende por RMA (Reprodução Medicamente Assistida) ou PMA (Procriação Medicamente Assistida), vou dar-lhe alguns exemplos: inseminação artificial, fertilização in vitro, maternidade de substituição também conhecida como barrigas-dealuguer, entre outras possibilidades de reprodução/ acesso à parentalidade. Entrevistador: Assim que lhe faça uma questão tem tempo para pensar na resposta, não é preciso se precipitar. Entrevistado: Ok. Entrevistador: Sempre que tenha alguma dúvida pode colocá-la. Entrevistado: Ok. Entrevistador: Podemos então dar início à entrevista?, claro Entrevistador: Idade? Entrevistado: 32 Entrevistador: Habilitações? Entrevistado: Pós-graduação Entrevistador: E a sua ocupação profissional? Entrevistado: desempregado Entrevistador: Local de residência, a cidade? Entrevistado: Covilhã Entrevistador: E é natural da Covilhã? Entrevistador: Estado civil? Entrevistado: Casado 1

Entrevistador: Tem filhos?, um Entrevistador: Muito bem. Estas foram algumas questões gerais. Vamos passar agora para as partes essenciais desta entrevista. No seu entender, como define família? Entrevistador: Vamos passar agora para as questões realmente importantes desta entrevista. No seu entender, como define família? Entrevistado: conjunto de indivíduos que partilham um espaço social (privado) comum e que têm laços de consanguinidade Entrevistador: Podia definir 'conjunto de indivíduos'? Entrevistado: pessoas, seres humanos Entrevistador: independentemente da orientação sexual? Entrevistado: correcto Entrevistador: Ok. O que significa, para si, dar educação aos filhos? Entrevistado: transmissão de condutas sociais e culturais, padrões de comportamento (ocidentais), ocupação com lazer Entrevistador: Ok. Peço desculpa, mas temos que retomar a questão anterior, só para lhe perguntar se considera, então, família, por exemplo, a constituída por um casal do mesmo sexo (dois homens ou duas mulheres), com ou sem filhos? Entrevistado: independentemente de serem do mesmo sexo Entrevistador: Muito bem. Seguimos. O que, para si, é necessário para educar e prestar cuidado aos filhos?...acha que passa por reunir capacidades sócio-afectivas e psicológicas; condições profissionais e económicas estáveis; ambiente familiar estável; ter tempo de lazer para os filhos...? Entrevistado: situação financeira (minimamente) estável; ambiente familiar com pontos de vista sobre a educação semelhantes; muito tempo para lazer Entrevistador: Ok. Na sua opinião, as tarefas com a educação e cuidado dos filhos devem ser partilhadas de forma equilibrada entre o casal, ou deve haver uma divisão de tarefas específicas para cada um? Entrevistado: devem ser partilhadas de forma equilibrada Entrevistador: Considera que, actualmente, tanto os homens como as mulheres solteiros/as conseguem exercer de forma idêntica as funções parentais, falando em termos gerais? Entrevistado: considero que sim Entrevistador: E considera que, independentemente da orientação sexual, homens e mulheres conseguem exercer de forma idêntica aquelas (ou outras) funções parentais? Entrevistado: entramos no campo das probabilidades, mas penso que sim Entrevistador: Portanto, acha que em termos de exercício da parentalidade, a orientação sexual não é um factor distintivo - entre homo e heterossexuais? Ou seja, acha que existem outras variáveis identitárias e outras competências dos indivíduos que, no conjunto, concorrem para o 'bom' desempenhar dessas funções, independentemente da orientação sexual? 2

Entrevistado: na minha opinião, a orientação sexual não é um factor distintivo, mas entramos novamente no campo das probabilidades Entrevistador: Tanto no caso dos casais homossexuais como no dos casais heterossexuais? Entrevistador: Ok. O que significa, para si, a heterossexualidade? Entrevistado: um indivíduo que sente atracção (física, psico-social) por outro indivíduo de sexo diferente Entrevistador: Então, acha que é apenas uma orientação sexual? Ou também acha que pode ser algo social e historicamente construído; que é a sexualidade 'normal', 'natural' entre H e M; que garante o funcionamento e a ordem normais da sociedade ex., família ; possibilita o desempenho de papéis femininos e masculinos pela mulher e pelo homem, respectivamente...? Entrevistado: não. eu referi interesse psico-social, mas posso acrescentar outros interesses comuns: culturais, artísticos, lazer, etc. Entrevistador: Ok. E o que pensa das últimas hipóteses de resposta possíveis? Entrevistado: é uma perspectiva funcionalista, dos anos 50-60 americanos, mas a heterossexualidade também é uma construção social e histórica Entrevistador: Considera que as famílias constituídas por homem (pai), mulher (mãe) e crianças (filhos) são sempre exemplares em termos de relacionamento pais-filhos e as famílias constituídas por dois homens ou duas mulheres (pais) e crianças (filhos) são sempre impensáveis, ou podem existir bons e maus exemplos de relacionamento nos dois tipos de família? Entrevistado: correcto. existem os dois exemplos Entrevistador: Passemos então para a terceira parte da entrevista. Considera que os casais devem ter filhos? Entrevistado: contudo, a sociedade maioritariamente heterossexual poderá influenciar o comportamento dos filhos de um casal do mesmo sexo Entrevistador: Ok. Muito bem. Influenciar em que aspectos? Entrevistado: segundo a perspectiva cristã e católica, sim (e face à conjuntura económica, também necessitamos de mais pessoas para contribuir para a segurança social minha perspectiva, isso depende exclusivamente das decisões dos casais ). Segundo a Entrevistador: Ok. Não sei se leu a minha última questão. Em que aspectos influenciam? Entrevistado: a atitude do filho Entrevistador: Do filho do casal homossexual? E influenciam a atitude em que sentido? Entrevistado: os filhos de casais do mesmo sexo podem sentir-se excluídos de um grupo e por isso mesmo sentirem-se estigmatizados Entrevistador: Na opinião, qual a importância dos filhos no casal? 3

...Acha, por exemplo, que passa por garantir a consanguinidade; realização pessoal/ do casal; estabilidade emocional; resposta a pressões sociais [família/ amigos/ médico]; constituição de família; ligação afectiva entre pais e filhos...? Entrevistado: depende muito dos objectivos e expectativas do casal, mas a ligação afectiva entre pais e filhos é, na minha opinião, um dos factores mais importantes Entrevistador: Considera que a RMA deve ser entendida apenas como possibilidade de tratamento (em casos de infertilidade) ou acha que deve ser entendida como uma possibilidade de ter filhos biológicos independentemente de diagnóstico de infertilidade? Entrevistado: RMA? Entrevistador: Reprodução Medicamente Assistida, peço desculpa. Entrevistado: pergunta rasteira. No caso dos homossexuais, não têm outra possibilidade por enquanto, pelo que a RMA deverá ser uma opção Entrevistador: Ok. E em que circunstâncias, no seu entender, se deve recorrer à RMA? Quais, no seu entender, as possibilidades e públicos-alvo, digamos assim? Entrevistado: ah! no caso dos heterossexuais, como possibilidade de tratamento; no caso dos homossexuais, como única possibilidade de terem filhos Entrevistador: Por exemplo, em casos de doença hereditária/ outras; infertilidade; relação homossexual; apenas desejar ter filhos, mas não os poder conceber...? Ok. E em que circunstâncias, no seu entender, se deve adoptar? Entrevistado: essa questão não tem uma resposta única, porque depende de casal para casal. contudo, penso que o caso da adopção é de uma responsabilidade muito grande e apenas os casais com uma estabilidade emocional, social e psicológica deverão tomar essa opção Entrevistador: Aplicando-se isso a qualquer modelo de casal, digamos? Entrevistado: sem dúvida Entrevistador: Ok. O que pensa sobre os casos em que casais com orientação heterossexual recusam ter filhos? Entrevistador: é a decisão deles Entrevistador: E sobre os casos em que casais com orientação heterossexual abandonam os filhos? Entrevistado: teria que perceber as circunstâncias antes de poder emitir uma opinião Entrevistador: E pela atitude em si? Acha que se deve fazer tudo por um filho, como se costuma dizer, ou há excepções consoante determinadas circunstâncias? Entrevistado: numa perspectiva paternal, julgo que deverá "fazer-se" tudo, até pq ele é, em certa medida, o acumular da educação dos pais Entrevistador: E o que pensa sobre casais com orientação homossexual desejarem poder ter filhos? Entrevistado: acho natural, da mesma forma que acho natural um casal heterossexual desejar ter filhos Entrevistador: Qual a sua opinião em relação à homossexualidade? Entrevistado: é uma forma de encarar a vida/o ser humano diferente da perspectiva católica 4

Entrevistador: Então, acha que existem instituições que têm contribuído para a negligência/ o descurar da homossexualidade? Como, por exemplo, a religião; o Estado; justiça; ensino; família; media; sociedade geral...? Entrevistado: a Igreja e a sociedade Entrevistador: E, simultaneamente, acha que também essas instituições têm privilegiado a heterossexualidade? Entrevistado: sem dúvida Entrevistador: Na perspectiva das crianças/ jovens a adoptar, acha que a orientação sexual (neste caso, homossexual) dos pais é mais importante do que ter uma família? Entrevistado: no plano dos "suponhamos", penso que se uma criança nasce e cresce num ambiente de pais homossexuais, e não conhece outro, o mais importante para a criança será a noção de família Entrevistador: Ok. Na sua opinião, o vínculo biológico (poder conceber de forma natural ) é mais importante que o vínculo afectivo (não poder concebê-los de forma natural, mas desejar tê-los) para dar afecto, condições e educação aos filhos? Entrevistado: o vínculo afectivo é tão ou mais importante que o vínculo biológico Entrevistador: Porquê? Entrevistado: se a criança resultar de um vínculo biológico e não crescer com afectividade, certamente que a criança não se irá identificar com os pais Entrevistador: E acha que, mesmo não havendo vínculo biológico, o vínculo afectivo pode definir a afectividade dos pais pela criança (e vice-versa)? Entrevistado: penso que sim Entrevistador: Ok. Passemos para a parte seguinte da entrevista, mais relacionada agora com a legislação (ou a falta dela) em Portugal. Pelas respostas que me foi dando, penso que considera que, na sociedade portuguesa, todas as mulheres devem ter os mesmos direitos em termos de saúde sexual e reprodutiva, independentemente da orientação sexual. Certo?, certo Entrevistador: Porquê? Acha que é uma questão de cidadania e igualdade Entrevistado: pelas razões que referi atrás na entrevista. também Entrevistador: O que pensa sobre o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, aprovado em 2010? Entrevistado: penso que foi uma medida correcta, que pecou pelo atraso temporal Entrevistador: E uma vez aprovado o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e sabendo-se que existem casais do mesmo sexo com filhos, acha que a lei deve atribuir a estes casais (H e M) o direito à adopção e à RMA? Entrevistado: penso que sim, mediante uma avaliação muito rigorosa (à semelhança do que seria para um casal heterossexual) Entrevistador: Porquê? Acha que não faz sentido a legislação permitir que pessoas se casem que - à semelhança dos casais heterossexuais - não tenham acesso à reprodução e, simultaneamente à parentalidade? Acha que isso é contraditório, que existe um desfasamento? Entrevistado: não percebi a pergunta 5

Entrevistador: Uma não completa representação igualitária, em termos de direitos, entre casais homo e heterossexuais? Entrevistado: já percebi Entrevistador: Ok. Diga. Entrevistado: é contraditório... Entrevistador: Porque...? Entrevistado: tem a ver com a noção de família "tradicional" que os decisores políticos conservam Entrevistador: Ok. Na sua opinião, o facto de algumas famílias (como as constituídas por um casal do mesmo sexo) serem excluídas do acesso legal à parentalidade, põe em causa os direitos das crianças? Entrevistado: não tenho muitas certezas quanto a isso talvez essa restrição aconteça apenas na RMA, porque quando existe adopção, parece-me que uma criança deva "optar" por um casal heterossexual devido ao seu anterior background familiar - optar, ou melhor, aceitar Entrevistador: Casais homossexuais não podem adoptar nem recorrer à RMA. Logo são potenciais famílias com possibilidades e capacidades para o exercício da parentalidade, no seu sentido mais amplo, mas que pela legislação não o podem fazer. Ora estando elas (famílias) afastadas dessa possibilidade, isso pode também pôr em causa o direito das crianças, nomeadamente as crianças jovens que podem ser adoptados? Entrevistado: já respondi a essa questão Entrevistador: Sim, ok. Considera que a maternidade de substituição deve passar a ser legal em Portugal para casais de sexo diferente? (conhecida também por "barrigas de aluguer") Entrevistado: penso que sim, desde que o casal não tenha a possibilidade de ter um filho de forma natural Entrevistador: E para casais do mesmo sexo (não só, mas nomeadamente constituídos por homens)? Entrevistado: penso que sim. já o tinha mencionado antes Entrevistador: O que pensa sobre a possibilidade legal da adopção por pessoas singulares (homens e mulheres)? Entrevistado: penso que sim, desde que mediante uma avaliação rigorosa Entrevistador: E acha que isso pode facilitar a parentalidade, através da adopção, por casais ou pessoas com orientação homossexual (omitindo a orientação sexual)? Entrevistado: talvez Entrevistador: O que pensa sobre isso? Entrevistado: é uma forma de tornar menos burocrático o processo Entrevistador: Supondo que seria pedido aos portugueses para votarem pela adopção por casais do mesmo sexo, o seu voto seria contra ou a favor? Entrevistado: a favor Entrevistador: E em relação ao acesso à RMA por casais do mesmo sexo, qual seria o seu voto? Entrevistado: a favor. 6

Entrevistador: Considera que existe suficiente debate e esclarecimento sobre a RMA? Entrevistado: não. Entrevistador: Portanto, acha que essa questão deve ser mais debatida? Entrevistado: sem dúvida Entrevistador: Mesmo direccionada para pessoas e casais com orientação homossexual? Entrevistador: E acha que o debate sobre a adopção por casais do mesmo sexo é suficiente e esclarecedor? Entrevistado: não Entrevistado: Acha que deve ser mais debatido? Entrevistador: Porquê? Como forma de desmistificar as questões que em torno da homossexualidade gravitam? Entrevistado: para existir um maior esclarecimento em torno da questão, e também para desmistificar Entrevistador: E como possível impulsionador da mudança, podendo garantir maior igualdade no acesso à parentalidade por estas pessoas/ casais? Entrevistador: Ok. De que forma acha que a homossexualidade é encarada na Beira Interior? Entrevistado: de forma estigmatizada Entrevistador: Acha que ainda não existe muita aceitação por parte da população em geral? Entrevistado: ainda não existe devido ao preconceito e uma sociedade demasiado conservadora Entrevistador: Ok. Passemos, então, para a última parte, de questões gerais. Tem religião? Entrevistado: ateu Entrevistador: Qual a ideologia política que melhor representa as suas ideias (extremadireita, direita, centro-direita, extrema-esquerda, esquerda, centro-esquerda ou nenhuma)? Entrevistado: esquerda Entrevistador: Pertence ou é simpatizante de alguma entidade activista, em particular pelos direitos humanos? Entrevistado: não Entrevistador: Tem amigos, conhecidos ou familiares que admitam ter orientação homossexual? Se sim, mudou a sua atitude perante essa(s) pessoa(s) depois de tomar conhecimento da sua orientação sexual? Entrevistado: não tenho Entrevistador: Ok. Damos como terminada a nossa entrevista. Muito obrigada. Entrevistado: ok. obrigado eu. Entrevistador: Boa tarde. Entrevistado: boa tarde e boa sorte. 7